Viagem

Conheça a emocionante história do Galo de Barcelos, um dos símbolos de Portugal.

Dominique - Galo
De uma maneira geral, o galo é considerado um animal sagrado em diversas culturas e suas religiões. Por ser uma ave que prenuncia a manhã, ela é um símbolo solar, isto é, da própria luz nascente. É também considerado um emblema da vigilância e da atividade, pois antes mesmo da aurora ele já está de pé, ou melhor, anunciando a própria chegada do sol e a manifestação da luz, além de representar também a altivez, em função da sua postura.

Seu aspecto e atitudes naturais, para os japoneses, representam cinco virtudes, a saber:

1) Virtudes civis devido à crista, associada ao coroamento e mando

2) Virtudes militares devido às esporas, com as quais se defende

3) A coragem pelo seu desempenho em combates

4) A bondade, pois divide seu alimento com as galinhas

5) A confiança, pela segurança com a qual anuncia a certeza de um novo dia.

O galo sempre esteve presente como representante de atributos positivos e benéficos na mitologia grega; nas tradições nórdicas; nas culturas de povos orientais, africanos e indígenas; no xintoísmo; na religião hindu, no budismo, na maçonaria e também nas três grandes religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo.

É comum ver um galo de metal em torres de igrejas, cúpulas e campanários, normalmente voltado para o leste (onde nasce o sol) e até mesmo com a indicação dos pontos cardeais pois, por prenunciar a aurora, os altos das edificações recebem primeiro a chegada da luz do sol, anunciada pelo canto do animal, guardião que vela, vigia e manifesta o porvir da energia solar.

Para o catolicismo, o galo também pode ser um emblema do próprio Cristo (assim como a águia e o cordeiro), pois como símbolo solar representa a luz material e, devido ao seu reaparecimento diário, a ressurreição, a luz espiritual. Simboliza também no cristianismo a vigilância (atributo natural do animal), ou seja, a preocupação que o ser humano deveria ter com a eternidade pelo cuidado em priorizar as coisas espirituais.

Mesmo com todas estas simbologias, o galo é também uma iguaria da culinária nas mesas de todo o mundo e, associado a tudo isto anteriormente citado, entra aí a lenda do “Galo de Barcelos”, um dos símbolos de Portugal, que tem sua identidade visual bem colorida e de crista alta a partir dos anos 1930, porém com a história de sua origem muito anterior.

Trata-se da cidade de Barcelos, no distrito de Braga, ao norte de Portugal.

A lenda medieval nos conta que um homem galego, peregrinando à Santiago de Compostela, ao passar por Barcelos na sua caminhada, foi considerado suspeito de um crime por não ser conhecido na cidade. As autoridades prenderam-no e levaram-no ao juiz local apesar da sua insistência na própria inocência, uma vez que passava por ali rumo à Santiago de Compostela para cumprir uma promessa.

Ao ser condenado à forca, solicitou que o levassem ao juiz que lhe condenara. Assim o foi. Lá chegando à casa do juiz, ele se banqueteava com amigos. O acusado continuava a afirmar sua inocência e ninguém lhe dava ouvidos, até que o peregrino apontou para um galo assado que estava na mesa para o banquete e disse:

“É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem!”Banner - Galo

O juiz pouco lhe deu importância e empurrou o prato para o lado e o sentenciou que fosse à forca. Quando o galego peregrino estava realmente sendo enforcado o galo levantou-se na mesa e cantou.

O juiz compreendeu, então, a inocência do acusado, correu à forca e percebeu que o homem havia se salvado graças a um nó mal elaborado na própria forca. O homem então foi liberto e pôde continuar a sua caminhada à Santiago de Compostela em paz.

Alguns anos mais tarde, o mesmo galego voltou à cidade de Barcelos para esculpir um monumento em louvor à Virgem Maria e ao Santiago Maior. É o famoso “Monumento do Senho do Galo” que hoje se encontra no Museu Arqueológico de Barcelos.

A história ficou famosa, correu chão e, daí em diante, o galo tornou-se o símbolo de todo o país e é encontrado em miniaturas como uma das imagens mais emblemáticas de Portugal.

E ai? Gostou de conhecer a história do galo de Barcelos?

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João Braga

Professor, historiador, pesquisador, escritor, palestrante e colunista. Membro da Academia Brasileira de Moda. Especialista em História da Arte pela FAAP/SP e em História da Indumentária e da Moda pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Autor de História da Moda – Uma Narrativa e Reflexões sobre Moda. Co-Autor de História da Moda no Brasil e Cultura e Elegância. Já acompanhou mais de 33 grupos (mais de 600 pessoas) em viagens para Paris, Portugal, Moscou, Marrocos, Saint-Petersburgo.

2 Comentários
    1. Muito interessante,meu pai nascido no Brasil,porém filho de português, contava essa história, recentemente conheci Portugal, passei por várias cidades, não tive tempo de conhecer Barcelos mas comprei o galo,e quero voltar um dia para curtir a cidade.

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Rever Portugal e abraçar minha gente

Dominique - Portugal
O oceano que nos separava (Portugal X Brasil) seria as mesmas águas que nos uniriam.

Como excelentes cartógrafos e navegadores, os portugueses singraram os mares e aqui chegaram. Pindorama (Terra das Palmeiras, como o nativo aqui chamava) passou a ser Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra dos Papagaios, até se tornar Brasil.

Com colônias na Ásia, na África e nós aqui nas Américas, Portugal, ao tempo das Circunavegações tornou-se o país mais rico do mundo com todos os potenciais nativos explorados de cada local colonizado, principalmente do Brasil: madeira, ouro, pedras preciosas, cana-de-açúcar, entre outros produtos que enriqueceram a “terrinha”.
É exatamente assim que brasileiros carinhosamente se referem às terras lusitanas.

Recebemos, sim, da “terrinha” uma indiscutível e riquíssima herança cultural que até os dias de hoje nós nos reconhecemos, em diversas áreas, com o sangue d’além-mar circulando nas veias.

Arquitetura, formação cultural, música, dança, rendas e bordados, joias, culinária, religião, comportamento, arte, ourivesaria, azulejaria, literatura, tradição monárquica, entre inúmeras outras realidades, sem falar no “entrudo” que gerou o nosso carnaval, nos fazem um pouco lusitanos, e, especialmente, pela nossa língua mãe: o português. Não há a “língua brasileira”, mas sim o português do Brasil.

Pequeno pedaço de terra da Península Ibérica, no extremo oeste da Europa, Portugal com seus 92.345 km2 é menor do que o estado de Santa Catarina com seus 95.346 km2, porém de uma riqueza tão grande e peculiar que é capaz de encantar a todos nós brasileiros que vivemos num país de dimensões geográficas continentais.

Se Cabral com suas naus tomou rumo oeste do planeta pela precisa cartografia da Escola de Sagres e aqui chegou em 1500; se a corte portuguesa também navegou pelo mesmo Atlântico e aqui aportou em 1808, não nos custa visitar a “terrinha” de maneira muito mais prática, confortável e rápida pegando uma outra nave, ou seja, uma aeronave e em poucas 10 horas – comparadas aos meses em caravelas – chegarmos em terras de Ulisses, isto é, à Lisboa.

Obviamente que em Portugal as experiências gastronômicas, culturais ou quaisquer outras que o país possa nos oferecer servem de alimento para o corpo e para a alma. Portugal é sensorial, aspiracional e tranquilizador, pois falar a mesma língua que nós no exterior é um benefício que nos convence mais facilmente em chegar à Europa.

Em tantas vindas e idas dos lusitanos, correspondamo-nos aos nossos colonizadores, em turismo agradável, acolhedor e saudosista pois, como diz a música é muito bom “rever Portugal e abraçar minha gente”.

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João Braga

Professor, historiador, pesquisador, escritor, palestrante e colunista. Membro da Academia Brasileira de Moda. Especialista em História da Arte pela FAAP/SP e em História da Indumentária e da Moda pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Autor de História da Moda – Uma Narrativa e Reflexões sobre Moda. Co-Autor de História da Moda no Brasil e Cultura e Elegância. Já acompanhou mais de 33 grupos (mais de 600 pessoas) em viagens para Paris, Portugal, Moscou, Marrocos, Saint-Petersburgo.

2 Comentários
  1. E cá estou em Portugal, bom conhecer a terra de uma amiga querida e a sensação que tenho é de que estou em casa, em algum canto do Brasil que deu certo.

    Me reconheço no idioma, na afetuosidade. Me identifico com as ruas limpas, com a gente educada, com a menina que lê debaixo da árvore nas férias. Estou amando o Portugal, como nunca imaginei.❤

  2. Meu querido PROFESSOR!
    Vamos à Portugal?
    Vc com seu conhecimento e Eu com minha cidadaninha!
    Terra amada , cada canto nos encanta!

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Caminho de Santiago: uma viagem surpreendente!

Dominique - Caminho de Santiago
Você já ouviu falar do Caminho de Santiago? Hoje falo sobre isso.

Outro dia comentamos aqui sobre amigo e como é bom contar com ele. Mas como explicar aquele amigo estranho que surge do nada, quando a gente menos espera e mais precisa?

Quando eu estava percorrendo o Caminho de Santiago, sofri muito. Sentei em plantas que me provocaram urticária, caí de boca no chão e abri meu supercílio, tive gastroenterite e fui internada, sem contar as bolhas e dores insuportáveis até no branco dos olhos. É amiga, curiosidade pode matar.

Eu, como sempre, fui sozinha, mas encontrei gente do mundo inteiro, de todas as idades e percorrendo o Caminho por diversos motivos: pagamento de promessa, penitência, agradecimento, superação, religiosidade, espiritualidade, autoconhecimento e mera curiosidade.

Uma dessas pessoas que encontrei foi Patxi, o Navarro. Socorreu-me quando pisei no cadarço da minha bota e caí de boca no chão e a partir disto passou a me acompanhar na caminhada.

Ao completar uma das etapas (cada etapa varia de 25 a 30 km por dia), eu estava chateada porque havia dispensado Patxi, naquela manhã, ao perceber que meu passo o estava atrasando e também porque eu havia acordado com dor de barriga. Ele andava ligeiro, como o “Papa Léguas” do desenho animado, e eu, bem, eu mais parecia “Jesus no calvário”!

Patxi (que me lembrava “Patch Adams” do filme), assim como eu, escreveu um Diário de Bordo. Neste caso, passo aqui a mesclar meu diário com o dele de uma forma divertida de ler as duas visões da mesma história:

“Cynthia llega bastante maltrecha. Se há caído y tiene um ojo morado. En la aldeã de Liñares, Cynthia se para. Quiere hablar conmigo. Me pide que la deje continuar sola, ya que, según Ella, no hace más que ralentizar mi ritmo. Dos besos de despedida y continúo em solitário. Me hubiese gustado seguir com esta chica. Es todo cariño, comprensión, amabilidad y delicadeza. Siempre sonriente y contagiando su buen humor. Alguna lágrima resbala por mis mejillas”.

Parei minha caminhada em um albergue mais perto do que a que Patxi iria e, ao tirar minha mochila das costas, sentia dores impossíveis de se descrever com o alfabeto que conheço. Até a minha alma doía.

Foi então que um peregrino, francês, pergunta se alguém tinha um pedaço de sabão para emprestar. Eu tinha. Estava lá no fundo da mochila, mas senti uma imensa preguiça em pensar em tirar tudo de lá de dentro. Fiquei quieta.

Graças a Deus e a Santiago, logo alguém se manifestou e emprestou o tal sabão, o que me gerou alívio instantâneo e livre para continuar a passar mal, sossegadamente. Da dor de barriga e da chateação em perceber que havia magoado o Patxi.

A minha dor de barriga se manifestou, com toda a sua força e glória, em meio à madrugada, quando passei a vomitar em todos os cantos do alojamento, incluindo no francês, e desmaiei.

Chamaram uma ambulância e acordei em um hospital a 50 km do albergue. Minha mochila veio junto, porém, o meu cajado (aquele que marca o passo, o ritmo e dá apoio na caminhada) não veio. ☹ Uma lástima.

No dia seguinte, eis que surge no hospital o “francês do pedaço de sabão”! É, isso mesmo! Ele caminhou 50 km, fora da rota do Caminho de Santiago, para levar meu cajado. Deixou o cajado e retornou, a pé, por mais 50 km. Mistura de gratidão e vergonha. Pensei em cometer autoflagelo, até lembrar-me que já estava indo a fundo nesta questão durante a caminhada.

Ao receber alta do hospital, dois dias depois, peguei um ônibus e avancei uma etapa, reencontrando alguns peregrinos, incluindo o meu amigo (que dispensei no dia da dor de barriga), Patxi!

Durante o jantar, o pessoal decide chegar a Santiago no dia seguinte. Seriam 40 km e eu não estava totalmente recuperada. Então surge a proposta, descrita no Diário de Bordo dele:

“… En la sobremesa, y pegándole al orujo, decidimos que la etapa de mañana no acabará em Arca, sino que llegaremos a Santiago. La brasileña no está recuperada todavia. Le hago el siguiente trato: si Ella se compromete a completar lós kilométros que restan, yo Le llvaré la mochila. Sólo por ver la cara de alegria de Cynthia al reunirse com todos los colegas há merecido la pena tanto esfuerzo.”

É, um estranho carregou minha mochila, além da dele, por 40 km, e entrei em Santiago de Compostela acompanhada de um anjo!

Tá, tá, eu sei que deve estar se perguntando qual é a vantagem de colecionar e cultivar bolhas nos pés, tendinites e coceiras. Qual a graça de andar suja, mulambenta, carregando um saco nas costas, dormindo no chão de albergues com mais cinquenta pessoas partilhando varal, tanque, chuveiro (água fria) e pedaços de sabão para lavar seus bens: dois pares de meia, duas camisetas, duas calcinhas e um casaco. Qual o sentido de largar tudo e sofrer física, emocional e mentalmente? Passar fome, sede, frio e calor?

Por que percorrer Caminho de Santiago? Deixo meu amigo Navarro responder a esta questão, em seu Diário de Bordo:

Sumergirse en esta corriente peregrina, participar de lós mismos anhelos y inquietudes de quienes la diseñaron, vivir intensamente aquellos sentimientos de fraternidad y de esperenza… Es uma experiência que bien vale la pena intentar alguna vez en la vida. Viene a mi memória um párrafo del libro “El Peregrino de Compostela” (regalo de Cynthia), obra del escritor brasileño Paulo Coelho, y que transcribo literalmente:

“De todas las formas que el hombre encontro para hacerse daño a si mismo, la peor de todas fue el Amor. Siempre estamos sufriendo por alguien que no nos ama, por alguien que nos abandonó, por alguien que quiere dejarnos”.

Por coincidência, a editora Abril lançou, como livro, o Diário de Bordo de um peregrino, “Se eu quiser falar com Deus”.

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Que tal um Day-Off em Paris? Caminhe sem rumo!
O V que faltava é: vá viajar, menina…

Cynthia Camargo

Formada em Comunicação Social pela ESPM (tendo passeado também pela FAAP, UnB e ECA), abriu as asas quando foi morar em Brasilia, Los Angeles e depois Paris. Foi PR do Moulin Rouge e da Printemps na capital francesa. Autora do livro Paris Legal, ed. Best Seller e do e-book Paris Vivências, leva grupos a Paris há 20 anos ao lado do mestre historiador João Braga. Cynthia também promove encontros culturais em São Paulo.

1 Comentário
  1. Cynthia, acabo de ler o relato do seu caminho, as lágrimas de alegria escorrem no meu rosto. Somente quem trocou as pernas pelo coração e se jogou no caminho conheceu a essência do CAMINHO DE SANTIAGO, você tomou a porção de suseya e ultreya. Alimentado dessa porção passamos a conviver com os anjos e sinais do caminho, eu entendo que é puro merecimento. Parabéns! Receba meu abraço-quebra ossos e um beijo neste coração peregrino.
    ” O caminho nunca sai de dentro da gente”
    Ass. O peregrino do Amor.

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O V que faltava é: vá viajar, menina…

Dominique - Viajar

Você já experimentou viajar sozinha? Sem marido, filho, mãe, amigos. Completamente alone?

Quantas desculpas a gente inventa, perigos imaginários, para não correr o risco de se ver frente a frente com o desconhecido. E olha que nem precisa ser uma viagem para o outro lado do mundo para dar esse medinho. Pode ser aqui perto mesmo.

Medo do desconhecido, do outro, do mal, do perigo, da solidão, do idioma, do endereço, do avião, dos mal-encarados, da religião, moral e costumes alheios e, até mesmo, medo de deixar o marido livre leve e solto (marido está pela hora da morte…). E quando o marido não deixa, essa é de lascar.

O pior medo é de se ver sozinha, será que minha companhia é gostosa o suficiente para eu me aguentar? Do que será que eu gosto? Quero seguir um roteiro pré-estabelecido ou sair a esmo, sem lenço, nem documento?

Viajar com alguém, seja quem for ou quantos forem, acabamos indo no Vai da Valsa, mas e sozinha da Silva?

Outro dia publicamos um texto sobre a escolha dos “V´s” de Vigança, Veneno ou Virtude. Eu acrescento mais um como opção: V de Viajar (sozinha), já que sou uma hedonista nata e busco o caminho mais fácil, sempre!

Olhei para o meu celular e me comparei a ele e o seu modus operandi. Me identifiquei. Sabe quando a luzinha vai baixando, o ponteiro da bateria vira um pontinho minúsculo e ele começa a enviar sinais assustadores de “Bateria Fraca”? Sou mais ou menos assim.

Estou escrevendo na recepção do dentista, depois vou para uma reunião e pretendo terminar este texto enquanto espero meu namorido sair do trabalho (porque o portão de casa falhou e ele foi de ônibus) e também tenho que passar na padaria comprar pão (meu cachorro – que peguei no meio da rua – adora pão francês) e não vai dar para continuar esta conversa…

De tempos em tempos minha bateria interna, energia e luz de mãe, esposa, profissional, dona de casa, do gato, do cachorro, das plantas, do jantar, dos pais, dos amigos, vizinhos começa a falhar e então eu parto (sozinha) para me carregar de mim mesma.

Quando parto eu me recarrego 100% de Dominique. Outra entidade, cheia de si, cheia de graça, com luz e energia que vê brilho e benção em tudo o que toca. Esta ultramagnífica Dominique só pode exercer seus outros “eus” quando vez ou outra se recarrega.

Tá, você vai me falar que minha geladeira não precisa recarregar, porque possui uma fonte de energia! Eu até olhei para ela, mas fica ali, estática, gelada… Não, eu estou me comparando ao celular mesmo, ok? Outra hora farei comparativos ao ferro de passar e micro-ondas. Agora, não!

O meu caso é este, mas fiquei pensando que toda mulher deve ter a sua fonte de energia. Ler um livro, fazer plástica, colocar silicone, dançar, correr, estudar ou encontrar sua manicure, sei lá, mas tem. Veja bem, o livro alimenta sim a alma, mas não foi você quem trilhou aquela imaginação. Plástica e silicone tem efeito temporário (É bem, vai cair), dançar, correr e continuar a estudar deveriam ser obrigatórios (nem vou entrar no debate).
A minha fonte é um pouco mais custosa que a manicure já que adoro me encontrar comigo em Paris ou Cascais. Mas eu, sinceramente, acho, longe do esnobismo, que esta receita pode e deve funcionar para grande parte de Dominiques. Ok, você pode até se recarregar com unhas feitas, mas que tal unhas feitas em Paris ou Cascais? Hum? O efeito é duradouro e se você conseguir não se viciar, como eu, terá um efeito tipo “Cinderela”, ou seja, para sempre!

Uma mulher com energia recarregada, luz e eletricidade própria não consegue enxergar escuridão. A virtude é trabalhosa. Requer esforço para evitar o copo do veneno e o prato da vingança (ainda mais que tem que comer frio).  A viagem nem te lembra do copo e do prato já que estará degustando patrimônio da UNESCO (sim, as refeições francesas são classificadas como patrimônio da humanidade) e brindando com champagne (francês)! Quem quer pensar nos outros V´s?

Você observa sua vida de longe e pasme com a delícia: Dá valor! Sente saudade do maridão ou namorado, dos filhotes e do seu cachorro abanando o rabo! Esta saudade é perfeitamente alimentada de croissants e passeios de barco. Sua melancolia tem trilha sonora de acordeom e você sofre em francês as margens do rio Sena ou nas praias paradisíacas de Cascais regadas a um delicioso vinho tinto!

Lembrou-se do pé na bunda? Da amiga interesseira? Só caminhar pela Avenida Champs-Élysées até o Arco do Triunfo. Puff! Já era!

Em momentos nefastos da vida eu tenho onde me apoiar: em mim mesma! No meu Caminho de Santiago, a pé e sozinha, na minha chegada só em Paris ou Cascais, com chuva, fome, frio e medo!

Eu fui. Eu fiz. Eu sou. Não é para se exibir “prazamigas”, mas para se lembrar do que você é capaz! Assim como sempre teremos Paris, Cascais ou o lugar que você ama, sempre teremos nós mesmas, mas é preciso que tenhamos este encontro. Uma vez que se encontrou basta lembrar-se!

Tanto faz a desculpa que você arrume: um curso de culinária para cozinhar melhor para o “benhê”, um curso de línguas, de história da arte ou de pintura de óleo sob tela. Arranje a desculpa que for, olhe o seu passaporte e sua validade, parcele em dez x no cartão o seu bilhete, reserve sua cama no Booking e vai. Igual à música que cantávamos na igreja, eu e a Marot Gandolfi: “Segura na mão de Deus e vai!” E eu completo: Vai pra Paris! Vai para Cascais. Afinal, o cheque especial é autoexplicativo: Para momentos especiais, ora!

Tá vai, pode ser pra Disney! Olha só, até Santos tá valendo, mas vai sozinha! Não, nem a melhor amiga e nem sua mãe! S.o.z.i.n.h.a.

Prometo menina, prometo mesmo, que voltará pra casa amorosa, bondosa, repleta de paciência, carinho, dedicação (sim, suas plantas morreram, seu gato está cheio de nó e sua filha só comeu chocolate), afeto, saudade e alegria! Seu coração estará repleto de si mesma e de amor por todos os outros “eus” e os outros “outros” e ainda com uma memória (daquelas de mil Giga) que vai te proteger quando os outros V´s , Vingança…Veneno…, ameaçarem voltar a te assombrar! Quem é cheio de si não esvazia-se em veneno, mas transborda-se em Valor! Opa! Mais um “V”!

Vai viajar, Dominique, vai!

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Cynthia Camargo

Formada em Comunicação Social pela ESPM (tendo passeado também pela FAAP, UnB e ECA), abriu as asas quando foi morar em Brasilia, Los Angeles e depois Paris. Foi PR do Moulin Rouge e da Printemps na capital francesa. Autora do livro Paris Legal, ed. Best Seller e do e-book Paris Vivências, leva grupos a Paris há 20 anos ao lado do mestre historiador João Braga. Cynthia também promove encontros culturais em São Paulo.

12 Comentários
  1. eu comecei a viajar sozinha por causa do trabalho. e entendi que para conhecer as cidades, teria que passear sozinha ou ficar no quarto do hotel. assim, aprendi a ir ao cinema, ao teatro e a bares e restaurantes sozinha. é bom. dá um grande poder. e, depois do divórcio fiz minha primeira viagem sozinha para os estados unidos. tive que fazer tudo sozinha, alugar carro, alfandega, hotel, compras, e pasmem!!! abastecer um veiculo nos estados unidos, sem nunca ter prestado atenção como faziaesemfalar ingles!!! isto realmente foi dificil. mas sobrevivi!! depois disto, viagens para europa, sem falar a lingua, não me impediram mais de ser feliz e aproveitar cada momento de minhas viagens!!

  2. Muito bom texto,fui a paris p 1° c 2 amigas, pois meu marido n curte Europa, n falo francés mas sabia as palavrinhas mágicas,.e sai.sózinha algumas x s problemas, e.amei, fui p Veneza e Firenze e fiz a.mm coisa !!! E muitp bom isso

  3. Querida Dominique, eu já tive o prazer de me refazer (e de fazer as unhas) em Paris…sozinha !!!! Enxergando tudo com os MEUS olhos, entrando em todas as igrejas (coisas que quase ninguém quer), fazendo só o que me desse na telha…Delicia! Estou pensando em repetir!

  4. Adorei! Viajar sozinha tbem é tudo de bom!!!
    Viajar é uma palavra magica que tem asinhas…

  5. Excelente texto!
    É muito bom descobrir e se redescobrir enfrentando desafios e oportunidades!

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Eba! Vamos esquiar nas férias? Ou não…

Dominique - Esquiar

Oba, o inverno chegou!

Hora de esquiar no final de semana na estação mais próxima.
Mas, não há estação mais próxima. Sequer há no país.
Ahhh… Então, vamos planejar a viagem e como não dá para ser um único final de semana tem que ser no mínimo 7 dias para compensar. E só!
Porque com os preços tão altos não dá mais para voltar esse ano.
Caríssimo!
Como pode uma viagem pra América Latina ser mais cara que 15 dias no verão europeu (calor, cultura, museu, história, civilização… Além de muitos loiros)????
Destinos possíveis: Chile ou Argentina – bom, diante das opções, optemos.

Vamos arrumar a mala…
Bora pedir emprestado as roupas das amigas mais abonadas, porque afinal de contas quem pode pagar essa grana toda além da viagem?
Mas vale a pena.
É tão lindo! É tão legal…
Apesar da viagem ser muito cansativa – avião, aeroportos brasileiros e argentinos (sim, a opção é Argentina) e 4 horas de uma estradinha lazarenta – Tudoooo muiiitooo linddooo!
Friozinho gostoso… Que delícia.
Vamos ao hotel.

Quartinho pequeno, né?
Ahh, mas quem precisa de quarto grande?
Não se pretende ficar no quarto mesmo.
A melhor coisa a fazer é marcar imediatamente aula particular com aquele instrutor de esqui saído diretamente dos filmes do James Bond.
Suíço obviamente.
Você finalmente acha a escolinha e a recepcionista mal humorada pergunta qual sua expertise.
– Ahhh, já esquiei umas 3 vezes sendo que a última foi há 6 anos!!!
Ela te olha com um baita desdém, quase desprezo.
Joga na sua frente a tabela de preços dos pacotes de aulas particulares.
Affffffffff. Olha estes preços!!
Mas quem converte não se diverte, né? Já dizia o velho ditado de amigas viajadas.
Agora você simplesmente não pode vender seu carro para pagar 6 aulas de esqui.
Então, pede para a mocinha os valores das aulas em grupo.
A balconista, sim, não passa de uma balconista, sarcasticamente te passa o preço para 5 aulas em um grupo de 10 pessoas.
Avisa também que só haverá aula se nevar.
– Como assim? Se nevar???
– Ah, não te falaram?
– Não!!!
– Não há neve suficiente. As pistas estão fechadas. Culpe o aquecimento Global, culpe o que quiser, mas esquiar perto demais dos trópicos dá nisso.
Bom… Só resta ficar na torcida…

Mas neva… E neva muito…
Quanta felicidade!!!!
Aquela paisagem linda… Aquele frio, que já não é friozinho, mas friozão, que delicia.
No dia seguinte, neve suficiente, botas, esquis e pools alugados, vamos a aula.
Você obviamente é a mais velha do grupo.
Muiiito mais velha. Mas fica fria.
Você tá linda nessa roupinha “cor de pêssego” da sua amiga. Você não achou que ela ia te emprestar a preta e branca novinha dela, né?
E eis que chega o instrutor.
Argentino.
Uns 40 anos.
Cara de quem bebeu todas ontem.
Cabelo ensebado que não vê água há dias.
Roupa velha e furadinha…
Sacou o estilão? Então.
Aí você dá aquele suspiro, mas não desanima. Afinal, a paisagem é linda e o frio é delicioso.

Começa a aula.
Você percebe que os colegas de turma, na verdade coleguinhas, são bem mais habilidosos que você.
Afinal, eles praticamente nasceram com o esqui no pé.
E no seu país não neva, né?
Além disso, há o fator idade, flexibilidade e gravidade.
Maldita gravidade!!!
Mas esse professor podia ser mais delicado. Ele berra muito.
Por que será que ele não tem paciência com alunas mais velhas?

Nossa que frio!
Ai… Esse tombo doeu.
Ufa. Por hoje é só.
Tudo que você consegue pensar é numa bebida quente, uma dose de qualquer coisa com teor alcoólico acima de 45% e o seu Dorflex.

Amanheceu.
Já????? Hora de levantar e ir para mais uma aula.
Já?????
Todos os músculos do corpo doem.
O Dorflex fez lá seu efeito, mas passou, assim como as 4 doses de bourbon e os 2 conhaques tomados para embalar o sono.
Mas vamos lá. Afinal, tá pago.

PQP. Que frio!!!!!
Mas a paisagem é linda.
O professor mal-humorado avisa que hoje o grupo descerá a menor montanha, verde obviamente.
Pegar a cadeirinha com frio, luvas, esquis pools, gorro, botas, óculos…
Resistir a tal da gravidade é uma tarefa impossível de ser executada com graça e charme.
Um horror subir e descer dessa traquitana, além de ser um enorme sacrifício.
Pronto! Começa a Primeira descida.
Não durou muito, né? Caiu de cara…
Caiu de novo, e de novo.
E assim sucessivamente.
Chegou. Onde mesmo?
Ai, lá vem o hermano gritando:
– Corre pra fila da cadeirinha!

Lá vai você novamente, mas a bota está pesando uma tonelada.
Darliiinnnggg. Lembrou por que faz 6 anos que você não vinha esquiar?
Aí você sobe naquele objeto de tortura que eles chamam de ski lift (o único lift que queremos é o face lift!!!).
Na hora de descer da cadeirinha, já nem se incomoda em tentar fazê-lo esquinado.
Vai rolando mesmo que é mais fácil.
Coloca-se em pé com o pingo de dignidade que lhe resta.
Respira fundo, conta até 3 e vai.
E não é que está esquiando?!?!
Que sensação maravilhosa!!!!
O vento no rosto!!!
A liberdade!!!
Mas espera….
Tá escutando o pentelho do teacher berrando alguma coisa?
– Hai que hacer la cuña!!! Hai que hacer la cuña!!!!!!!!
Ops… Too late for the cuña!
Nesta altura não sobrou nada da colega que já está esborrachada logo ali depois da curva.
E depois deste tombo cinematográfico só lhe resta recolher além de seus pedaços espalhados pela neve, seu orgulho e voltar para o hotel.

Está acabada né amiga?
Vai para o quarto toma outro Dorflex e dessa vez banho com arnica.
Antes passa na lojinha, compra uma garrafa de vodka e leva pro quarto.
Aliás, que quartinho mixuruca.
Além de pequeno, cheira mofo!
Mas você está tão cansada e dolorida que não vai nem sentir, principalmente depois do coquetel analgésico/caninha.
Batata… Capotou!

Dia seguinte…
Aquelas dores do dia anterior não são nada comparadas as de hoje. Aliás, as dores de parto normal não são nada comparadas com essas.
Dói o corpo inteiro.
As pernas roxas.
As costas parecem que foram pisoteadas.
Sentar não é uma alternativa.
Esquiar nem pensar!!!!
Ainda faltam 5 dias para o final de sua viagem.

Bom, então vamos tentar aproveitar o hotel, até porque esse quarto é pequeno demais
Gente, como esse povo tem coragem de cobrar por essa espelunca???
Vista-se e vá desfilar!
Mas quem disse que você consegue colocar o pé no chão?
Acaba de perceber que arrebentou o joelho, né?
A essa altura caro leitor/amigo, você já deve ter adivinhado que a lesão foi séria.
De volta para São Paulo, começa a via crucis: ortopedista, ressonância, cirurgia e… Repouso.

Nada de caminhadas, pedaladas e, muito menos, corridas por incríveis 12 meses!
A primavera vai chegar e vai passar…
Assim como o verão…
E você sentadinha, lembrando como era linda a paisagem de sua viagem de esqui.
Entendeu? Captou?
Gelada.
Cai fora.
Esquiar? Nem pensar!

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

4 Comentários
  1. Adoro viajar. Mas nunca nada radical em viagens . Aquela montanha russa maluca em Las Vegas, nunca. Esquiar em Insbruck na linda Áustria , jamais. Nem comer certas coisas . Noooooossa aquela salada russa em Madrid. Um dia antes do retorno, diarreia, vomito. Achei que não conseguiria voltar, com filhos pequenos ainda. Aff. Aff. Eca. Sem contar que tentaram me assaltar no Rio de Janeiro. Eu numa circular, na janela, o loirinho ( lembro dele ainda). pulou, na tentativa de roubar minha corrente de ouro, fininha, lindinha. Só arranhou meu pescoço , graças a Deus. Dai o povo solícito do ônibus, me fez guardar td. Brinquinho, correntinha, aneizinhos….que coisa, há mais de 30 anos e o Rio de Janeiro continua lindo.!!!!!kkkkkkk

  2. Dominique, concordo totalmente com você. Ir esquiar, para quem não nasceu num país que neva toneladas todo o inverno ou não é frequentadora assídua das mais badaladas estações de esqui, todo ano, é uma furada. Cada vez que fui esquiar com filhos e marido (eles adoravam, claro) eu torcia todo dia, ao acordar de manhã, que toda a neve da montanha tivesse derretido, mas infelizmente ela continuava lá, branca e gelada. Eu ia junto, para não ser tachada de chata e sem espírito esportivo e fazia o sacrifício de sentir medo cada vez que tinha que descer do lift e me equilibrar sobre os esquis, montanha abaixo. Até que quebrei uma perna, no que foi, logicamente, a última vez que me impus “deliciosas férias de inverno” numa estação de esqui.

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