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Mentira do bem – 3 mentiras que contei para não fazer mal a ninguém

Vamos falar sobre mentira?

Mentira #1

Oba…Festa de 50 anos da Alice. Festão. Vai todo mundo. Sabe quando as amigas estão no maior frisson? Whatsapp a mil.
– Com que roupa você vai?
– E cabelo?
– Você me empresta a sua clutch vermelha?
– Você sabe se fulano vai?
Enfim, esta curtição de antes do evento é uma delícia. E chega o dia. Valentina combinou de passar para me pegar.
Entro no carro e noto que a maquiagem dela está um pouco pesada. Mas deve ser a pouca luz.
– Nossa, Dominique, como você está bonita.
– Você também, Vale.
Chegamos à festa e, ao sair do carro, percebo que a Valentina, além de estar com uma maquiagem muito pesada, usava uma roupa que a engordava e a envelhecia.
Errou. Errou feio. Fazer o que? Acontece.
– Gostou da minha roupa, Dominique? Estou bem?
– Sim, amiga. Está ótima!
Menti. Menti. Menti.
O que adiantaria, já entrando na festa, dizer que aquela roupa não a estava favorecendo? O que adiantaria deixá-la insegura? Por que cargas d’água estragaria a noite dela?
Entramos, conversamos, dançamos, bebemos, rimos e fomos embora.
Com certeza ela deve ter sido alvo de fofoquinhas maldosas de algumas coleguinhas. Mas até aí, falamos de um monte de outras também. Faz parte.
E, numa outra ocasião, com calma e com muito jeito, falei que talvez aquela saia não ficasse tão boa com aquela blusa.

Mentira #2

Num boteco qualquer, lá pelas tantas, depois de outras tantas caipirinhas, Suzana me jurou amizade e amor eterno. Sabe aquelas coisas?
Eu disse que, da minha parte, ela sempre teria o mesmo.
– Dominique, sou e sempre serei a sua amiga, até de baixo d’água. Você sempre poderá confiar em mim. Desta boca só a verdade. Deste coração só amor sincero.

Muiiiiiita caipirinha. Eu sei. Mas, mesmo com todo este teor alcoólico nas veias, o teor de seu discurso parece coerente, né? Me desculpe. Não. Nem sempre. Não para mim.

Algum tempo depois esta mesma amiga foi vítima de uma reviravolta na sua vida.
Passou por baques e perdas horrorosas. Sofrimentos profundos.

Procurei Tânia, outra amiga nossa em comum, amiga muito querida, que com certeza poderia apoiá-la num determinado aspecto. Liguei, conversei e aguardei um retorno. Aguardei. Liguei novamente. Mandei mensagem. Aguardei. Até que, finalmente, a Tânia respondeu. Por mensagem…“Por favor, Dominique, não tenho estrutura e não quero me envolver com os problemas da Suzana. Não me procure mais. Sigamos nossos caminhos, quem sabe um dia, lá na frente…”

Li a mensagem, respirei fundo, deletei não só a mensagem, mas o contato dela e fui ver minha amiga Suzana.
– Suzana, você acredita que a Tânia está morando na Namíbia? Sério. Foi o primo dela que me contou. Por isso que não conseguia falar com ela.
– Nossa, será que ela está bem lá? Namíbia? Tão longe… Tomara que esteja bem, né, Dominique?
– Tomara.

Mentira #3

– Dominique, você é minha amiga, minha super e melhor amiga. Se um dia você souber que o meu marido está me traindo quero que você me conte.
– Vera, pois eu não. Não quero que você me conte caso saiba que estou sendo traída.
– Mas por quê? É claro que eu vou te contar.
– Querida. Se eu estiver sendo traída, em algum nível de minha consciência eu vou saber. Se não fui atrás, é porque não quis. Se não fui fuçar no celular dele, é porque não quis saber. Mas, se você me contar, AÍ eu vou ficar sabendo e AÍ TEREI que tomar uma atitude. Você entende?
– Ah! Mas comigo é diferente. Se você não me contar, eu vou considerar VOCÊ a traidora.

Suspirei fundo. Olhei para baixo. Fiz uma pausa para reflexão. Aproximei a minha cadeira da dela. Segurei em suas mãos. Olhei em seus olhos e disse:
– Bom, Verinha, se é assim, preciso te contar uma coisa muito séria.

Verinha ficou branca. Sua mão imediatamente molhou daquele suor gelado. Seu lábio começou a tremer. Mas o pior, pior de tudo, foi o jeito que ela me olhou. Seu olhar era de ódio. De raiva. E, ora vejam, contra mim. Ela estava com raiva de mim.
– Conta, Dominique. CONTA! Conta agora!
Soltei sua mão. Afastei a cadeira.
– Não, Vera. Não sei de nada. Não sei mesmo! Mas veja a sua reação.
Quero apenas que pense no que sentiu agora. E se quer realmente saber o que talvez não queira. A única coisa que eu posso te garantir é que EU não sei de nada.

Mentir é feio? Depende. Às vezes, a mentira é para o bem!

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Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

5 Comentários
  1. Adorei, Dominique, suas Três Mentiras…
    Realmente,tem hora que precisamos analisar profundamente se realmente vale a pena contará verdade para alguém!
    Já vivi isto e optei pelo silêncio… A verdade, naquele momento não seria boa para ninguém!

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