Tag: Trapaças

Pequena trapaça com o Ano Novo

Sou uma pessoa de fazer resoluções de Ano Novo. Já foram muitas. Para meu assombro, cumpri várias. A lista diminuiu muito. Não sei se é bom ou ruim, mas tenho cada vez mais dificuldade de definir novas resoluções, sejam mudanças de hábito ou desejos. Alguns sonhos perderam a importância e os hábitos que mais me atrapalhavam, consegui dar um chega pra lá.

É um pouco ruim. Parece que agora falta algo passional, incomodativo pra me empurrar. Também é bom, mostra um pouco da paz de espírito que os 50 trazem.

Mas o Ano Novo chegou. Então, resolvi fazer uma trapaça. E se eu assumisse a resolução de alguém importante pra mim, de quem eu desejasse uma tomada de decisão que me beneficiasse?

Sabe, do tipo fazer promessa para outro cumprir? Ouvi muitas dessas histórias de família.

“Se me conceder casar com a Lilica, o Afrânio vai ficar cinco anos sem cortar o cabelo.” “Se curar minha lombeira, a Tóta vai de joelhos até Aparecida.” “Se me ajudar com a venda da casa, alguém na família vai ser padre e servir ao Senhor.” Pois é.

Pensei a resolução como uma mensagem dirigida a mim, uma declaração de profundo sentimento e compromisso.

Quem me deu a ideia foi uma amiga, de quem fiquei morrendo de inveja. Ela ganhou esse presente do namorado uma carta que eu adoraria receber de alguém muito importante na minha vida. Para deixar a coisa bem concreta, publico um resumo dessa mensagem preciosa (com a licença da amiga e do namorado).

“Tivemos a noite da virada e, com ela, fizemos as resoluções de fim (ou de início) de ano. Sim, aquelas que fazemos em todas as viradas de ano e que nem sempre ou quase nunca cumprimos (sei que você cumpriu algumas).

Diante desta realidade pensei: por que esperar mais tantos dias? E por que precisa ser no plural e não no singular? Ouvi alguém dizer que prioridade é uma palavra que não tem plural. No momento em que temos prioridades, deixamos de ter A prioridade.

Assim sendo, apliquei o mesmo conceito às resoluções. Ficaria satisfeito se conseguisse botar em prática de verdade pelo menos UMA resolução! Tudo ficou muito mais fácil. E qual seria, não precisei pensar muito: retomar as caminhadas diárias três ou mais vezes por semana. Na minha fase da vida, isso é imprescindível para a saúde física e mental.

Pequena, nunca fui sedentário, muito pelo contrário. Entretanto, estes últimos anos, relaxei por “n” motivos que nem preciso expor aqui. Essa é, portanto uma boa resolução, retomar a regularidade das caminhadas. Mas o que poderia me motivar? Não precisei pensar muito.

Nos últimos anos, tenho uma namorada que é praticante de atividades físicas e faz caminhadas regulares. Quando acorda, religiosamente, faz exercícios de alongamento ainda na cama, pelo menos 10 minutos, todos os dias. Sim, todos os dias!

Temos a mesma idade e comecei a pensar em mais uma razão para retomar as caminhadas – minha saúde. Imagino que, se continuarmos juntos como tudo indica, tenho que estar em forma e manter a saúde.

Preciso me lembrar que, se amanhã um de nós adoecer, o outro será totalmente atingido e cuidará do que adoeceu. Assim sendo, quero postergar ao máximo essa possibilidade. Seguirmos lado a lado com a mesma disposição e preparo físico.

Estou firme na minha resolução pré Ano Novo. Caminhei quase todo dia desde que me decidi. Vamos empatar na disposição física.”

Não é simples? Não quero complicar a vida de ninguém. Basta uma resolução firme no ano, a “prioritária”, como fez o namorado da minha amiga. Aquela que vai melhorar a vida dos dois.

Aí está minha contribuição às resoluções de Ano Novo. Desejo receber uma carta assim. Quem sabe dá certo.

Feliz Ano Novo, Dominiques.

Inês Godinho

Jornalista, brasileira, ciente das imperfeições e das maravilhas da vida. Contradições? Nada causa mais sofrimento do que um texto por começar e não há maior alegria que terminá-lo.

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