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A Lua Santinho! A Lua!

Dominique - SantinhoSemana comemorativa dos 50 anos do homem nA Lua.

Domingo.

Aquele não seria um domingo diferente na casa de Celinha e Vitor.

Missa, almoço na casa dos pais. Uma passadinha na confeitaria para aquela extravagância que só o domingo permitia. E a caminhada  de volta para casa.

Casadinhos de novo, todo dinheiro poupado era bem-vindo afinal queriam sair do aluguel, pensavam em aumentar a família e assim por diante…

Vitor tinha grandes perspectivas na agência do banco em que começou trabalhar aos 14 anos. Quem sabe até conseguisse fazer faculdade à noite no ano seguinte.

Celinha trabalhava como recepcionista em um consultório médico.

Tinha certeza que o investimento que estava fazendo no curso de datilografia seria seu grande diferencial para promoções e quem sabe, eventualmente, secretariar algum executivo.

Estavam quase conseguindo comprar uma TV. Mas a geladeira, com certeza foi prioridade. O telefone teria que esperar muiiito. Viveriam por um bom tempo dos recados dos generosos vizinhos, Seu Manoel e Dona Veridiana.

Chegaram em casa. Ligaram o rádio. Aquela noite a TV faria muita falta. Era o tão esperado dia em que o homem pisaria na Lua.

Não se falava em outra coisa. Muitos não acreditavam.

Será mesmo que era tudo armação?

Será mesmo que o homem conseguiu chegar até lá?

Bom, o negócio era ligar o rádio. E tentar imaginar tudo.

Celinha começa a preparar com carinho as marmitas do dia seguinte e a separar a roupa de Vitor. Afinal, ele deveria ser o mais bem arrumado do banco.

Ela fazia questão. Tinha que ser a esposa mais esmerada. Quando toca a campainha.

Era Santiago, filho dos generosos vizinhos, Seu Manoel e Dona Veridiana.

– Boa noite, Vitor, vim convidar vocês para assistirem o pouso da Apollo 11 lá em casa.

– Ahhh, Obrigada Santinho – este era seu apelido, apesar de ser um rapaz de 20 e poucos anos com mais de 1m80 – Mas vai ser tarde. Não queremos incomodar seus pais.

– Minha mãe quem teve a ideia. Este pode ser o evento mais importante do século, Vitor. Você sabia que é a primeira vez que o mundo inteirinho vai ver algo acontecendo ao mesmo tempo? Não é tremendo? Vamos lá, Celinha?

– Ahhh, Vitinho, por favor… Vamos! Amanhã todas as meninas estarão falando sobre isso no trabalho.

– Tá bom… Mas, Celinha, pega aquele milho.

Chegaram à casa de seus vizinhos que já estavam no sofá com a TV ligada, bacias de mandiopã espalhadas pela mesinha e uma jarra de suco de uva.

Receberam os jovens vizinhos com afetuosos sorrisos e todos se acomodaram para o grande acontecimento.

Mas a verdade é que a coisa demorou.

E nada da águia pousar.

A coisa já estava ficando chata.

Celinha não tinha muita paciência para estas esperas e já estava preocupada com o horário. Tinha que acordar cedo. Cedíssimo!

Então, resolveu se mexer pra ver se o tempo passava mais rápido. Foi para a cozinha lavar a louça tentando poupar a anfitriã de um trabalho futuro.

Distraída, olhando para a escuridão que a janela a sua frente proporcionava, com o som da TV ao fundo, levou um susto quando uma pessoa de repente, apoiou-se do lado de fora na mureta da janela.

-Affff, Santinho, que susto! O que você esta fazendo aí?

– Cansei de ficar lá dentro e vim te ver. Você e a Lua. Por que ver pela TV quando posso ver ao vivo? Justo hoje que tenho a oportunidade de te ver de pertinho, vou ficar longe?

– Meninooooo. Tome tento!

– Ahhh, vá dizer que não percebe que fico pendurado deste lado olhando você no seu quintal limpando suas janelas?

– Santinho, volta pra sala…

– Você é uma uva, Celinha. – E ele saiu da janela do mesmo jeito que entrou.

Celinha volta para sala rubra.

Claro que via aquele moço – que não era nem tão moço assim, afinal os dois tinham 23 anos – secando cada movimento seu do outro lado do muro baixo que dividia suas casas.

Claro que se sentia envaidecida por despertar estes olhares.

Claro que talvez até inconscientemente provocava o menino com movimentos mais demorados que o necessário ou com botões de blusas acidentalmente desabotoados. Mas jamais imaginou que ele poderia falar daquele jeito com ela. Era uma coisa inocente em sua cabecinha.

Bom… Sentadinha ao lado do maridão tentou se concentrar no que o speaker falava, nas imagens e também nos palpites do Seu Manoel.

Tentou puxar assuntos com Dona Veridiana, mas esta já cochilava e não estava muito presente.

Santinho sentado de frente para Celinha, ignorava solenemente o conteúdo televisivo.

Olhava descaradamente para ela. Para suas pernas!

Tamanho foi o constrangimento e desconforto de Celinha que se levantou e perguntou se alguém queria algo já que dona Veridiana descansava um pouquinho.

– Ô meu amor… Que tal mais um belisquete? Será que dá para estourar aquela pipoquinha?

– Claro…

Na cozinha, agachada, procurando uma panela apropriada embaixo da pia, quase berrou quando sentiu uma mão em seu ombro.

– O que você esta fazendo?

– Vim ver se você precisava de ajuda.

– Não. Não preciso – disse Celinha levantando-se de um salto.

Panela no fogo. Óleo quente. Milho na panela. E o delicioso barulho do estourar dos grãos de milhos. Um. Dois. Cinco. De repente aquele barulho de muitos e muitos ao mesmo tempo. E foi justo neste momento que Santinho abraçou Celinha por trás e beijou-lhe a nuca. Cochichando em seu ouvido algo que a fez corar e quase desfalecer.

Desvencilhou-se dele com certa agressividade.

Virou-se para ele. Olhou demoradamente e profundamente dentro de seus olhos e falou quase que gritando:

– Preciso de uma tigela para pipoca!

Entrou na sala, quase que jogando a tigela de pipoca para Vitor e avisando.

– Não vou aguentar ver até o final. Estou morrendo de sono… Vou pra casa dormir. Fica aí você, amor.

– Mas meu bem… Falta pouco agora.

– Não precisa ir comigo. Moramos aqui do lado. Fica querido. Assiste até o fim. Eu é que não estou me aguentando em pé. Boa noite, gente!

E saiu daquela casa como se estivesse saindo de uma casa em chamas. Correu.

Enquanto isso, a pipoca era devorada e a ansiedade crescia à medida que a nave se aproximava de seu destino.

Por algum motivo macabro, os locutores começaram a lembrar do acidente que matou 3 astronautas do programa 2 anos antes. Isso só fez foi aumentar a tensão de todos…

E começa uma estranha contagem regressiva feita por um dos astronautas. Até que todos escutam…

And the eagle has landed.

Junto com estas palavras ecoaram nas ruas urros, berros de felicidade e de comemoração.

O que ninguém reparou é que um destes gritos, que se misturou aos outros, foi de extremo gozo e prazer.

Assim como ninguém reparou em Santinho entrando em casa pela porta dos fundos, enquanto Vitor se preparava para ir dormir com sua Celinha.

Quem diria que essa história sobre o primeiro homem na lua iria acabar assim? Esse Santinho. E sempre A Lua como bom cenário.

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Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

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