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Histórias da praia 2 – Ela e seus deliciosos segredos

Dominique - PraiaO pessoal brinca que sou eu que abro a praia, acendo o sol, ligo as ondas, penteio a areia e ensaio os cardumes de peixinhos para darem showzinhos para a criançada. Isso porque sou sempre a primeira a chegar a praia.

Acordo cedo. Muito cedo.

Quando o primeiro raio de sol insinua-se pela fresta de minha veneziana, pulo da cama, coloco biquini, tomo meu café como se fosse uma bebida sagrada e vou andar na praia.

Você não tem ideia do prazer que é andar num dia de verão, 7 horas da matina, ouvindo música, sempre com ela –  passei pelo walkman, discman, Ipad, Iphone – numa praia completamente deserta.

Uma felicidade que nunca consegui descrever.

Jamais capturei a beleza destes momentos em foto alguma.

E não há vez que eu não fique emocionada. É nesse momento que eu sinto a presença de Deus. São nessas caminhadas que eu tenho certeza de Sua existência e de Sua companhia.

Como vou muito cedo, sempre tenho a praia só pra mim. E como se tivéssemos feito um pacto de sermos uma da outra naquelas horinhas.

Ahhhh, mas vez por outra, alguém aparece.
E me sinto traída.
Enciumada.
Com um sentimento de ter sido invadida.
E obviamente um tanto ridícula também.

Isso começou acontecer com mais frequência num determinado ano, lá atrás. E na grande maioria das vezes, era sempre a mesma pessoa.

Uma mulher. Mais ou menos da minha idade. Morena. Mais ou menos como eu.
Isso aconteceu por muito tempo. Não sei precisar. De tanto nos cruzarmos e de tantos bom dias, começamos a andar juntas.

Acho que nem sabíamos nossos nomes, pois os encontros eram muito casuais e as conversas de uma espontaneidade e verdade que talvez fosse melhor continuarmos estranhas íntimas.

Falávamos de sentimentos, de comportamento, de filhos, de casamento, de amizades com uma liberdade que talvez só nos permitimos justamente por não sabermos nossos nomes.

Até que um dia, descobrimos que nossos filhos, eram superamigos na praia. Estavam sempre juntos! Na verdade, foram eles que nos contaram.

– Mãe, você sabia que você anda todo dia com a mãe deles na praia?

Gente, existe amizade mais gostosa do que uma que foi estabelecida assim?

Descobri depois que ela se chamava Maria.

E conhecia minha queridissima vizinha Maria Eduarda – Duda, que frequentava aquela praia desde 197X, quando não se tinha porque usar salto, nem como ter um ventilador.

Foi Duda quem me falou logo que nossas casas ficaram prontas num condomínio com 10 casas, sendo a maioria dos moradores casais da nossa idade com filhos idem:

– Estamos na euforia do começo. De nos conhecermos. Muita coisa vai acontecer com o tempo. Daqui 10 anos muitos já não estarão aqui e muitos já nem juntos estarão.

Aquelas palavras me pareceram um tanto fora de contexto num momento em tudo era lindo e todos eram tão felizes.

Mas foram palavras proféticas. Muita coisa mudou ao longo destes anos todos. Mas muita coisa não.

Sabe a impressão que eu tenho depois de tanto tempo e tantas caminhadas?

Desculpe a pretensão, mas para estar naquela praia há de se merecer.

Há de se amar tanto a ponto dela não ter coragem de te fazer sair.

É ela quem manda. Sempre mandou.

Sim meninas. Somos grandes merecedoras da nossa praia. Beijocas

Leia Mais:

Histórias da Praia 1 – Amigas na reunião de condomínio
A despensa da minha avó, uma recordação que guardo com carinho

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

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Piloto de avião Tereza Paz é uma verdadeira Dominique com asas!

Dominique - Piloto
Teresa Paz é uma Dominique, não há dúvida!

Mulher, mãe, esposa, filha, linda, decidida, independente, cheia de iniciativa, ousada e muito, mas muito corajosa. Ela é uma piloto de aviação comercial.

Confesso que nunca havia pensado na estratégia que uma mulher ativa, assim como nós, precisa fazer para administrar tudo que fazemos a milhares de pés de altura.

Formada em Comunicação e Artes pelo Mackenzie, Teresa acredita que sua paixão pelos céus tenha sido herdada da avó que tinha o sonho de voar e do espírito aventureiro dos pais.

Até 1982, no Brasil, não havia mulheres pilotos na aviação comercial e as empresas existiam no mercado há 60 anos no país! Na Azul, onde trabalha hoje, apenas 54 dos mais de 800 pilotos são mulheres. Boa notícia, não há diferença entre os salários. Ufa, até que enfim!

Dominique - Pilotos

Teresa começou a voar em 1995 e conheceu seu marido, piloto também. Juntos há 25 anos, ela atribui o sucesso do casamento a ambos exercerem a mesma profissão. E olha que os dois tem diferenças que poderiam arruinar qualquer união, por muito menos casamentos são desfeitos. Ele é judeu e ela católica. Ele sãopaulino e ela corinthiana.

E, como a vida é cheia de surpresas, quem se dá melhor é quem se adapta às mudanças, Teresa não foge à regra. Ao entrar na Varig, engravidou três meses depois. Não estava nos planos, mas surpresas são sempre bem vindas! Para se ter uma ideia do pioneirismo, a empresa não tinha plano de licença maternidade para pilotos, ela foi inaugurou. Como a pressurização é prejudicial à gestação, ela trabalhou em terra durante 11 meses, revisando manuais e dando aulas sobre segurança de vôo.

Amigos, vizinhos, cachorro, papagaio falavam que ela desistiria. É uma tarefa hercúlea ser mãe e piloto ao mesmo tempo? Praticamente impossível! Aí é que fica mais gostoso. Desafios, é isso que a move.

Quando sua bebê completou 4 meses, Teresa ficou 40 dias na Holanda em treinamento. Espalhou fotos da pequena pelo quarto inteiro do hotel que funcionava como um estímulo. Para tentar me fazer compreender o que passou neste período, ela fez um paralelo com um meme que circulou no Dia Internacional das Mulheres, o desenho de uma mãe com uma garotinha que pergunta – Mãe, o que é desistir? E a mãe responde – Não sei filha, nós somos mulheres!

Os avós dos dois lados e uma babá foram essenciais para o sucesso da missão. Até hoje, para sair tudo dentro dos conformes, ela vê a escala de vôos do marido, a sua escala e aí sim faz a escala de trabalho da sua secretária do lar. Uma piloto não pode se dar ao luxo de ser desorganizada até para poder lidar melhor com os imprevistos.

Ela e marido eram pilotos na Varig, em 2005, quando a empresa quebrou. Ambos desempregados por um ano. Viveram um perrengue e tanto com duas filhas pequenas. E, como toda Dominique, Teresa partiu para a luta. E não é que sua licenciatura em Comunicação e Artes veio a calhar? Passou a ser facilitadora de aulas de segurança de vôo, teóricas e em simulador. Deu aulas na Índia, em Paris. Não estava voando como piloto, mas nunca perdeu a chance de estar no ar.

Para ganhar mais algum, vendeu panos de prato, artesanato, aprendeu a pintar pregadores para fechar embalagens, entre outras coisinhas! Fala a verdade, você se reconhece aqui, concorda? Ah! Esta Teresa é Dominique de corpo e alma.

Neste ano de desemprego que não terminava nunca, um belo dia chega em casa, aflitíssima, porque não conseguiu comprar quase nada no supermercado e encontra o maridão jogando gamão com alguém do outro lado do planeta. Teve um surto e soltou: – Pelo amor de Deus, pega esta moto velha na garagem e vai ser motoboy! Já vi este filme com outros autores.

Com um sorriso contagiante e os olhos brilhando, Teresa confessa que o marido é seu maior fã. Ele a admira e não esconde isso de ninguém. É recíproco.

Falando em admiração, as filhas se enchem de orgulho da mãe, da sua profissão e de como ela dá conta de tudo sem perder a ternura. Talvez, a rotina que não é rotina de Teresa seja justamente o que fortaleceu a amizade, o compaheirismo a responsabilidade e a independência entre as meninas, Natalia, com 21 anos e Michaela, com 17.

Certa vez, a diretora da escola disse que a Teresa era uma mãe muito mais presente do que outras que estavam 100% ao lado dos filhos. Pai, mãe e filhas preservam a qualidade do relacionamento. Quando estão juntos, estão juntos. Não tem celular, facebook, instagram.

Era sua folga, no dia que conversei com a Teresa e ela estava cuidando da mãe, uma senhora encantadora e querida, D. Alzira, com 92 anos, que fez questão de me mostrar suas mãos impecáveis, as unhas pintadas de vermelho maravilhoso, só que ela não revela o nome da cor do esmalte para ninguém copiar!

Desde a mãe ficou doente, há 2 anos, Teresa reveza com a irmã os cuidados com D. Alzira. Estes momentos são unicos, uma forma de retribuir tudo que recebeu e também de mostrar para as filhas o verdadeiro significado de família.

Ela acredita ter uma genética privilegiada, herdada da mãe que até dois anos atrás, antes de quebrar o fêmur, andava de bicicleta e nadava. Talvez sua saúde de ferro se dê também pela atividade física constante. Teresa pode esquecer até o batom, mas a corda está sempre na mala. A maioria dos hotéis tem academia, mas just in case, pula corda por horas a fio no quarto até pingar de suor. Para quem fica 8 a 9 horas sentada, não há genética que resista. Atividade física é obrigação.

Dominique - Piloto

Apesar de não consumir medicamento, quando precisa são poucos os medicamentos que pode tomar. Os pilotos são instruidos a não usar nada que afete o sono, cognição, atenção ou coordenação motora. Em 10 anos na Azul, se pediu duas DMs (despensa médica) foi muito. E uma delas, foi quando seu pai faleceu.

As pessoas em geral vêem a aviação com um certo glamour que não existe. É um trabalho como outro que exige estudo, dedicação, pressão, reciclagem. Imagine se há energia sobrando, depois de 9 horas de vôo, para ir para uma balada, city tour, compras! Eles chegam exaustos no hotel e precisam descansar para enfrentar o dia seguinte.

E, como toda a família, colecionam casos hilários como a ida ao show dos Jonas Brothers no estádio do Morumbi em SP. Ela com vôo marcado, o maridão em terra, teve que encarar a aventura de levar duas garotinhas, uma com 10 e outra com 6, mas apenas duas cadeiras cativas! Claro que ele sofreu por antecipação durante uma semana e na hora foi quem mais se divertiu.

Com duas meninas é quase que impossível não rolar balé! E por que não a apresentação do ensaio final marcada nos 45 do segundo tempo? As mães convidadas a participar. Teresa nos ares. Maridão em terra assume o leme e vai para o ensaio. No final, as mães são chamadas para dançar na frente. A filha, minúscula, arregala os olhos para o pai que, não teve dúvida, foi lá pra frente e dançou muito melhor do que qualquer mãe ali presente!

E o preconceito por ser uma mulher piloto? Ah! Como existe, embora venha diminuindo muito com o tempo.

Uma amiga da Teresa, há 5 anos, passou por uma situação que foi parar no Jornal Nacional. A piloto já na cabine vê que um passageiro está falando e gesticulando com o despachante (o funcionário responsável por entregar os viajantes à aeronave), empatando a fila. Quando enfim o homem entrou no avião, ela foi falar com o despachante que, relutante, conta que o homem ficou muito bravo quando descobriu que o piloto era uma mulher.

A comandante resolveu chamar o passageiro à cabine para acalmá-lo e explicar que não há nenhuma diferença entre os sexos, todos os pilotos passam pelos mesmos treinamentos, todos os anos, teóricos e práticos, envolvendo segurança de vôo, portanto, têm a mesma competência.

O homem olhou bem para ela e disse – Muito bacana, agradeço sua explicação, mas se eu soubesse que o avião seria pilotado por uma mulher não teria comprado a passagem. Só vou mesmo porque tenho uma reunião. Acho um absurdo a companhia aérea não ter avisado.

A piloto, sem titubear, virou para o homem e disse: – Não tem mais a reunião não. O senhor não vai no meu avião. E pediu delicadamente para ele descer da aeronave. Os pilotos são a autoridade máxima no avião e tem a autonomia para tirar quem quiser do vôo se isso representar algum perigo ou tumulto. E,cá pra nós, este ser tinha tudo para transformar aquela viagem em um inferno.

Teresa, por vezes, é alvo de olhares desconfiados. Na chegada ao destino, quando sai da cabine, quem mais se surpreende são as mulheres que, não raro, comentam – Ah! Se meu marido soubesse que era uma piloto ele não teria entrado no avião. E, ela, sorridente e gentil, como sempre, finaliza com classe – Mas como a senhora sabe do que nós, mulheres, somos capazes, tenho certeza que o tranquilizou. Adoro estas espetadadelas! Tudo a ver com Dominiques.

A rotina de um piloto não é branda. São cobrados e muito cobrados. Quando reprovados no simulador há apenas mais uma chance. Reprovação na segunda vez é demissão.

E, a rotina para uma piloto é maior árdua ainda, afinal as mulheres são acumuladoras de tarefas, uma espécie de empilhadoras de pratos chineses.

Fora a solidão quando se está em terra, mas longe de casa, tanto que o alcoolismo é comum na aviação e, quase sempre detectados pelos colegas, levam pilotos e copilotos a se afastarem do trabalho.

Teresa é uma prova de que não há almoço grátis. Tudo requer esforço, dedicação e cuidado. Mas fazer aquilo que se ama não tem preço, seja com os pés fincados no solo ou a milhares de pés de altura.

Você já imaginou ser piloto de avião? A Teresa tem uma fibra que só as Dominiques tem, concorda?

Leia Mais:

Vou mudar de país e agora terei o mundo para chamar de meu
Todos têm direito a uma segunda chance, até mesmo os cupidos!

Marot Gandolfi

JORNALISTA, EMPRESÁRIA, AMANTE DE GENTE DIVERTIDA E DE CACHORROS COM LEVE QUEDA PARA OS VIRALATAS.

6 Comentários
  1. Tive a oportunidade de conhecer. Mulher incrível minha admiração transcendeu. Orgulho de voar sobre seu comando. Uma honra
    Simoni /Rondonópolis

  2. Teresa nos abrilhanta com sua luz e exemplo incrível de profissional, lindo texto , parabéns

  3. Parabéns pela reportagem, tive o prazer em 2015 fazer um voo de Belo Horizonte a Goiânia sob o comando da comandante Teresa e olha que ela pousou o avião direitinho rsssssssssssss, brincadeiras a parte foi um excelente voo parabéns a ela que é um exemplo. Nesse voo estava eu e minha ex chefe e quando ela ouviu a comandante Teresa se identificar ela disse: É uma mulher que vai pilotar, meu Deus. E eu respondi: Uai vc não é engenheira rsssssssss. Parabéns a comandante Teresa.

  4. Costumo dizer q se n fosse mulher, teria inveja de quem é,eu sou uma pessoa q c tds dizem ligada no 550…6.6 faco mil coisas, vou a academia tds os dias, minha terapia, meu horário so meu,mas levado a serio, amo atividades fisicas, cozinho, costuro,acordo pensando em fazer 10 coisas, e quase sempre FAÇO,as x n da tempo de fazer tds, mas n me puno c antigamente, aprendi a ser menos exigente comigo, hj p ex deixei de ir a fisio p almoçar c amigos, e assim vou vivendo sendo feliz c mulher ⚘

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Nossos filhos, nossos sonhos? E se as escolhas deles forem diferentes das nossas?

Dominique - Filhos
Muitas mulheres idealizam e imaginam que seus filhos irão fazer escolhas perfeitas que elas consideram adequadas e aceitas socialmente. E esquecem do detalhe mais importante: o fato de que os filhos tem seus caminhos e motivos próprios. E acabam fazendo escolhas que nem sempre correspondem aos projetos dos pais….

Desde cedo os filhos vão internalizando aprendizados, regras, valores e significados extraídos da convivência com a família, amigos, da inserção nos grupos, na escola e com as diversas experiências da vida. Esse repertório é único…basta imaginar que dois filhos, que cresceram e viveram na mesma família, passaram pelas mesmas situações e, mesmo assim, são diferentes na sua forma de ser, agir e ver o mundo. Nossa história de vida e nossos aprendizados são elementos essenciais na forma como decidimos viver.

A relação entre pais, mães e filhos atravessa constantes reformulações ao longo da vida. Os pequenos se limitam a fazer escolhas em algumas esferas da vida e, na maior parte das vezes, são direcionados pelos pais. As crianças se tornam jovens e querem alçar voos com maior independência, arriscar, tomar decisões. Nessa fase, muitos já decidem suas carreiras profissionais, descobrem como desejam se comportar afetivamente e sexualmente, e fazem outras tantas escolhas importantes que podem perdurar vida afora.

Os pais precisam encontrar o sábio equilíbrio entre apoiar e impulsionar os filhos para a autonomia. Essa é uma arte que requer desprendimento, principalmente para compreender que não controlamos tudo, que nossos filhos se tornaram ou se tornarão seres únicos, adultos e independentes (que bom!) e irão fazer escolhas próprias que podem não corresponder ao que a mãe considera certo ou que seja o melhor caminho a ser seguido.

Deve-se confiar nas sementes lançadas na criação dos filhos, acreditando na capacidade de desenvolvimento deles em gerenciar a própria existência. Mesmo que se discorde das escolhas dos filhos, é necessário respeitá-las, pois somente o próprio indivíduo é capaz de avaliar a melhor forma de viver o seu dia-a-dia.

Obviamente que isso se torna muito mais preocupante quando os filhos fazem escolhas destrutivas como o uso de drogas, cometimentos de crimes e outras questões mais graves que necessitam atenção específica e especializada. Tais condutas podem significar que não estão conseguindo conduzir suas vidas com equilíbrio e responsabilidade. Ainda assim, escolhas foram feitas. E as mudanças vão depender de esforço e da força de vontade da própria pessoa para que aconteçam.

Considerar os filhos como extensão dos próprios sonhos pode ser frustrante; torna-se essencial que possamos olhar para as pessoas e aceitá-las como são e desejam ser. Os filhos crescem, evoluem e devem trilhar caminhos próprios e de bem (entendendo que há diversos bons caminhos) para que sejam autônomos e felizes. Cabe às mães refazerem seus projetos, remanejar suas expectativas e seguirem em frente com paz no coração.

Para algumas mulheres talvez esse seja um ponto difícil. A escolha de como os filhos querem viver. E os sonhos dela? E se ela é louca para ser avó e esse filho(a) não quer ter filhos? E se ela sonha com um filho(a) médico(a) e ele(a) decide ser músico(a)? Muitos conflitos surgem nessa hora, porque todos querem ser contemplados nos seus anseios.

Mas se o nosso sonho depende do outro, como podemos decidir sobre ele? Como obrigar os filhos a terem filhos se não querem? Como obrigá-los a estudar medicina se isso os tornará infelizes?

Em algum momento dessa trajetória, os filhos também tiveram que lidar com suas idealizações sobre seus pais. Os filhos também desejaram que os pais fossem diferentes ou fizessem coisas que não fizeram. Relacionamentos são vias de mão dupla…os filhos também tiveram que lidar com os pais que seus pais nunca foram.

A vida é feita de realizações e frustrações. Lidar com a frustração de um sonho não realizado pode ser doloroso, mas é extremamente importante e pode conduzir ao amadurecimento.

A energia emocional ligada ao que não foi realizado conforme idealizamos fica presa, impedindo que outros projetos e sonhos possam surgir e tomar forma. Quando nos desprendemos e superamos, passamos a enxergar novas possibilidades, a respeitar o movimento da vida. A ressignificação abre os caminhos: Quem deseja ser avó pode exercer esse papel com outras crianças da família ou filhos de amigos e que tal assistir a um recital do filho músico? Pode ser divertido descobrir novas afinidades e caminhos!

Como você lidou essa questão com os seus filhos? Conta para mim!

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Não sou nada fácil, mas alguém aí quer ser minha amiga?
Jamais diga desta água não beberei – Sim eu fiz uma tatuagem – Parte 1

Alcione Aparecida Messa

Psicóloga, Professora Universitária e Mediadora de Conflitos. Doutora em Ciências. Curiosa desde sempre, interessada na beleza e na dor do ser humano. E-mail: [email protected]

4 Comentários
  1. Ótima reflexão! Não sou mãe, mas passei momentos difíceis como filha. Adorei o texto!

    1. Oi. Boa noite. Criei meus filhos até uma certa idade, mostrando a eles as consequências entre escolher o certo é o errado é nesse meio conduzindo- os com a palavra de Deus. Minha filha é inteligente, educada,consumista. Tem um bom coração. O que estou engolindo é a opção sexual que ela escolheu que faz a gente ficar em desarmonia. Meu filho trabalhos, rígido, namorador e vive achando que vai ser rico. Ele na parte reliosa aceita oração acredita na Bíblia. O que eu peço no pé dele pata respeitar e amar com verdade a namorada e não ficando com mais. Escolha uma e ama- la e respeita-,,lá, Se não vai colher o que plantou.

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50 anos em 5 – A emocionante história de uma Dominique

Dominique - Anos
Não vou usar meu nome verdadeiro, porque minhas histórias são impublicáveis. Pelo menos durante os anos que eu estiver viva. Usarei então um pseudônimo, Carmen Strada.

Eu tinha 14 anos quando o conheci. Ele tinha 22. Por motivos que Freud e Jung explicaram muito bem, agarrei-me a esse homem como a uma tábua de salvação achando àquela altura da vida que ninguém nunca jamais ia me querer, portanto tinha que ser ele.

Perdi a virgindade com esse mesmo homem aos 15 anos. E aos 20, com a autorização do meu pai (sim, naquela época, menores de 21 precisavam da autorização dos pais) casei-me com esse que viria a ser mais tarde o pai dos meus filhos. Tenho dois rapazes. Lindos. Um completou 23 e o outro terá em breve 22. A idade que ele tinha quando me quis. Não consigo imaginar meus filhos hoje namorando uma menina de 14. Sem mais comentários.

Anos depois, após muito abuso, intimidação, ameaças, assédio moral, críticas diárias, humores alternando entre o ódio à minha pessoa e a adoração, ciúme doentio, muito controle e autoritarismo, comecei a chorar diariamente e não parava mais. Chorava embaixo do chuveiro, lavando a louça, dirigindo, sentada à mesa do jantar, na cama acordada no meio da noite, enfim…

Tentei tudo que estava ao meu alcance: conversas até de madrugada, e-mails que ele nunca respondeu, cartas que ele rasgava e jogava fora sem nem ao menos ler (“eu já sei tudo que está escrito”) e por fim terapia. Primeiro individual, somente eu, porque ele se recusava a fazer a de casal. Depois que percebeu a ameaça que significava essa terapia desqualificando qualquer coisa que viesse do meu terapeuta, ele aceitou que frequentássemos uma terapeuta para nós dois. Sempre repetindo que não acreditava em terapia, que estava ali só porque “minha mulher mandou, porque quem está com problemas é ela, eu não tenho problema algum”. Vou poupá-los dos detalhes dessa época porque são tristes demais. Conto numa outra ocasião.

Então um belo dia, 30 anos depois, numa sexta-feira 13, um raio atingiu meu cérebro e eu disse basta. Fui trabalhar pedindo que ele arrumasse um lugar para ficar, porque ao voltar no final do dia não queria mais vê-lo no apartamento. Ele não se foi. Depois de seis meses de inferno na terra, dormindo por baixo do lençol e ele por cima, não conseguindo mais ficar sequer no mesmo ambiente, me dirigindo a ele aos gritos (tudo que eu vinha engolindo foi vomitado de volta), sentindo dores por todo o corpo, sofrendo de insônia e dores de cabeça horríveis, decidi que era melhor eu sair de casa. Procurei apartamento mobiliado para alugar e depois de visitar um com meus filhos, ambos afirmaram que morariam lá comigo, arrumei uma bolsa com o essencial e parti.

Nesse momento, acho que caiu a ficha para ele que não seria possível a reconciliação e ele ficou mal. Meus filhos, vendo o pai daquele jeito, com 16 e 17 anos, comunicaram que iriam ficar com o pai, porque ele estava precisando mais deles. Ok, tudo bem, alguns dias, uma semana no máximo e eles estariam comigo. Só que não. Achei que já tinha sofrido tudo que era suportável. Meus filhos nunca vieram morar comigo. Vinham jantar, almoçar, encontravam comigo, nos víamos ou falávamos todos os dias, mas sempre voltavam para dormir com o pai. Perguntei por que eles não podiam dormir uma noite que fosse comigo e eles responderam que isso ia magoar o pai. Rebati que assim eles estavam magoando a mim. A resposta foi: “você é forte, o pai não”.

Passei três meses indo em casa todos os dias. Fazia a cama, as compras de supermercado, deixava a comida pronta e antes que o pai deles chegasse eu ia para minha casa. Sei que parece louco, mas meu senso de dever de mãe não me permitiu agir diferente. A dor da falta dos meus filhos, da minha família era como se eu tivesse amputado um braço ou uma perna. Não sei de onde tirei forças para sobreviver. Até autoflagelo e pensamentos suicidas eu tive. Quando eu achava que pior não podia ficar, ficava.

Mas eu sobrevivi. Nos divorciamos pouco antes de eu ir morar na Europa, onde trabalhei por um ano. Incrível meu empregador ter topado fazer esse investimento em mim a essa altura da vida. Até consegui sair do aluguel e hoje pago o financiamento do meu próprio apartamento.

Cinco anos se passaram. Cinco anos em que vivi situações que jamais imaginei viver. Depois de uma vida inteira sendo a mulher de um único homem, consegui dar a volta por cima e conheci outros. Cada um mais diferente que o outro. Vivências incríveis. Fiz novas amizades. Amizades valiosas que muito me ensinaram e me ajudaram nessa caminhada.

Hoje sou Dominique. Fiz 50 anos em 2017 e tenho vontade de contar histórias espetaculares que vivi ou que acompanhei de outras mulheres. Será que terei coragem de contar tudo?

Anos de sofrimento que fizeram uma mulher se reinventar, parabéns Dominique!

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7 Comentários
  1. Mulher de coragem! A história da minha màe foi parecida, não no tocante às faixas etárias dos dois, mas as agressões verbais. Físicas, nunca, graças a Deus! E eu resolvi que ser solteira seria melhor! Não tinha a mínima vontade de ter filhos, estudei, trabalhei 35 anos, cuidei de minha mãe até sua passagem, aos 92 anos! Ah, meu pai faleceu com 54 anos. Sinceramente?!? Penso que minha mãe começou a viver a partir de então! Mas cuidou dele até o fim! Será que sou uma Dominiqye?!? Vicênio com certeza é!

  2. Lindo era tudo que eu precisava ouvir nesse momento obrigada mas você nem sabe o quanto me ajudou com sua história bjs

  3. Como as histórias se parecem! Eu tenho tantas histórias, Me identifiquei muito com a sua. Um dia contarei a minha.

  4. Uma história densa como não pode deixar de ser as histórias de nós mulheres de meio século, quem sabe lendo essas histórias eu me aventure a contar a minha. ..por enquanto ainda não tenho forças suficientes para relatar

    1. Infelizmente histórias assim são comuns, mas se sinta a vontade para compartilhar sua história quando quiser Maria, estou a disposição.

  5. Nossa Senhora! Não consegui ler sem chorar, fiquei imaginando as entrelinhas que vc não contou. Imaginei a situação da minha mãe que viveu uma história tão sofrida quanto à sua. E por que não dizer a minha história e de tantas mulheres com as quais convivi e convivo. Pois cada uma de nós, passou ou passa em algum momento por sentimentos e dores semelhantes, pois vivemos numa sociedade predominantemente machista.Parabéns pela sua coragem! Avante, Dominique!

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Hoje vou conhecer a Namoradinha do meu filho – Ai Meus Sais

E aí chega o dia de conhecer Namoradinha do meu filho . Afffff

Além de tudoooo você descobre que o seu filhinho, cresceu…
Pior, você constata que ele pensa que já é homem, veja só. Agora, acredite, essa ficha só cai quando ele resolve te apresentar a namoradinha…
Afff… você tem ideia do que é essa experiência?
Acredita em mim…
Você não faz ideia do que passa pela cabeça da gente nessa hora… E, prepare-se para fortes emoções!
E se você for uma MAMA como eu, mistura de mãe italiana, com mãe judia e mãe árabe, imagina o que vai acontecer!!

[fve]https://youtu.be/nKN4X7tQdhs[/fve]
Ficha TécnicaVideo : Ai meus Sais.  Vou conhecer a Namoradinha do meu filho

Atriz : Regina Bittar
Direção : Cris Mariz
Roteiro : Eliane Cury Nahas
Produção executiva : Rita Urcioli E Claudio Odri
Figurino : Tigresse

 

E por falar em genrinhos e norinhas, veja só o que aconteceu com a Marot nesse texto.

Dominique

Nasceu em 1964. Ela tem 55 anos, mas em alguns posts terá 50, 56, 48, 45. Sabe porque? Por que Dominique representa toda uma geração de mulheres. Ela existe para dar vida e voz às experiências, alegrias, dores, e desejos de quem até pouco tempo atrás era invisível. Mas NÓS estamos aqui e temos muito o que compartilhar. Acompanhe!

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