Oba, o inverno chegou!
Hora de esquiar no final de semana na estação mais próxima.
Mas, não há estação mais próxima. Sequer há no país.
Ahhh… Então, vamos planejar a viagem e como não dá para ser um único final de semana tem que ser no mínimo 7 dias para compensar. E só!
Porque com os preços tão altos não dá mais para voltar esse ano.
Caríssimo!
Como pode uma viagem pra América Latina ser mais cara que 15 dias no verão europeu (calor, cultura, museu, história, civilização… Além de muitos loiros)????
Destinos possíveis: Chile ou Argentina – bom, diante das opções, optemos.
Vamos arrumar a mala…
Bora pedir emprestado as roupas das amigas mais abonadas, porque afinal de contas quem pode pagar essa grana toda além da viagem?
Mas vale a pena.
É tão lindo! É tão legal…
Apesar da viagem ser muito cansativa – avião, aeroportos brasileiros e argentinos (sim, a opção é Argentina) e 4 horas de uma estradinha lazarenta – Tudoooo muiiitooo linddooo!
Friozinho gostoso… Que delícia.
Vamos ao hotel.
Quartinho pequeno, né?
Ahh, mas quem precisa de quarto grande?
Não se pretende ficar no quarto mesmo.
A melhor coisa a fazer é marcar imediatamente aula particular com aquele instrutor de esqui saído diretamente dos filmes do James Bond.
Suíço obviamente.
Você finalmente acha a escolinha e a recepcionista mal humorada pergunta qual sua expertise.
– Ahhh, já esquiei umas 3 vezes sendo que a última foi há 6 anos!!!
Ela te olha com um baita desdém, quase desprezo.
Joga na sua frente a tabela de preços dos pacotes de aulas particulares.
Affffffffff. Olha estes preços!!
Mas quem converte não se diverte, né? Já dizia o velho ditado de amigas viajadas.
Agora você simplesmente não pode vender seu carro para pagar 6 aulas de esqui.
Então, pede para a mocinha os valores das aulas em grupo.
A balconista, sim, não passa de uma balconista, sarcasticamente te passa o preço para 5 aulas em um grupo de 10 pessoas.
Avisa também que só haverá aula se nevar.
– Como assim? Se nevar???
– Ah, não te falaram?
– Não!!!
– Não há neve suficiente. As pistas estão fechadas. Culpe o aquecimento Global, culpe o que quiser, mas esquiar perto demais dos trópicos dá nisso.
Bom… Só resta ficar na torcida…
Mas neva… E neva muito…
Quanta felicidade!!!!
Aquela paisagem linda… Aquele frio, que já não é friozinho, mas friozão, que delicia.
No dia seguinte, neve suficiente, botas, esquis e pools alugados, vamos a aula.
Você obviamente é a mais velha do grupo.
Muiiito mais velha. Mas fica fria.
Você tá linda nessa roupinha “cor de pêssego” da sua amiga. Você não achou que ela ia te emprestar a preta e branca novinha dela, né?
E eis que chega o instrutor.
Argentino.
Uns 40 anos.
Cara de quem bebeu todas ontem.
Cabelo ensebado que não vê água há dias.
Roupa velha e furadinha…
Sacou o estilão? Então.
Aí você dá aquele suspiro, mas não desanima. Afinal, a paisagem é linda e o frio é delicioso.
Começa a aula.
Você percebe que os colegas de turma, na verdade coleguinhas, são bem mais habilidosos que você.
Afinal, eles praticamente nasceram com o esqui no pé.
E no seu país não neva, né?
Além disso, há o fator idade, flexibilidade e gravidade.
Maldita gravidade!!!
Mas esse professor podia ser mais delicado. Ele berra muito.
Por que será que ele não tem paciência com alunas mais velhas?
Nossa que frio!
Ai… Esse tombo doeu.
Ufa. Por hoje é só.
Tudo que você consegue pensar é numa bebida quente, uma dose de qualquer coisa com teor alcoólico acima de 45% e o seu Dorflex.
Amanheceu.
Já????? Hora de levantar e ir para mais uma aula.
Já?????
Todos os músculos do corpo doem.
O Dorflex fez lá seu efeito, mas passou, assim como as 4 doses de bourbon e os 2 conhaques tomados para embalar o sono.
Mas vamos lá. Afinal, tá pago.
PQP. Que frio!!!!!
Mas a paisagem é linda.
O professor mal-humorado avisa que hoje o grupo descerá a menor montanha, verde obviamente.
Pegar a cadeirinha com frio, luvas, esquis pools, gorro, botas, óculos…
Resistir a tal da gravidade é uma tarefa impossível de ser executada com graça e charme.
Um horror subir e descer dessa traquitana, além de ser um enorme sacrifício.
Pronto! Começa a Primeira descida.
Não durou muito, né? Caiu de cara…
Caiu de novo, e de novo.
E assim sucessivamente.
Chegou. Onde mesmo?
Ai, lá vem o hermano gritando:
– Corre pra fila da cadeirinha!
Lá vai você novamente, mas a bota está pesando uma tonelada.
Darliiinnnggg. Lembrou por que faz 6 anos que você não vinha esquiar?
Aí você sobe naquele objeto de tortura que eles chamam de ski lift (o único lift que queremos é o face lift!!!).
Na hora de descer da cadeirinha, já nem se incomoda em tentar fazê-lo esquinado.
Vai rolando mesmo que é mais fácil.
Coloca-se em pé com o pingo de dignidade que lhe resta.
Respira fundo, conta até 3 e vai.
E não é que está esquiando?!?!
Que sensação maravilhosa!!!!
O vento no rosto!!!
A liberdade!!!
Mas espera….
Tá escutando o pentelho do teacher berrando alguma coisa?
– Hai que hacer la cuña!!! Hai que hacer la cuña!!!!!!!!
Ops… Too late for the cuña!
Nesta altura não sobrou nada da colega que já está esborrachada logo ali depois da curva.
E depois deste tombo cinematográfico só lhe resta recolher além de seus pedaços espalhados pela neve, seu orgulho e voltar para o hotel.
Está acabada né amiga?
Vai para o quarto toma outro Dorflex e dessa vez banho com arnica.
Antes passa na lojinha, compra uma garrafa de vodka e leva pro quarto.
Aliás, que quartinho mixuruca.
Além de pequeno, cheira mofo!
Mas você está tão cansada e dolorida que não vai nem sentir, principalmente depois do coquetel analgésico/caninha.
Batata… Capotou!
Dia seguinte…
Aquelas dores do dia anterior não são nada comparadas as de hoje. Aliás, as dores de parto normal não são nada comparadas com essas.
Dói o corpo inteiro.
As pernas roxas.
As costas parecem que foram pisoteadas.
Sentar não é uma alternativa.
Esquiar nem pensar!!!!
Ainda faltam 5 dias para o final de sua viagem.
Bom, então vamos tentar aproveitar o hotel, até porque esse quarto é pequeno demais
Gente, como esse povo tem coragem de cobrar por essa espelunca???
Vista-se e vá desfilar!
Mas quem disse que você consegue colocar o pé no chão?
Acaba de perceber que arrebentou o joelho, né?
A essa altura caro leitor/amigo, você já deve ter adivinhado que a lesão foi séria.
De volta para São Paulo, começa a via crucis: ortopedista, ressonância, cirurgia e… Repouso.
Nada de caminhadas, pedaladas e, muito menos, corridas por incríveis 12 meses!
A primavera vai chegar e vai passar…
Assim como o verão…
E você sentadinha, lembrando como era linda a paisagem de sua viagem de esqui.
Entendeu? Captou?
Gelada.
Cai fora.
Esquiar? Nem pensar!
Dominique, concordo totalmente com você. Ir esquiar, para quem não nasceu num país que neva toneladas todo o inverno ou não é frequentadora assídua das mais badaladas estações de esqui, todo ano, é uma furada. Cada vez que fui esquiar com filhos e marido (eles adoravam, claro) eu torcia todo dia, ao acordar de manhã, que toda a neve da montanha tivesse derretido, mas infelizmente ela continuava lá, branca e gelada. Eu ia junto, para não ser tachada de chata e sem espírito esportivo e fazia o sacrifício de sentir medo cada vez que tinha que descer do lift e me equilibrar sobre os esquis, montanha abaixo. Até que quebrei uma perna, no que foi, logicamente, a última vez que me impus “deliciosas férias de inverno” numa estação de esqui.
Turna, agora a gente muda o destino da viagem ou tentamos não nos aventurar muito kkkkk
Adoro viajar. Mas nunca nada radical em viagens . Aquela montanha russa maluca em Las Vegas, nunca. Esquiar em Insbruck na linda Áustria , jamais. Nem comer certas coisas . Noooooossa aquela salada russa em Madrid. Um dia antes do retorno, diarreia, vomito. Achei que não conseguiria voltar, com filhos pequenos ainda. Aff. Aff. Eca. Sem contar que tentaram me assaltar no Rio de Janeiro. Eu numa circular, na janela, o loirinho ( lembro dele ainda). pulou, na tentativa de roubar minha corrente de ouro, fininha, lindinha. Só arranhou meu pescoço , graças a Deus. Dai o povo solícito do ônibus, me fez guardar td. Brinquinho, correntinha, aneizinhos….que coisa, há mais de 30 anos e o Rio de Janeiro continua lindo.!!!!!kkkkkkk
Neusa, sempre ficam as lembranças das desventuras nas viagens, o bom é levar as histórias de um jeito bem humorado.