Em 1969, não havia PC, smartphone e Netflix. Pensando bem, nem ao menos se conhecia TV colorida, fax, forno de micro-ondas, Airbag, Prozac e nem Viagra. Pensa que coisas arrebatadoras não aconteciam? Uma das maiores ocorreu justamente no dia 20 de julho daquele ano. E eu vi ao vivo! Naquele dia, o mundo se apaixonou definitivamente pela tecnologia.
Assisti o primeiro pouso na Lua em uma TV preto e branco, tipo caixote, ligada na sala de visitas, junto com meu pai. De pé, de tão excitada. Minha mãe tinha corrido pra tirar o bolo do forno e perdeu o Neil Armstrong dar pulinhos no solo lunar. Não havia replay.
Há quem jure que tudo não passou de uma grande montagem, filmada no Polo Sul, para colocar os americanos em pé de igualdade com os russos. Era tempo de guerra fria e corrida espacial. Briga de macho, sabe, tipo ‘vamos ver quem tem o pau maior’.
Eu nunca duvidei. Foi lindo, emocionante e a gente pressentiu que estava participando de um momento histórico. Cheguei a colar na parede do quarto um retrato do Armstrong que saiu na revista Manchete, de página inteira. Aqueles olhos azuis.
A adrenalina dessa experiência pode ser vista no filme Estrelas Além do Tempo, já comentado pela Elzinha Lucchesi.
Passaram-se 48 anos, coisas extraordinárias trazidas pela tecnologia ficaram banais tal a aceleração dos avanços. Então, me expliquem: por que o Google, o Facebook, a Apple e a Microsoft, os senhores do universo, e todo o Vale do Silício continuam tratando o amor das mulheres pela tecnologia quase do mesmo modo que a Nasa recebeu as três cientistas do filme?
Os nerds atuais ainda olham as moças do pedaço com estranheza, desconfiança, ironia. Quem imaginaria que as dificuldades enfrentadas pela geração das baby boomers tecnológicas persistiriam para uma garota de hoje.
Mulheres continuam sendo minoria nas salas de aula de ciência da computação e nos salões moderninhos de trabalho das empresas de tecnologia. Não passa de 20% a presença feminina na área técnica dessas empresas. Chefia, então, nem pensar. E elas recebem salários menores.
Só as mais fortes superam o deslocamento de se ver em uma faculdade cercada por 80% de homens. Não podem errar e não podem mostrar sua alma.
A grande pergunta é – há diferenças técnicas entre homens e mulheres que justifiquem esse tratamento? Não, se lembrarmos que no início da indústria de computação, nos anos 1980, havia uma forte presença feminina. Aos poucos, sem se saber bem porquê, computador e homem passaram a ser sinônimos. Mulheres seriam apenas usuárias.
Para quem se dedica ao assunto, o buraco é bem mais embaixo. Começa em casa e é onde deveria ser primeiro atacado. Menos bonecas e mais robôs para as meninas.
Grandes esforços estão sendo feitos para derrubar o estigma “mulheres não nasceram para a tecnologia”. Há um movimento para se ensinar a linguagem de programação assim como se ensina inglês, ainda no ensino básico. Grandes empresas estão investindo em programas para atraí-las para a área de computação. Ongs especializadas usam a internet e aplicativos para incentivar as menininhas de todo o mundo a brincar de construir robôs e escrever programas.
Parece inacreditável que seja mais fácil colocar um homem na Lua do que uma mulher em pé de igualdade com seus pares nerds. Sabemos que mudanças culturais são infinitamente mais demoradas que as técnicas. Mas, pessoal, já está na hora de apertar esse passo, não é? A Lua nos espera.