Homens sérios. Usando respeitabilíssimas gravatas.
Moças sérias. Muito bravas.
Aquelas carinhas amarradas pareciam dar-lhes a segurança de sua credibilidade e da tal seriedade.
E mais uma vez eu estava na posição de ré.
E mais uma vez eu tinha cinco minutos para provar minha inocência.
Não. Não estava em um tribunal.
Era a sala de reunião de uma grande empresa.
A acusação:
Como ousava, uma tiazona e ainda por cima, perua, apresentar um projeto que envolvia tecnologia????
Bom… Aí como sempre, se eu não mostrasse ao que tinha ido nos 5 primeiros minutos, perderia-os para sempre.
Toda concentração e foco sempre se faziam necessários.
E neste dia, tudo corria como sempre, das inicias caras de enfado ao começo do interesse se manifestando quando toca meu celular.
Esqueci de desligar!!! Sorry!!!! Lembra que sou uma tia?
Vá dizer que seu celular nunca tocou numa hora inapropriada?
E você sabe muito bem que quanto mais inapropriada a situação, mais demoramos para conseguir desligá-los, né?
Se você é mulher, sabe que pior que isso só se o celular estiver dentro da nossa bolsa!!
Ahhhhh…. Aí o desespero é enorme porque sabemos que dentro dela mora o triângulo das Bermudas que abduz o aparelho.
E quando o toque de seu telefone é Freeedom?
Sim, a música mesmo. Aquela de George Michael.
Ai, acabou.
Tiazona, Perua e Pop 80’s.
Fim.
The end.
Mas este é o toque de meu celular há muitos anos.
O que que eu posso fazer? Sempre amei esta música.
Tanto que ela faz parte da trilha sonora de minha vida em algum ano da década de 90.
Sim, sim. Escolho todo ano a música que comporá a minha trilha sonora, lembra? Vamos recapitular os últimos anos.
2013 –Somebody That I Used to Know – Mas o cover – Walk off the Earth
2014 – Carango – Wilson Simonal
2015 – ?
Você deve ter reparado que pulei um ano, né? Pois é.
Mas também acabei 2015 num estado tão grande de desilusão e choque com nosso país que nem música consegui pensar para aquele cenário desolador.
Aí veio 2016
Ahhh.
Não foi um ano fácil. De jeito nenhum.
Mas foi libertador.
Consegui me libertar da apatia e do choque de 2015.
Com muito trabalho, mas muito mesmo, consegui iniciar três projetos: um pessoal, um filantrópico e um profissional.
Para que os três saíssem do plano das ideias, precisei me libertar de antigas amarras, conceitos e certezas.
Tive que conversar, convencer, ser convencida, mostrar, escrever, pesquisar, desconfiar, confiar, investir, pedir ajuda, ajudar, escolher, lamentar, vibrar, brigar, fazer as pazes, engolir, seguir em frente.
Não sei onde fui buscar energia.
Principalmente depois de inevitáveis tropeços e tombos épicos pelo caminho.
Mas não parei.
Não paramos. Por que não fiz nada sozinha.
Teve um monte de gente que fez comigo.
Um monte não.
Sei bem quão poucas foram as pessoas que não se acomodaram no desespero do “nada a fazer” e acreditaram que somente “o fazer” resolve e liberta.
E foi fazendo que me libertei das respeitáveis gravatas e das mocinhas de cara amarrada.
Não mudei o toque de meu celular e continuo esquecendo de desligá-lo quando entro em reuniões.
Mas hoje ninguém mais me julga por isso e nem por aquilo.