E ai eu resolvi fazer uma coisa nova, não tão nova, mas que há 25 anos não fazia, então é nova de novo, certo? Fui andar de bike. Sozinha. Um alien loiro andando pelo Brooklin em pleno feriado, graças ao bom Deus, as ruas ermas, um ou outro gato pingado perambulando pelas calçadas. Afinal, depois de tanto tempo, não estava dominando tanto assim a magrela.
E adorei. De verdade, não sei se gostei mais de descobrir que ainda sei andar de bicicleta, comprovei que o ditado popular é verdadeiro, a gente nunca esquece depois que aprende a pedalar, ou se o que senti foi um tremendo orgulho de ter saído sozinha para fazer isso.
Já fazia quatro meses que havia me cadastrado no tal Bike Sampa do Itaú e passo pelas estações quinhentas mil vezes pensando: preciso ir, este final de semana eu vou, no sábado, talvez no feriado, no dia de Santo Expedito, Santo Antonio, Dia das Bruxas, Dia do Corretor de Seguros, Dia de São Nunca. Perdi a conta de quantos finais de semana me autossabotei, inventei as mais mirabolantes desculpas e não fui.
Quer saber, minhas pernas doeram uma barbaridade. Outras partes também. Mas fiquei feliz da vida com minha conquista. Andei de bike sozinha e não perdi o equilíbrio, nem o rebolado.
Ai, me achando a última Coca-Cola gelada no deserto, resolvi aceitar o convite de um pretendente para pedalar num domingo ensolarado. O itinerário partia da Avenida Roberto Marinho rumo ao Octavio Café, na Avenida Faria Lima, onde tomaríamos algo e voltaríamos. Bucólico, né?
Só não me atentei que o dito cujo é ciclista profissional, monta suas próprias bikes e pedala 60 km na subida com a mesma facilidade que caminho entre meu quarto e a cozinha. Simpático e atencioso, comprou um selim exclusivo para mocinhas e me emprestou a sua magrela mais turbinada.
Todo orgulhoso me mostrou a bike e disse:
– Esta é especial, de fibra de carbono, não chega a 700 gramas. Custa R$ 5.000,00.
Tive vontade na hora de sair correndo três dias sem olhar para trás! E se eu cair? E se a bicicleta quebrar? Será que meus óvulos valem algum dinheiro?
Ele me acalmou e me encorajou.
La fui eu, apavorada. Uma delícia a tal bike, nem sentia que estava pedalando de tão leve a danada. O problema é que o cara tem 2 metros de altura e mesmo abaixando todo o banco, meus pés não alcançavam o chão.
Quinhentos metros depois, apenas quinhentos metros, nem tinha atravessado a Avenida Santo Amaro, me desequilibrei e levei o maior tombo da minha vida. O cara, a alguns metros na frente se desesperou. Largou a bike dele imediatamente e veio correndo para me amparar. Parou carro para ajudar, gente perguntando se devia chamar o SAMU e eu querendo que um buraco se abrisse para morrer dentro dele escondida, a velha e boa síndrome de avestruz.
Minha maior preocupação era ter estragado a Ferrari de duas rodas. Quem tem uma bicicleta de R$ 5.000,00, meu Senhor? Descobri depois que muita gente.
Me machuquei bastante, mas como escorpiana genuína, insisti em continuar o passeio desde que ele não fosse atrás de mim como sugeriu. Só de saber que alguém estaria observando não conseguiria andar um metro sequer.
Nem cem metros, nova queda. Eu parecia o frango da Sadia depenado. Joelhos, tornozelos, braços, mãos e punhos sangrando, um estado de horror. Novamente um carro parou e quase mandei todos para aquele lugar. Minha coleção de hérnias de disco piorou muito depois deste fatídico episódio.
Desta vez, sem a menor chance de negociação, voltamos empurrando as magrelas, com direito a pit stop na farmácia para a compra de primeiros socorros.
Nem preciso dizer que nunca mais vi o galã.
Quantas coisas será que eu consigo mais fazer sozinha? God Only Knows.
E você? Já viveu algo parecido com essa aventura de bike? Conta ai!
Leia Mais:
Mentira do bem – 3 mentiras que contei para não fazer mal a ninguém
Infarto na hora H – Curiosidade tem limite, falta de juízo não!
Da próxima vez aceite o meu convite, tenho bicicleta que vale menos e, consequentemente , não precisará levar toda essa preocupação na garupa, te desequilibrando…
Aceito! Quando?
Oi
Tenho o mesmo problema! Se eu ficar com os pés muito longe do chão, complicou. Mas andar de bike é uma delícia! Vale uns tombinhos de vez em quando!!
Lucia,
Acho que a maioria precisa alcançar os pés no chão para se equilibrar na bike ou nao?
Geente, tenho 72 anos! Moro num lugar maravilhoso, que tem pontos de bike espalhados pelo clube todo e de graça! Domingo durante o almoço, soltei que meus netos, que já são grandes, poderiam me ensinar a andar de bike , isto é, reaprender ! VIXE!! FOI uma gritaria geral! Desisti ! Só fico dr olho comprido!!!
Regina, então caminhe, mas curta a vida!!!! beijo
KKKKKKKKKKKKKKK!Como uma verdadeira escorpiana que sou, teria feito a mesma coisa.
Adorei.
A gente não desisti, né, Magali?