Você pode estar pensando aí:
– Mas permanente era moda nos anos 80. Muitas mulheres usavam cabelos crespos.
Era moda sim, mas para as mães.
Não para nós, adolescentes.
Ou pelo menos eu não conheço nenhuma mãe que tenha liberado a filha pra entrar naquela química toda.
A minha mãe fez permanente. Mas ela tinha cabelo liso.
Eu não. Nasci com o cabelo bem crespo. Dizem que é pelo lado do meu pai, descendente de francês e austríaco.
Sei lá, pra mim é só resultado da mistura do brasileiro mesmo!
Nos anos 70 ter cabelos cacheados não foi um problema.
Eu era criança e as pessoas achavam “fofinho’.
E tinha a Narizinho, a primeira delas, a Rosana Garcia. Lembra dela?
Mas as duas décadas seguintes foram um inferno para mim.
Os anos 80 foram a década do exagero.
Os penteados da moda eram o pigmaleão e o mullet.
Era moda, todo mundo usava, e eu também usei.
Cabelos crespos com mullet. Dá pra imaginar?
Tiravam sarro de mim, brincavam que eu parecia um poodle.
Eu queria usar o que estava na moda. Seguir a tendência.
Eu não me encontrava naquelas meninas que representavam as adolescentes na mídia ou nas revistas.
Além disso, quem tinha cabelos crespos, não usava assim. Eles eram escovados. Quer ver?
Foi só a Rosana Garcia tornar-se adolescente que pentearam o cabelo dela.
A mesma coisa aconteceu com a irmã dela, a Isabela Garcia. Puxavam o cabelo, penteavam pra trás que ficava só a marquinha das ondas.
Até a Débora Bloch, que tinha me influenciado com a Bete Balanço de cabelos crespos, alisou depois.
Na revista Capricho, as modelos da moda, como a Piera, tinham todas cabelos lisos.
Eu vi muitas amigas penteando ou alisando o cabelo.
Mas eu não tive coragem. Não me encontrava em alguém com cabelos lisos. Só não era eu.
Deixei o mullet de lado e o meu cabelo crescer.
Eu fui segurando as pontas.
Dai chegaram os anos 90… pra contrapor aos exageros da década anterior.
Tudo era o oposto. E os cabelos armados, com permanente, tornaram-se completamente lisos.
E aí fiquei completamente deslocada.
Quase ninguém usava cacho. Foi um festival de chapinha, progressiva e tudo o mais que deixasse os cabelos esticados.
Não era mais adolescente e já tinha a certeza absoluta que queria continuar com os meu cachos.
Mas a sociedade, de uma hora pra outra, tornou-se cachofóbica.
Escutei brincadeiras de todos os lados.
Um dia um namorado me disse:
– Por que você não alisa seu cabelo pra ficar mais moderna um pouco?
De outra pessoa, também escutei:
– Não entendo por que você quer ficar feita, usando este cabelo.
Só não me importava quando me chamavam de Juju Plant, por causa dos cabelos do Robert Plant, da banda Led Zeppelin. Neste caso, achava até um elogio!
Claro que o tempo vai passando. Uma década inteirinha.
Mas eu sabia que gostava do meu cabelo daquele jeito.
Não iria mudar e pronto.
Em vez de ficar no meio dos cachofóbicos, fui procurar e encontrei outra turma.
Simplesmente ignorei os comentários das pessoas e também as referências de mulheres “lisas” que via na mídia.
Claro que eu não tinha esta autoestima toda, pra simplesmente dar um “beijinho no ombro” e deixar pra lá o que as pessoas diziam. Várias vezes pensei, repensei… Várias vezes eu achei que estava sendo turrona, que poderia estar insistindo num erro. Mas nada também me fez mudar de opinião. Gostava do meu cabelo enrolado, me sentia bem assim, me sentia eu.
Anos…muitos anos mais tarde, eu escutei de uma amigo:
– Nossa, sempre te achei poderosa, você que sempre assumiu os seus cabelos crespos.
Sorri por dentro. Sabe como é? Fiquei feliz com o comentário.
Você também tinha cabelos crespos nesta época? Conta para mim as suas aventuras capilares!
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A Rússia por um russo, Uma visão diferente do país dos Czares Capítulo II
A despensa da minha avó, uma recordação que guardo com carinho
Assisti a todos ,mas nem me ligava muito na trilha sonora ,curtia mesmo era cada momento da trama dos filmes
Achei o do Persuaders, não lembro nem da existência desse seriado
A que achei mais difícil foi a do Hulk.
Porque embora seja um personagem forte a música é bem doce.
Muito fácil