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Insônia: Surfando por águas perigosas

O Lavabo e 2021

Bem, essa é a continuação do texto de ontem, 2021 e o Lavabo, onde conto como foi minha passagem de ano, onde em resumo, entre outras coisas, meu celular quebrou e clonaram meu cartão. Nossa! Olha só o meu poder de síntese consegui, em resumo, com meia dúzia de palavras reproduzir um textão que levei horas escrevendo. Olha ele aqui.

Na sexta feira, dia 8 de janeiro, já em São Paulo, acabei pegando um celular já que estava “sobrando” na firma do marido, um desses que as operadoras “dão” quando voc(ninguém dá nada pra ninguém. Doce ilusão).

Não posso reclamar, mas vou fazê-lo sim. Trocar de celular, na minha idade, é um saco!! Por mais que os apps já venham todos instaladinhos, tem um monte de coisas que precisa reconfigurar, milhares de senhas que eu não salvei em lugar nenhum e obviamente não lembro, e os aplicativos de banco nunca funcionam de primeira sendo que uma visitinha a agência sempre se faz necessária.

Por essas e outras que eu tinha decretado que do IPhone 7 pularia direto para o 14, fazendo valer a teoria dos setênios também para Steve Jobs. E estava indo muito bem já que tinha conseguido pular o 8, o 9, o 10, o 11, o 12 e até um X no meio do caminho. Para quem interessar possa, apesar de não ser de nenhum interesse, meu novo telefone é modelo 8 e está pra lá de bom!!

Enfim, sepultado o celular possuído pelo demo, assim como o assunto, mudemos para o próximo.

Vai ano, vem ano, e algumas coisas continuam as mesmas, não é mesmo? Quem tem o sono delicado, continua tendo o sono complicado, com ou sem pandemia, com ou sem perspectiva de vacina, na praia ou em São Paulo ou numa casinha de sapê como já dizia Kid Abelha.

E na própria sexta-feira, dia 8, já em Sampa, fui deitar lá pelas 23h, como sempre. Peguei no sono depois de um bom tempo, como sempre. Acordei antes da hora como sempre. O que teve de diferente nesse dia, foi que meus olhos abriram as 2 da matina e nada de conseguir dormir de novo. Vira prum lado, vira pro outro, e nada. Fritando na cama, com o tempo passando a passos de cágado, resolvi que iria para a sala com o intuito de não incomodar meu marido e quem sabe pegar no sono no sofá.

Liguei a TV. Procurei filme na Netflix. Fui até a cozinha. Abre e fecha geladeira diversas vezes, na esperança de que seu conteúdo pudesse mudar e quem sabe, eu encontrasse um pudim encantado em algum momento, contudo o que eu via era aquele desolador figo já meio passado, que insistia em me assombrar a cada tentativa.

Visito a janela para espiar meus vizinhos a fim de contabilizar quantas luzes acesas denunciam outras pessoas insones, ou quem sabe, apenas com medo de dormir no escuro.

Por falta do que fazer, resolvo fazer pipi. Não ousaria voltar para meu quarto e mais uma vez incomodar o coitado do homem, que dorme o sono dos justos. Por pura lógica de distâncias, dirijo-me ao lavabo, minúsculo e simpático ambiente de minha casa.

Nesse momento, devo fazer uma consideração técnica. Moro num edifício construído na década de 80, portanto com mais de 30 anos. Isso significa que algumas atualizações foram feitas, entretanto, outras são mais difíceis, mais trabalhosas ou mais onerosas, como, por exemplo, trocar aquele antigo e perdulário sistema de descarga pelo de caixa acoplada.

Preciso contar o que aconteceu?

Lavando as mãos, depois de dar a descarga, percebo que as águas continuam correndo. Não tinha nada entupido, pois era um movimento contínuo e incessante. Quem viveu isso sabe do que eu estou falando. Levantei a abinha da válvula, puxei, puxei, e nada. O que fazer? Parece óbvio, não é mesmo? Fechar o registro.

Mas que registro? Qual não foi minha surpresa ao descobrir que não há registro de água no lavabo de minha casa! Pânico! Continuei tentando fazer tudo que estava dentro de minhas possibilidades e de meus parcos conhecimentos hidráulicos.

Pânico!

Só me restava uma coisa a fazer. Sim, sim sim. Tinha que acordar o maridão no meio da madrugada, correndo todos os riscos previstos no manual dos casamentos longevos. Deixar rolar não era uma opção apesar de ter passado pela minha cabeça, confesso, ligar para uma Porto da vida ou até mesmo acordar o zelador. Todavia o bom senso venceu a covardia e lá fui eu.

Devagarinho, bem mansinha, ao pé da cama, fazendo carinho na perna do amado e sussurrando. Aliás, pelo meu tom de voz, algum desavisado poderia acreditar que eu estava tentando seduzi-lo, de tão baixinho e amoroso que estava.

-Amor, amor…Está tudo bem… Mas eu preciso de sua ajuda.

Pronto. Disparei a palavra de pânico. Ajuda, no meio da madrugada? Ele saltou da cama assutado perguntando o que tinha acontecido.

— Nada sério. Calma. Foi só a descarga do lavabo que disparou.

Eu cheguei a comentar com você que não acendi nenhuma luz para entrar no quarto? Não?

Pois bem, aquele homenzarrão, desperto no meio da noite pela esposa pedindo ajuda, sai no escuro em desabalada carreira rumo ao lavabo. Por completa falta de ideia minha, não previ o caminho que ele faria, e no escuro, encontrava-me eu justamente no meio dele.

Resultado? Fui atropelada impiedosamente, como se lá não estivesse, pelo meu marido. Por sorte ele não me viu caindo desajeitadamente sobre o pé de madeira da cama, porque não sei o seu marido, mas o meu é do tipo que fica bravo quando eu me machuco. Claro que não é por mal, mas ele me acha muito desastrada e desligada. Dessa vez não era o caso, entretanto, não deixava de ser minha culpa.

— Você está bem? – pergunta ele depois do ‘esbarrão’.

Não haveria dor, hematoma, machucado algum que me faria piar naquele momento.

— Claro que estou!

Problema resolvido em 5 minutos.

Ahhh, que orgulho de meu herói!

Maridão volta para cama, mudo, sem nenhum comentário, reclamação ou resmungo, que dessa vez, talvez, até pudessem ser pertinentes.

Resolvi voltar para a cama pra tentar não sujar mais minha barra e surpreendentemente, peguei no sono rapidamente dormindo até bem depois do amanhecer.

Moral da História que são várias.

  • Descobri que meu lavabo não tem registro. Até agora, não tive a curiosidade de saber onde seria o esconderijo desse meliante, mas talvez seja interessante saber, just in case. Vai que, né?
  • Preciso deixar alguma coisa muito gostosa escondida para comer nessas horas de desespero. Mas de que adianta eu conhecer o esconderijo? Provavelmente na hora da necessidade, nada mais lá encontraria. Oh vida cruel!
  • Concluo que a maioria das luzes acesas de meus vizinhos de prédio naquela madrugada, eram de pessoas que não gostam de dormir no escuro e não sofridos insones. O mundo e os casamentos não suportariam uma quantidade daquelas de gente acordada aprontando noite afora.
  • Meu marido sabe muito! De consertar a válvula do lavabo no meio da madrugada a saber quando não é preciso falar nada, não me fazendo sofrer mais do que o necessário. Ele sabe muito!

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

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