Chegamos finalmente ao Hyde Park para o show da Barbra Streisand depois daquela viagem épica que contei aqui. Tudo muito organizado, nem pareciam ser quase 70.000 pessoas.
Colocaram-nos pulseirinhas como nas baladas. Moderninho.
Os maridos perguntaram qual o número de nossas cadeiras e se eventualmente sentaríamos todos juntos. Dedé e eu ficamos mudas e fomos caminhando para o gramado. Passamos por pessoas sentadas em mantas espalhadas pelo chão, num delicioso piquenique gigante. Foi aí que contamos que não haveria cadeira e que portanto pelas próximas 4 horas ficaríamos em pé.
Naquele momento senti que corria risco de perder senão um marido toda minha credibilidade conquistada ao longo de 32 anos de casamento.
Dear Mrs Streisand, capriche!! Tudo isso precisa valer a pena.
Depois de uma hora começa o esquenta com nada menos que Bryan Ferry. Eita coroa em forma viu? O cara tá com 73 anos e gato. Charmoso pra burro. Cantando as mesmas músicas de sempre, mas que conhecemos e respeitamos. Aliás ele é um senhor a se respeitar a história apesar de ter se casado com a namorada do filho. Ou até mesmo por isso. Quem sou eu para julgar, né? O que me interessa nele é seu talento para minha paixão. A musica.
E ele cumpriu sua missão. Esquentou mesmo o público.
Pelo menos eu esquentei. Dancei, cantei, balancei bracinhos, fiz amizade com as pessoas do meu lado. Entrei no clima.
Gravei uns videozinhos que entretanto ficaram muiiiito ruins. Como não tenho o menor senso do ridículo vou publicar a maioria deles. Mas no final do texto, publicarei a setlist do show com vídeos bem melhores que outras pessoas gravaram.
Agora, o que é a dispersão, não é mesmo?
Parei de escrever um pouquinho para fuçar a história do casamento B. Ferry com a ex do filho e acabei sabendo até o que aconteceu com os pais da terceira mulher que se suicidou depois que casou com o dono da boate inglesa do século passado. Em resumo fiquei quase duas horas navegando para coisa nenhuma! Ai que raiva!!
Mas voltando.
Sai Ferry. Entra a orquestra ou banda, sei lá. Era um monte de gente e um monte de instrumentos.
Eles tocam um pout pourri que prenuncia o que vem para frente certamente muito animador.
E entra Barbra. A simples presença dela já causa arrepios e não só em mim. Foi uma comoção geral.
Ela usa um kaftan rosa, mas bem rosa, estampado com mangas amplas, da estilista Zandra Rhodes . Como sei?
Num determinado momento do show, ela deu créditos aquela senhora baixinha de cabelos pink com uma roupa super pink que estava em pé ao meu lado. Yess…A tal Zandra Rhodes estava do nosso lado e só percebemos quando todo mundo virou para olhá-la.
Um detalhe sobre a roupa de Barbra: Um Kaftan solto, bacanérrimo, mas solto. Inegavelmente o tempo passa para tooooodas nós , capicce?
Começa um delicioso bate papo tão descontraído que me senti na sala de visitas da artista embora estivesse de pé (lembra?) . Ela contudo, senta-se junto a um bule e uma xícara de chá e começa a falar de sua vida carreira e músicas.
De cara conta que o motorista que a levou do aeroporto ao hotel, perguntou-lhe se ela iria a Pride Parade. E ela respondeu:
– Por que iria? Vou encontrar todo mundo no dia seguinte no meu show no Hyde Park.
E foi verdade.
Vou abrir um parênteses aqui para falar do público. Não é vantagem nenhuma mas acho que a Dedé e eu éramos das mais novas de lá. Nem por isso as mais animadas.
Muita muita muita gente na casa dos 60/70 anos. Muitos casais heteros, gays e afins. O arco-íris inteirinho estava lá representado por uma geração que viveu Woodstock e por outra que foi a discotecas .
Muita gente chorando a cada música, a cada história.
Obviamente existe além de tudo uma memória afetiva que Barbra Streisand nos traz em suas músicas ou principalmente em sua voz.
Vê-la e ouví-la é um daqueles privilégios que não há como agradecer ou retribuir ao universo.
Não sei se pareço uma tolinha deslumbrada, mas me sinto impelida a dividir essa experiência. Deslumbrada estou mesmo. Na verdade embevecida.
Ela contou que o último show que fez em um parque tinha sido em 1967!! Isso mesmo, há 53 anos no Central Park. Mas que felicidade ela ter topado o cantar novamente num parque, desta vez para 66.000 pessoas.
Tudo isso entremeado com historia de sua carreira, fotos no telão, e muita música.
Ela então começa a falar de Nasce uma Estrela. Ahh como eu me lembro deste filme. Assisti naquele cinema da Paulista, acho que era o Gazeta, sentada na escada do cinema que naquela época não tinha lotação máxima. Me debulhei em lágrimas, na primeira vez, e em todas as outras sessões a que fui.
Ela começa a falar de Kris Kristofferson. De seu parceiro.
Ela e o diretor estavam a procura do ator para o papel, ator/cantor. Não fizeram um casting propriamente dito. Foram a bares se não me engano pela Califórnia.
Mas quando ela viu Kris cantando num palco improvisado teve a certeza que era ele.
Aquele homem rústico de vozeirão DESCALÇO no palco. O que a pegou foi justamente o fato de ele estar descalço com o violão em punho.
Muitos suspiros, e mais ainda quando ela o chama e ele entra no palco, Bonitão, muito bonitão.
Barbra, de mãos dadas com Kris, diz que se arrepende muito de ter cortado uma cena do filme, e Tcharan! A cena aparece no telão! Gente, uma cena inédita de nasce uma estrela. Mas por uma falha técnica, o áudio estava totalmente fora de sync e ficou incompreensível. Falha imperdoável da produção de uma Diva.
Entretanto, justamente por ser uma verdadeira diva, usou o bom humor para lidar com a situação. Veja aqui nesse vídeo que gravei da tal cena.
Depois disso, convidou Kris a cantar com ela Lost Inside of You. Esta foi a parte triste do show.
Aquele monumento que povoou sonhos de minha adolescência, não conseguia cantar. Balbuciava as palavras. Provavelmente lhe faltou voz e memória e talvez tenha sobrado emoção. Não sei. Mas o público ficou penalizado evidentemente.
Barbra foi amiga, cantando, a sua parte e a dele. Encurtou a música, abraçou e beijou Kris e quando ele saiu, ela falou:
-Oh My God. What a man. E aqueles dentes? Vocês já viram homem com sorriso assim?
E dessa maneira voltou a nos alegrar.
Bem, Barbra fez questão de mostrar fotos de sua noite de estreia de Funny Girl em Londres, com a Princesa Margareth indo aos backstage. Foi ovacionada. Assim como quando apareceu sua foto com a Rainha Elizabeth.
Depois mostrou fotos dela em outros momentos com a princesa Diana . Impressionante a força que Lady Di ainda tem. O público veio a loucura.
Não sei se propositalmente ou não, na sequências vieram uma ou duas fotos dela com o príncipe Charles, e a frieza era de congelar. Tenho cá pra mim que o inglês não é lá muito fã desse príncipe. Mas eu sou apenas uma brasileirinha que não entende nada de realeza.
Num determinado momento ela chama alguém, que realmente acho que nunca vi quer mais gordo quer mais magro. Um cara bonitão num smoking, e deslumbradamente encantado de estar ali.
Talvez você o conheça já que é o ator/cantor de Fantasma da Ópera, Miss Saygon e sei lá mais o que.
Ele se chama Ramin Karimloo.
Ela perguntou:
– Mas você está de smoking. Por que? Por que veio tão chique?
– Porque você é Barbra Streisand.
Ai gente, essa resposta me pegou. Achei tão bonitinha!!
E ela disse que ele segurasse a plateia que ela ia se trocar.
Ele cantou. E cantou bonito.
Aí volta nossa Diva num vestido preto de tafetá. Amplo e decotado. Longo, porém curto na frente. Siiimmmm, ela com 77 anos tem perna para vestido curto.
Avisa que nunca cantou ou sequer ensaiou com aquela roupa, e que Deus a ajude.
Realmente a roupa não se comportou muito bem, pois ficava o tempo todo mais curta do que deveria. Porém quando ela sentava, e fechava as mangas como a um xale, deixando apenas uma das pernas cruzadas a mostra era arrasador.
E aí, cantaram juntos. Foi a vez do fã ser generoso com o ídolo.
Ramin diminuiu e muito seu canto para que a voz de La Streisand soasse grande. Generoso e muito legal, pois todos percebemos que naturalmente sua voz e seus agudos estão impressionantemente belos para uma mulher de 77 anos, assim como suas pernas.
E da-lhe música.
E da-lhe história
E dá-lhe surpresa. Talvez a maior da noite.
Ninguém sabia, nem mesmo boa parte da produção. Mas Lionel Richie, deu uma canja. Yesss. Não sou fã dele, mas não foi ruim vê-lo ao vivo. Nada nada.
E foi por aí. Genteeee, já tava dando quase 4 horas que eu estava em pé. Ok..Ok..é um preço pequeno a se pagar, mas a limitação é física.
Fiquei olhando as amigas de Jane Joplin e me perguntando se elas beberam uma água diferente da minha durante o show. Estavam todas inteiras e lépidas.
Verdade seja dita, quando Barbra Streisand falou que Antonio Banderas estava por ali cheguei a ficar animadinha e até passei discretamente meu batom. Ahhhhh como sou bobinha.
Bem, ainda tinha muita história pra contar do Show da Barbra, mas não sei se você está tão interessada assim.
Saímos em êxtase do parque. Nem ligamos quando percebemos que teríamos que andar uns 6 km as 22h30 até nosso hotel pois não havia qualquer tipo de condução disponível naquela hora para acomodar 66.000 fãs.
No entanto, houve ainda um momento tenso! Foi quando a Dedé percebeu que não tinha nada aberto prum lanchinho. Ahhhh…Dormir com fome não estava nos planos né?
Barbra Streisand – Todas as músicas que cantou no show. Aqui em vídeos que outros fãs gravaram, aliás muito melhor que eu.
- As If We Never Said Goodbye
- Any Place I Hang My Hat Is Home
- Alfie
- Evergreen
- Lost Inside of You (with Kris Kristofferson)
- Guilty
- Stoney End
- Woman in Love
- No More Tears (Enough Is Enough)
- You’ve Got to Be Carefully Taught / Children Will Listen
- Second Hand Rose
- The Music of the Night (with Ramin Karimloo)
- Send in the Clowns
- The Way We Were (with Lionel Richie)
- Silent Night
- People ou esse (ela bem pertinho)
- My Man
- Don’t Rain on My Parade
- What the World Needs Now
- The Man That Got Away
Leia também: Show da Barbra – Como cheguei até lá
Astor Piazzolla – o Show que faltou
Obrigada Dominique! Queria estar lá com vcs! Mas sua descrição foi tão boa que quase me senti lá!!!
Comentar o quê? Faltam palavras. Só agradecer o presente esta manhã. Obrigado pela linda estória contada.
que comentário gostoso de ler, José. Obrigada!
Gente… foi mesmo incrível! Valeu todo esforço físico, valeu cada centavo pago, momentos que vamos guardar no coração pra sempre!
Um evento muito Dominique não só considerando a faixa etária mas a wibe do público em total sintonia com a dela. Todos cheios das mais deliciosas “memories “, cheios de vontade de curtir e se entregar à emoção das músicas, das estórias contadas, das sacadas bem feitas…as 4 horas voaram, sério. E o que achei mais legal é que nós demos pra ela tanto prazer quanto recebemos dela. Foi uma troca. Artista e público. Foi demais.
FinalizAMOS cantando todos juntos:
”People who need people…are the luckiest in the world..”. Não podia ser melhor.
Isso é muito Dominique ❤️Já sdds Lili bjsss
Amei! Thanks for sharing! Bjs