Tag: Oscar 2018

Uma Mulher Fantástica: conflitos de uma transgênero

Dominique - Mulher
Uma Mulher Fantástica, já escolhido para representar o Chile no Oscar® 2018 na categoria de melhor filme estrangeiro e de melhor atriz, é um filme tocante, delicado e fascinante.

O filme conta a história de Marina (Daniela Vega), uma mulher transgênero de voz divina que sonha ser cantora lírica, trabalha como garçonete de dia e de noite canta em boates para se sustentar.

Ela está em um relacionamento estável com um homem mais velho, Orlando (Francisco Reyes Morandé) até que ele morre na noite do aniversário de Marina. E aí começa sua jornada.

O enfrentamento com a família do falecido e as instituições oficiais é quase todo calcado em desconfiança sobre sua identidade feminina.

Todos a tratam da forma mais odiável possível. A família de Orlando reivindica o enterro, o luto, a missa, as coroas de flores, sem falar no apartamento e na doce cadela Diabla.

Marina se impõe pela firmeza, pela dignidade e pela beleza, não convencional, mas um misto de força e feminilidade. Marina sofre, mas não se vitimiza, nem entrega os pontos.

O diretor Sebastián Lelio, aclamado pelo filme Gloria, repetiu as parcerias com Gonzalo Maza como roteirista e Benjamím Echazarreta como fotógrafo.

Com boa parte das cenas em close frontal no rosto de Marina, Uma Mulher Fantástica transporta o público para os olhos da protagonista, fazendo com que suas angústias e tristezas sejam sentidos do outro lado da tela.

Lelio nos presenteia com cenas lindas e cores marcantes. É um filme sensível, embora a violência (psicológica e física) que Marina vive seja notada sem pudores.

Um dos momentos mais bonitos é quando a vemos enfrentando uma forte ventania, cuja intensidade vai, aos poucos, aumentando. Ela se inclina com força e consegue se manter em pé. É uma metáfora perfeita da vida de quem se vê na posição de lutar pelo direito de ser quem é.

Lelio avança sua dramaturgia enfocando tramas protagonizadas por mulheres.

Pela delicadeza do tema, o autor não hesitou em convidar a atriz trans e cantora lírica Daniela Vega para participar do projeto desde a concepção do roteiro.

A produção ganhou o Urso de Prata de melhor roteiro no Festival de Berlim.

A comovente interpretação de Daniela Vega é a principal força do filme, pilar sobre o qual o cineasta constrói a trama.

Destaca-se também a ótima trilha musical assinada por Mathew Herbert.

Este é sem dúvida um forte candidato ao Oscar® de melhor filme estrangeiro.

Uma Mulher Fantástica é um filme encantador!

[fve]https://www.youtube.com/watch?v=d3VKy4PuvJ4[/fve]

Gostou dessa dica? Veja outras:

Afterimage – A história do artista Wladyslaw Strzeminsk
Bingo, o Rei das Manhãs – Inspirado no apresentador Bozo

2 Comentários
  1. Vi e gostei muito de todos os filmes aqui listados.
    Acabei de descobrir seu blog e já deu pra notar que vou seguir.
    Coisa boa começar a semana assim!

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Bingo, o Rei das Manhãs – Inspirado no apresentador Bozo

Dominique - Bingo
Bingo – O Rei das Manhãs, selecionado para representar o Brasil no Oscar® 2018, é o filme nacional do ano!

O filme é uma cinebiografia inspirada na vida real de Arlindo Barreto, ator que interpretou o palhaço Bozo e fez sucesso na televisão brasileira nos anos 80.

Por questões de direitos Bozo virou Bingo, Arlindo virou Augusto, SBT virou Mundial e só Gretchen continuou Gretchen.

O filme tem uma estrutura simples de ascensão, queda e superação, alternando momentos de humor, drama e uma melancolia inesperada nos olhos de um palhaço.

Nas cenas em que tira a maquiagem de Bingo, Vladimir Brichta mostra o peso de um personagem que está em conflito, ao mesmo tempo em que é líder de audiência, ele é um ilustre desconhecido. O ator por trás da máscara e da peruca de cabelos azuis, ferido em seu narcisismo por não poder revelar quem é por contrato, cai na decadência com bebida drogas e mulheres.

Surpresa mais que positiva é o trabalho de Daniel Rezende na direção: originalmente montador (inclusive indicado ao Oscar® por “Cidade de Deus” 2002), tem no seu currículo trabalhos como “Diários da Motocicleta” (2004), “Árvore da Vida” (2011) e “Robocop” (2014). Isso não é para fracos.

Em seu “debut” no comando de uma obra, Rezende entrega um filme mescla entre cinema autoral de qualidade com um produto elegante, com pompa de grande produção e totalmente vendável ao grande público apesar do teor adulto bem incorreto.

A direção de Rezende trabalha muito bem as várias percepções sobre seu protagonista e as transfere com sutileza para o espectador. Fácil se envolver com a história de Bingo.

O roteiro de Luiz Bolognesi (“Bicho de Sete Cabeças”) reúne as diversas faces do personagem e as põe em conflito. Bingo não é simplesmente um filme sobre ascensão e a derrocada de um apresentador de TV, mas trata das máscaras que vestimos diariamente para encarar o mundo. O rosto do palhaço funciona, assim, como uma metáfora para qualquer posição que assumimos frente a problemas.

Quem assina a trilha sonora, no melhor estilo pop anos 80, é o ex-DJ Rezende. Você vai ouvir as bandas como Echo & Bunnymen e Devo que se intercalam com as nacionais Titãs e Metrô.

Outro destaque é a direção de fotografia de Lula Carvalho que usa cores excessivamente saturadas, ajuda a transportar o expectador para os exageros dos anos 80: Os letreiros em neon, a maquiagem pesada, os cabelos armados e as roupas ousadas combinam com outro tipo de excesso também presente no filme, o abuso de drogas do protagonista.

No elenco, a esplêndida atuação de Vladimir que toma o filme para si, deixando transparecer a agonia e o sofrimento do protagonista que não consegue controlar seus excessos com as drogas e não sabe lidar com suas responsabilidades como pai.

Dominique - Bingo

O elenco conta ainda com Leandra Leal como a produtora Lúcia, Tainá Müller como a ex-mulher Angelica, Augusto Madeira como o câmera Vasconcelos, Emanuelle Araújo como Gretchen e o pequeno Cauã Martins como o delicado filho Gabriel.

Impossível não destacar também Domingos Montagner em um de seus últimos trabalhos. Falecido no ano passado, o ator vive um palhaço que serve como mentor para Bingo.  Difícil não ficar tocado com os apontamentos de Domingos que era um palhaço na vida real.

Bingo além de emocionar, fazer rir e chorar, já é um novo clássico do cinema brasileiro.

Agora é aguardar dia 4 de março e torcer para que o Oscar® venha dessa vez.

[fve]https://www.youtube.com/watch?v=4xHP9tiS6NM&feature=youtu.be[/fve]

Aqui tem mais algumas dicas de cinema, leia:

Uma Família de Dois: quando a paternidade fala mais alto
O Filme da Minha Vida: anseios e dilemas da juventude

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