Tag: Vida a dois

Casados há 24 anos e ainda namoram? Conta outra, pelamor!

Conheço, sim, 5 casais que se amam e namoram após 25, 30, 50 anos de casados.
Não, eu não sou virtual, nem fruto de imaginação fértil, nem eles.
Carne, osso, CPF, declaram IR e são normais, ou não.
Nos mil debates inevitáveis sobre o assunto, me vanglorio de conhecer estas pessoas, raras, embora eu mesma não possa erguer meu peito como uma pomba dizendo que também vivo uma vida a dois de dar inveja.
Aliás, falando nela, preservo o nome de todos, porque a “inveja é o mau hálito da alma” e, como seguro morreu de velho, uso nomes fictícios.
Lembrando que de fake aqui só os nomes.

Vamos combinar que, mesmo no longo namoro, a convivência é bem diferente quando comparada ao casamento ou morar junto, o que dá na mesma.
A gente se encontra quando está arrumadinha, cheirosinha. Não dorme com camiseta de propaganda política. Não sai com o cabelo oleoso. Não há flatulência nem por cima, nem por baixo.
As contas podem até ser rachadas, mas só no restaurante, show e viagens.
Nenhum dos dois sabe que gás, luz, condomínio são pagos e o quanto isso não é nada romântico.
E, se for como eu, jamais aparece sem lápis, rímel e um brinco.

Só que a realidade é dura, o tempo é implacável e chega a ser uma tarefa hercúlea manter esta fantasia no dia-a-dia por anos a fio, principalmente quando filho chega.
Mas, como eu adoro me gabar dos meus amigos, trago aqui uma história que serve de exemplo para todos, inclusive para o meu filho que casou no sábado.
Usei o meu amigo Fernando como referência para construir um relacionamento sólido e absolutamente gostoso de ser vivido todo santo dia.
Acho o máximo e confesso que é meu sonho de consumo (sim, ainda almejo isso aos 51 anos).
Afinal, qual é a receita do bolo?

É mais simples, mas muito mais simples do que todas as infindáveis conversas que temos umas com as outras ou ainda nas intermináveis sessões de terapia.
Condição sine qua non é casar amando de verdade.
Esclarecendo, a paixão tem prazo de validade, no máximo 2 anos.
Amor é um gostar com tesão, companheirismo, admiração e, não raramente, com uma p… vontade de enforcar a cara metade.

Fernando e Tereza namoraram 6 anos e estão casados há 24.
E, pasmem, namoram até hoje. Sim, eles vão ao motel, acredite se quiser.
Aí me perguntam, eles devem nadar em dinheiro, assim fica fácil.
É como mulher feia, não existe mulher feia, existe mulher pobre.
Mentira, os dois já passaram por perrengues de grana e de doença na família. Estão lá, firmes e fortes.
Sempre ouvi a versão dele que a ama incondicionalmente, mas não tinha escutado o lado dela.
Quando perguntei o que ela fazia para ter este relacionamento tão bacana por tanto tempo, ela respondeu “a gente se ama”.
Que bonito, lindo, romântico, fofo, mas vamos ao que interessa, me conte algo que eu e a torcida do Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos não saibam.

A Teca parou, pensou e me contou como é o dia a dia deles:
– A gente se ama, casou tendo muito tesão um pelo outro. Talvez o fato de ter tido apenas um filho possa ter ajudado, porque queira ou não é mais fácil de administrar.
Eu comentei:
– Teca, tem tanta gente que tem só um filho e não consegue manter a tal chama acesa. Não pode ser este o segredo.
– Nossa filha ia para cama todo santo dia às 19 horas até porque entrava muito cedo na escola. Com ela nanando, o tempo era nosso. Por mais cansados que estivéssemos nosso ritual de sentar juntos, tomar um aperitivo e jantar sempre foi sagrado, como é até hoje.
– Mas com empregada e babá até eu né cara pálida?
Depois de uma deliciosa gargalhada Teca fala:
– Nunca tive babá e a empregada vinha três vezes por semana, mas a cozinha é meu território.
– Tá bom! Mas você trabalhava?
– Sim, período integral, mas tinha a sorte de sair às 17 horas.
– Então o jantar era você quem fazia?
– Yes, darling! E cá pra nós, cozinho muito bem.
– Volte a falar da rotina, please, antes que eu comece a roer as unhas do pé, porque as da mão já eram.
– Depois do aperitivo, jantamos, conversamos sobre o dia e vamos assistir algo juntos na TV ou não, porque ninguém merece ver jogo do Palmeiras, isso já é exigir demais do amor. Aí eu coloco em dia os episódios das séries que eu adoro.
– Mas e o namoro propriamente dito, o pegar na mão, dormir de conchinha, sexo? Isso ainda existe entre vocês?
Ela me olhou como se eu fosse um alien:
– Claro Clóvis! Se não rolasse isso, por que estaríamos juntos? A gente sempre teve um tempo para a gente, condição inegociável. Nas férias, viajavamos uma semana sozinhos e uma semana com a Laura.
Numa sonora gargalhada continua:
– Uma vez por mês visitamos um motel, somos da Vigilância Sanitária e temos o dever de checar se tudo está dentro do padrão nas suítes! Ah! Todo dia 30 ele me traz uma rosa para lembrar do dia em que casamos.
Peço um tempinho, porque como boa jornalista fazer conta é uma tarefa insana para mim:
– Teca do céu, são 290 rosas até maio deste ano.
– Não querida, são 289 rosas em flor e 1 rosa em chocolate da Kopenhagen. No último dia 30 de maio, as flores estavam feias na floricultura e ele optou pela versão em cacau!
– Você consegue se manter linda e atraente após tanto tempo. Por isso rola sedução?
– Eu nunca fui dormir de moleton e Hipoglós nas espinhas, mas também não vou deitar com meia arrastão. Durmo com uma camisola bonita, não necessariamente provocativa. Sempre cuidei de mim, mas nunca fui escrava da vaidade, moda, corpo, botox, plástica. Também tive e tenho que lidar com a jornada tripla e uso ainda uma palavra light, porque é mais que tripla: mãe, esposa, filha, profissional, amiga. É mais ou menos como empilhar pratos chineses.
– Tá bom, Teca. Tudo lindo e maravilhoso, mas quando a grana acabou como foi o “namoro”?
Ela parou de sorrir por um instante e disse:
– Uma fase muito dura. Em um determinado momento até nos afastamos um pouco, o que foi horrível, mas não deu. Conseguimos segurar as pontas e virar o jogo justamente porque somos o que somos, nossa união e cumplicidade são muito fortes.
No dia seguinte desta conversa, Fernando me ligou perguntando:
– Quer dizer que você quer saber qual o segredo do sucesso no meu casamento? Mas você já sabe tudo.

Não é raro ele me contar o quanto admira a Teca, ao ponto de me falar que quando estão conversando assim, sem mais nem menos, ele olhar o pé dela e a coisa começar a esquentar. Dele ser motivo de piada entre os amigos, porque ele não fala mal da esposa (ao contrário) e não dá as tais escapadas, simplesmente porque não tem a menor vontade.

Sua filha colocou um post no Facebook no dia do aniversário do Fernando e mencionou o lance da rosa no dia 30.
Houve uma comoção geral, mas não de emoção, de indignação dos homens:
– Poxa (não foi bem esta palavra a usada), você está estragando tudo, agora vou ter que comprar flor para mim mulher, tenha dó. Para de inventar moda!
Tenho a plena consciência que contribui para meu divórcio, 50% ele e 50% eu. Depois desta conversa, a certeza só aumentou.
O tal lance da receita do sucesso é tão óbvia, tão simples e nós não fazemos.
Amar dá trabalho, requer disciplina, mas se você conhecer estes dois e vir como um olha para o outro após 30 anos juntos, vai repensar o quanto vale a pena construir este castelo em concreto firme.

Não é impressionante? Casados a 24 anos e ainda existe amor.

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Marot Gandolfi

JORNALISTA, EMPRESÁRIA, AMANTE DE GENTE DIVERTIDA E DE CACHORROS COM LEVE QUEDA PARA OS VIRALATAS.

5 Comentários
  1. A minha estória é tal qual da Teca/Fernando…
    Foram 35 anos de amor e paixão, a paixão não acabou não… td dia 29 ganhava 1 rosa!!!
    Hj estou c 70 anos e tenho crtza k estivesse ele vivo, o amor seria o mmooo…

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