Autoestima é sempre algo a ser perseguido. Principalmente depois que completamos 5 décadas, ela é essencial. Algumas pessoas a têm em bom patamar pois cultivaram durante uma vida. Outras nunca a tiveram e provavelmente nunca a acharão por mais que procurem.
Agora nós Dominiques, temos um trabalho extra pois além de recuperar nossa própria autoestima tão machucada, temos que ensinar o mundo a nos respeitar. Já falei um bocado sobre isso – veja aqui.
Assim sendo, deixa eu te contar uma historinha* que li há tempos sobre uma pessoa com autoestima colossal – Pablo Picasso.
Dizem que o Picasso nunca tinha dinheiro no bolso.
Quando ele terminava de jantar num restaurante, o dono aproximava-se da mesa com a nota, esperançoso, e perguntava se ele ia pagar ou assinar.
Picasso fazia uma mímica de procurar dinheiro nos bolsos, mas sempre acabava assinando a nota. O dono do restaurante mandava emoldurar e depois vendia como um Picasso autêntico, por muito mais, é claro, do que o valor do jantar. Entretanto se a comida estivesse especialmente boa ou se o seu grupo fosse grande, Picasso não assinava apenas a nota. Fazia um rápido desenho na toalha, que, depois, mesmo com as manchas de comida, passava a valer uma pequena fortuna. Ou então fazia uma rápida escultura com miolo de pão e palitos.
Quando precisava mandar buscar alguma coisa no armazém, Picasso rabiscava uma pomba ou uma odalisca num papel e dava para a empregada pagar a conta.
Certa vez, a empregada saiu para fazer o rancho levando um bico-de-pena razoavelmente bem acabado – a conta seria grande – e voltou com as compras e mais um horrível desenho feito em papel de embrulho e assinado embaixo pelo dono do armazém, Monsieur Pinot.
– O que é isso? – quis saber Picasso, segurando o papel com a ponta dos dedos.
– É o troco – explicou a empregada.
Desse dia em diante, dizem, Picasso olhava com respeito, cada vez que passava pelo armazém de Monsieur Pinot. Tinha encontrado um ego maior que o seu.”
*Foi escrita por Luis Fernando Veríssimo e está no livro Comédia da Vida Pública – 1995, ed. L&PM
Adooooooro essa história, quer ela seja verdade, quer ela seja pura ficção.
Agora analisemos: Monsieur Pinot realmente achava que poderia desenhar algo do valor das obras de Picasso? Ou que uma obra dele não pagasse uma compra no mercadinho?
Claro que o ego de Monsieur Pinot e sua autocrítica sabiam que ele não era artista e passava longe de qualquer tipo de talento pictórico.
O que acontece é que o quitandeiro tinha autoestima suficiente para brincar com um mestre, considerado quase uma lenda viva.
E não. Isso não é pouca coisa. Poderia ser considerado arrogância, apesar de ter sido arrogante justamente quem subjugou a moeda de troca corrente, tomando como certo e aceitável o valor “superior”de um pedaço de papel.
Veja bem, o ato de M. Pinot nada teve de arrogante ou sem noção. Muito menos foi ele pretensioso embora até possa parecer. Ele usou uma das armas mais poderosas do universo que é inegavelmente o bom humor.
Acredito piamente que o bom humor é uma das maiores qualidades de uma pessoa da mesma forma que o bom senso.
A coragem de usar-se de humor com um homem como Picasso, veio sem dúvida alguma de uma autoestima muito bem lustrada e em dia.
E vou além. Quando você acha que Pablo Picasso prestaria atenção a Monsieur Pinot, da quitanda, tornando-se até eventualmente um amigo?
Veríssimo diz em seu texto que Picasso achou finalmente alguém com o ego maior que o seu. Mas sou obrigada a discordar. Porque não foi o tamanho do ego daquele homem simples da Cote D’Azure que cativou o ilustre pintor mas sim a sua autoestima .
Quem gosta de si próprio, sente-se merecedor do outro, seja ele quem for. No caso Pablo Picasso.
Entendeu?
Eli Muito bom !!! Super legal essa estoria !!! Bjos
Fantástica essa história! Verdadeira ou não adorei!!!
Amei esses textos!