Constantemente ouço comentários de que as coisas atualmente estão difíceis. Seja no aspecto financeiro quanto social ou das coisas do mundo: que as pessoas não interagem mais como antigamente, que as músicas eram melhores, que as brincadeiras eram mais divertidas, enfim….que o mundo era um lugar melhor. Recordar é uma forma de nostalgia comum, que nos faz ressaltar o valor daquilo que vivemos e também lamentar o tempo que passou e as mudanças que aconteceram.
Será que é assim mesmo? Será que o passado era melhor ou nos tornamos saudosistas e pessimistas? O fato de atravessarmos tempos mais áridos e instáveis pode abrir brecha para pensarmos nos momentos mais realizados da vida, é verdade.
É essencial percebermos que não temos controle sobre muitos acontecimentos, como perdas e doenças; os imprevistos fazem parte e exigem adaptação e resiliência. Mas existe uma parcela de acontecimentos e eventos que contam com nosso empenho, nossa participação especial, como protagonistas e realizadores.
Recordar é viver até certo ponto. Quando recordamos e vivenciamos momentos passados, acessamos nossa bagagem de experiências. Qual o valor e o peso da recordação? Parece que ao fazermos esse passeio pelo passado, muitas experiências podem ficar supervalorizadas. Mesmo que percebamos que as coisas estavam melhores, será que o fato de achar que o melhor da vida já passou não é uma forma de sabotagem?
O que foi legal no passado pode ser colorido com cores bem intensas e no presente se tornar “bacanérrimo” por um movimento psicológico de atribuir qualidades especiais à lembrança do momento vivido. Dessa forma, as lembranças adquirem mais brilho. Sabe aquele relacionamento que nem foi tão especial, mas ao recordar da relação e da pessoa, parece que tudo foi mágico? Muito mais porque “temperamos” a lembrança do que pelo relacionamento em si.
Se as coisas mais legais já passaram e já foram vividas, porque me esforçar ou me engajar em coisas novas e em experiências “que já não são tão boas” como já foram no passado? A zona de conforto ajuda a criar o discurso que a sustenta. E aí o passado te prende, te faz refém e te ilude. Ficar preso ao passado é como desinvestir da vida, daquilo que ainda pode ser construído para o futuro.
Os processos terapêuticos de diversas linhas trabalham no sentido do resgate da história de vida, ressignificação e despertar de possibilidades. Revisitar o passado e o peso que se dá a ele constitui um valioso trabalho no sentido da evolução pessoal.
O outro extremo de valorizar pouco o passado parece não ajudar a assimilar o significado e o aprendizado que cada momento teve, e que, consequentemente, nos prepara para as vivências futuras. E aí repetimos padrões de comportamento e funcionamento distorcidos que nos conduzem às mesmas escolhas que não nos fazem felizes.
Ser feliz, ter satisfação e realizar os próprios desejos requer energia investida. E essa energia emocional não pode estar presa ao passado… Deve fluir pela vida, pelas escolhas e pelo rumo que devemos dar ao que queremos que seja bom, para que daqui a alguns anos possamos olhar para esse momento e perceber o quanto ele também foi legal!
É necessário tirar proveito das experiências vividas. Aceitando que o passado é uma lembrança e não um momento real e atual. E assim curtir as lembranças, aprender com os erros e voltar ao presente!
Recordar é bom demais, mas não devemos nos prender ao passado, não acha?
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E que venha o novo!!!!