Cinema

Como Nossos Pais: um filme moderno e real que gera reflexões

Dominique - Pais
A dica de hoje é “Como Nossos Pais”.

Hoje não posso deixar de comentar esse incrível filme brasileiro.

Vencedor de seis Kikitos no Festival de Cinema de Gramado, o quarto longa de Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças, As Melhores Coisas do Mundo) é bem mais que a história de uma mãe multitarefa e as diferenças entre gerações.

O longa tem como referência a peça de A Casa das Bonecas, de Henrik Ibsen, que fala de mulheres que atravessam processos de desestabilização.

Na trama, conhecemos Rosa (Maria Ribeiro), 38 anos, uma mulher guerreira que está em crise no seu casamento com seu marido Dado (Paulo Vilhena), infeliz no emprego que tem e ainda é pega de surpresa com uma atordoante notícia de sua mãe, Clarisse (Clarisse Abujamra), com quem possui uma relação cheia de conflitos.

A notícia mexe bastante com a protagonista que passa por uma grande transformação ao longo dos 102 minutos de projeção.

Como Nossos Pais é um belo retrato de geração dos 30/40 anos, perdida em ideias progressistas e valores atrasados.

Machismo, monogamia e liberdade sexual são discutidos de forma sensível e madura. A desigualdade de gênero, tema central da história, é retratada sem fúria. Só isso já faria o filme valer a pena.

Uma super-heroína dos nossos tempos, Rosa, precisa conciliar seu tempo com a educação de suas filhas pequenas, tentar ajustes em seu casamento recheado de desconfiança e crise financeira. Rosa é o reflexo da força feminina nos dias de hoje.

A raiva e o ressentimento quase sempre presente nas relações familiares e a transmissão de valores conservadores de gêneros entre pais e filhos – mesmo os mais liberais – também são traduzidos na tela.

A narrativa central sobre as pressões que geram culpa nas mulheres é uma discussão oportuna e necessária.

Dominique - Pais

Como Nossos Pais equilibra com virtuosismo – ao menos na maior parte do tempo – seu peso dramático com alívios cômicos e suas cenas de embates violentos com diálogos mais leves, mas nunca despretensiosos ou menos reflexivos por causa disso.

Não podemos deixar de falar das excelentes interpretações de Maria Ribeiro – que dá não só a vida à personagem, mas a torna extremamente real e de Clarisse Abujamra, afiada na pele de uma mulher que diz o que sente de uma maneira fria, direta, determinantes para o bom resultado do longa.

Os conflitos entre mãe e filha no decorrer do filme são marcantes e a atuação de Jorge Mautner, em cenas que viram cômicas, merece destaque.

Não por acaso a produção foi consagrada com seis Kikitos – melhor filme, direção, atriz, ator, atriz coadjuvante e montagem.

Como Nossos Pais é sem dúvida um grande filme. Vale a pena conferir!

[fve]https://youtu.be/-_8t-3PG8Qk[/fve]

Leia mais:

Dunkirk: uma batalha no inicio da Segunda Guerra Mundial
Lady Macbeth: caso extraconjugal e suas consequências

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Dunkirk: uma batalha no inicio da Segunda Guerra Mundial

Dominique - Dunkirk
Hoje comento um filme de guerra, programa ideal para ser visto a dois. Dunkirk promete a guerra que você nunca viu e entrega uma experiência única.

O diretor britânico Christopher Nolan cria um drama extremamente real e vibrante.

Nolan já inicia seu longa nos dando um vislumbre do que estaria por vir. Um grupo de soldados percorre as ruas de Dunkirk, no norte da França, quando começa a ser alvejado pelas forças inimigas.

Em momento algum vemos os nazistas, apenas ouvimos seus tiros e enxergamos os aliados caindo um a um.

Sobrevive apenas Tommy (Fion Whitehead), um dos personagens cujo ponto de vista acompanhamos nessa jornada. O que há de diferente nessa sequência da grande maioria dos filmes de guerra por aí?

O simples fato de que não existe vilanização, apenas a angústia que nos preenche enquanto torcemos para que os soldados ingleses sobrevivam, algo que se mantém ao longo da projeção.

A batalha de Dunkirk aconteceu entre maio e junho de 1940. Na ocasião, a cidade homônima, no litoral da França, foi cercada por tropas alemãs – cerca de 400 mil soldados estavam sem saída, sem mantimentos, sem esperança.

As forças armadas da Inglaterra tentaram várias incursões para resgatar os homens e a maioria foi em vão, com aviões derrubados e navios naufragados.

Dominique - Dunkirk

O diretor britânico que também escreveu o roteiro optou por não mostrar todas as ramificações da batalha e focar na reta final da missão de resgate.

Hans Zimmer, compositor da trilha sonora, ao lado de Nolan, nos entrega seu melhor trabalho, ajudando na construção dessa insólita atmosfera. Com constantes crescendos e percussão em evidência, o compositor nos faz sentir como em uma constante corrida contra o tempo em que a recompensa é a sobrevivência.

Zimmer corta os planos abertos de Nolan, transformando o belo céu azul em fonte de tensão, com melodias que se disfarçam em efeitos sonoros, mimetizando sirenes e sons de hélices de aviões, brincando com nossas expectativas a todo e qualquer instante.

A fotografia de Hoyte van Hoytema quase nunca usa close dos atores, preferindo acompanhá-los de perfil ou por trás, ou filmar as massas humanas à distância, o que só aumenta a aflição e a experiência desumanizadora do conflito.

Como proposta visual, Dunkirk é excelente. O diretor tem plena consciência dos ângulos, lentes e movimentos de câmera adequados para provocar a máxima experiência de tensão. O cenário de guerra é captado de maneira grandiosa, pela amplitude das praias, mares e céus, e também intimista, por se focar em dramas humanos pontuais, silenciosos, envolvendo a vida de anônimos.

Nolan preferiu os planos mais longos e muitas vezes contemplativos – oposto da estética de boa parte dos blockbusters de hoje em dia. As cenas mais frenéticas têm a função de dar mais drama aos personagens do que mostrar os horrores da guerra.

Um dos grandes trunfos do longa: seu diretor e roteirista não nos permite relaxar em nenhum momento, colocando-nos lado a lado com os soldados aflitos pela possibilidade de jamais serem resgatados.

A beleza de Dunkirk, portanto, não está em contemplar o épico e sim a fragilidade humana, seja física ou emocional. Fragilidade essa que já deveria ser o suficiente para evitar qualquer um desses conflitos.

Dunkirk já é um clássico de seu gênero e o crédito disso tudo fica nas mãos de Nolan, que soube usar todas as ferramentas que tinha em suas mãos para contar uma história que apesar de triste, celebra o melhor do ser humano, mesmo diante de tanta destruição.

O filme configura talvez como o melhor longa de seu diretor. Uma obra-prima.

Se você for amante do gênero, vai amar Dunkirk!

[fve]https://www.youtube.com/watch?v=UsWyfyTjXgc[/fve]

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Lady Macbeth: caso extraconjugal e suas consequências

Dominique - Lady

Hoje comento o intenso e pulsante filme baseado no livro “Lady Macbeth do Distrito Mtzensk”, de Nicolau Lescov, o qual, por sua vez, é inspirado na famosa personagem de William Shakespeare, Lady Macbeth.

O filme se passa na Inglaterra do século XIX, mas dialoga plenamente com as questões sociais da atualidade.

Em essência, temos a história de uma mulher que acima de tudo visa a própria sobrevivência, com o roteiro explorando questões como a objetificação do feminino e, claro, tecendo críticas ao patriarcado, tão perfeitamente retratado não apenas pelos personagens masculinos, como também, por todas as mulheres que envolvem a protagonista, claramente à frente de seu tempo.

O longa apresenta algumas modificações da obra original ao contar a história de Katherine (Florence Pugh) que está presa a um casamento de conveniência, casada com Boris Macbeth (Christofer Fairbank).

A jovem agora se vê integrante de uma família sem amor. É só quando ela embarca em um caso extraconjugal com um trabalhador da propriedade do marido que as coisas começam a mudar.

O diretor teatral William Oldroyd estreia como cineasta com um drama de época centrado na expressividade minimalista da jovem atriz Florence Pugh.

Algumas ações como o abrir da janela enquanto Katherine dorme, seu cabelo sendo penteado pela criada da casa e o torturante espartilho são repetidas confirmações visuais que constroem um ambiente hostil em que essa mulher é obrigada a viver.

Visualmente, além de impecável ambientação e direção de arte, os quadros sempre privilegiam embates. Sejam em movimentos de câmera que mostram Katherine percorrendo a gigantesca casa em que mora ou nos planos e contrapontos centralizados que indicam a disputa do poder que a protagonista trava com as outras personagens na narrativa.

Lady Macbeth mantém o espírito subversivo do livro ao mostrar a protagonista se rebelando contra todas as convenções sociais da época e tomando as rédeas de sua própria vida.

Claro que sem deixar de retratar as terríveis consequências de seus atos para si mesma e para todos que a cercam.

A diretora de teatro, Alice Birch, excelente em sua estreia como roteirista, transforma Katherine em alguém ainda mais autocentrada.

A trilha sonora é muito importante nesse filme empenhado em deflagrar das pequenas às grandes violências que marcam o cotidiano das personagens.

O arranjo narrativo que faz do som aliado da imagem, enriquece o longa.

Performance espetacular de Florence Pugh, uma das melhores do ano, como a fria e amoral protagonista Katherine. Destaque também para Naomi Ackie, a criada negra Anna.

A fotografia é maravilhosa. Privilegia a luz natural e se vale constantemente das sombras e investe em planos mais longos e estáticos que evocam a monotonia que sufoca Katherine.

A cena final chega como surpresa – e provavelmente não agradará a todos, mas o filme é sensacional!

Lady Macbeth é um filme incrível. Não perca!

[fve]https://www.youtube.com/watch?v=V0e-z24MWvs[/fve]

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Malasartes e o Duelo com a Morte: trapaças, mitologia e diversão

Dominique - Malasartes

Hoje comento e indico o brilhante e inovador filme Malasartes e o Duelo com a Morte, que o genial diretor e roteirista Paulo Morelli nos presenteou. Uma superprodução nacional que resgata o folclore caipira.

Pedro Malasartes é um personagem bem mais antigo do que se pensa. Originado há séculos em Portugal e Espanha, ele acabou sendo trazido ao Brasil na época da colonização.

Esperto e sedutor, nas histórias em que é protagonista, ele alterna entre a humildade e a malandragem.

Tem um bom coração, mas sempre quer levar vantagem em tudo. Com esse perfil bem brasileiro ele acabou se tornando um mito importante na cultura nacional.

Sendo um personagem tão importante para a cultura popular, nada mais justo que Malasartes ganhar um filme próprio.

Malasartes é um filme doce e inocente, ingenuidade pura e para toda a família.

Para o roteiro, Morelli mesclou a riqueza da cultura brasileira com elementos da mitologia grega e romana.

O resultado é um filme típico caipira com um mundo místico e criativo.

Morelli entrega uma história agradável e divertida, cheia de viradas no tempo certo e um ritmo que impõe ação contínua aos personagens muito bem construídos.

A trama é bem costurada com uma mitologia própria e uma história composta por trechos de diversos contos.

Dominique - Malasartes

Na trama Malasartes (Jesuíta Barbosa), escapa de uma situação atrás da outra, conhecido como trapaceiro em sua pequena cidade. Um dos seus mais ferrenhos cobradores é Próspero (Milhem Cortaz), o valentão local, cuja irmã Áurea (a graciosa Isis Valverde) está secretamente enamorada pelo protagonista.

A história toma contornos fantásticos quando a Morte em pessoa (Julio Andrade) pretende enganar Malasartes para que esse assuma seu lugar – já que o sujeito é considerado o único capaz de derrotá-la em um duelo de esperteza.

A história de Malasartes se divide em dois grandes momentos: o que se passa no mundo rural e o que se passa no mundo mágico. Os efeitos especiais ocorrem nos dois ambientes com muito mais ênfase no mundo virtual.

Os efeitos especiais são o carro chefe do filme. Cerca de metade do longa foi feito com efeitos visuais gerados por computação gráfica.

Sem dúvida, uma conquista para o cinema nacional poder criar pela primeira vez algo assim. Realmente impressiona, em especial a forma como o além-mundo é retratado, com as velas que contam os anos de vida de cada pessoa na terra.

Dominique - Malasartes

O elenco peso pesado, renomado, mais acostumado a trabalhar em dramas intensos, como Jesuíta Barbosa, excepcional no papel, Milhem Cortaz, Julio Andrade, Luciana Paes. Realmente ótimos atores com sinergia entre todos e excelentes atuações individuais.

A Direção de Arte tem dois momentos fantásticos: nos cenários caipiras bem elaborados e visualmente ricos e nos cenários e figurinos do mundo mágico.

Essa superprodução além de ótima distração é também uma experiência inusitada, inovadora, além de muito apropriada para o nosso momento brasileiro.

Vale a pena conferir!
Divirta-se assistindo Malasartes e o Duelo com a Morte!

[fve]https://www.youtube.com/watch?v=s_qtWlhxhlA[/fve]

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O Filme da Minha Vida: anseios e dilemas da juventude

Dominique - Vida

Hoje comento e indico um filme nacional que acabou de entrar nos cinemas. O belo, poético e nostálgico O Filme da Minha Vida, chegou para nos encantar.

Uma joia brasileira, uma joia rara.

Ambientado na serra gaúcha, na década de 60, com magníficas paisagens e uma linda história de reestruturação familiar, o filme mostra o processo de amadurecimento do jovem professor Tony (Johnny Massaro), sua relação estreita com a mãe, a ausência do pai – o francês Nicolas (Vincent Cassel), seus anseios e dilemas, seus amores. Um rito de passagem da juventude para a maturidade.

Dirigido e escrito por Selton Mello (roteiro dividido Dominique - Vidacom Marcelo Vindicato), tem como base Um Pai de Cinema, escrito pelo chileno Antonio Skármeta, que se consagrou com O Carteiro e o Poeta.

O talentoso Selton Mello com uma habilidade incrível em mesclar tons de comédia com grande sensibilidade dramática mantém essa sua principal característica em seu terceiro longa.

Com narrativa que traz um ar de homenagem aos grandes épicos do cinema clássico, assistir esse filme é admirar pinturas em movimento.

As imagens captadas pelo grande mestre da cinematografia, Walter Carvalho, traduz a beleza de uma mistura de sentimentos que nunca soa descompassada.

Com questionamento poético, história intimista, minimalista e sentimental, O Filme da Minha Vida conta com personagens muito interessantes, uma história de abandono e também de solidão, momentos cômicos e tristes bem balanceados e um ar de poesia.

Há a melancolia decorrente da ausência.

O retorno do pai de Tony à França abre uma fenda profunda dentro do jovem, não só pela saudade, mas pelo impacto que tal partida provoca, dia após dia.

Há em O Filme da Minha Vida uma reverência ao passado, seja pela ambientação idealizada no sul do Brasil, com figurinos típicos dos anos 60, seja pela lembrança constante de uma felicidade que já não existe mais.

Daí vem o tom melancólico em torno do sensível Dominique - VidaTony e também a rudeza de seu amigo Paco reações diretas do modo como reagem a fatos marcantes trazidos pela vida.

Quanto a parte técnica do filme, tudo é impressionante.

A direção de Mello é ótima, ele tira o máximo que consegue de seus atores.

A trilha sonora muito bem montada, assinada pelo músico Plínio Profeta, com canções incríveis colocadas de maneira correta e condizente. Você vai se deliciar ouvindo Charles Aznavour cantando Hier Encore, Sérgio Reis cantando Coração de Papel.

O filme se permite ser lúdico e ser calcado no sonho para ilustrar as sensações de seu protagonista, como no momento em que este, ao som da ópera Carmem, de Bizet, literalmente flutua em direção às paixões amorosas.

O Filme da Minha Vida é de uma beleza cativante em sua história mais que sensível.

O excelente design de produção, que consegue uma reprodução impressionante da época, fecha com maestria os atributos visuais do longa, tornando este um dos melhores exemplares nacionais do ano. Eu amei!

Esse filme vai emocionar você! Não perca!

Bom programa!
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