Hoje comento o intenso e pulsante filme baseado no livro “Lady Macbeth do Distrito Mtzensk”, de Nicolau Lescov, o qual, por sua vez, é inspirado na famosa personagem de William Shakespeare, Lady Macbeth.
O filme se passa na Inglaterra do século XIX, mas dialoga plenamente com as questões sociais da atualidade.
Em essência, temos a história de uma mulher que acima de tudo visa a própria sobrevivência, com o roteiro explorando questões como a objetificação do feminino e, claro, tecendo críticas ao patriarcado, tão perfeitamente retratado não apenas pelos personagens masculinos, como também, por todas as mulheres que envolvem a protagonista, claramente à frente de seu tempo.
O longa apresenta algumas modificações da obra original ao contar a história de Katherine (Florence Pugh) que está presa a um casamento de conveniência, casada com Boris Macbeth (Christofer Fairbank).
A jovem agora se vê integrante de uma família sem amor. É só quando ela embarca em um caso extraconjugal com um trabalhador da propriedade do marido que as coisas começam a mudar.
O diretor teatral William Oldroyd estreia como cineasta com um drama de época centrado na expressividade minimalista da jovem atriz Florence Pugh.
Algumas ações como o abrir da janela enquanto Katherine dorme, seu cabelo sendo penteado pela criada da casa e o torturante espartilho são repetidas confirmações visuais que constroem um ambiente hostil em que essa mulher é obrigada a viver.
Visualmente, além de impecável ambientação e direção de arte, os quadros sempre privilegiam embates. Sejam em movimentos de câmera que mostram Katherine percorrendo a gigantesca casa em que mora ou nos planos e contrapontos centralizados que indicam a disputa do poder que a protagonista trava com as outras personagens na narrativa.
Lady Macbeth mantém o espírito subversivo do livro ao mostrar a protagonista se rebelando contra todas as convenções sociais da época e tomando as rédeas de sua própria vida.
Claro que sem deixar de retratar as terríveis consequências de seus atos para si mesma e para todos que a cercam.
A diretora de teatro, Alice Birch, excelente em sua estreia como roteirista, transforma Katherine em alguém ainda mais autocentrada.
A trilha sonora é muito importante nesse filme empenhado em deflagrar das pequenas às grandes violências que marcam o cotidiano das personagens.
O arranjo narrativo que faz do som aliado da imagem, enriquece o longa.
Performance espetacular de Florence Pugh, uma das melhores do ano, como a fria e amoral protagonista Katherine. Destaque também para Naomi Ackie, a criada negra Anna.
A fotografia é maravilhosa. Privilegia a luz natural e se vale constantemente das sombras e investe em planos mais longos e estáticos que evocam a monotonia que sufoca Katherine.
A cena final chega como surpresa – e provavelmente não agradará a todos, mas o filme é sensacional!
Lady Macbeth é um filme incrível. Não perca!
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Quero.