Resposta de Dominique para Mr. Miles – A minha praia

Dominique - Mr. MilesQuerido Mr. Miles, você respondeu minha pergunta sobre a praia ! E no Estadãoooo!

Wow! Que demais! Estou me sentindo a tal. Toda prosa.

Para quem não leu, está aqui.

Mr. Miles, my dearest, não entendo porque esquivou-se de responder minha questão. Tenho certeza que não lhe falta vocabulário, muito menos passagens por praias “agradáveis”.  Suponho que se um dia tivermos mais intimidade, as palavras nos serão mais confortáveis.
Confesso que espero ansiosa este dia, mas enquanto ele não chega, vou aproveitar meu proeminente desembaraço para contar um pouquinho de mim.

Sempre gostei de praia.
Sempre preferi praia ao campo e montanha.

De criança e mocinha, frequentava uma praia lotada, cheia de gente. Cheia de amigas e amigos. E era isso que eu queria.
Eu acho. Também não conhecia outra coisa.
Meus pais nunca foram do tipo aventureiros de pegar o carro e ir para praias mais agrestes, mais rústicas, onde minha mãe não tivesse porque usar salto alto e meu pai não tivesse como ligar um ventilador.

Ahhhh estou sendo injusta com meu pai. Ele era sim, um aventureiro do jeito dele. Deixa eu te contar:

Não sei se sabe, mas Daddy era inglês, como você.  Veio para o Brasil na década de 60 para trabalhar e conheceu minha mãe, uma descendente de nobres nordestinos.

Como dizem por aí “não é o mais forte que sobrevive, mas o que melhor se adapta às mudanças”. E assim foi com meu pai. Rapidamente tropicalizou-se e passou a gostar de tudo que essa nossa brasilidade tem de mais exótico.
Você acredita que ela adorava o Guarujá? Você sabe onde é o Guarujá?

Pois bem, num remotíssimo passado era nosso destino de férias de verão.

A grande aventura era arrumar aquele monte de mala, sacolas, pacotes de todos nós no bagageiro do carro. Um exercício matemático que só mesmo um engenheiro conseguiria.

Aí, pegávamos a estrada, a Serra de Santos, cantando, com os vidros abertos, papai fumando um cigarro atrás do outro, com o bração pra fora.

Sempre que furava um pneu e não eram poucas as vezes, Daddy dizia que chegava a ser um prazer desmontar e montar todo o porta-malas para trocar o pneu ladeado por aquela Mata Atlântica com folhas enormes, perfumes, animais e insetos nunca jamais vistos.

Passada essa etapa, chegávamos em Santos, rumo à balsa. Você sabe o que é balsa Mr. Miles?

Papai a-do-ra-va a famosa fila da balsa de Santos. Achava super pitoresco.
Uma, duas até três horas na fila, sob aquele calor grudento da baixada.  Com o motor do carro desligado, ele descia para calcular o tamanho da fila. Fez grandes amigos na solidária e modorrenta espera.

Sem falar no Biju, queijadinha, biscoito de polvilho, Fanta Laranja, raspadinha de groselha, amendoim com casca e outras guloseimas que nos mantinham entretidos e emporcalhavam completamente o carro.

Aí chegávamos naquela praia que papai tanto valorizava. Lembre-se que ele vinha dos gelados mares do norte. Sol, areia branca, marés quentes, família e amigos tão calorosos quanto nosso clima eram coisas que ele ainda não havia experimentado na vida.

Fez-nos entender o privilégio que era viver perto dos 25º C com céu azul quase que o ano inteiro.
Sempre que podia, ele tentava explicar o valor que dava à receptividade ao imigrante por aqui.

Ahhh Mr. Miles, que doces lembranças você me proporcionou quando disse “O sol que me perdoe, mas uma sombra é fundamental”. Só um outro inglês seria capaz de dizer pérola semelhante. E era meu pai quem falava que o melhor do sol era sempre a sombra!. Coincidência? Acho que não

Voltando…

Com o tempo, mudanças, casamento, filhos, novos objetivos, conheci outros horizontes.
O amor por e pela praia só aumentou.
Conheci diversas.
Sempre ia onde ela lá estivesse. Em qualquer lugar.
Até que a mágica aconteceu. Mágica, feitiço, encanto! Chame como quiser.
Há 23 anos apaixonei-me por uma em especial.

Área relativamente pequena entre uma estrada e a praia.
Sem comércio local. Sem restaurantes.
Uma vendinha. Uma ou duas pensões.
Umas casas de pescadores.
Alguns pouquíssimos condomínios.
Dois botecos.
Praia de tombo.
Mar difícil. Dificílimo.
Montanhas muito próximas a praia.
Um contraste entre azul e verde, mar e mata, montanha e ondas, areia e terra que me deixou enlouquecida.

Bom, lá me estabeleci.
Lá construi a casa de meus sonhos.
Lá criei meus filhos.
Lá fiz amigos pra toda vida.
Lá descobri livros que me acompanharão para todo o sempre.
Lá aconteceram minhas grandes reflexões.
Lá eu tenho espaço para mudar.

Esta é a minha praia Mr. Miles. Veja só que ousadia, eu chamar a praia de minha. Mas sinto exatamente assim, é como se eu voltasse para casa cada vez que piso naquela areia. Não há no mundo outro lugar que eu me sinta tão eu mesma, tão em paz e tão feliz como em minha casa na praia.

Você conhece a minha praia Mr. Miles? Já esteve por lá?

Espero que sim.

Dominique - Mr. Miles

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Dominique

Nasceu em 1964. Ela tem 55 anos, mas em alguns posts terá 50, 56, 48, 45. Sabe porque? Por que Dominique representa toda uma geração de mulheres. Ela existe para dar vida e voz às experiências, alegrias, dores, e desejos de quem até pouco tempo atrás era invisível. Mas NÓS estamos aqui e temos muito o que compartilhar. Acompanhe!

8 Comentários
  1. Well, my dear: humildemente acho que não me esquivei de responder à questão que você me propôs. Respostas objetivas, my dear, são fáceis como marias-sem-vergonha. Suposições costumam ser mais abrangentes — embora probably esse não foi o caso das minhas. Anyway, conheço o Guarujá, of course. Tive amigos que viveram em edifícios cujos nomes, se não me lembro, eram Sobre as Ondas, Tucuruçutuba, Piavu, Nautilus e Iporanga. Levei algumas lindas meninas ao Cine Guarujá para ver filmes com a Sandra Dee (com quem tive a sorte de ter um tórrido affair mais tarde) e, na antiga Sorveteria Guarujá, comprei muitos sorvetes de abacate com flocos. A menção à sombra, if you remember, remete à Vinicius de Moraes: “as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.” Não sei que outra insinuação você poderia estar fazendo. I’m very sorry, mas como viajo muito não é fácil saber qual é a sua praia. Eu ousaria dizer, however, que ela tem o nome da capital de um país. Am I right?

    1. Queridíssimo Mr Miles! Você não imagina como fico feliz cada vez que vejo uma mensagem sua chegar. Agora vamos por partes..
      Tem toda razão!! Como pude eu esperar de vc uma resposta banal e corriqueira? So, so sorry my dearest friend!!
      Será que frequentamos o Guaru na mesma época? Já pensou se assistimos “Horizonte Perdido” lado a lado? Ou será que nos trombamos no “centrinho”? Espero não ter sido o seu impecável terno vítima do sorvete que voou em um tombo cinematográfico que levei na frente do Caramba.
      Amei a brincadeira que fez com o bom e velho Vinícius. Como disse, sua imagem poética de sol e sombra, tomando emprestado a forma do poetinha, lembrou-me a frase que meu pai sempre dizia, ao chegar embaixo da barraca.
      Agora, quanto a minha praia, quem pede desculpas sou eu. Quebrei a cabeça para saber qual praia tem nome de capital e não sei se pelo tardar da hora ou simplesmente por desconhecimento, não consegui saber a qual praia se refere (agora fiquei curiosa). Todas as que penso, tem nome indígena. Baraqueçaba, Boiçucanga, Boraceia, Monguaguá, Jureia, Cambury. Camburiú, Ubatuba. A “minha”praia tb tem nome indígena. Rio Negro seria a tradução.
      Adoraria lhe contar mais sobre esse lugar sem adjetivos suficientes para descrevê-lo. O lugar, as pessoas, as histórias…Vishhh, falei demais Mr Miles. Sorry, mas me empolguei. Aguardo ansiosa tal qual uma adolescente um novo aceno de sua parte.

      Dominique

  2. Amei! Retornei a minha infância onde todo ano, passávamos férias em Bertioga. Era uma aventura sair de São João da Boa Vista passar por Campinas, São Paulo, descer a serra de Santos, uma balsa, Guarujá, outra balsa Bertioga. Tudo isso num DKW que fervia o motor a todo momento.

  3. Também foi um prazer receber sua resposta, my dear. A praia a que me referia chama-se Santiago e é a primeira ao norte de Pauba, no litoral norte de São Paulo. Uma estreita faixa de areia, as you said. Não me lembro de ter sido atingido por um sorvete voador em frente a Caramba, no Guarujá. Aliás, nunca frequentei essa sorveteria, que considerava uma jovem invasora em Pitangueiras. Era fiel à Sorveteria Guarujá. Besides, não voltei mais à esse litoral da memória. Unfortunately, nem tudo muda para melhor. Don’t you agree?

  4. Suponho que você esteja muito ocupada para responder as minhas humildes linhas. Anyway, insisto, porque ainda acho que temos muito a falar sobre esse grande planeta que é uma extensão de nosso quintal.

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