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O OLIMPO EXISTE – ep.1


Casei, descasei.
Neste meio tempo, vivi uma vida inteira e tive 2 lindos filhos.
Segui todo o modelito.
Separada, comecei outra vida quase que do zero.
Tive meus romances.
Uns mais sérios, outros menos.. e assim fui levando.
Quando fiz 50 anos bateu aquela micro crise básica.
Sempre fui mignon, aparentando menos idade.
Isso ajuda.
Modéstia às favas, pode-se dizer que sou uma mulher bonita.
Gente, estou tentando compor o quadro, ok? Não me exibindo.

Mas não adianta. Mesmo com todos estes predicados a crise bate.
E numa destas noites de baixo astral, baixa autoestima, moral baixo por conta do baixo RG, uma amiga maluquetes (se você não tem deveria ter. JÁ!!) me ligou para sair.
Insistiu. Passou em casa. Ela me amolou tanto que eu concordei.

– Carlinha, nós vamos à uma balada!!
– Balada, Nena? Tá louca? Que preguiça. Vamos no de sempre, vai.
– Não!!!
Bom, chegamos na tal boate (kkkk, sou antiga)
Um aglomerado de gente na porta!!
– Nena será que aconteceu alguma coisa? Tá todo mundo do lado de fora?
– Afffff, Carlinha. Credo… Esse povo todo tá fora querendo entrar!!
– Vamos ficar na fila??? Tá louca? Vamos emboooraaa.
– Querida, aqui eu sou V.I.P. Fique tranquila.

Bom… deixamos o carro com o manobrista, passando à margem daquele monte de gente se empurrando. Entramos por uma porta lateral, onde um leão de chácara (ainda se fala assim??) prontamente abriu a porta com um enorme sorriso ao ver Nena.

Entramos num ambiente escuro. Música insuportavelmente alta. Bate-estaca, obviamente.
Nena grita no meu ouvido.
– Vamos pro CAMAROTEEEE.
Chegamos ao tal camarote que, na verdade, não passava de uma mesa isolada por aquelas fitas amarelas, sabe?
Já tinha umas 10 pessoas no “local do crime”. kkk
Nena começa a me apresentar.
Meus olhos já adaptados à escuridão começam a perceber onde e com quem estou.
Oh my God!!!
Xóveeeenssss
São todos xóvensssssss.
Ela me apresenta para duas meninas. Acho que Tati e Ju. Ou Ale e Gio,tanto faz.
Saias do tamanho de minha clutch e pernas compatíveis!!
Regata? Que nada. Sabe aqueles trapinhos de seda presos por fios que deixam as costas inteirinhas de fora?
Queridaaaa!!! Sutiã, pra que??????????
Aí, os meninos… Ro, Bru, Gui, Rafa, Dani..
Gente, todos eles quase da idade de meus filhos!!
NENAAAAAAAA!!! O que nos estamos fazendo aqui??????
Quando ia para o meu segundo berro de desespero, Nena me dá um copo de sei lá o que e diz:
– Bebe, minha querida. Bebe que tudo vai fazer mais sentido.

Era um drink. Bonito!! Colorido!!! Numa taça linda!!
Experimentei.
Uma delíciaaaaaaa

– Nena o que é isso? O que? Não consegui entender.
– Fala mais alto. GIM COM O QUE???

 

Bom, e foi assim que eu me apaixonei.
Eu estava apaixonada pelo tal Clover Club e suas amoras .
Hipnotizada pelo encarnado de seu drink, comecei a achar a música mais divertida.
Já não me soava tão irritante.
– Gennnteeee e não é que dá pra dançar esse negócio??
Nena chegou pertinho e falou no meu ouvido.
– Carlinha, a noite é sua. Seja a pessoa mais importante, mais bonita, mais desejável, mais desejada desta balada hoje. Nem que seja só para você.

É impressionante o que umas frutinhas vermelhas num drink podem fazer por nossa autoconfiança! Ou seria a clara de ovo?
Bom, fato é que o sorriso apareceu.
A música entrou em meus poros e eu dancei deliciosamente.
Sozinha.
Na verdade, muito bem acompanhada, comigo mesma.
E de meu segundo Clover Club drink, é claro! Cheio de amoras…

Eu não sei dizer ao certo o momento em que eu já não estava mais dançando sozinha.
Deus grego, manja?
1m80 pra mais.
Braços fortes, músculos definidos.
Rosto quadrado.
Nariz de homem, sabe como é?
E colega, cabelo!!!!
Muiiiiito Cabelo!!!
Dançamos muito.
Num determinado momento, aquele Adonis se aproximou e bem pertinho de meu ouvido, perguntou o meu nome.
– Maia. MAIA. – Resolvi brincar. Mesmo que eu comigo mesma em uma piadinha que só eu entenderia.
– Que nome bonito, Maia.
Resolvi também que não perguntaria o nome dele.

O tempo foi passando.
É impressionante a intimidade que a música confere a pessoas que escutam juntas, numa mesma sintonia, não?
Esta intimidade duplica ou triplica se esta música estiver sendo dançada.
Ou seria o álcool o responsável?
Ahh. Sei lá.
Tanto faz.
O fato é que naquela noite, naquela madrugada, Maia e Adonis formaram um casal.

Só naquela noite, eu sabia bem.
Quer dizer. Eu sabia mais ou menos.
– My God. O que eu estou fazendo? – Me perguntei diversas vezes
– Você está se divertindo muitoooooooo, respondia  Maia, meu alterego temporário.

Adonis segurava o meu corpo com a segurança de um Zeus.
Aiiii, como era bom isso.
Aquele toque.
Aquela pele.
Aquele cheiro.
Aquela força.

Naquela pista eu já tinha saído do comando fazia algum tempo.
Deixei-me conduzir na dança e madrugada afora.
Tive medo que alguém ouvisse meus pelos se levantando, arrepiados cada vez que Adonis respirava perto de meu pescoço.
Eu sentia a respiração dele. Estava ofegante muitas vezes.
Quando, enfim, fomos para a saída da boate, eu não ofereci nenhuma resistência.
Vi apenas a Nena piscando, para sinalizar que não esperaria por mim. Eu já tinha arrumado carona.

Daí pra frente, as coisas foram acontecendo como toda a naturalidade e simplicidade que o sexo de boa qualidade merece!!
As brincadeiras no carro.
A entrada no apartamento dele.
O começo.
As brincadeiras na cama.
As muiiitaaasss e deliciosas brincadeiras.
A visão do Olimpo.
O banho.
A volta ao Olimpooooooo.
Tudo com muita intimidade.
Inclusive o soninho nos braços de Adonis.

Acordei meio assustada, mas possuidora de 100% da minha memória recente.
Assustada, mas muitooo feliz.
Quando estava me levantando para pegar minhas coisas e chamar um Uber, ouvi:
– Por que a pressa? Ainda é tão cedo. Vem cá, gatinha.
– Ahhh, Adonis. Eu preciso ir pra casa. Não avisei ninguém…
– Posso fazer uma pergunta? Por que você me chamou de Adonis a noite toda? Este não é o meu nome.
– Ahh querido… Não foi por mal.
Dei um beijinho. Saí da cama e rapidamente me vesti. Não via a hora de ir embora.

Já sozinha no Uber, na segurança da minha solidão e meu silêncio, abri um largo sorriso de prazer pela noite vivida.
Consegui viver uma noite de sonhos.
Não perguntei o nome do meu Adonis.
Não perguntei nada, na verdade.
Desta maneira, evitei a pergunta seguinte.
Sem nomes. E, principalmente, sem idades.
Ao sair do Uber, propositalmente deixei lá o papel onde Paulo anotou seus telefones e contatos com beijos carinhosos para Maia – a Deusa grega da fertilidade.

Você quer saber o que aconteceu com Maia? Leia aqui o episódio 2

Mais Episódios da Série:

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

1 Comentário
  1. Gostei. Corajosa, há se eu tivesse metade da corage dela. Amei a história. . Parabéns Dominique de todas nós mulheres. …

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A casinha do armário e os segredos de uma lembrança

Dominique - Armário
Lembranças de um armário? Sério?

Meu pai, como já contei, era engenheiro inglês e veio para o Brasil a serviço de uma empreiteira locado na construção de Brasília e outras grandes obras.

Naquela época, não havia muito essas grandes especializações de hoje. Engenheiro era engenheiro. Estrada, pontes, cidades, tanto fazia. Era a pessoa que sabia construir.

Isto posto, lembro que meu pai era o consultor de todos os amigos na hora de comprar o primeiro imóvel.

Num sábado ensolarado, lá longe, acho que em 76 ou algo assim, papai me convocou para acompanhá-lo a uma destas visitas técnicas.

Era uma casa. Aos olhos de uma menina, uma casa velha. Apesar de vazia, vi os sinais dos antigos moradores em todos os cantos. Nenhum móvel. Mas pinturas riscadas, pisos andados, armários empenados.

Meu pai técnico que era, analisava cada milímetro para elaborar um relatório preciso e perfeito que fizesse jus a responsabilidade a ele conferida. Avaliar a compra da morada de toda uma família era coisa muito séria, ainda mais em tempos de “pra toda vida”.

Você consegue imaginar o tempo que ficamos por lá?

Bem. Passada a primeira hora, já sem nada para fazer e sabendo que ficaria lá por muito tempo, comecei uma exploração investigativa da casa.

Em cada cômodo analisava os sinais do tempo e imaginava como estes interagiram com as vidas lá vividas.

Cozinha com uma copinha.

Vi ali, com os olhos imaginativos de uma criança, a avó, mãe da dona da casa, separando o feijão que ficaria de molho para o almoço de domingo.

A mãe, dona da casa, ouvia o radinho de pilha enquanto lavava a louça do café e começava a pensar no almoço do sábado.

Na sala, na poltrona, o pai de chinelos, lia o jornal e se preparava para quem sabe lavar o carro.

Sai para o jardim.

Quantos filhos seriam?

Hummm…

Acho que naquele cantinho ficava uma bicicleta. Olha as marcas do guidão no muro. Ahhh… Isso é com certeza coisa de menino.

O quintal tinha um pequeno jardim. Este jardim deve ter sido o orgulho de alguém quando era bem cuidado.

Hoje com sua grama alta escondia o caminho de pedras que levava ao portão. Portão baixo que obviamente não tinha a intenção de proteger.

Naquela época, imagino que sua função era apenas de delimitar território ou prover privacidade.

Na grama alta, vi o que identifiquei como sendo marcas de um Velotrol. Provavelmente não era nada disso.

Subi uma escada de madeira estreita que rangia a cada passo. Um corredor pequeno dava acesso aos quartos.

No primeiro à direita, uma marca na parede junto a um prego me pareceu ter a forma de um pequeno oratório. Pronto. Este era o quarto da avó.

Em frente, o quarto com janela para rua. Um pouco mais de espaço. Com certeza, o quarto dos pais.

Ahhh… Um banheiro para todos. (Vocês hão de acreditar, mas naquela época, era comum. E conseguíamos nos virar uma família inteira em um único banheiro).

Aí entrei no quarto que deveria ser dos filhos. Marcas nas paredes mostraram que muitas coisas foram pregadas e arrancadas. Outras tiradas e levadas embora.

Queria saber mais daquelas crianças.

Marcas de bola no teto. Vishhh. A mãe deve ter ficado muito brava. Piso de taco, bem desbotado perto da janela. E menos nos espaços onde as camas devem ter ficado.

Do outro lado de onde deveriam ter sido as camas, vi um armário embutido. Fui até ele, esperançosa.

Quem sabe ao abrir aquelas portas, encontraria objetos esquecidos ou deixados pela família que me presenteassem com detalhes ou pistas para melhor montar minhas histórias.

Abri a primeira porta, confesso que ansiosa. De lá só saiu um cheiro estranho. Cheiro que nunca esqueci. Cheiro de abandono. Prateleiras vazias e empoeiradas.

Abri a segunda e da mesma maneira nada existia além do tal cheiro.

Abri a terceira e última porta, já sem esperança, mas por insistência.

Ao abrir, parei. Fiquei olhando meio que em transe. Um estado nunca sentido antes. O que vi me despertou de um sono. Mas meus olhos estavam hipnotizados. Fixos naquele pôster pregado na porta do armário, estava lá David Cassidy.

Lembra dele? O filho mais velho daquela série Do Re Mi. Não ria. É serio. Pôster do David Cassidy.

Senti umas coisas estranhas acontecendo comigo. Algo como um certo frio na espinha.
Um vazio na barriga que não era fome. Um comichão. Acho que foram meus hormônios se manifestando pela primeira vez na vida, me avisando que eu era mulher. Não sei.

Mas dai pra frente minha vida nunca mais seria a mesma. Nunca mais conseguiria viver sem aquele frio na espinha. Até hoje preciso dele como preciso do ar que respiro.

Ahhh… Tio Miguel não comprou aquela casa. E ainda tenho muito carinho por David Cassidy.

Afinal, o primeiro tesão a gente nunca esquece.

E eu jamais esquecerei daquele armário…
Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

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