Tag: Infância

Nostalgia rima com…

Para mim, nostalgia rima com melancolia.
Nunca gostei muito dessa coisa de ficar relembrando.
Sabe aquela turma do “nunca me esqueço”?
Affffff…
Não há uma única vez que eu não escute (ao menos umas 20 vezes) a tal frase iniciando um novo tema.
– Nunca me esqueço quando…
– Nunca me esqueço aquela vez que nós…
Credo!!!
Não tem assunto?
Não tem presente?
Sua vida não lhe agrada hoje?
E, pior, sempre as mesmas histórias!
Puta improdutividade.
Nada de novo produzido, gente?
Adoro contar histórias, mas não vivo presa a elas.
E mais, não conto minhas histórias pra quem as viveu comigo!
Faça-me o favor.

Agora, descobri que existe – sim – uma nostalgia que não rima com melancolia.
Uma nostalgia que rima com alegria.
Quer ver?
Cheiro de infância…
Tem coisa mais gostosa?
Outro dia, entrei em um empório de bairro; acho que um dos últimos da cidade.
Senti o cheiro dos temperos a granel.
Era o cheiro da despensa da casa de minha avó.
E como uma coisa puxa a outra, veio na minha boca o gosto daquela balinha de cevada da Sonksen que a vovó comprava junto com o chocolate do Urso.
Íamos a pé ao PegPag – eu, meus irmãos e meus primos – para comprar coisas pra casa.
Era uma época que crianças de 10 anos iam a pé e sozinhas ao mercado.

Paraaaa…
Isso tá virando nostalgia, tá vendo só???

Voltando aos cheiros da infância.
Eu me lembro da colônia Pinho que o papai usava após a barba.
Ele sempre pincelava meu nariz com espuma de barba…
E por falar em pinho, ai de mim se eu pisasse na cozinha que cheirava a Pinho Sol. Isso significava que ela tinha acabado de ser limpa!!!
Mas tem também o cheiro que até hoje não suporto…
Terça-feira era dia de fígado…
Gente!!!!
Por que?
Por que elas faziam isso conosco?
Fígado???
E ainda tinham a pachorra de colocar uma cebolinha por cima…
Aí, saia correndo pra lavar as mãos e a boca com aquele Phebo.
Sabonete preto com um cheiro bom, mas estranho.
Cheiro de remédio que limpa.

Cheiro de…
Gibi novo.
Mentex no cinema.
Sala de artes do primário.
Talco Cashmere Bouquet.
Neutrox.
Pastel de feira.
Bolinho de chuva nas férias.
Churros na praia.
Prova rodada em mimeógrafo.
Vick Vaporub no dia de faltar na escola.

Tem, sim, nostalgia que é melancólica.
Mas também tem nostalgia que é pura magia.
A magia dos sentidos e a do feitiço dos cheiros…

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

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