História enviada por: Cecilia Michelin
Sabe quando a pessoa atinge a perfeição? Quando elabora o curriculum vitae. É mais ou menos a mesma coisa ao preencher o perfil em sites de relacionamento.
Relutei em entrar nestes sites por puro preconceito. Alguns amigos insistiam para me inscrever. Outros achavam um absurdo. Como pensar em ter um encontro com alguém que você não conhece? Se você está num bar, conhece um ser humano, acha que é humano em princípio, troca telefone, marca um jantar, isso faz com que você conheça a criatura?
Como a maioria dos meus amigos é casada e não vou à baladas, nem a barzinhos à caça, a saída para conhecer gente é o site de relacionamento.
Tem, então, início a primeira etapa da aventura, o perfil.
Lembrando que faz 20 anos que estou fora da pista – e que na “minha época” não existia nada disso – não vejo problema em preencher a altura, a cor dos olhos, cabelo, idade, escolaridade, religião, profissão, hobbies. Aí vem a descrição detalhada da sua pessoa, quem você é. Caraca, como é estranho escrever como a gente é, mas não demorou em perceber que é muito mais estranho para os outros quando você fala a verdade.
Recebi inúmeras mensagens assim: como você é franca e objetiva. E acho que isso não foi um elogio. Eu só disse que não estava a fim de sair uma noite para transar e que também não queria morar junto com ninguém, cada um no seu quadrado. Muito direta, né? Espantei muita gente, mas também evitei vários babacas, ainda assim tive que lidar com alguns. Vivendo e aprendendo.
Pensa que acabou? Que nada. Tem uma etapa muito mais bizarra que é preencher os requisitos do seu “par perfeito”. Como ele deve ser? Idade, altura, cor de pele, cabelo, profissão, religião, hobbies, escolaridade, onde mora, estado civil. Seria maravilhoso se isso funcionasse assim!
Não demorou em perceber que o perfil não é tão levado a serio. Nem por eles, nem por elas. Conversando com amigas, descobri que várias mentem a idade, sem a menor necessidade. Motivo: se falam que têm 50 não passam no filtro dos homens de 50 que querem mulheres abaixo das 5 décadas. E eles? Também mentem a idade. E descaradamente.
Marquei um encontro com um cara que tinha uma conversa bem interessante. Cheguei ao lugar e o indivíduo estava bem diferente da foto, parecia ter adquirido a H1N1. Pensei em sair dali e ir direto para uma clínica de vacinação, afinal não posso me dar ao luxo de adoecer, tenho muito trabalho para entregar. Conversa vai, conversa vem, o dito cujo se entrega, não dava mais para sustentar a farsa:
– Tenho 65 anos, menti um pouquinho, só 12 anos.
Olhei para o ser com cara de uva passa e vociferei:
– Por que? Eu não tenho problema algum com homens mais velhos, inclusive no meu “filtro” estão homens de 50 a 65, mas tenho total aversão à mentira.
O encontro mal começou e acabou ali.
Como uma boa escorpiana, não desisto. Deu “match” com um bonitão. Conversamos bastante por whatsapp e decidimos, então, nos encontrar, sempre em um lugar público com bastante gente, regra 1 ou 2, mas uma regra imprescindível. O gato chega um pouquinho atrasado, mas tão bonito e simpático que está perdoado. A primeira coisa que ele fala:
– Ai que bom! Uma mulher igual à foto, você é de verdade.
Arregalei os olhos, não entendi direito, mas dei um sorriso de ponta a ponta ao ver aquele lindinho na minha frente.
Pois é. Todos nós, homens e mulheres, somos carentes de gente normal. Uma companhia legal para conversar, morrer de rir, não falar nada, mas assistir uma maratona de uma série da Netflix juntos, colocar o carro na estrada num sábado sem saber exatamente para onde ir e parar numa praia no litoral norte de São Paulo, descolando uma pousada supergostosa.
Não falo de amores impossíveis, nem paixões arrebatadoras. Falo de viver a vida agora, aos 50, que estamos lindas, inteiras, maduras, sem frescuras, sem amarras ao passado, resolvidas, independentes, cansadas de homens babacas e muito a fim de um cara que seja bacana para curtir este tempo, o que temos de mais valioso agora, o tempo.
A peregrinação por este cara continua.