Dominique

Coisas de Dominique é onde histórias de mulheres são contadas. Histórias de mulheres que realmente têm o que contar.
Eliane Cury Nahas por vezes transcreve, por vezes traduz coisas que Dominiques (aquelas mulheres com 50 ou mais anos de histórias) contam. Surpreendentemente você se identificará com muitas delas, afinal #SomostodasDominiques

Minhas Playlists no Spotify para Dominiques

Você tem Spotify? Oba, que legal. Você não tem? Ahh menina, precisa ter porque isso foi uma das melhores invenções desse mundo digital.

Procurar e achar quase qualquer música do universo, poder escutar onde e como quisermos. Pelas coisas que escutamos, o algorítimo nos mostra coisas parecidas novas ou não. Sem falar na playlist que o próprio App monta pra gente toda semana com “Descobertas da Semana” .

MA_RA_VI_LHO_SO. Se você gosta de música, óbvio.

Então pede para alguém te ensinar a usar. pede de presente de Natal (oppss, too late). Pede de aniversário, dia das mães ou como um favor. Esse é o tipo de coisa onde contrair uma dívida vale a pena.

Tem outra coisa muito legal nesse app. Você pode ouvir minhas músicas, ou minhas playlists.

Playlist pronta e legal é mamão com açucar, vai? Ter listas prontas de músicas para ocasiões diferentes é tudibão.

Gosto é realmente relativo, mas Dominiques geralmente não têm um gosto musical tão discrepante assim, e é por isso que vou disponibilizar para você minhas listinhas. Ahhh, tenho uma para ocasião.

Quer ver? Olha as listas do meu Spotify.

Animar HH – Para animar nossos Happy Hours, e ainda assim podermos conversar!

Francesinhhas – Adoro música francesa, ainda mais se forem contemporâneas.

Jazz com elas – Jazz cantado por vozes femininas. Por que vozes femininas? Porque eu gosto, oras..

ME GUSTA – Eu gosto em espanhol. Claro que você sabia, mas sabia que essa é uma lista só com músicas em espanhol?

ALMA MINHA – Tá ficando mais difícil, né? Lembra de nossas aulas de literatura? Isso!! Aqui são músicas portuguesas

Salve Jorges– Sim Jorges com s no final. Todas as músicas tem como tema Jorge ou são cantadas por um. Por que? Ahhh, quem sabe sabe.

Bonitinha, mas.….- Escute duas músicas que logo entenderá.

De cortar os Pulsos. – Poderia ter chamado essa lista também De doer o dente, ou coisa assim. Tem dia e hora certa para escutá-la.

JUST BECAUSE – hummmm na verdade são músicas que não se encaixam em outras playlists.

Affffff, você tem música aqui pra muito mais que um final de ano. Isso se gostar de meu gosto. Ahhhh, mas nesse caso sou arrogante pra caramba. Não tem como não gostar. A não ser que você seja um de meus filhos.

Leia também:

Gente que não vive sem música

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

1 Comentário
  1. Muito obrigada por compartilhar essa riqueza. Estou seguindo lá. Sou analfabeta nesse App. Um 2020 de muitas realizações. Sucesso!

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1º de abril de 1964

Nasci dia 1º de abril de 1964.
Parece mentira. O que que eu posso fazer?
Além de tudo, um dia após o golpe de 1964 (É golpe que se fala? Nem sei mais!).
A situação deveria estar tensa naquele quente outono.
Lembro de um episódio que meu pai contava sobre a época.
Numa escaldante noite, poucos meses antes do meu nascimento, após o jantar, ele chama a minha māe:
Darling, vamos dar uma volta de carro. Está insuportavelmente quente.

Moravam em Pinheiros.
Meu pai, segundo a minha māe, sabia exatamente onde ir.
Em momento algum pareceu dirigir a passeio. Tinha um rumo certo.
Depois de alguns minutos, estacionou seu fusquinha em frente a um casarāo no Jardim Europa e pediu que a minha māe e seu barrigão esperassem dentro do carro.
Pasme, naquela época isso nāo representava nenhum perigo. Inacreditável, né?

Bom, voltando.
Meu pai ouviu nos corredores da construtora em que trabalhava que aquela noite haveria uma reuniāo política na casa de Assis Chateaubriand (Tenho quase certeza que era esse o personagem. Mas, hoje, nāo tenho mais como conferir, infelizmente).
Ele descobriu o endereço e teve certeza quando chegou e viu todos aqueles carrões estacionados.
E como entrar??

Well, num país onde aparência e postura sāo diferenciais ainda hoje, imagine naqueles dias.
Meu daddy, com seus 1,95m e em seu terno escuro, mais parecia um jovem primeiro ministro britânico.
Ele abriu seu imenso sorriso, murmurou algumas palavras com seu marqueteiro sotaque inglês e nāo houve a menor resistência por parte do guarda da casa quando o viu entrando sem a menor cerimônia.
Ficou lá cerca de uma hora.
Não consigo lembrar uma única coisa que tenha me contado sobre o conteúdo do que ouviu naquela reunião.
Mas nāo me esqueço da aventura, da coragem e, em última instância, da sua atroz curiosidade.

Dominique

Nasceu em 1964. Ela tem 55 anos, mas em alguns posts terá 50, 56, 48, 45. Sabe porque? Por que Dominique representa toda uma geração de mulheres. Ela existe para dar vida e voz às experiências, alegrias, dores, e desejos de quem até pouco tempo atrás era invisível. Mas NÓS estamos aqui e temos muito o que compartilhar. Acompanhe!

9 Comentários
  1. Dominique; parabens pelo seu aniversário daqui a pouco!
    Felicidades e continue nos enviando as suas histórias divertidas seus contos criativos já tão esperados nos últimos domingos de cada mes; muita Luz e muita inspiração! Bjs

  2. Dominique; patabens pelo seu aniversário daqui a pouco!
    Felicidades e continue nos enviando as suas histórias divertidas seus contos criativos já tão esperados nos últimos domingos de cada mes; muita Luz e muita inspiração! Bjs

  3. Delicioso seu texto..mas há de se dar a chance …pode ser tudo mentira..rsrs..afinal 1o. de abril…rsrs…Parabéns pelo sucesso e a coragem que aniversária todos os dias pra tocar esse projeto maravilhoso.

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Confusões de uma Dominique brasileira numa academia portuguesa

Lembra do texto que te falei que meu nome do meio agora era Recomeço e o sobrenome Confusão? Não? Então leia aqui para entender melhor o “causo” que vou contar agora. Mas se não estiver afim não precisa, basta saber que me mudei para Portugal recentemente.

Qual é a primeira coisa que fazemos quando chegamos a um novo país?

Depois de procurar onde morar, mobiliar, ver plano de celular, TV, luz, ligar o gás, aprender a pegar transporte público, arrumar os armários, a cozinha, esperar chegar os eletrodomésticos…… ufa! A primeira coisa que se faz é entrar para uma academia!! Afinal de contas meu lema continua sendo “Mens sana in corpore sano” .

Além do que a academia pode ser um ótimo lugar para fazer amigos. Poderia, se eu não tivesse chegado chegando.

Sinceramente, eu acho que não foi tão grave o que aconteceu. Diga-me você a sua opinião.

Fui visitar 3 academias, todas perto o suficiente de minha casa para que eu fosse a pé.

No que diz respeito à malhação, sou exigente. Afinal, sou brasileira e nasci tendo que colocar biquini. Isso não é para qualquer povo não minha gente. É mais pressão do que torre de controle de aeroporto.

De cara descartei uma delas por ser ao lado de uma famosa doceria local. O quê???? Pra que passar por essa tentação? Ainda mais depois de me matar numa aula e, me conhecendo, achar que posso e devo. Nananinanão.

A academia escolhida

Fiz uma investigação minuciosa dos espaços de cada uma delas. Salas, ventilação, vestiários, armários, banheiros, chuveiros, higiene. Acabei por gostar mais da Fuerza Fitness, que era bem equipada e moderninha.

Tenho certeza de que os proprietários ficaram muito honrados com minha escolha, pois depois do detalhado questionário que enviei antes de assinar o contrato, perceberam que sou uma cliente muito rigorosa.

Lá vou eu para minha primeira aula de spinning. Todo primeiro dia dá um friozinho na barriga, não dá? Seja da aula no pré primário, na universidade, na academia ou na aula de tricô.

Quem vamos encontrar? Como seremos recebidas? Será que os outros estão em um nível melhor que o meu? Vou passar vergonha?

Fui guardar meu casaco e minha bolsa no vestiário, resolvi fazer um pipizinho básico just in case e lá fui eu.

A academia estava lotada provavelmente porque era o horário das 7 da noite, e a aula de spinning era das mais concorridas. Apresentei-me ao professor, um espanhol bem gato aliás, e fui pra minha bike.

– “Empecemos … Fuerza … uno dos tres cuatro….”

Ahhh, por isso o nome da academia! Deveriam ser todos Espanhóis.

De cara percebi que a turma era boa e entrosada, além de todos estarem obviamente muito mais bem preparados que eu. Resolvi que sairia de lá carregada, mas terminaria aquela aula. Foco, Foco, Foco!! Concentração.

Ahhh.. Piada.. Deu 20 minutos desci da bike amaldiçoando todos os ibéricos, inclusive o presunto e o bacalhau (que aliás é da Noruega).

Tomando água do lado de fora da sala, ainda ofegante e com a camiseta molhada, reparei no alto-falante da academia. Já era a terceira ou quarta vez que chamavam a Maria Ipi.

Pára! Pára!

Será que por alguma acaso essa seria eu? Nunca te contei que minha mãe muito religiosa, enfiou um Maria no meu nome né? Não… Mas por que contaria se nem eu me lembro dele.

Sim… sim… Sou Maria Dominique Hip. Daí o Mara Ipi, uma vez aque o espanhol provavelmente e logicamente não pronunciou o H do meu inglês Hip.

Afff, dá um desconto, vai. Eu estava tonta do exercício e Maria Ipi para mim era um outro ser..

O espanhol no altofalante já pedia em tom de súplica que a Maria Ipi fosse ao vestiário urgente.

Lá fui eu, confesso que bem curiosa e quando entrei logo vi uma rodinha de pessoas em volta do meu armário. No centro estava uma mulher enrolada na toalha, muito vermelha, possivelmente de raiva, gritando com alguém.

Fui chegando de mansinho, quase que na ponta do pé. Queria saber o que estava acontecendo antes de me apresentar, mas não rolou. Todo mundo me conhecia. Lembra da minha pesquisa minuciosa, quase investigativa? Pois então, não havia quem na academia não conhecesse o tal questionário da brasileira “exigente”.

Todos viraram-se para mim e a mulher enrolada na toalha falava num idioma que eu não entendia. Na verdade gritava. Olhei confusa para os funcionários que tentavam acalmá-la.

Resolvendo a confusão na academia

– Maria Ipi?

– Sim, mas todos me chamam de Dominique Hip – não, não era hora de ser engraçadinha.

– Este é seu armário? – Perguntou o espanhol apontando para um armário com a porta escancarada.

Olho seu interior e vejo minha bolsa e meu casaco. Ué… Quem foi que abriu meu armário?

Dominiqueeeeeee, Hellooo! O excesso de oxigenação do spinning queimou neurônio? Que parte eu não tinha entendido?

Quando voltei de meu pipi, com o cadeado na mão, tranquei o armário ao lado, e adivinhe? Era o armário daquela gringa.

Comecei a pedir desculpas, apesar de ela continuar gritando, só que agora eu estranhamente entendia o que ela falava.

Gente, ela não era gringa! Era portuguesa, da gema, mas estava tão nervosa e falando tão rápido que aos meus ouvidos destreinados pareceu-me sânscrito. Disse que estava atrasadíssima por minha causa, que chegaria atrasada para reunião que aconteceria a 30 km dali mesmo que pegasse um Uber.

– Arrume-se e me espere na porta. Que horas é sua reunião? Daqui 30 minutos? Você chegará.

A aula de spinning foi pinto perto do pique que dei até meu carro.

Ela já estava na porta quando passei, entrou no carro, colocou o cinto. Vi que estava com a maquiagem na mão… Ahhhh, se ela achava que conseguiria se maquiar naquele carro, ela não conhecia meus dotes de direção defensiva.

E Lá fui eu, costurando, furando farol, fazendo absolutamente tudo errado. Imagino que ela deva ter se arrependido amargamente de ter entrado em meu bólido, mas não seria eu a culpada por ela perder aquela reunião.

Chegamos! Chegamos a tempo da ex-gringa ainda passar no banheiro para se maquiar. Foi tanto estresse que acabei nem perguntando o nome dela.

Fiquei uma semana sem aparecer na academia na esperança de que esquecessem de mim, da chave, do episódio, da minha falta de forma física. Enfim, apagassem aquele dia do calendário de todas as dietas e treinos da Fuerza.

Entretanto ao abrir a porta, escuto em alto e bom som um:

— Maria Ipiiiiiii!

Todos se viraram para minha triunfal entrada.

— Maria Ipi, que bom que voltou, a Susana deixou aqui uma nota para você.

— Susana?

No mesmo momento que perguntei me arrependi, posto que só poderia ser a ex-gringa e para explicar quem era Susana, o espanhol contaria toda a história novamente de maneira que os presentes que provavelmente não sabiam de meu pequeno vexame, passariam a sabê-lo.

E assim ele o fez, com uma riqueza de detalhes impressionante, e num tom de voz que deixava claro o prazer que estava tendo em me fazer rememorar o incidente.

Entregou-me o bilhete de Susana.

“Dominique,

Devo dizer que não tivemos um começo alvissareiro. Poderia bem dizer que só podia ser brasileira, mas acho que isso poderia soar preconceituoso. Entretanto, você ter tido a clareza de tentar fazer com que seu erro não me prejudicasse, correndo riscos e levando multas, sim, porque você as levou, tudo para ajudar uma estranha, também poderia bem dizer ser coisa de brasileira. Então, não vou dar nome aos bois nem a países… Quero apenas agradecer seu gesto e sua generosidade. E pensando bem, tivemos o melhor começo que duas amigas podem ter. Vamos tomar um café?”

Dominique

Nasceu em 1964. Ela tem 55 anos, mas em alguns posts terá 50, 56, 48, 45. Sabe porque? Por que Dominique representa toda uma geração de mulheres. Ela existe para dar vida e voz às experiências, alegrias, dores, e desejos de quem até pouco tempo atrás era invisível. Mas NÓS estamos aqui e temos muito o que compartilhar. Acompanhe!

5 Comentários
  1. Parabéns por já chegar ao novo país e dirigir e poder estacionar perto de sua academia. Que sorte! O resto do acontecido, foi detalhe.

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Uma Dominique Pulando a Cerca

Foi uma separação difícil. Depois de quase 3 décadas juntos, 5 anos namorando e 22 casados, chegava ao fim aquela união que um dia achei que seria definitiva.

“Recomeço” portanto tornou-se meu nome do meio.

Já que era para recomeçar era para ser em grande estilo. Por uma série de motivos, resolvi que mudaria o estado civil, a cor do cabelo e o país em que morava. Pronto.

Foi dessa forma que “confusão” passou a ser meu sobrenome.

Fazer o quê?

Seja lá por inexperiência, por orgulho em não pedir ajuda, por ansiedade em sair fazendo, ou porque sou assim mesmo, tenho causado uma certa bagunça pelo caminho ultimamente.

Era um agradável anoitecer de fevereiro, em mais um domingo sem filhos. Almocei com uma amiga, e cheguei em casa relativamente cedo. Assisti 2 episódios de minha série do momento e comecei a ficar entediada, melancólica… sei lá.

Aí pensei: Mente vazia oficina do diabo ou do carboidrato.

Se ficar aqui à toa ou vou me entupir de chocolate ou vou pensar mais do que permitem minhas dopaminas e oxitocinas num modorrento final de domingo.

Então pelo bem geral de Portugal e do Brasil resolvi fazer algo. Mas o quê? Com o olhar perdido na direção do horizonte… Péra. Que horizonte? A porta de vidro que separa a sala do terraço estava imunda!!

Genial! Limpar vidro é um ótimo exercício.

Armei-me com todo instrumental disponível no mercado e fora dele (jornal, quem não conhece o truque de limpar vidros com jornal?) e marchei rumo ao inimigo. Vestida com minhas roupas de guerra, aquela legging manchada de cândida, a camiseta do camarote daquele carnaval que passou e o agasalho de moleton que já viveu dias mais agitados. Meus cabelos estavam apanhados com uma piranha num coque mal-ajambrado.

Tudo minuciosamente pensado para assustar o inimigo de cara.

Esfregão e balde em punho, lá fui eu. Abri a porta de minha sala que dá para o terraço, saí para fora e no instante que pisei na varanda daquele aprazível apartamento lisboeta, escuto o delicado som daquela imunda porta de vidro se fechando em minhas costas. Parecia que ela estava zombando de mim. Sério. Esperou eu sair imponentemente com meu arsenal, para aí, devagarinho, traiçoeiramente se fechar.Click.

Ai, my God! E agora? Pânico! Pânico!

Já estava escurecendo e esfriando muiito. Não passava vivalma naquela rua esquecida por Zeus e por Cristiano Ronaldo.

Não!! Claro que a porta não abre pelo lado de fora! Senão nem estaria aqui escrevendo esse textão né?

Comecei a gritar mas gritei para ninguém por que quem em sã consciência sairia numa noite de fevereiro com temperaturas próximas a 6 graus quando longe do sol?

Estratégica que sou pensei nas opções possíveis.

  1. Passar a noite ali, esperar amanhecer. Alguém apareceria pela manhã na rua e eu pediria para chamar o bombeiro. Se tivesse sobrado voz ou se eu não tivesse morrido de hipotermia. E de fome. Sim, sou muito exagerada.
  2. Tirar minhas roupas e fazer uma “Teresa”. Ahhh, você não sabe o que é uma “Teresa”? Não me diga que nunca esteve presa? Ahh..Fala verdade!! Tô brincando. Teresa é uma corda feita de lençóis ou de roupas para que princesas fujam das torres onde se encontram aprisionadas. Por mais romântico que te pareça essa ideia, não é a solução uma vez que meu ap é no 3º andar. Tá louca? E já pensou? Mesmo que desse certo. Imagina eu chegando ao rés do chão em pelo, agarrada a uma Teresa? Não. definitivamente não rolaria!
  3. Ligar para minha mãe. kkkkkk Você acha que se eu tivesse levado o celular eu ainda estria naquele terraço?
  4. Existia uma possibilidade factível, de difícil execução, entretanto com chances de sucesso. Eu teria que pular a cerca para o apartamento de um de meus vizinhos de andar.

Vamos ao plano.

Primeiro as boas notícias : Eu não tinha apenas um vizinho, tinha dois, um de cada lado sendo que um deles estava totalmente escuro, entretanto o outro brilhava resplandecente luzes indicativas do destino. Que felicidade achar um caminho.

Agora as notícias nem tão boas assim: Não seria tão fácil pular para o vizinho porque na verdade não era um cerca a ser transposta, e sim uma parede, portanto o único jeito possível seria passar de um ap para o outro pelo lado de fora.

Desafiando todas as leis da gravidade e minha vertigem lá fui eu.

Vou te poupar dos detalhes e malabarismos que fiz, apenas acredite que foi patético, desajeitado e indigno. A aterrisagem beirou o desastre, mas entre mortos e feridos salvaram-se todos.

Aprumei-me e comecei o reconhecimento. Já acostumada com a escuridão facilmente identifiquei os móveis naquele terraço. Olhei pelo vidro pala sala iluminada e vi uma senhora beeem senhora mesmo com seus cabelos brancos combinando com sua camisola de flanela rosa e a manta xadrez que a aquecia enquanto assistia TV.

E agora? Como abordá-la sem matá-la de susto? Imagine uma pessoa surgir da escuridão, no seu terraço sem mais nem menos. Acho que nem Freddy Krueger passaria incólume por isso.

Pensei, pensei, pensei por quase 3 minutos (tava frio, gente, poxa vida!) e resolvi que não tinha jeito a não ser bater no vidro.

E de mansinho, com muita delicadeza, aproximei-me da porta de vidro e dei três batidinhas de leve: toc,toc,toc. Foi tão de leve que Dona Senhora nem se mexeu. Claro que ela já não deveria estar escutando lá grandes coisas, pois também não escutou minha gritaria pedindo por socorro nem tampouco minha estabanada chegada em sua morada.

Percebi que precisaria me fazer notar.

TOCTOCTOCTOC…

Dona Senhora já com uma carinha de pânico olhou para a janela e ao me ver grudada ao vidro, encolheu-se colocou os braços em frente do rosto como quem não quisesse ver mais nada. E assim ficou. Comecei a falar mas acho que por conta de toda a situação as palavras saiam de forma descontrolada num tom indesejado.

— Não se assuste. Abra a porta, me deixe entrar por favor. Eu explico. Mas abra a porta.

Imagine isso dito com uma voz meiguinha. Agora imagine isso dito aos berros. Pois é. Eu não estava melhorando a situação.

Depois de algum tempo, tendo eu me acalmado, consegui balbuciar pedidos de desculpas quase congelando, apresentei-me e justifiquei-me. Ela compreendeu. Gentilmente abriu a porta da varanda, deixou que eu entrasse em sua casa, e imediatamente, sem cerimônia, abriu a porta de sua casa e deixou que eu saísse.

Não posso reclamar de Dona Senhora, vai. Quem é que abriria a porta pruma louca no meio da noite? Acho que nem o Freddy Krueger. Querer que ela me convidasse prum chazinho já seria demais, né?

Bem, cá estava eu, do lado de fora de meu apartamento sem poder entrar porque obviamente não estava com as chaves.

Eu cheguei a te falar que estava de meias? Sim, só de meias, sem sapatos. Ué, por que haveria eu de ir a meu terraço lavar janela de sapato?

Pois é. Agora é tarde.

Sem chave, sem sapato, sem celular, sem dinheiro, sem amigos ou conhecidos naquele prédio sem porteiro. Não ousaria acordar algum outro morador e ficar mais conhecida ainda em Portugal. Não com essa fama.

Saí do prédio de meias pois lembrei da pequena loja de conveniência que tinha na esquina. Se não me enganava era uma loja 24 horas.

Claro que me enganei e ela estava fechada.

Sentei no meio fio já sem forças e sem ideias. Comecei a pensar se tudo aquilo estava valendo a pena.

Não!! Eu não choraria!!

E quem disse que eu consigo controlar? A água brota de meus olhos sem que eu tenha a menor ingerência sobre ela, e em qualquer situação. Por que haveria ela de se intimidar naquela fria e deserta noite lusitana? Quando senti as primeiras lágrimas em minhas faces, mas antes mesmo de sentir o gosto delas, uma mão delicadamente pousou em meu ombro.

Tamanha foi a delicadeza do toque que não me assustei, apenas virei o rosto para encontrar Dona Senhora parada atrás de mim enrolada em seu xale. Com aquele delicioso português, disse.

-Ó menina, trate de levantar e vir para dentro. Vou fazer-lhe um chávena de chá bem quente enquanto liga para um chaveiro que há de demorar a chegar uma vez que é domingo.

Dona Senhora na verdade chama-se Dona Benvinda.

História baseada em fatos reais.

Leia Também :

Quando eu crescer e envelhecer pra valer quero ir para um asilo

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

24 Comentários
  1. Ótimo texto para um sábado fedorento, numa quarentena.
    Obrigada por compartilhar sua história.
    Espero receber novos textos.

  2. Ótimo texto para um sábado fedorento, numa quarentena.
    Obrigada por compartilhar sua história.

  3. Senti em mim, o pavor dela por ter ficado trancada ao lado de fora, totalmente despreparada para enfrentar uma situação tão repentina e sem possibilidades de ser ajudada por ninguém. tomando de coragem foi até a vizinha e quase sem poder falar, devido muito frio, mas aos poucos foi conseguindo reanimar suas energias e assim a história segue, vou aguardar a publicação do seu final, por que achei muito,legal e espero Qye terá um fim delicioso e bem positivo. Obrigada.

    1. Amei! Na verdade conheço essas portas portuguesas. Morei 9 meses em um apartamento desses e tinha o maior cuidado para não ficar presa na varanda, kkkkkk. Basta um descuido e pronto. Vc não entra.

  4. Adorável seu estilo, sua historia.
    Passei por uma situação semelhante. Eram onze horas da manhã e meu bebê estava dormindo no berço. Fiquei presa no corredor, diante da minha porta. Minha vizinha do lado abriu-me a sua casa, e pulei do terraço dela para o meu, Igualzinho você!

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O dilema das Dominiques que não tiveram filhos!

Durante muitos anos a mulher viveu o grande dilema sobre ter ou não ter filhos ou qual seria o melhor momento para tornar-se mãe. A bem da verdade, não! Vive, ainda. Apesar das mudanças enormes comportamentais, a nossa sociedade ainda tem um viés pró-natalista. 

Muitos – e aí incluo homens e as próprias mulheres – carregam o conceito de que uma mulher tem de ser mãe. Há um imaginário que – se ela não teve filhos porque não pode conceber – ela é infeliz ou não realizada. Não raro, muitas até são questionadas do porquê não adotaram uma criança. 

Já a mulher que fala abertamente que não quer ser mãe por opção a história é outra. É praticamente inadmissível fazer uma afirmação dessas. Muitas são tachadas como individualistas, egoístas, ambiciosas ou mesmo imaturas. 

Os bons ventos trazem perspectiva de mudança para essa nova geração. “Mas ainda há um grande impacto sobre a visão que a mulher tem de si mesma. Como constituir uma identidade dessa forma”, questiona a psicóloga e pesquisadora Helena Lyrio-Carvalho. Em seu doutorado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ela busca compreender mulheres que não têm filhos, por opção ou infertilidade. 

Helena traz do consultório a bagagem de estudar questões sobre a feminilidade. É, inclusive, um convívio muito próximo com mulheres vivendo esses dilemas. Como é um tema muito amplo, ela optou em sua dissertação do mestrado por estudar as mulheres que decidiram ser mães tardiamente. 

50 anos de transformações!

No doutorado, ela seguiu a mesma linha de pesquisa e, agora, busca entender os dilemas, as dificuldades e os desafios de muitas Dominiques sem filhos. “O universo feminino está em transformação. Há duas gerações uma mulher não teria essa escolha”, afirma. 

Ela cita o o filósofo francês Gilles Lipovetsky para explicar que “nosso meio século mudou mais a condição feminina do que todos os milênios anteriores.” Vejam só… os últimos 50 anos! Bom, nós Dominiques sabemos muito bem sobre essas grandes mudanças. 

Mas como explica, ainda é preciso aprofundar-se nas questões psicológicas. Para isso, ela volta a citar Lipovetsky, em seu livro A terceira mulher – Permanência e Revolução do Feminino, “cada vez mais a mulher se constitui como sujeito diante de um mundo aberto e aleatório, estruturado por uma lógica de indeterminação social e de livre governo individual, análoga à que organiza o universo masculino. A existência feminina compõe-se agora de escolhas, por meio das quais a mulher se reafirma como protagonista de sua própria vida.”

Infelizmente temos de lembrar que as mudanças não atingem as mulheres de todas as classes sociais e ou regiões de maneira uniforme. “Essa é uma mudança que vem em ondas”, explica. Mas em algumas culturas – como a muçulmana ou africanas – talvez essa mudança demore ainda mais a acontecer. 

Protagonistas de verdade!

Se há pouco anos atrás essa discussão talvez nem estivesse acontecendo, está certamente na hora de repensarmos todos esses estereótipos.  Muitas coisas ainda precisam mudar para as mulheres tornarem-se realmente protagonistas. Podemos até ajudar!

Nós, Dominiques, vivenciamos todo esse dualismo da mudança de gerações. Somos as filhas das mulheres que tinham por padrão apenas o modelo de mãe e esposa. Alguns conceitos antigos – como a 3ª jornada de trabalho – ainda permeiam o dia a dia de muitas mulheres. 

Sabemos que não é bem assim. Hoje o mundo oferece inúmeras opções de realização para uma mulher. Certamente, ser mãe é apenas uma delas. Se no passado não havia alternativa, hoje temos. E as mulheres que não têm filhos podem viver sem culpa!

Dominiques para a pesquisa

A Helena está buscando Dominiques entre 50 e 55 anos para contribuir em sua dissertação de doutorado. Ela estabeleceu essa faixa etária porque, após os 50 anos, a condição de não ser mãe já está consolidada e muitas passaram ou estão passando pelo período difícil da menopausa. 

Quem topar participar, contribuirá para que a sociedade e os agentes de saúde – dentre esses os psicoterapeutas – possam ter uma visão mais ampla da mulher no mundo atual. A pesquisa é voluntária e confidencial, inclusive foi aprovada pelo Conselho de Ética da PUC-SP. 

Caso você aceite esse convite, ou deseje mais detalhes sobre o estudo, entre em contato com a Helena pelo e-mail [email protected] ou pelo WhatsApp (11) 99105.9547. 

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1 Comentário
  1. Reforço o meu convite à participação na pesquisa que estou desenvolvendo. Assim, aquelas que tiverem entre 50 e 55 anos, morarem na Grande São Paulo e não tiverem filhos, por opção ou condição infértil, poderão contribuir para que ampliemos nossa compreensão sobre nós mesmas e nossas amigas Dominiques. Um grande abraço!

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