Acho que já falei um milhão de vezes que não gosto de Natal, né? Não vou repetir. Ahh, vou sim!
Torço para um dia poder dormir dia primeiro de dezembro e só acordar dia 26.
24 sempre é o pior para mim. 25 nem tanto, pois estou sempre pronta para ir pra praia, logo depois do almoço, então já começo a contagem regressiva a hora que acordo.
Mas a noite do dia 24 é um tormento.
Ahhh Ok. Você gosta. Respeito.
Dá licença?
Pra mim é como remédio ruim. Fecho os olhos, prendo a respiração e vou!
São 6 ou 7 horas infinitas e eternas.
Maaaaasss ontem foi diferente! Tanto que acordei e tive que escrever!
Minha prima Hilda fez o Natal pela primeira vez em sua casa.
Na verdade, todos estranhamos quando ela se ofereceu para tão árdua tarefa.
Justo ela que não é chegada em festas natalinas, em família e principalmente, em hard work!
E vamos combinar que por mais que todo mundo ajude, a ceia de Natal é um trabalho hercúleo para a dona da casa.
E mais!
Hilda convidou nossa família inteira (somos primas por parte de mãe) e toda família de seu marido, Drummond.
Ahh, esqueci de dizer que Hilda não passa por um bom momento com o maridão.
Ela e Drummond pensam em se separar. Não sei exatamente o motivo.
Mas parece que Drummond já até viu um flat.
Exatamente por isso, todos pensamos ser esta a única razão plausível para seu ato heróico de receber quase que 60 pessoas no Natal: um passo para a harmonia familiar e contemporização de ânimos.
Bom, passei lá de tarde para levar minha sobremesa. Entrei para ver se Hilda precisava de algo.
Genteeee..Não acreditei! A casa nunca esteve tão arrumada. Mas tinha algo diferente.
– Hilda você mudou a decoração?
– Não, Dominique, apenas abri espaço na sala para o Papai Noel.
– Não acredito que você chamou Papai Noel! Não temos nem mais crianças na família!
– Ah, sempre tem uma ou outra. E depois Natal sem Papai Noel não é Natal.
Realmente estava tudo um primor!
Lembrancinhas embrulhadas com o nome de cada um de nós.
A Árvore de Natal impecável.
Estranhei um pouco o colorido das flores e dos enfeites, mas gosto é gosto.
Tudo em pink e roxo? Para o Natal? Mas mais uma vez. Gosto é gosto.
Fui pra casa impressionadíssimo com o capricho de Hilda.
Nem por isso mais animada com a noite que tinha pela frente.
Me vesti bonitinha. Respeito aos outros! Apressei os meninos! Peguei aquele monte de presentes (na verdade 3, da mamãe, e dos 2 afilhados) e fomos.
Chegamos e não adianta. Natal é um porre!
Cumprimenta na hora que entra. Smack Smack. Afff.. Dois beijinhos ainda? Em multidão!?!?
Aquela mesa cheia de comidas lindas e deliciosas!
Não sei se já te contei. Mas nunca consigo comer no Natal. Não consigo me decidir diante daquela mesa cheia de opções. E acabo indo sempre na salada.
Cumprimenta meia noite smack smack – Feliz Natal! Affffff..Será que vou ter que me despedir deste batalhão com dois beijinhos também?
Sobremesa servida, todos acomodados na sala, em degraus, em banquetas, onde dava.
Obviamente Dona Marieta, mãe de Drummond e sua irmã Dona Mércia, sentadas nas melhores e mais confortáveis cadeiras da sala até por conta da avançada idade de ambas.
Apesar de Hilda dizer que eram duas mulheres do mal, olhando para elas, era impossível acreditar! Eram velhinhas fofas! Com cara de vovós de livros.
Comecei a me preparar para ir embora calculando o número de beijos que daria, quando de repente escuto um sininho e um Ho-Ho-Ho! Tinha esquecido do Papai Noel! E entra o bom velhinho com um saco de presentes.
Todos sorriem encantados ou complacentes, não sei.
As duas senhoras imutáveis na cadeira.
Apesar de fofas, não tinham sorrido muito.
Hilda dizia que elas só sabiam criticar.
Mas Hilda sempre foi exagerada.
Fato é que o Papai Noel começou a distribuir presentes e todo mundo estava feliz. Dona Marieta estava até sorrindo.
Quando fui pegar meu presente e Papai Noel me abraçou, estranhei alguma coisa. Mas não conseguia identificar o que. Fiquei pensando o que seria, mas não tive muito tempo, pois neste momento começa a tocar uma música diferente.
Era música natalina, mas num ritmo de música eletrônica.
Como disse, gosto é gosto. E Papai Noel começou a dançar devagarinho com aquele barrigão tentando desajeitadamente acompanhar o ritmo. Mas a música foi acelerando.
Percebemos que o Papai Noel tinha o maior swing.
E num movimento brusco, tira a barriga falsa e vimos que não era um homem gordo.
O ex-gordo continua dançando, mas acho que percebi uns movimentos mais sensualizados.
Dominique, você é louca! – Pensei com meus botões – Tá vendo coisas! Deixa o cara dançar em paz!
Quando de repente, ele tira o cinto e o casaco vermelho deixando a mostra um torso musculoso e lotado de tatuagens lindas.
Neste momento, já estamos todos em estado estupefato.
Procuro desesperada Hilda que num cantinho apenas sorri, um sorriso satisfeito. Vejo ela apertando um botão e aqueles enfeites rosas e roxos viram enfeites fluorescentes.
Aiii meus sais.
E Aramel (este é o nome de Noel, soube depois) continua requebrando, agora já sem barba.
Gente…Moço lindooooooo. Delicioso.
Todos em silêncio.
Comecei a bater palmas acompanhando a música para tentar desanuviar e mostrar que tudo aquilo era divertido!
Quando em mais um susto e um aaahh geral, Aramel arranca a calça vermelha de uma só vez ficando apenas de botinhas, gorro e sunguinha.
Papai Noel era um delicioso stripper todinho tatuado. Ele continuou dançando, requebrando e mostrando seus melhores ângulos e dotes.
Lembra da dona Marieta e da tia Mércia? Pois é…Estavam lívidas! Mudas! Agarradas ao braço das cadeiras como se estas fossem protege-las do Demo.
Pensa que acabou? Não! Hilda vai pro meio da sala dançar com o stripper de gorro.
E todos se perguntando até onde iria aquilo. Resolvi ajudar minha prima querida e fui dançar junto.
E aí saquei o que tinha estranhado.
– O perfume. Que Papai Noel usa um perfume delicioso daquele?
Acaba a música. Acaba o show.
Silêncio sepucral!
Silêncio rompido pelo irmão mais velho de Drummond que sai porta afora, pisando firme, levando sua mulher e filhos com ares ofendidíssimos sem falar uma só palavra!
Minha família tenta levar na esportiva.
Tenta tirar o peso e aliviar a barra de Hilda.
Mas não teve jeito. Dona Marieta fechou a cara e disse que queria ir embora.
Vi Hilda sorrindo satisfeita tempo inteiro. Não entendi exatamente o que ela pretendia com aquilo.
Se ela queria chutar de vez o pau da barraca tinha conseguido.
Confesso que me diverti muito, apesar de um tantinho preocupada com ela.
Hoje pela manhã, acordei com um sorriso nos lábios lembrando da coragem e ousadia de Hilda.
Mandei uma mensagem, perguntando como ela estava. A resposta demorou um pouco mas chegou.
– Noite de amor maravilhosa! Sexo tórrido. Mulher bem comida!
Não acreditei no que li.
– Hilda, Papai Noel ficou por aí? Você está realmente louca!
– Não, Dominique! Ele foi embora naquela hora mesmo. Quem ficou foi o Drummond! E ficou pra valer.
E você já teve algum Natal parecido? Compartilha comigo!
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Conheci agora o blog. Apaixonei!!!tenho muitas histórias. Hoje aos 58 anos tenho que me reinventar todo dia.
Existem, sim senhora !
Recomecei em um outro continente… trazendo comigo só meus filhos e algumas roupas, sapatos, bolsas e maquiagens.
O restante ficou tudo no meu apartamento no Rio. Deixei, com saudades, minha família e meus amigos.
Mas Andréa, mudar para outro país, em outro continente, com 50 anos ? Isso, exatamente… completei meio século, olhei para trás e não parecia ter vivido tanto tempo… Chegou a hora de uma mudança radical. E foi.
Hoje, moro em Gaia, em Portugal, com o meu casal de filhos adolescentes, minha mãe vem me visitar mas foge do inverno, mas ano passado já não queria voltar para o Brasil – agora já tem, até autorização para moradia até 2024 !!!!!
Foi tudo fácil ? Claro que não, mas valeu a pena e vale, sempre, recomeçar, se reinventar…
Eu fiz com 50, a minha mãe com 87 !
Andrea querida…Que história bacana. Inspiradora e corajosa. Mudar de país nao é para qualquer um. Conheco de perto algumas das dificuldades que deve ter passado. Nao todas. Mas conheco também a sensacao de liberdade, de felicidade, de êxtase misturado com frio na espinha, de passar a régua e comecar do zero. Comecar do zero é maneira de expressao, uma vez que a nossa bagagem e nosso passado nos acompanham onde quer que estejamos. Beijo grande e obrigada por seu depoimento..