Semana que vem entramos no mês 9 de 2019. Dominiques… é quase cabalístico. Eu já tinha ouvido falar sobre os grandes acontecimentos que marcaram os anos com final 9. Só que eu nunca fui atrás para mais informações. É tudo verdade! Eu conto mais detalhes a seguir, mas primeiro quero falar sobre o número 9!
Pode ser simples, mas já pensou que número 9 representa o final de um ciclo e começo de outro? Bom, nós sabemos muito bem porque é quando nos tornamos Dominiques 🙂 A numerologia também destaca mais pontos positivos do que negativos para esse algarismo. Indicaria a realização, a paciência, a tolerância, a generosidade, entre outros adjetivos positivos.
Talvez por isso grandes acontecimentos se desenrolaram nos anos final 9. O problema é que muitos eventos negativos também ocorreram consistentemente todas as décadas… Não é para você ficar preocupada e nem se trancar em casa esperando esse 2019 passar! Foi por pura curiosidade que resolvi pesquisar o que rolou desde 1919 para provar a tese de que estamos num ano pra lá de especial.
Anos de Guerra e Paz
O ano de 1919 já começou com a reunião da Conferência de Paz de Paris, motivada pelo final da 1ª Guerra Mundial. O encontro iniciou as discussões sobre as condições de paz com a Alemanha. No meio do ano, foi assinado o famoso Tratado de Versalhes. Mas o mundo ainda continua um pouco “sombrio” e neste ano Mussolini também fundou a organização que daria origem ao Partido Fascista na Itália.
1929 foi o ano que o mundo quis apagar. Começou com a grande depressão econômica mundial, cujo início foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. O efeitos foram sentidos em vários países, inclusive aqui no Brasil, com a crise do café. Mas também foi em 1929 que duas grandes referências da paz nasceram: Martin Luther King Jr e Anne Frank.
No segundo semestre de 1939, começou a 2ª Guerra Mundial. O conflito envolveu a maioria das nações do mundo e só terminou em 1945. Há consequências e impactos que têm efeito até hoje. Há poucos destaques positivos para o ano de 1939. Um deles é o lançamento do filme …E o vento levou, que é considerado o mais bem-sucedido da história do cinema. O personagem Batman também aparece pela primeira vez nos quadrinhos. Pena que até hoje ele não conseguiu vencer o mal! kkk
1949 quase furou o padrão. Mas foi neste ano que o mundo tomou um outro “formato” que causou grande impacto nas décadas seguintes. É quando foram criadas as República Federal da Alemanha, a República Democrática Alemã e a República Popular da China.
Praticamente no primeiro dia de 1959 começou a Revolução Cubana, que deu início ao regime socialista de Fidel Castro em vigor até hoje. Aqui no Brasil aconteceu a Revolta de Aragarças, quando oficiais da Força Aérea Brasileira e do Exército Brasileiro tentaram iniciar um levante militar com tomada de poder sem sucesso.
Já o ano de 1969 marcou pelas mudanças comportamentais e inovações que começaram a reverberar em todos os cantos do mundo. Em julho, Neil Armstrong pisou pela primeira vez na Lua, na missão Apollo 11. Em agosto foi realizado o festival de música Woodstock. Já em outubro foi enviada a primeira mensagem pela Arpanet, considerado o início da internet. Enquanto isso aqui no Brasil, a Junta Governativa Provisória assume o poder para, em outubro, dar lugar ao mandato do general Emílio Garrastazu Médici, sem eleições diretas.
O ano de 1979 marca o início da abertura política no Brasil, com a promulgação da Lei da Anistia pelo presidente João Figueiredo. Na europa, Margaret Thatcher tornou-se a primeira mulher a ser primeira ministra do Reino Unido. Mas do outro lado do mundo começava a Revolução Iraniana, que fechou o Irã sob o comando do aiatolá Ruhollah Khomeini.
O ano de 1989 é marcado por grandes eventos, como a queda do muro de Berlin e a abertura política dos países da antiga cortina de ferro. Na China, os protestos estudantis culminaram no massacre da Praça da Paz Celestial. No final deste ano, os presidentes George H. W. Bush e Mikhail Gorbachev anunciaram o fim da Guerra Fria. Aqui no Brasil, foi eleito por voto direto o presidente Fernando Collor de Mello.
No ano de 1999, começou na Europa a união de diversos países a partir da criação de uma moeda única, o Euro. A nova moeda começou a ser efetivamente usada em transações eletrônicas. A proximidade com o novo século traz novos conflitos e neste ano aconteceu nos Estados Unidos o maior atentado em escolas do mundo, o Massacre de Columbine.
Já no século 21, o ano de 2009 foi marcado por momentos de tranquilidade e de inquietação. Os conflitos na Faixa de Gaza deixavam o mundo em alerta. Outras brigas pipocavam diversos outros países, principalmente no Oriente. Nos Estados Unidos o presidente Barack Obama recebeu o prêmio Nobel da Paz por “esforços para reforçar o papel da diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”. O Brasil foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Ufa! Foi um baita do resumão. Claro que não consegui cobrir tudo o que aconteceu de importante em um século. Mas dá mesmo pra gente concluir que os anos final 9 são diferenciados e registraram grandes acontecimentos aqui e no mundo.
E você tem mais alguma lembrança? Compartilha aqui.
Sabe, algumas coisas eu gostaria de ter vivido como por exemplo, o Festival de Woodstock. Apesar de ter 5 anos naquele agosto de 1969, tenho memórias afetivas em relação ao evento. Por certo essas memórias foram construídas em cima do que se escreveu e do que se falou a respeito. Inegavelmente a experiência de Woodstock foi transformadora para os jovens que estiveram naquela fazenda americana por 3 dias. É provável que muito do que vivemos hoje é fruto de Woodstock.
Aí me pego pensando se haveria uma remota possibilidade de um Festival como Woodstock ter acontecido pioneiramente no Brasil. Será? *
Não sei. Entretanto sei que um Festival como o de Woodstock mudaria a cara do Brasil. E essa semana em que todos os veículos estão fazendo matérias do que foi o festival e seu legado, resolvi fazer um exercício. Escrevi um texto como se nosso país tivesse sido sede do maior evento de música do planeta em 1969.
E já na linha do “e se”, aposto que tudo teria acontecido no interior de Minas Gerais. Por que? Porque que outro estado do país tem uma cidade chamada Nanuque? Existe nome melhor para um Festival do que Nanuque? Soa quase internacional, né não?
Bom, isto posto, vamos a meus delírios?
O Festival – Onde
E foi há 50 anos que um punhado de jovens mineiros em férias por pura falta do que fazer, resolveram produzir um festival de música. Simples assim até porque antes de mais nada, mineiros são empreendedores até quando estão de férias.
Eram muitos os sócios naquele empreendimento. Estudantes de cursos variados da Universidade de Ouro Preto, que acabaram não viajando nas férias de verão.
Em 1969 o Brasil vivia um momento político dos mais difíceis da história. Entradas foram cobradas com o intuito de que o dinheiro arrecadado no Festival fosse enviado para as famílias dos presos políticos da época ou para aqueles exilados. Com esse mesmo mote conseguiram surpreendentemente que todos os artistas aderissem ao evento e tocassem pela causa sem cachê.
–Nanuquenão foi a primeira opção escolhida para acolher o festival e sim Araponga, uma cidade na Zona da Mata (vamos combinar que Arapongatambém seria um nome maravilhoso) entretanto fazendeiros e coronéis de Araponga nunca admitiriam aquela invasão bárbara de jovens contraventores. Uniram-se formando uma comissão e mandaram o filho de um deles, recém saído do Largo São Francisco, impetrar algum mandato de segurança a fim de impedir aquela loucura . Tarefa bem sucedida visto que o Festival foi expulso sumariamente daquela área.
O êxito do jovem advogado espalhou-se rapidamente de tal forma que ele se tornou representante legal de grandes usineiros da região. Daí a se tornar um famoso advogado defendendo crimes cometidos por poderosos endinheirados foi um pulinho. Assim não demorou muito para que Marcio Thomaz Bastos se tornasse Ministro da Justiça.
Quando
– O evento que aconteceria em janeiro, no verão, teve que ser adiado para agosto por falta de licenças e outras burocracias do estado. Estipulou-se assim que o Festival de Música de Nanuque aconteceria nos dias 15,16 e 17 de agosto de 1969.
Os nascidos depois de 1975 não tem ideia da burocracia, lentidão e “cafezinhos” necessários para que as coisas funcionassem. Se temos hoje o sistema público mais eficiente do planeta, em 69 podíamos dizer que tínhamos o pior. Para os que não sabem, simplificar e digitalizar todos os nossos processos só pode acontecer depois que Roberto Justos entrou na máquina e inclemente, demitiu quem precisava ser demitido, começando assim a azeitar a máquina e principalmente simplificando processos que eram complicados por uma cultura que já não mais nos pertencia.
O Público
– O público presente superou e muito a previsão dos organizadores uma vez que Zélia Cardoso de Melo, responsável pela contabilidade do evento, estimou que 50.000 pessoas estariam no Festival . Pode-se dizer que ela passou perto (kkkk) uma vez que 500.000 pessoas passaram por Nanuque naquele fim de semana de agosto. Por causa de um “errinho à toa” de cálculo como esse Zélia desistiu da carreira de economista e foi tentar a vida como trapezista num circo da cidade.
Os Problemas e as Soluções
Os organizadores não contavam que inesperadamente 450.000 pessoas a mais apareceriam por lá causando um verdadeiro caos. Mas as soluções apareceram porque afinal de contas os nossos jovens sempre foram muito mais criativos.
A maior de todos as dificuldades foi alimentar durante 3 dias aquele mundo de gente, no entanto o problema da alimentação não teria sido tão grave e desesperador se o responsável pela logística não tivesse fugido com o dinheiro. Ahhh sempre alguém foge com o dinheiro. E nesse caso foi um estudante argentino que não deixou rastros. – A solução veio de um convento de freiras baristas que ficava às margens do Rio Mucuri e vizinho de um laticínio que doou todas as sobras de queijo. Por fim, o que alimentou aquelas 500.000 pessoas foi o mineiríssimo pão de queijo feito pelas freiras com uma antiga receita de uma delas .
O Pão de queijo com Tubaína
-E foi assim que o pão de queijo ganhou fama internacional dando ao Brasil um quitute para representá-lo como os doces conventuais de Portugal, o faláfel de Israel e da esfiha dos Libaneses.
-A única bebida disponível além das pinguinhas dos alambiques era a dulcíssima Tubaína. E foi certamente em Nanuque que Tubaína caiu no gosto dos jovens. Em 1985 a Holding Tubaína Inc. comprou a Coca Cola tornando-se uma marca mundial.
Este foi o setlist para os 3 dias do Festival de Nanuque
Sá, Rodrix e Guarabyra
Lo Borges
Tete Espíndola
Lilian sem o Leno
Milton Nascimento
MPB4
Para o segundo dia
Raul Seixas
Tim Maia
Mutantes
Erasmo Carlos
Secos e Molhados
Jorge Bem
Tony Tornado
E para o último dia:.
Alceu Valença
Elba Ramalho
Gilberto Gil
Gal Costa
Wilson simonal.
Vanusa
Coisas que aconteceram
– Tim Maia não apareceu. Deu o cano sem ao menos avisar. Para tapar o buraco na programação, uma das organizadoras colocou para cantar seu namorado uma vez que este tinha grandes aspirações artísticas. Pena ele estar tão chapado a ponto de esquecer a letra de Blowin’ in the Wind levando a maior vaia. Foi aí que Eduardo Suplicy desistiu de ser vocalista na Banda Nagasaki e por conseguinte qualquer tipo de carreira musical, entrando para a política logo depois do Festival. Chegou a ser Senador da República, sempre entoando Blowin’ the Wind, nos bons e nos maus momentos.
– A segurança do show, não acreditou que Rita Lee era a Rita Lee. Ela teve que cantar Panis e Circenses para o leão de chácara, para que ele deixasse ela subir ao palco onde os outros integrantes dos Mutantes já a esperavam aflitos. Ritinha linda linda linda, tornou-se a musa do Festival de Nanuque e a rainha do Rock’n’roll. Estourou nas paradas de sucesso do mundo inteiro tendo Ovelha Negra em primeiro lugar da Bilboard por meses. Seus shows no Central Park ficaram famosos. Teve convidados como : The Doors, Beatles, Barão Vermelho, Simon and Garfunkel (teve um namorico com o Simon), Secos e Molhados, David Bowie, Cauby Peixoto e por aí vai. E até hoje, Ritinha nega-se a gravar CD de Natal. Talvez graças a ela essa moda tenha caído em desuso há anos! Só temos a agradecer, né?
E a chuva?
– Nuvens carregadíssimas aproximavam-se anunciando senão o apocalipse, uma tempestade indesejada. A turma da era de Aquário juntou-se num mantra com certeza de resultados positivos. Deram-se as mãos e juntos entoaram ritmadamente, como se fossem tambores indigenas – Chu-va não! Chu-va não! Chu-va é pra bur-guês! Aqui só tem nu-dez!. Infelizmente a chuva caiu a despeito dos clamores. Como sempre. E quem se deu bem foi o vendedor de capa de chuva, Luiza, Tia Luiza. Já sabem quem né?
– Acredite se quiser, mas durante aqueles 3 dias, não houve um único incidente violento. Pode-se dizer talvez que o ocorrido no show de Erasmo Carlos tenha sido áspero ou um pouco mais quente, mas jamais agressivo. Tremendão foi o quinto nome da noite, com a platéia já aquecida em todos os sentidos. Quando estava prestes a começar entra no palco um jovem muiiito louco chamado Olavo de Carvalho, fazendo um discurso de protesto contra a prisão de um companheiro de luta, o José Dirceu. Erasmo Carlos não achou engraçado. Muito pelo contrário, irritado grita para Olavo de Carvalho :– Cai fora!! Cai fora de meu palco!! Você não vai F****R com o rock’n roll
– Vanusa, encerrou o festival, puxando um Hino Nacional, numa atitude altamente temerária para o período e o público. Porém foi acompanhada por um guitarrista desconhecido que fez alguns riffs em cima do Hino. A galera delirou. Talvez por conta do horário, da embriaguez, da exaustão ou ainda da micro saia da cantora, existe uma grande probabilidade de ninguém ter reconhecido aquela música como sendo o Hino Nacional. Os riffs de Pepeu Gomes foram eternizados assim como ele considerado o maior guitarrista de todos os tempo.
Alguns destaques
– Todo o evento foi documentado pelo jovem cineasta David Cardoso. Ele com sua Super 8 captou quase tudo e principalmente a essência do festival. Abandonou a faculdade de medicina, tornado-se um cineasta famosíssimo, ganhador de 2 Oscars, 3 Leões, e Palmas incontáveis com filmes sensíveis, profundos e de primorosa produção.
– Amaral Gurgel, enviou o modelo Gurgel Itaipu Elétrico para desbravar a lama de Nanuque. Esse viria a ser o primeiro carro 100% brasileiro e primeiro carro elétrico do mundo já em 1969. Gurgel tornou-se o nome mais importante do setor automobilístico mundial. Chamou a atenção da Engesa, industria de tanques brasileira. Engesa e Gurgel juntos fundaram a EspaçoBr que em 1990 vendeu o primeiro voo comercial para a lua para Eike Batista.
Médicos? Para que médicos?
– Emergências médicas ocorreram aos montes. Inacreditavelmente nem uma única morte. Ainda mais se pensarmos que os médicos que tínhamos lá eram todos estudantes de universidades de medicina de diversos estados brasileiros. Foram recrutados pelos organizadores do evento e receberam em troca do trabalho, o transporte para Nanuque. Foi aí que Dráuzio Varella viabilizou seu sonho criando os “Médicos sem Fronteiras”.
E o argentino, hein?
Lembra do argentino que fugiu com a grana da logística? Ele voltou anos depois para o Brasil. Já não era apenas um argentino. Era agora um franco argentino por conta de seu casamento com uma milionária francesa que morrera subitamente deixando Luis Favre viúvo e solitário. E foi por isso que ele resolveu voltar para rever seus antigos colegas do Festival, sendo recebido e hospedado por Marta e Eduardo Suplicy.
Legado
O espírito do Festival de Nanuque, permeou toda a sociedade, facilitando a abertura política mostrando aos militares a maturidade de nossa juventude. A democracia foi restaurada na base da paz, do amor e da flor.
E assim o foi quando em 1971 as eleições diretas para presidente voltaram a acontecer no país. Eleito presidente da nova república democrática, Roberto Campos conduziu o país a liderança do bloco capitalista. Abriu nosso mercado, estimulando nossas industrias e seguindo os mais modernos conceitos da economia liberal.
E tudo na vida é uma questão de ponto de vista. Se o mundo é realmente redondo olha só como ficaria o mapa após Nanuque..
Eu vou contar até 5 e quando estalar os dedos todos acordaremos no Brasil de verdade onde o Festival de Nanuque nunca existiu. E nos dias 14, 15 e 16 vamos comemorar os 50 anos do Festival de Woodstock, esse sim um divisor de águas
*Como bem lembrou Henrique Cury, tivemos no Brasil alguns festivais nos moldes de Woodstock como Águas Claras e Iacanga. Ambos aconteceram depois do Festival Americano. E vamos lá, por que você não faz como o Henrique e me manda uma sugestão para acrescentarmos nesse texto? Pode ser um delírio, uma possibilidade, um fato, o que vc quiser. Aí depois eu vou escrever a versão 2 de “E se Woodstock tivesse acontecido no Brasil” com todos so créditos. Gente, isso pode ficar muito legal, viu?
Nota: Não tive uma grande preocupação com coerência de datas e idades. Aliás com coerência alguma. Por favor não leve esse textinho muito a sério. Foi só diversão. Beijo da Lili pro cê, tá?
Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.
Mas bah! Será que teria acontecido deste jeito ? não vi tu falando de ninguém tomado chimarrão e nem fazendo um churrasco de pelo menos umas lingüiças.
Eu nasci em 1959. Para mim trata-se de um marco. Rsrsrs
Bj