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No Fim Do Túnel – thriller intenso e arrebatador comprova a excelente forma do cinema argentino

“No Fim Do Túnel” comprova o ótimo momento do cinema argentino. Não é de hoje que vem se tornando referência mundial. São detentores de dois Oscar e presenteiam a todos com obras-primas, como “Relatos Selvagens”, “Um Conto Chinês”, “O Segredo De Seus Olhos” e uma vasta gama de produções de primeira qualidade. Na verdade, além da excelente qualidade em diversos aspectos, se destacam principalmente pelos roteiros bem trabalhados.

“No Fim Do Túnel” é um suspense do cineasta Rodrigo Grande, que também assina o roteiro do longa. Rodrigo Grande, que completou 43 anos, é hoje considerado um dos grandes talentos do cinema argentino.

No longa, Joaquim é um cadeirante que vive em uma casa que passou por tempos melhores. Certo dia, Berta, que trabalhava como stripper, e sua filha, Betty, vão atrás de um anúncio feito por ele para alugarem um quarto. Durante uma noite de trabalho em seu sótão, onde conserta computadores, ele escuta vozes através da parede e conclui que um grupo de homens está construindo um túnel que passa por baixo de sua casa para roubar um banco.

Todos os elementos apresentados servem para o desenvolvimento da história, alguns até meio óbvios, mas como um bom filme de diversas camadas, mesmo os detalhes óbvios são utilizados de forma satisfatória, e surpreendente. Um ponto chave que inesperadamente se transforma em um estímulo em quase todos os aspectos, no qual a partir deste momento os personagens passam a ganhar sua real importância e relevância.

O suspense é criado com uma boa fotografia e bons diálogos, assim como a trilha sonora, que acerta e traz para o telespectador um clima de tensão. A narrativa fica então intrigante e de forma tão atrativa, que o diretor passa a construir um ambiente angustiante, no qual Joaquín, com seus motivos, tenta afetar diretamente o roubo através de seus artifícios.

“No Fim Do Túnel” também conta com atuações excelentes de Clara Lago, Pablo Echarri e Leonardo Sbaraglia (Joaquín), que também atuou em Relatos Selvagens, talvez o mais internacional dos atores argentinos, depois de Ricardo Darín, é claro.

Acreditamos na deficiência do protagonista, e o ator Sbaraglia faz isso com maestria, e com um excepcional trabalho corporal, além de trabalhar todos os nuances do personagem que aparentemente parece arrogante e posteriormente afável. Já Clara Lago (a stripper Berta) ganha a simpatia de Joaquín e do público, Além de reservar um grande mistério. E Pablo Echarri entrega toda a imponência de Galereto, o chefe da quadrilha.

A trama criada para relacionar cada personagem e suas respectivas histórias funciona bem. Desde Betty, filha de Berta – que ganha uma importância muito grande na narrativa – até o homem que está por trás de todo roubo, são encontradas boas soluções no roteiro e que caracterizam um filme singular.

Com um final conturbado, cheio de reviravoltas, bons diálogos, “No Fim Do Túnel”, em seu desfecho consegue prender a atenção do público – algo extremamente necessário em um longa criminal e de suspense com estrutura clássica. E mais que isso consegue explorar de forma concisa um protagonista cadeirante que sustenta bem o filme em sua grande parte.

Assista o trailer

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Justiça e Punição

A comparação de Olhos da Justiça (Secret in Their Eyes), longa que comento hoje, com o argentino O Segredo dos Seus Olhos é inevitável. Por isso, antes de falar sobre o remake americano, vale esclarecer que são filmes muito próximos, não porque contam a mesma história, mas porque retratam nas entrelinhas as crises que assombram seus países de origem.

Se no longa argentino temos uma ligação entre um crime não solucionado com a política na Argentina após a morte de Perón, aqui a ponte se conecta com uma América tentando se recompor após o atentado terrorista de 11 de Setembro.

Quem não assistiu o magnífico argentino verá Olhos da Justiça como um grande filme.

Em Olhos da Justiça, um grupo de profissionais responsável por uma divisão do FBI – especializada em ações terroristas logo após o 11 de Setembro – é abalado pelo assassinato da filha de Jess (Julia Roberts), uma das investigadoras do departamento. Logo, o outro investigador da divisão e amigo da mãe da vítima, Ray (Chiwetel Ejiofor), e a procuradora Claire (Nicole Kidman) empreendem uma caçada ao responsável pelo crime que dura mais de uma década e transforma a vida dos três personagens.

Realizando uma reflexão sobre as cicatrizes que a violência deixa em seus personagens, Olhos da Justiça, de Billy Ray, aborda um ponto de vista pertinente sobre justiça e punição, deixando claro no seu desfecho quem serão aqueles que de fato sofrerão as conseqüências do crime por toda a vida.

 O longa obedece a cartilha do drama policial norte-americano, mas sem ofender ninguém. 

O que vai saltar de fato aos olhos será o empenho do trio principal. Cada ator defende com unhas e dentes seus respectivos personagens, e a dinâmica entre eles dá vida e garante o interesse na trama. O desempenho de cada um é impressionante.

Julia Roberts está maravilhosa no papel da agente Jess. Percebe-se claramente o sofrimento do seu personagem através do rosto dela. A variação da alegria, quando cenas de flashback de Jess e sua filha são mostradas, e tristeza e melancolia nos dias de hoje são claríssimas. Além, obviamente, da raiva e ódio demonstrados por quem tenha cometido o crime.

Outro que deixa claro em suas expressões e gestos, os sentimentos pelos quais o personagem que interpreta passou desde que o crime ocorreu e o impacto desse até o presente momento é Chiwetel Ejiofor. Nicole Kidman como sempre parece escolher personagens que se pareçam com ela de certa forma.

Contradizendo a todos, Olhos da Justiça surpreende como um bom thriller dramático, que se sustenta por si só, surgindo como um digno descendente do original. 

Olhos da Justiça é realmente um bom suspense.

Aqui fica a dica.

Assista o trailer:

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Memórias Secretas – busca pela vingança de algo que não se pode esquecer jamais

Hoje a minha dica é o filme Memórias Secretas, disponível na Netflix, que fala sobre o Holocausto de uma forma diferente do que estamos acostumados a ver.

 Memórias Secretas usa a guerra como mote, mas se passa muitas décadas depois do principal evento do século XX, porém o ocorrido ainda está muito mais presente nos principais personagens.

A história é simples: o nonagenário Max (Martin Landau), um sobrevivente de Auschwitz, prepara uma vingança contra o nazista responsável pela morte de sua família nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial.

Porém preso a uma cadeira de rodas e respirando com ajuda de aparelhos, ele não tem como executar o plano por conta própria. Para isso ele conta com a ajuda de Zev (Christopher Plummer), colega do asilo onde está internado, que tem início de demência. Contudo, Max o incumbe da missão de achar o assassino que matou a família de ambos. 

Drama, aventura e comédia

Então temos um drama histórico (o Holocausto) com pitadas de aventura (a caçada vingança) e levemente carregado de uma comédia involuntária (um senhor de quase noventa anos, sem memória, andando por inúmeras situações quase tragicômicas).

Atom Egoyan é um cineasta preocupado com a História. Em Memórias Secretas ele tem à sua disposição a parte mais crucial de um evento como esse: a pessoa, o homem, aquele que viveu na pele cada um desses episódios que, para alguns, estão apenas nos livros escolares.

No entanto, ele consegue construir uma trama tão bem elaborada e desenvolta que termina por funcionar também como um instigante drama de suspense, em que cada reviravolta pode levar sua experiência a um desfecho até então imprevisto.

Ao mesmo tempo em que o roteiro envolve o público em um suspense dramático, o roteirista consegue arrumar saídas para aliviar o peso da trama.

O veteraníssimo Christopher Plummer premia o público com uma brilhante interpretação. O personagem aparece quase o tempo todo e em toda cena há uma presença diferente e tudo que o personagem pede é colocado no limite, sem cair no exagero.

Vale o destaque também para o policial. O vigor que Dean Morris coloca no personagem é suficiente para nos brindar com uma das melhores e mais intensas cenas do filme. A cena em questão desperta tensão, incômodo e interesse. Muito por causa da atuação desses dois. O restante do elenco também é estrelar: o outro veterano Martin Landau tem aparições precisas e convence a todo o momento.

Um filme pequeno, mas que vai se agigantando durante seu desenvolvimento, até chegarmos a um desfecho arrebatador, que irá tomar qualquer um de surpresa pelo intrincado jogo de quebra-cabeças cuja última peça irá se encaixar, revelando um quadro inacreditável. Promete deixar refletir.

Memórias Secretas é um filme que apesar de algumas falhas, merece ser visto.

Confirma mais no trailer:

Outros filmes sobre guerrra:

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The Post – a guerra secreta


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O Último Tango – Uma história de amor, e paixão pelo tango

Uma história de amor, e paixão pelo tango

Disponível no Netflix, hoje comento o documentário musical, O Último Tango.

A história conta a trajetória de amor entre os dois mais famosos dançarinos de tango e a paixão que ambos nutriam pela dança. María Nieves (81) e Juan Carlos Copes (84) se conhecem quando tinham 14 e 17 anos. Dançaram juntos por mais de 50 anos. Em todos esses anos eles se amaram, se odiaram, e passaram por várias separações dolorosas, mas o amor pela dança sempre os uniu novamente. Juan e María contam sua história a um grupo de jovens bailarinos, e coreógrafos de Buenos Aires, que transformam os mais belos e dramáticos momentos das vidas do casal em incríveis coreografias de Tango.

O fio condutor são as recordações de Nieves. De maneira franca ela conta como se apaixonou por Copes, como se tornaram figuras icônicas. E não tem problema em falar das dores dos vários rompimentos amorosos com Copes, da separação artística em 1997, dos rancores e das injustiças que sofreu.

Um aspecto sempre presente nas falas dela é o amor incondicional pelo tango, a única coisa que manteve a dupla unida quando só no palco eram capazes de sorrir.

Os depoimentos de Copes são mais curtos e menos numerosos. São também muito mais frios do que os dela. A sisudez de Copes mostra uma aparente segurança que se encaixa no perfil dominador e machista do bailarino. Com distanciamento ele dá sua versão dos fatos, que nem sempre coincide com o que Nieves diz. Mas os dois concordam que Copes inventou um estilo próprio de dança, cheio de virtuosismo. Uma de suas características principais é a movimentação das pernas que María realizava com perfeição. Os depoimentos são viscerais e com uma honestidade comovedora.

Vemos ali pessoas que se entregaram de coração e viveram o Tango ao máximo.

O documentário faz uma bela homenagem sem ser arrastado ou brega. Germán Kral, diretor argentino radicalizado na Alemanha, fez um belo trabalho com esse projeto, deixando com que María e Juan brilhem como grandes estrelas que são. Todo o filme, como não podia deixar de ser, é acompanhado por uma belíssima trilha sonora recheada de muitos tangos.

A música envolvente, que denota muita paixão, romantismo e sensualidade, é o motor do filme argentino.

O roteiro, também escrito pelo diretor, está muito bem amarrado e traça a linearidade que vai desde a infância até a vida atual de Nieves. E isso é feito mesclando-se imagens de arquivo, danças e encenações. É tudo tão bem costurado, que nos deixa completamente hipnotizados pela história dessa mulher e de sua vida.

Aqui fica a dica!

Eu adorei!

 

Trailer:

Veja também:
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Diário de Uma Camareira – Uma produção francesa irretocável na Netflix

Dominique-Banner_Diario de uma camareiraDiário de Uma Camareira tem como protagonista Léa Seydoux, nova musa do cinema francês, um filme de Benoît Jacquot, baseado no livro de Octave Mirbeau, e que já foi inspiração também para a produção homônima de 1964, estrelada por Jeanne Moreau e dirigida por Luis Buñuel.

A trama se passa em 1891/1892, quando a jovem Célestine abandona a capital francesa e parte para o interior, onde vai trabalhar como camareira na residência da família Lanlaire, burgueses decadentes. Enquanto foge do assédio do seu senhor e da rigorosa madame Lanlaire, que governa o lar com punho de ferro, Célestine conhece Joseph, um fiel jardineiro que se apaixona por ela.

Seydoux empresta um olhar frio e seu charme indiferente à Célestine, uma mulher que é capaz de provocar o desejo de qualquer homem.

Bonita e de bons modos, a personagem não tem o conformismo e a obediência como características. Com seu temperamento de falsa submissão, Célestine percorre, porém o mesmo caminho das empregadas domésticas da época que serviam na cama aos patrões com esposas frígidas, despertando a ira delas.

Apesar de logo percebermos a sofisticação e inteligência de Célestine, graças a uma atuação intensa e focada de Seydoux, não sabemos exatamente quem ela é e o diretor utiliza especialmente flashbacks para revelar seu passado. São os flashbacks que dão o verdadeiro sabor da produção, pois deslocam a ação para outras épocas e locais importantes para a protagonista, permitindo-nos uma visão de quem ela era e quem ela se tornou.

Dominique-Interna_Diario de uma camareiraA montagem de Diário de uma Camareira não tem floreios e nos joga para o passado e para o presente sem transições, apenas com cortes secos que exigem alguns segundos de adaptação. E essas sacudidas na estrutura narrativa funcionam muito bem, trazendo complexidade para aquela personagem tão misteriosa.

Vincent Lindon é bastante categórico no papel de Joseph, apostando nas sutilezas e pequenos detalhes para criar uma aura de mistério para sua personagem – deixando o espectador na dúvida quanto ao caráter de sua personalidade.

Diário de uma Camareira é uma produção irretocável que conta com uma perfeita reconstituição de época da França, fim do século XIX, somada ao lindíssimo figurino e a belíssima fotografia das paisagens do interior da França, onde a luz natural é o destaque.

Vale a pena conferir!

Bom programa!

Veja o Trailer

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