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Com Amor, Van Gogh: uma declaração ao criador e à Arte

Dominique - Van Gogh
Escolhido pelo público como melhor filme de ficção na 41ª Mostra Internacional de Cinema de SP, o belíssimo Com Amor, Van Gogh, animação dirigida pela polonesa Dorota Kobiela e por seu marido, o britânico, Hugh Welchman.

Foram seis anos de trabalho para que o longa ficasse pronto. Cerca de 150 artistas pintaram cenários em telas, usando a mesma técnica de Vincent van Gogh. Ao mesmo tempo, atores de verdade eram filmados em estúdio. Depois a equipe ilustrou o elenco e seus movimentos. Por fim, cerca de 65.000 frames em pintura foram animados para resultar nesse maravilhoso filme em cartaz no Brasil.

Vincent van Gogh foi um dos mais notórios artistas a não ter o reconhecimento de sua genialidade em vida.

Van Gogh só começou a pintar em 1881, aos 28 anos de idade, e sua personalidade conturbada fez com que fosse encarado como louco, o que não o impediu de produzir fabulosas pinturas a óleo (cerca de 600 obras) que realizou até pouco antes de morrer aos 37 anos.

O longa conta a história através do personagem Armand Rouland, filho do carteiro responsável pela correspondência entre Vincent e seu irmão Theo. O rapaz fica encarregado de entregar uma última carta de Vincent para Theo, naquele momento ambos já falecidos.

O protagonista assim como o público, vai entrando na vida do pintor, descobrindo a cada cidade que passa e a cada encontro que vive mais uma faceta de Vincent. Os personagens do filme contam as passagens do artista fazendo uma viagem por sua biografia.

Dominique - Van Gogh

A narrativa serve mais para ambientar a vida do pintor e suas aflições, do que propriamente para desvendar o mistério de sua morte. O filme retrata antes de tudo, Vincent como uma alma sensível e atormentada, maltratado ao longo da vida, desde sua complicada relação com a mãe e que, no final das contas, hoje não seria mais considerado um louco, um esquizofrênico.

Com Amor, Van Gogh faz com que os flashbacks sejam em preto e branco, em passagens rápidas, sem diálogos entre os personagens, rastros das memórias de terceiros sobre o pintor. O filme faz questão de deixar claro que há ali uma visão estética e bem trabalhada, não uma simples animação através de uma técnica difícil.

Há uma transição entre narrativa e flashback para combinar o preto e branco da vida do pintor com a investigação colorida deixada por Van Gogh.

A exuberância cromática dos quadros reaparece ao longo de toda investigação que o jovem Armand Roulin faz para decifrar o fim trágico do artista.

Com Amor, Van Gogh é como entrar em um museu onde as telas expostas estão vivas e te contam uma história.

Não perca esse belo e sensível filme, uma experiência cinematográfica única! Merece ser visto no cinema, mas caso não consiga ir, o filme também está disponível na Netflix. Eu amei e achei imperdível!

Assista ao trailer:

[fve]https://youtu.be/3tslxWf9t5w[/fve]

Leia mais:

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2 Comentários
  1. Lara também gosto muito do Cumberbatch e esse novo filme eh atualíssimo mesmo, mas tbm não vi ainda. Vamos trocar comentários assim q assistir.

  2. Todos estes filmes sobre o van gogh são fascinantes. O que eu mais gosto deles é Pintando com Palavras com o ator Cumberbatch. Ele atua tão bem que quero ver logo seu novo trabalho, Brexit. Ele sempre nos fascina nos seus papeis e neste não parece ser diferente. Gostei muito do trailer que vi do próximo trabalho dele que vai estrear, o Brexit. Achei muito inusitado utilizarem um assunto tão atual para fazerem uma produção. Creio que o filme brexit deva ser bem revelador e intrigante devido sua história, parece não ser mais um filme enfadonho de política, mas que pelo contrário, tem um ritmo legal e bem conduzido, sem ser tão previsível quanto os demais da categoria.

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Victoria e Abdul: a amizade da rainha com seu confidente

Dominque - Victoria e Abdul
O filme que indico e comento hoje é Victoria e Abdul.

Aos 82 anos, Judi Dench volta a interpretar a rainha Victoria em um longa que trata da polêmica relação da soberba monarca com seu fiel e adorado serviçal Abdul, indiano e muçulmano, que se torna seu “munshi”, termo indiano para designar professor.

Judi Dench revive o papel da monarca que reinou durante 63 anos a Inglaterra e uma população de quase 1 bilhão de súditos de seu império ao longo do século 19.

O roteiro adaptado por Lee Hall, baseado no livro de Shrabani Basu, que por sua vez pega como fonte os diários do verdadeiro Abdul (descobertos muito tempo depois, exatamente em 2010), é seguro, não apresenta surpresas, uma produção agradável, leve e correta.

Victoria e Abdul faz uma edificante narrativa de amizade, em que seres tão diferentes, pela sua geografia e pela sua condição social, conseguem se identificar. Essa com certeza é a maior força do longa. Essa interação entre seres opostos ou como um mero servo pode compreender aquela mulher no trono muito melhor que seus familiares. Essa relação afetiva é emocionante e faz com que o longa conquiste a atenção do público.

A história da amizade da rainha da Inglaterra, Victoria, e do jovem indiano Abdul Karim, acontece nas circunstâncias mais improváveis e se desenvolve devido à carência da soberana com a espiritualidade de Karim, que os torna indispensáveis um para o outro, chegando a incomodar a monarquia.

A monarca já vivia de luto pela perda de seu amado marido Albert e de seu filho mais novo e mesmo assim seguia com o fardo de seu reinado e poucas motivações para ser feliz. A ousadia de Abdul trouxe de volta a alegria de viver, em razão de sua história interessante, uma injeção de cultura diária e muita harmonia, fazendo com que a rainha quisesse ficar próxima dele, mesmo que isso lhe custasse enfrentar a alta nobreza. Odiado por todo escalão britânico, Abdul, mesmo assim, foi um sopro de juventude para a rainha.

Um fato curioso é que apesar de rainha, Victoria era também Imperatriz da Índia, mas pouco conhecia sobre o país, portanto, o indiano Abdul (Ali Fazal) vai lhe apresentando sua cultura e desenvolvendo um belo trabalho com a sua interpretação carregada de carisma, empatia e emoção.

A direção de arte tem uma composição ótima de cenários e ambientações que nos levam até essa época em questão. Além disso, há um cuidado pela elaboração de seus figurinos, tanto para o elenco principal, quanto para os figurantes que compõem a história, sabendo respeitar o estilo das roupas indianas, o luto da rainha, sempre de preto, tendo atenção até mesmo na viagem para a Escócia, onde vemos um visual característico do local.

Na fotografia está um dos grandes acertos do filme, pois além dos planos gerais cheios de detalhes para trabalhar toda essa estrutura por onde se passa a trama, usam-se planos fechados, quando necessário, conseguindo captar as emoções dos personagens.

Victoria e Abdul é um filme dirigido por Stephen Frears (do ótimo “A Rainha”) vem em bom momento: em plenas comemorações dos 70 anos da independência da Índia e depois da descoberta dos diários que Victoria escreveu em urdu (idioma indiano) e das correspondências de Karim, conservadas por um sobrinho neto. Quando a monarca morreu, seu filho, o rei Eduardo 7º, despachou o serviçal de volta à Índia e queimou todos os vestígios da relação dos dois.

Há uma bela química entre a dupla de protagonistas, acreditamos no carinho, curiosidade e motivação dos personagens. Fazal enfrenta uma tarefa difícil: Abdul é um apaixonado pela vida e ensina que as pessoas vivem para servir. É isso que o torna cativante, mas transmitir isso além do texto não é fácil.

Interessante observar que Fazal pronuncia pausadamente as palavras, como se pensasse muito antes do que fosse falar e como se não dominasse a língua inglesa, dando verossimilhança à atuação. Judi abdicou de qualquer vaidade para o papel (sem maquiagem e usando enchimentos para reproduzir a corpulência de Victoria) está como sempre fantástica!

Em síntese, a dupla principal faz um trabalho muito bom com fascínio.

O filme traz um humor interessante em sua narrativa com os personagens misturando drama, sarcasmo e autocrítica e, além disso, é muito espirituoso.

Vale a pena ir ao cinema para assistir a incrível produção de Victoria e Abdul.

God save the Queen!!!

[fve]https://youtu.be/e9x7GDeA6ok[/fve]

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Bingo, o Rei das Manhãs – Inspirado no apresentador Bozo

Dominique - Bingo
Bingo – O Rei das Manhãs, selecionado para representar o Brasil no Oscar® 2018, é o filme nacional do ano!

O filme é uma cinebiografia inspirada na vida real de Arlindo Barreto, ator que interpretou o palhaço Bozo e fez sucesso na televisão brasileira nos anos 80.

Por questões de direitos Bozo virou Bingo, Arlindo virou Augusto, SBT virou Mundial e só Gretchen continuou Gretchen.

O filme tem uma estrutura simples de ascensão, queda e superação, alternando momentos de humor, drama e uma melancolia inesperada nos olhos de um palhaço.

Nas cenas em que tira a maquiagem de Bingo, Vladimir Brichta mostra o peso de um personagem que está em conflito, ao mesmo tempo em que é líder de audiência, ele é um ilustre desconhecido. O ator por trás da máscara e da peruca de cabelos azuis, ferido em seu narcisismo por não poder revelar quem é por contrato, cai na decadência com bebida drogas e mulheres.

Surpresa mais que positiva é o trabalho de Daniel Rezende na direção: originalmente montador (inclusive indicado ao Oscar® por “Cidade de Deus” 2002), tem no seu currículo trabalhos como “Diários da Motocicleta” (2004), “Árvore da Vida” (2011) e “Robocop” (2014). Isso não é para fracos.

Em seu “debut” no comando de uma obra, Rezende entrega um filme mescla entre cinema autoral de qualidade com um produto elegante, com pompa de grande produção e totalmente vendável ao grande público apesar do teor adulto bem incorreto.

A direção de Rezende trabalha muito bem as várias percepções sobre seu protagonista e as transfere com sutileza para o espectador. Fácil se envolver com a história de Bingo.

O roteiro de Luiz Bolognesi (“Bicho de Sete Cabeças”) reúne as diversas faces do personagem e as põe em conflito. Bingo não é simplesmente um filme sobre ascensão e a derrocada de um apresentador de TV, mas trata das máscaras que vestimos diariamente para encarar o mundo. O rosto do palhaço funciona, assim, como uma metáfora para qualquer posição que assumimos frente a problemas.

Quem assina a trilha sonora, no melhor estilo pop anos 80, é o ex-DJ Rezende. Você vai ouvir as bandas como Echo & Bunnymen e Devo que se intercalam com as nacionais Titãs e Metrô.

Outro destaque é a direção de fotografia de Lula Carvalho que usa cores excessivamente saturadas, ajuda a transportar o expectador para os exageros dos anos 80: Os letreiros em neon, a maquiagem pesada, os cabelos armados e as roupas ousadas combinam com outro tipo de excesso também presente no filme, o abuso de drogas do protagonista.

No elenco, a esplêndida atuação de Vladimir que toma o filme para si, deixando transparecer a agonia e o sofrimento do protagonista que não consegue controlar seus excessos com as drogas e não sabe lidar com suas responsabilidades como pai.

Dominique - Bingo

O elenco conta ainda com Leandra Leal como a produtora Lúcia, Tainá Müller como a ex-mulher Angelica, Augusto Madeira como o câmera Vasconcelos, Emanuelle Araújo como Gretchen e o pequeno Cauã Martins como o delicado filho Gabriel.

Impossível não destacar também Domingos Montagner em um de seus últimos trabalhos. Falecido no ano passado, o ator vive um palhaço que serve como mentor para Bingo.  Difícil não ficar tocado com os apontamentos de Domingos que era um palhaço na vida real.

Bingo além de emocionar, fazer rir e chorar, já é um novo clássico do cinema brasileiro.

Agora é aguardar dia 4 de março e torcer para que o Oscar® venha dessa vez.

[fve]https://www.youtube.com/watch?v=4xHP9tiS6NM&feature=youtu.be[/fve]

Aqui tem mais algumas dicas de cinema, leia:

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O Filme da Minha Vida: anseios e dilemas da juventude

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