Tenho mania de listas. É o jeito que achei pra me organizar. Vou lembrando do que falta fazer e coloco em listas de tarefas – pessoal, casa, trabalho, amigos.
Risco com canetas coloridas o que foi feito e, depois, passo a limpo o que faltou, e mais as novas tarefas que surgem na cabeça. (Tá bom, isso é coisa de gente que tem TOC.)
Assim que lembro, corro pra anotar. A memória anda parecida com bolhas de sabão.
Às vezes, estou preguiçosa e as listas vão aumentando. O problema é que elas se tornaram a mais concreta representação do tempo para mim. O tempo vale ouro se consigo riscar várias coisas em um dia ou dois. E fica sufocante se passo o dia olhando pra elas sem cuidar de nenhuma tarefa.
É o suficiente para uma crise de ansiedade, de auto recriminações. Fico pensando que a semana tem 168 horas. Deveria gastar um terço pra dormir, um terço no trabalho e o restante pras coisas pessoais. Muito pouco tempo. Corto no sono?
Estes sentimentos duram 11 meses. Tudo muda em dezembro. Assim que chega, é o deus nos acuda dos fins dos tempos. Todo mundo lembra que o ano vai acabar daqui a alguns dias.
Faz uns anos que, quando chega essa época, os versos de uma música começam a ecoar na minha cabeça. “É quando o tempo sacode a cabeleira, a trança toda vermelha, um olho cego vagueia procurando por mim.”
Lembra? É um frevo arretado do Zé Ramalho, sucesso nos anos 80.
Pois é, dezembro chega e eu começo a ser perseguida pelas tranças vermelhas, o olho cego se instala na ansiedade do meu peito pra cobrar tudo o que deixei de fazer durante o ano.
Olho em volta e vejo que a sensação não é só minha. Toda a cidade parece ter ficado histérica, no trânsito, nas lojas, nos bares e restaurantes. Gerentes gritam com fornecedores, passageiros com motoristas do Uber, a moça na fila do caixa bate o pé porque a etiqueta está errada, cliente quer o trabalho pra ontem, embora tenha ficado parado três meses.
Quanto mais se aproxima o Natal, mais elevado vai ficando o nível de ruído.
Recebi oito convites para happy hour ou festa para encerrar o ano. Turmas diferentes de amigos, de colegas.
Lembro que deixei de ver muita gente querida esse ano. Sinto uma urgência em rever pelo menos alguns, como se fosse a última chance de encontrá-los. Mas a maioria já está comprometida com outros 10 convites.
Penso nos bares mais lotados do que o normal, o trânsito enlouquecido para chegar lá.
Perdi a paciência, a vontade passou. Posso ficar hibernando enquanto dezembro se vai? Dá para pular dezembro?
Não gostaria de ficar sem uma boa festa, não quero me sentir mal por não ter sido convidada para uns encontros. Mas olhando bem, já não tenho a mesma fissura de anos atrás. Além disso, ninguém vai reparar que meus presentes não foram entregues.
Vou mudar a minha trilha musical de dezembro. Sabe a música do Caetano? Tempo, tempo, tempo/ Entro num acordo contigo/ Tempo, tempo, tempo, tempo…
Terei um ano inteiro em 2017 para recuperar o tempo. Para rever os amigos, com tempo, e dar os presentes que senti vontade. Minhas listas podem esperar a virada do ano.
Dezembro, estou descendo, ok?
Eu tb tenho mania de listas e a sensação é essa mesmo…elas vão aumentando no fim do ano e não dá tempo de riscar nada!!!! Socorro!!!
Sabe Bel, to pensando seriamente em abolir minhas listas. E ver o que acontece. Sempre tive um prazer enorme em riscar atividades feitas. Hoje quero esquece-las..kkkk