Vamos falar de palavrões?
Guio mal. Dirijo muito mal. Não é de hoje. É desde sempre.
Às vezes eu acho aquela vaga perfeita, sabe? Naquele lugar perfeito! Mas se percebo que tem gente na calçada, sou capaz de desistir dela para não passar vergonha na hora de fazer a tal baliza.
E, sinceramente, não há mais o que fazer.
Guio devagar pra burro e, desta maneira, nunca tive maiores problemas e nem acidentes.
Como sei das minhas limitações, sempre que escuto alguém buzinando, já abro o vidro e peço desculpas. Mesmo sem saber se sou culpada de algo ou não. Geralmente eu sou. Mas nem sempre.
Outro dia, ao abrir a janela e fazer aquela cara de vítima arrependida para implorar o perdão alheio, vejo no carro ao lado um animal da mesma espécie e gênero que eu. Com a mesma cor de plumagem – loira. Com o mesmo grau evolutivo – bípede motorista.
Mas parece que ela não me viu como eu a vi. Ou porque cargas d’água ela gritaria “VACA”?
Por que uma mulher agrediria outra, mesmo num momento de raiva, chamando-a de um animal que corresponde a tantos outros significados tão pouco enaltecedores?
Ela poderia me chamar de barbeira. Navalha. Cegueta. Dona Maria. Mas vaca?
Aí fiquei pensando que vivemos numa cultura machista até para os palavrões. Nossos palavrões denigrem a mulher até quando xingamos um homem, já percebeu?
Filho da P***. Na verdade, estamos ofendendo a mãe do coitado.
Corno. Sempre é a esposa que leva a culpa. Mesmo sem ter saído de casa.
É, neste caso, a minha colega motorista foi incapaz de enxergar que a sua atitude só reforça e perpetua o tal machismo que sufoca, maltrata e, às vezes, até mata!
É quase sempre a mesma coisa… Entro no bendito carro com o marido do lado, pra começar o show de caretas, críticas, mal estar, grosseria e por aí vai. Sendo que agora ele tá menos exaltado, pois antes até rolava uns xingamentos. E, nossa! Ele é um “expert” no volante! Nunca erra, é o deus da direção! Exemplo a ser seguidos até pelos mais experientes e renomados pilotos de fórmula 1! Afff…
Delicioso é lembrar da delicadeza do meu pai. A pessoa mais paciente do mundo!
Certa vez, num desses incômodos encontros no trânsito, foi fechado por outro carro. Ficou muito bravo e não se conteve: abriu a janela do carro e a plenos pulmões, bradou:
– MEDONHO!
Grande senhor!