Ganhador da Palma de Ouro de Cannes em 2018, Assunto de Família deixa claro: lida com tema muito caro para o diretor e roteirista japonês Hirokazu Koreeda. Aqui, ele tenta observar e estudar o que é exatamente uma família, como ela se forma e como ela se mantém unida, com uma esperada abordagem lírica para uma história simples.
Em Assunto de Família, somos introduzidos ao lar de uma empobrecida família japonesa da periferia de um centro urbano contemporâneo, Tóquio. Mãe, pai, tia, avó, duas crianças não compartilham laços de sangue, mas vivem juntos, dividindo refeições, a cama onde dormem e, sobretudo, frutos de pequenos furtos em mercados e lojas de roupa. Sobrevivem e, quando possível, se divertem, amam, gargalham, celebram.
Apesar de uma aparente conveniência – afinal, torna-se mais fácil sobreviver em grupo do que sozinho – as relações humanas entre os membros da família vão muito além disso. A comunicação se revela sempre íntima e direta, sobretudo quando eles precisam surrupiar roupas e frutas.
Desde a seqüência inicial até meados do filme somos chamados a testemunhar uma situação controversa que nos instala em uma desconfortável ambigüidade moral: a família vive de pequenos furtos, para os quais o menino Shota (Jyo kairi) é devidamente treinado, até fraudes e outros expedientes obscuros que vão progressivamente se acentuando. Por outro lado, os laços de fraternidade, companheirismo, apoio e afetos mútuos brilham na tela de modo cativante, apelando ao que há de mais profundamente humano em nossa capacidade de empatia e de compaixão.
Conflitos morais
Para nossa surpresa, o principal conflito diz respeito ao senso moral dos próprios personagens, quando um deles começa a questionar este modo de vida. Antes da transformação do drama ao suspense policial, a narrativa nos prepara com pequenos conflitos psicológicos. A ruína viria de dentro de cada um, e não do mundo exterior.
Koreeda sempre foi um diretor de histórias de famílias, com relatos apegados a sentimentos diversos, das dores às alegrias. Assunto que repete sua já conhecida discrição e naturalidade – ao tratar de cada personagem. É aí que o elenco brilha mais do que a direção singela do autor.
Assunto de Família desenvolve a motivação e desejo de seis personagens fascinantes, criando belos instantes de interação entre eles. É muito difícil atingir uma dinâmica tão fluida, simples e realista quanto esta.
Assunto de família mescla doçura e amargor na medida ideal – transitando facilmente entre a inocência do olhar infantil, com a sobriedade prejudicial de quando sabemos que nossos atos interferem diretamente com o bem estar do próximo.
Adoro os seus post, vc consegue falar do filme sem spoiler mas colhendo o significado mai profundo. Obrigada Elza ! Acompanho os seus conselhos e nunca me arrependo. Parabéns! Continue
A minha área atuação é a Filosofia que, em seus primórdios, entrelaça-se com a mitologia grega. Por isso, quero começar o meu texto contando a história do início da Guerra de Tróia.
Tudo começou no casamento de Peleu e Tétis. A deusa da discórdia, Éris, não havia sido convidada e, para causar confusão, jogou uma maçã de ouro no meio do salão onde estava escrito: para a mais bela.
Rapidamente as três deusas mais poderosas, Hera, Atena e Afrodite candidataram-se para receber a honraria. Zeus, o deus supremo do Olimpo, não quis tomar a decisão sozinho. Por isso, ele delegou a tarefa ao jovem Paris, filho do rei Príamo, um moço jovem e inexperiente.
Cada uma das deusas tentou persuadi-lo para ganhar a maçã de ouro. Hera, a esposa de Zeus, ofereceu a Paris a glória de ser o rei de toda a região. Hera ofereceu sabedoria, um dos seus principais poderes. Mas foi Afrodite, a deusa da beleza, quem ofereceu a ele o amor da mulher mais bonita do mundo.
Paris ficou confuso, porém escolheu Afrodite e o amor. Afrodite sabia que na terra a mulher mais bela era Helena, mulher de Menelau, o rei de Esparta. Paris e Helena fugiram juntos para Tróia e a guerra começou.
Afrodite não é só uma!
Estudando o tema com mais profundidade, descobri que a deusa Afrodite é mais de uma. A mais velha é Urânia (associada ao eterno e imortal) e a mais nova Pandêmia (ligada ao transitório e mortal). É por esta última que os homens amam mais o corpo que a alma.
Mas Afrodite Pandêmia – que se considerava uma poderosa divindade – um dia é vencida pelo tempo ou o deus Chronos. Ela perde o seu poder para o seu fiel, temido e invencível inimigo.
O filósofo Platão, no livro O Banquete, escreveu que “e é mau aquele amante popular, que ama o corpo mais que a alma; pois não é ele constante, por amar um objeto que também não é constante. Com efeito, ao mesmo tempo que cessa o viço do corpo, que era o que ele amava, “alça ele o seu vôo”, sem respeito a muitas palavras e promessas feitas. Ao contrário, o amante do caráter, que é bom, é constante por toda a vida, porque se fundiu com o que é constante”.
Afrodites Dominiques…
Postulando sobre a questão da velhice, especificamente no que tange às Afrodites na faixa dos 50+ (outrora Pandêmias, hoje, infelizmente, nem sempre Urânias), a abrangência que essa questão suscita é vasta. Há o viés filosófico, mitológico, biológico, psíquico (psicanalítico), econômico, cultural, estético, literário, antropológico, midiático, etc. Eis aqui, nosso breve recorte.
Mas, antes, uma piada:
Como não envelhecer? Esquece, pede outra coisa. Aceita que dói menos. Bem, na verdade, vai doer de qualquer forma.
Envelhecer é vislumbrar o crepúsculo, é ir despedindo-se da vida. Daí o medo, a paúra em testemunhar a decrepitude do corpo. Mas o nosso canto do cisne – único, pessoal, intransferível – pode ser belíssimo!
Estamos todas sujeitas à alteração de Chronos (o deus do Tempo), ou seja, todas nós, mortais, vamos perder nosso poder. Isso é a causa das nossas maiores angústias. Estarmos atentas a esse mecanismo nos liberta de nos sentirmos reféns e nos eleva a outro patamar, ao não menos poderoso terreno da serenidade e da suprema sabedoria: ao de Afrodite Urânia.
Inegavelmente, nós somos todos escravos da beleza. Tanto que, a nossa revelia, o belo atrai, catalisa, é magnético e é quem manda em nosso olhar. O belo, sobretudo a beleza da juventude, traz a promessa de felicidade” proustiana e o claro indício da capacidade natural (e sobrenatural!) de criar novas vidas. Portanto, é notório o poder oriundo da potencial fertilidade feminina.
Enquanto viventes, estamos atreladas ao nosso corpo, mortal, sujeito à corrupção de Chronos. E ele, o corpo, é também condição “sine qua non” para que nos manifestemos. Também é um dos argumentos a favor da aceitação (que pode ou não ser precedida por negação, raiva e barganha) dos efeitos da decrepitude neste corpo que ponderamos.
Pois bem! Considerando que este corpo é um veículo perecível – e que após meio século de vida os sinais da velhice vão se intensificando e se impondo – cabe a nós fazer o uso da razão e ponderar sobra a ressignificação que a manifestação deste corpo – no tempo, no espaço – requer, que pode vir a ter.
Sim, analógicas e digitais, além de vivenciarmos o que foi “cair a ficha nos orelhões das esquinas da vida”, temos Instagram, um armário abarrotado e algumas décadas extra!
Talvez ainda não estejamos sabendo lidar muito bem com isso. É mais comum uma jovem de 30 anos achar-se velha (coisas do 1º regresso de saturno) do que uma mulher de 50+ aceitar interditos à sua faixa etária.
Ageless é uma nova onda que, se não estiver sob o escrutínio do bom senso, revelará algo de forçosamente hipócrita ou fake.
Eu acredito que convém discernimento para separar o joio do trigo: ageless é a grande conquista para o emprego de todo esse gás que ainda dispomos e nos reinventar, desbravando novos mundos, na medida do possível. Mas é um bom paliativo!
Sim, já vivenciamos o ápice do vigor de nossa juventude, de nossos 20 ou 30 anos!Corremos, focamos, nos dedicamos e cumprimos inúmeras tarefas. Trabalhamos muito. Vivenciamos anseios, dúvidas, angústias, enfrentamos desafios e superamos provações.
Carregamos a árdua e imperativa tarefa de escolher – com mais ou menos liberdade – nosso destino em várias esferas da vida: do ponto de vista profissional ou afetivo. Provavelmente até mais de uma vez. Optamos por gerar ou não nossos filhos. Por cultivar ou não afetos, por priorizar ou não galgar elevadas posições.
Para nós, na faixa dos 50+, as duas últimas décadas talvez tenham sido as de maior empenho de nossa parte pelo Outro. Foi quando estivemos absortas, fazendo o que podíamos por nossa carreira e pela família, tanto a que originamos quanto àquela que nos originou.
Foram muitos os encontros e desencontros, mas todos edificando nosso caráter. Ah, os afetos alinhavados enquanto estávamos entretidas na criação de nossa prole. “Velhos tempos; belos dias! ”.
E fizemos! Meu Deus, como fizemos!
Mas eis que chega esse momento de reavaliação das principais ações, que nos ocupou e preocupou por décadas. Essa faixa – a dos 50+ – na qual nos flagramos prostradas diante de nós mesmas, inquirindo perplexas:
“Então, fiz ou agi conforme meu meio social, a época, a cultura e os valores vigentes pautavam. Mas…. É só isso? Agora é afogar no mar do vazio, da opacidade, da ausência de desejos e, pior, coroando todas essas angustiantes indagações, velar a decrepitude do corpo, resignar-me?”
Toda essa avalanche de questionamentos (elenquei acima alguns exemplos), acompanhados da sensação de inutilidade, é fruto do que realmente?
De não determos mais o poder de gerar? Mas já geramos. Ou optamos por não gerar, antes mesmo que o aplicativo do interdito biológico (menopausa) se instalasse.
Da expectativa de levarmos a cabo (e bem) a tarefa de educar, preparando a prole para a vida? Mas já os encaminhamos!
De não saber o que mais fazer? Ah, desejante homo-faber!
Bem, de praxe, equiparamos o Ser ao Fazer. “O que você faz?” Culturalmente, é com a resposta a esta pergunta que definimos a nós mesmas e aos demais.
E sequer havia necessidade de algo reconhecidamente brilhante ou extraordinário para uma resposta legitimamente satisfatória, que nos definisse. Bastava um simples “cuido da casa ou zelo pela família.” Há algo mais distinto e moralmente positivo do que responder assim, com toda honra e toda glória?
Eis que a guardiã do fogo dos antepassados, do lar, a deusa Héstia nos empodera, meninas!
Claro, muitas de nós conquistaram um papel de inegável destaque no seio social: Mãe de Família! Há título mais respeitoso?
Tão virtuoso que eclipsa até o de uma cientista que se dedique à cura do câncer, por exemplo. Para cada dez mães de família, uma cientista bastaria. O contrário, talvez não.
Porque, vamos combinar de falar a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade? Por conta do que o pai da Psicanálise, Sigmund Freud, denominou “desamparo estrutural”, a maternidade reivindica para si a maior glória do mundo. Sem [boas] mães não há sequer seres humanos. Ponto.
No entanto, contudo, todavia, à medida em que o Tempo passa (Oh, Chronos impiedoso!), a capacidade de gerar se extingue. Os filhos gerados crescem, saem de casa e vem a angústia da síndrome do “ninho vazio”.
Também pode haver a cama vazia, o bolso vazio e, talvez, ainda mais danoso: a cabeça vazia.
Amor. Desejo. Voltemos ao início, à deusa da beleza e do amor, Afrodite, a potestade com a qual iniciamos essa prosa.
Amar/desejar SEMPRE dá um sentido para a vida, um propósito para o viver.
Amar a si mesma. Amar aos filhos. Amar o que se faz. Quanto aos demais, compreender talvez já seja o suficiente.
Pois bem, compreender aos pais, aos irmãos, aos amigos, àqueles que – à revelia ou não – o acaso colocou em nosso caminho.
O filósofo grego pré-socrático Heráclito de Éfesos dizia: “O tempo é criança brincando, de criança o reinado.”. Entreter! Entretemo-nos e enriqueçamo-nos com as mundanidades que agradam aos nossos olhos, que edificam e enobrecem a nossa alma!
Temos Dante, Victor Hugo, Dostoievski, Shakespeare, Guimarães Rosa e Machado de Assis (temos as séries da Netflix!). Temos a beleza das flores e da decoração dos ambientes, os bons odores, as artes, as viagens, as amizades, a solidariedade, o curso de idioma, a dança de salão. Todas atividades tão prosaicas, cotidianas e, por isso mesmo, tão salutares.
Temos toda uma desfavorecida e, portanto, necessitada humanidade à nossa volta para olhar e fazer, homo faber!
Mas tal qual a birrenta imatura que se recusa a passar o bastão, ansiando por uma irrealizável imortalidade, não nos enxergamos em todas as dimensões. Colocamos em relevo as rugas, a flacidez e o prateado dos cabelos. Nós mesmas nos limitamos a isso, míopes à grandiosidade do Cosmos, à Afrodite Urânia em nós.
É tão feio assim, envelhecer? Contemple a enfermeira polonesa Irena Sendler (imagem acima) e veja o quão bela – no corpo e na alma! – uma mulher bondosa e sábia pode ser.
Como boa e prática chronida que sou (Capricórnio), francamente, rebelar-se contra o invencível Chronos é pura perda de (e para o) tempo. Mire lá em cima, no alto, a plateia agora é outra, capisce?
Desfrutar profunda e serenamente o crepúsculo que já se avizinha, usufruir destas preciosas últimas décadas de vida (Oh, dádiva!) com lucidez, gratidão e sobretudo com ALTIVEZ é, sim, uma belíssima saída possível.
Saída. Foi o que escrevi, pois sairemos. Que seja de forma digna e honrada, como convém aos sábios.
Luciene Felix Lamy é formada em Filosofia (PUC-SP) e leciona mitologia greco-romana na Galleria Borghese, em Roma.
Muito bonito o texto, limpo, engraçado, irônico, e claro, verdadeiro! Tenho 60, fui comemorar numa aventura de 30 dias pelas areias do Egito! Sonho antigo, por anos adiado por tudo: família, trabalho, falta de oportunidade, de companhia! Por fim, me imbuí de um pouco de cada parágrafo do seu texto, e lá fui eu realizar meus 60 bem vividos! Gostei muito, vou guardar, vou reler! Merci!
Escrito e dirigido por André Téchiné, o filme Adeus à Noite, drama francês, exibido no Festival de Berlim 2019 se destaca pelo olhar mais profundo sobre assuntos atuais. O filme é contemporâneo e aborda algo muito presente na sociedade européia.
Em Adeus à Noite, Catherine Deneuve interpreta Muriel, uma senhora que tem uma vida tranqüila em sua propriedade rural, onde cria cavalos e cuida de sua belíssima plantação de cerejeira em escala industrial.
Quando seu neto Alex (Klein), chega para passar uma temporada com ela, antes que se mude para o Canadá junto da namorada Lila (Oulaya Amamra), sua rotina é transformada. Quando esse reencontro finalmente acontece depois de muitos anos sem se verem, a relação entre eles parece estremecer com a descoberta de acontecimentos indesejáveis.
O neto de Muriel possui segredos com sua namorada, que o acompanhará nessa viagem. As motivações da partida envolvem religião, mudança de comportamento e algo muito mais grave.
O fato de Muriel morar no campo não é à toa. Alex está prestes a viajar, mas não para o local que sua família pensa. É a partir disso que o drama se desenvolve.
Religião, segredos e família
No enredo em si nada é previsível. Dividido entre dias da primavera, o longa usa da relação estremecida da avó e neto para emergir em um assunto que tem sido muito abordado em filmes franceses, que é a questão da interação entre França como um todo e a religião islâmica.
O filme tem como uma de suas principais fontes o livro Les Français Jihadistes, escrito com base em entrevistas com jovens que aderiram à causa islâmica e pode oferecer ao telespectador a possibilidade de tentar entender o que se passa na cabeça da juventude que decide largar tudo pelo sacrifício e pela promessa de uma vida com sentido. Adeus à Noite não busca respostas fáceis, mas busca respostas.
Trata-se de um tema forte, da maior atualidade e a escolha da avó – deixar ou não o neto partir coloca em cheque seu humanismo.
Adeus à Noite nos faz refletir sobre a solidão, sobre as buscas por um propósito de vida, a imaturidade e a inocência. Com ele, a forma como se enxerga as relações pessoais e doenças como a depressão pode ser brutalmente revistas e mudadas.
É belíssimo o trabalho de enquadramento de câmera para captar paisagens deslumbrantes que engrandecem as cenas e dão ainda mais peso à atuação dos atores. Deneuve cada vez mais intensa e sutil consegue transmitir diversas sensações que vão desde surpresa, desapontamento e preocupação, uma atriz de grande expressividade.
Klein não fica atrás, mas sua bravura atuante não aconteceria se não houvesse Oulaya, sua namorada. Juntos e ao lado de Stéphane Bak, os atores são responsáveis por criar um enredo paralelo cheio de ação, suspense e drama.
Você sabia que há algo ainda mais grave que a fake news? Antes de eu te dar uma resposta, assista este video. Só encontrei a versão com legendas em inglês, mas coloquei parte da tradução abaixo.
Olá, hoje eu vou falar com vocês sobre uma nova tecnologia que está afetando pessoas famosas. Lembra quando o Obama chamou o Trump de imbecil?
Obama: Completo Imbecil.
Ou a Kim Kardashian usou uma linguagem rude?
Kim: Porque estou sempre meio pelada.
Ou quando o Arnold Schwarzenegger personificou ele mesmo?
Arnold: Saia dai. Tem uma bomba aí dentro.
Fake! Fake! Fake!
As imagens iniciais do video são Deep Fake. Inclusive a apresentadora, que utilizou o rosto da cantora Adele, para mostrar como é fácil adulterar a imagem de uma pessoa em um video.
Deep Fake são arquivos de áudio ou video que simulam a voz ou a imagem humana, mas que foram criados a partir da inteligência artificial. Parecem verdade e são compartilhados como uma versão original. Mas foram totalmente criados com os mais diferentes objetivos. São falsos!
Experts conseguem identificar os indícios de que há algo errado. Mas para nós – leigos – é quase impossível de perceber. Por enquanto, o acesso a tecnologia que produz o Deep Fake está restrita a poucas pessoas. Por enquanto…. Você consegue enxergar o risco potencial?
Há um modo de barrar (pelo menos um pouco) o uso errado e nocivo destas novas tecnologias. Está nas nossas mãos, mas infelizmente não estamos conseguindo lidar com uma ameaça um pouco mais simples que essa. Eu me refiro as Fake News.
Notícia falsa sempre existiu. No cinquentenário do homem na lua fiz um post (aqui) sobre fake news envolvendo o espaço. Dá para ir mais longe ainda, na antiguidade. O problema tomou outra dimensão com a ascensão da internet e das redes sociais. Compartilhar uma informação falsa é muito fácil. Criá-la, então, é mais simples ainda.
Você não tem culpa (mas tem!)
É quase uma praga mundial. Nós ajudamos a espalhar, mas muitas vezes fazemos isso com boas intenções. Acreditamos tanto em alguma informação (ou esperamos que seja verdadeira) que compartilhamos a notícia com um propósito “nobre”.
– Estou fazendo a minha parte!, muitos dizem.
Aí está o cerne do problema da Fake News. Ela sempre encontra quem irá ressoa-la para grupos com características parecidas. Esses grupos ganharam até um nome: são as bolhas. Agora, a notícia vai ser espalhada em uma velocidade espantosa. É praticamente impossível desmentir.
Não quero focar na clara intenção de políticos, organizações ou empresas em espalhar notícias falsas por um objetivo específico. Também não vou acusar as redes sociais (ou o whatsapp) por facilitarem na divulgação das fake news. O mundo sempre funcionou a base de estratagemas e fofoca.
Quero destacar como nós – Dominiques – podemos contribuir para não piorar ainda mais este problema chamado Fake News. Independente se achamos uma notícia positiva ou negativa, se concordamos ou discordamos dela, devemos levar a dúvida se ela pode ser uma informação falsa.
Claro que todo mundo está suscetível a cair numa fake news. Provavelmente já caímos em muitas delas e até hoje não nos demos conta disso! Mas podemos evitar, tomando algumas atividades bem simples:
# 1 – Procure visitar o site com a origem da informação. Há vários jornais que foram criados exclusivamente para disseminar informações falsas. Claro que jornais conhecidos podem divulgar informação errada. Mas há algo de errado se você visita um site e não sabe quem é o responsável por ele. Também levanta suspeitas se as notícias divulgadas são sensacionalistas. Há um mercado por trás destes acessos todos: Sites de notícias falsas faturam mais de 200 milhões em publicidade
# 2 – Vale a pena fazer uma busca pelo nome do jornalista que escreveu a notícia, caso você não o conheça. Dê uma olhada em redes sociais dele, lá ficará claro qual é tendência e no que ele acredita. Algum tempo atrás, um jornal foi acusado de criar colunistas falsos. Era até fácil de constatar isso, dois deles não existiam nas redes sociais antes de 2018.
# 3 – Faça uma pesquisa nos sites das empresas de checagem de fatos. Elas são monitoradas por instituições internacionais e utilizam métodos de verificação e análise idôneos. Alguns deles são:
Fato ou Fake é uma iniciativa do Grupo Globo para verificar conteúdo suspeito nas notícias mais compartilhadas da internet. A apuração é feita pela equipe da CBN, Época, Extra, G1, TV Globo, GloboNews, Jornal O Globo e Valor Econômico.
Comprova é um projeto de checagem de fatos que conta com o trabalho em equipe de jornalistas de 24 diferentes veículos para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas pública.
Aos Fatos é uma agência especializada na checagem de fatos também membro da The International Fact-Checking Network (IFCN) e contratada pelo Facebook.
Agência Lupa, ligada ao jornal Folha de S. Paulo, confere as informações divulgadas no jornal e sinaliza com os selos: “verdadeiro”, “verdadeiro, mas”, “ainda é cedo para dizer”, “exagerado”, “contraditório”, “subestimado”, “insustentável”, “falso” e “de olho”.
E-Farsas é o mais antigo serviço de verificação de notícias falsas, lançado em 2001. Segundo o portal, a iniciativa surgiu “com a intenção de usar a própria internet para desmistificar as histórias que nela circulam”.
# 4 – A qualidade do texto também pode indicar que a notícia é falsa. Alguns erros ortográficos, o uso de verbos auxiliares e advérbios são alguns deles. Adjetivos muito fortes tendem a deixar a notícia parcial, o que não é comum em notícias jornalísticas. O uso excessivo desses atributos da linguagem pode denunciar a informação.
Fake news é um problema bem grave e há um futuro pela frente que parecer ser ainda mais danoso. Do nosso lado, podemos fazer pouco. Mas isso já será muito para impedir a disseminação das notícias falsas.
Hoje, fazendo umas comprinhas, perdi meu carrinho no super mercado. Tudo que precisaria para nosso almoço de domingo já estava nele. Nada demais refazer a compra. Mas fiquei intrigada, onde estaria meu bólido? Por que alguém o levaria?
2 hipóteses:
Alguém o pegou por engano e decerto o devolveria em minutos.
Alguém o levou na má fé uma vez que minha blusa estava dentro. Mas era só a blusa ( que já não vale muita coisa de tão velhinha) pois o celular e a carteira estavam comigo.
Cheguei junto aos mocinhos do super e com muito bom humor falei:
-Meus anjos, acho que temos um problema. Meu carrinho sumiu.
-Onde foi que a senhora o viu pela última vez?
-Estava perto dos tomates – disse eu, aliás com um saco de tomates caquis na mão.
-A senhora se lembra do que havia no carrinho?
E comecei a me sentir prestando um depoimento, em pleno corredor dos refrigerantes. Mas o mocinho estava genuinamente preocupado, mesmo eu tendo falado que meus valores estavam comigo.
Ele quis refazer o caminho do crime, ops, o caminho por onde minhas compras possivelmente estiveram. Fomos juntos. Passamos pelos tomates, pelas cebolas, batatas, viramos num outro corredor passando pelos alfaces, espinafres e repolhos até chegar no corredor do manjericão, folhas lavadas, sálvia e cebolinha.
Puff..Meu carrinho estava ali.
Corri para ele para ver se todas as minhas comprinhas estavam no lugar que eu havia deixado. E sim, estavam.
O mocinho exultante proferiu:
-Graças a Deus (sério, ele falou isso mesmo).
– Será que alguém levou achando que tinha um celular embrulhado na blusa e quando viu ser apenas uma blusa devolveu?
-Ahhh, muito provavelmente – disse ele generosamente.
Porque na real, há uma terceira hipótese além das duas já citadas. Existe a possibilidade do meu precioso carrinho nunca ter saído daquele lugar, e o mocinho sabia disso. E eu também.
Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.
Adoro os seus post, vc consegue falar do filme sem spoiler mas colhendo o significado mai profundo. Obrigada Elza ! Acompanho os seus conselhos e nunca me arrependo. Parabéns! Continue