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Eliane Elias perfeita ao piano

Esta semana fui  assistir ao show da Eliane Elias aqui em Portugal. E se teve algo que me impressionou além de seu piano foi sua segurança e autoestima.

E por coincidência li ontem o post da nossa Dominique Eliane com a análise do texto que Luiz Fernando Veríssimo escreveu sobre egos envolvendo Picasso e seu quitandeiro. Talvez por conta da reflexão que aquela história me causou, prestei tanta atenção no comportamento da música. Se não leu o post ainda, leia agora (aqui) porque vou dar spoiler e o texto vale a pena.

Pois então, lá vemos que além de toda a importância já preconizada da tão famosa  autoestima, o que fica é que só nos dão valor quando nós mesmas nos valorizamos e principalmente nos gostamos.

Voltando ao tema principal de hoje que é Eliane Elias. Se você não tem ideia de quem seja essa jazzista brasileira, não se sinta mal ou desinformada. Apesar de brasileira, Eliane Elias fez toda sua carreira no exterior.

Pouco conhecida em sua terra natal, sabe-se lá porque, ela é um fenômeno da música instrumental e cantada no hemisfério norte.

O show foi no Centro Cultural de Belém. Ahhh o CCB merece que eu fale só dele em algum outro texto, pois é um complexo cultural que amo.

Comprei com muita antecedência pois sou chata. Se é para ir a show, tenho que sentar pertinho do artista. Vê-lo muito de perto bem como quase conseguir sentir seu perfume, porque senão vejo por dvd ou no youtube.

E colega, já fui a muito estádio. Assim sendo, nessa altura do campeonato quero um pouquinho de conforto.

Bem, voltando a autoestima e ao show em si.

Pontualmente, sim, pontualmente às 21h Eliane Elias entra no palco acompanhada de um contrabaixo e uma bateria. Usa um vestido justo, ligeiramente acima do joelho que brilha um pouco porque o palco pede brilho, né? Salto altíssimo e uma cabeleira loira digna das jovens e famosas blogueiras. Sim, cabelos longos, muito longos. Por que falo isso tudo? Porque Eliane Elias é uma Dominique nascida em 1960. E sem medo de ser feliz, ousa usar um vestido bem justo e relativamente curto em suas exuberantes curvas com suas madeixas que passam e muito da altura do ombro.

Eliane Elias Em Belém

Aí ela senta em seu banquinho a frente do piano e toca as primeiras notas. Pronto. Entendi tudo.

Fogo!! Ela toca com tanta facilidade que parece estar a  brincar. Chacoalha-se toda acompanhando, ou melhor, dançando enquanto toca.

Sabe o que é isso? Intimidade. E essa intimidade tão natural impressiona e seduz quem assiste.

Adoro quando o artista conversa com a platéia pois desse modo me parece que gera-se uma certa cumplicidade, sei lá. E a cada música Eliane conta uma histórinha saborosa ora sobre composição ora sobre os personagens envolvidos.

Quando Lili canta (permita-me assim chamá-la) ouvimos uma voz aveludada que talvez já tenhamos ouvido até melhores.

Não sei se ela percebe que cantar não é seu forte, mas age como se fosse Maria Callas.

Sem a menor cerimônia desfila os Grammys que ganhou. Entretanto faz questão de contar que o primeiro veio depois no  seu 25o disco e após 7 infrutíferas indicações.

Contou com muito orgulho, que aos 17 anos acompanhou em turnê Tom, Vinicius e toquinho.  E com muita naturalidade, como se fosse merecedora e naturalmente por consequência de seu talento conversar com estes mestres madrugada afora. Aiii que inveja!!! Bem, num desses papos, Tom confidenciou-lhe que o compositor que mais admirava no mundo era Dorival Cayme. Que não havia outro. Mas que por um capricho do próprio ídolo, compôs apenas 100 músicas. APENAS!!

Contou isso de maneira coquete aproveitando para emendar numa música de Caymmi, Morena Rosa. Neste momento ela se levanta para cantar em pé longe do piano, desfilando pelo palco.

Vi ali toda a segurança e autoestima daquela Dominique. Com sua mania de passar a mão na cabeleira, sambando discretamente e esbanja charme aproximando-se dos dois outros músicos.

E amigas, o mais giro é ver que Eliane Elias com aqueles quilinhos a mais próprios desta fase de vida das Dominiques, desfila com a certeza de que está muito gostosa. E olha..Tendo a concordar!!

Faz tanto charme para o menino baterista enquanto canta, que achei que era uma paquera. Vira-se para voltar para o piano, passando pelo grisalho músico do contra-baixo. Vê-se ali uma troca de olhares intensa e cúmplice. Óó raiossss! Como pode ser ela tão segura??

Assim que saí do teatro fui ler sua biografia. Descobri para minha surpresa, que ela é casada com um dos músicos que a acompanhava no palco aquela noite. E não é com o miúdo da bateria mas sim com o charmoso homem que sorriu para ela durante todo o espetáculo.

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Barbara Godinho

Sou uma Portuguesa meio tropicalizada. Moro em Lisboa, já fui curadora de museu e exposições. Hoje trabalho com turismo. Apaixonei-me pelo projeto Dominique e cá estou a colaborar.

1 Comentário
  1. CARA BARBARA GODINHO, PARABÉNS PELAS ACERTADAS OBSERVAÇÕESM EU QUE JÁ FUI MÚSICO QUANDO JOVEM, JUSTAMENTE NA ÉPOCA DA BOSSA NOVA (SOU
    CARIOCA – RIO DE JANEIRO) SÓ VIM SABER DA ELIANE ELIAS HÁ UNS DOIS ANOS). FIQUEI IMPRESSIONADO COM A DESENVOLTURA DA MOÇA, E A QUALIDADE MUSICAL DE SEUS GRUPOS, EMBORA SE SAIA BEM CANTANDO, NÃO É VERDADEIRAMENTE SEU FORTE. MAS, ELA SE COMPLETA BEM COM AS DEMAIS QUAIDADES, TUDO COMO A SRA. HOJE NÃO DEIXO DE APRECIAR QUASE DIARIAMENTE ALGUMAS DE SUAS OBRAS NO YOU TUBE.

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O Mestre dos Gênios – os tormentos da alma do artista

Muitas, inúmeras vezes o cinema prestou homenagem à literatura, a arte das palavras. A co-produção EUA-Inglaterra de 2016, O Mestre dos Gênios (Genius) é uma entre várias.

Baseado na fascinante biografia escrita por A. Scott Berg, “O Mestre dos Gênios” conta a história do relacionamento entre Max Perkins (Colin Firth) e Thomas Wolf (Jude Law), desde o momento em que se conhecem na época da Grande Recessão de 1929.

Max já era um editor renomado e Wolfe um ambicioso aspirante a escritor. Por conta de sua personalidade exagerada e sua vaidade exacerbada, Wolfe tinha dificuldades em lidar com quase todo mundo, incluindo sua esposa Aline Bernstein (Nicole Kidman), outros colegas como F. Scott Fitzgerald e até mesmo com a esposa de Max.

Um olhar sobre a vida do escritor

O roteiro faz questão de enfatizar os traços negativos de Wolfe, quase sempre enfatizando o contraste com o jeito pacato de Max, única pessoa que consegue ter algum controle sobre o escritor. Alguns dos melhores momentos do longa ocorrem quando os dois estão discutindo a formatação e conteúdo dos livros, o que cortar e o que manter.

O diretor se atém à construção de um romance de época, ainda que a relação dos protagonistas esteja mais próxima daquela entre pai e filho: Wolfe tem em Perkins um substituto para uma figura paterna perdida, enquanto o editor, pai de cinco meninas, enxerga em seu protegido o filho homem que nunca teve.

A interação da dupla não deixa de ter seu apelo, gerando momentos que traduzem um sentimento genuíno de amizade e admiração – como quando contemplam a cidade de New York do alto de um edifício, celebrando o sucesso da parceria.  

A fama de Perkins veio de sua persistência em transformar escritores talentosos como Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway e Thomas Wolf em romancistas icônicos.

O que “O Mestre dos Gênios” tem de brilho mesmo é o reconhecimento que dá a Max Perkins e a quem tem como trabalho a generosa tarefa de tornar as obras passíveis de comunicação com o público.

O diretor Michael Grandage em seu primeiro trabalho valoriza, sobretudo o desempenho dos atores e pode proporcionar a Colin Firth e a Jude Law indicações ao Oscar. 

Como o filme se passa em um dos momentos mais problemáticos da economia americana, a fotografia, figurino e direção de arte estão de acordo com a pobreza e a total falta de esperança presentes no contexto.

A trilha sonora acrescenta uma certa profundidade dos protagonistas, pois retrata seu estado interior.

Um filme de narrativa sólida, firme, madura, sem invencionices, e um elenco de grandes atores em admiráveis atuações, todos sem exceção.

Para qualquer pessoa que goste de bom cinema é um belo filme. Para quem tem ligação com a literatura, é um filme obrigatório, uma pérola especial.

Eu gostei muito!!!

Aqui fica a dica!

Filmes com o mesmo elenco

Mama Mia

Big Little Lies

Dominique

Nasceu em 1964. Ela tem 55 anos, mas em alguns posts terá 50, 56, 48, 45. Sabe porque? Por que Dominique representa toda uma geração de mulheres. Ela existe para dar vida e voz às experiências, alegrias, dores, e desejos de quem até pouco tempo atrás era invisível. Mas NÓS estamos aqui e temos muito o que compartilhar. Acompanhe!

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8 itens inovadores de cozinha sem os quais já não sei viver

É claro que podemos passar bem sem algumas bugigangas. Eu, por exemplo, passei muito tempo vivendo maravilhosamente sem alguns itens de cozinha.  Mais por falta de conhecê-los do que por desmerecer sua utilidade. E confesso que depois de experimentar já não posso mais viver sem eles.

Hoje existem coisas que a gente nem sonhava no passado e eu simplesmente adoro ter acesso a elas. Com isso também descobri opções de presentes que são incríveis! E quem não gosta de presentear quem se ama com mimos inusitados?

Não estou falando de panelas. Embora eu tenha investido em algumas que são incríveis. Isso porque hoje existe design moderno, cores e materiais extremamente avançados, que não demandam nem um fio de óleo. E fazem toda diferença no sabor do alimento.

Mas não foi apenas o ato de cozinhar que deixou de ser só uma necessidade para ser realizado com prazer. Quando se organiza uma casa, encontrar objetos bonitos e inovadores faz os olhos de qualquer Dominique brilharem.

Seja para combinar todos os itens, cozinhar com maior facilidade, inventar receitas novas ou decorar o ambiente, ter as coisas certas faz toda a diferença.

Quer ver?  Vou te mostrar 8 objetivos que não vão sair nunca mais da minha casa.

1.Growleer

Que tal tomar seu chope favorito no conforto do seu sofá, no churrasco do fim de semana, na casa de um amigo, na praia ou em qualquer lugar que você esteja? É pra isso que o Growleer foi inventado.

Pode até parecer inútil, mas é uma experiência e tanto pra quem aprecia uma boa degustação. O recipiente pode ser de vidro, de cerâmica ou de alumínio. Ele possui tampa de rosca ou pressão com presilha. Esse modelo de tampa evita a perda de gás carbônico, conservando assim, por alguns dias, todo o frescor e sabor da bebida com a mesma qualidade.

2.Colher com balança digital de precisão

Porque sim ué! Eu acho que faz toda a diferença medir precisamente os ingredientes. Eu, por exemplo, vivo errando a mão no sal. E detesto comida salgada demais, que não nos deixa apreciar o sabor do alimento. Além de economizar tempo.

3.Termocirculador sous-vide

Se você é um amante da gastronomia, já ouviu pelo menos falar do sous-vide ou sob vácuo, em português. Mas para a maioria das pessoas, essa técnica de cozinhar alimentos ainda é completamente estranha.

Trata-se de um método em que o alimento é cozido em embalagens plásticas e herméticas, seladas a vácuo e imersas em uma vasilha de água com controle preciso tanto de temperatura (mais baixa que a tradicional), como de tempo.

Para tal controle, é necessário um aparelho chamado termocirculador como o da foto abaixo:

4.Mini fogão de parede

Eu sei. Você vai achar desnecessário, mas é igual ao forno elétrico. Não ocupa espaço e é muito prático para quem como eu detesta micro-ondas. Também é ideal para as Dominiques que moram sozinha e não tem o hábito de cozinhar com frequência. Eu presentei uma amiga minha que se mudou para um apartamento pequeno em Portugal e ela amou!

5.Concha de dinossauro

Ain!!! Mas por que não posso viver sem uma concha de dinossauro? Porque além de linda e criativa, ela é super prática também. E transforma a cozinha num dos ambientes  mais animados do lar, em que se quer sempre estar.

6.Colher que mexe sozinha

Já pensou que sonho? Cozinhar e não precisar ficar mexendo aquela receita sem parar para não desandar. É isso mesmo! Essa colher não requer nenhum esforço. É só ligar e deixá-la misturando na panela enquanto você faz o que quiser. Definitivamente, não vivo sem.

7.Resfriador de bebida instantâneo

É chato quando convidamos alguém para beber um vinho e a bebida não está em temperatura ideal, não é? Seus problemas acabaram! Veja esse bico feito com o mesmo aço inoxidável dos tanques de conservação.

Refresca a sua bebida em até 15° C deixando muito mais agradável para ser saboreada, dispensando a utilização de baldes de gelo e uso de refrigerador.

8.Escorredor de massa ajustável

Eu amo macarrão, mas detesto lavar o escorredor. Me parece algo tão inútil sujar muita louça para uma comidinha que deveria ser prática… Então olha só o que eu achei? Esse utensílio é regulável e serve para qualquer panela. Não é bárbaro?

E, então! Confessa se não ficou com desejo de alguns desses itens?

Leia também Cozinha e Copa – Os lugares mais badalados e gostosos da casa.

4 Comentários

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Amor a Toda Prova: os sentimentos masculinos diante do amor

Capaz de agradar a ambos os sexos, Amor a Toda Prova, essa diferente comédia se foca mesmo é em mostrar os sentimentos masculinos diante do amor. Se para os homens isso pode parecer constrangedor ou até embaraçoso, para as mulheres se mostra uma boa oportunidade para conhecer o lado sensível e nem sempre externados por seus companheiros. Promete uma reavaliada nos conceitos tradicionais de um relacionamento amoroso.

Na trama, a vida do pacato Cal (Steve Carell) muda completamente quando sua esposa (Julianne Moore) conta que teve um caso com um colega de trabalho (Kevin Bacon) e quer o divórcio. Sem rumo Cal conhece Jacob (Ryan Gosling), um especialista em conquistas que resolve ajudá-lo a sobreviver no competitivo mundo dos solteiros, ensinando suas técnicas para que ele consiga assim esquecer sua mulher.

Como é recorrente nas comédias românticas aquelas personagens femininas fortes e determinadas a se apaixonar, no caso do filme em questão há uma pequena inversão de prioridade – quem sofre luta e anseia pelo amor são eles.

Os homens e o relacionamento

Com uma esperteza ágil e divertida, os cineastas de Amor a Toda Prova colocam seus personagens masculinos no cargo de protagonistas e os submetem às mesmas neuras das mulheres. Agora é a vez de eles superarem suas dificuldades de relacionamento e sair por aí na difícil luta por um amor real.

Mas o que prende o espectador do início ao fim será mesmo o desenlace amoroso que se dá paralelamente aos protagonistas. Ninguém se pergunta se Carell e Moore ficarão ou não juntos. O que todos querem saber é como se dará a história entre Jacob (Ryan Gosling) e Hannah (Emma Stone).

Gosling está simplesmente perfeito com domínio total da situação, mostrando-se solto e encantador. Além de agradar o público feminino, exibe bastante carisma ao encarnar seu Jacob. A ótima química entre Carell – sempre convincente e Gosling é realmente o destaque. Quanto ao elenco feminino, Moore, adequada e correta, já Emma Stone comprova ser capaz de vôos bem mais altos.

A acertada direção da dupla de diretores sabe como utilizar os mais simples recursos cinematográficos de maneira correta e sem exagero.

A trilha sonora inserida no contexto oitentista, com direito a The Cure e Spandau Ballet, por exemplo, só melhora o acabamento além de embalar a galera.

Equilibrando-se bem entre comédia, o drama e o romance, Crasy, Stupid, Love ainda que não seja original é despretensioso e divertido. Um produto de qualidade e que merece ser visto. Um entretenimento rápido e risadas que duram até a última pipoca mastigada.

Divirta-se!!!

Mais dicas de filme:

Gloria Bell

A Favorita

1 Comentário
  1. Eu AMO esse filme! A cena do Ryan Gosling “imitando” a dança de “Dirty Dancing” é ótima!

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Sobre autoestima, ego, pretensão e bom humor.

Autoestima é sempre algo a ser perseguido. Principalmente depois que completamos 5 décadas, ela é essencial. Algumas pessoas a têm em bom patamar pois cultivaram durante uma vida. Outras nunca a tiveram e provavelmente nunca a acharão por mais que procurem.

Agora nós Dominiques, temos um trabalho extra pois além de recuperar nossa própria autoestima tão machucada, temos que ensinar o mundo a nos respeitar. Já falei um bocado sobre isso – veja aqui.

Assim sendo, deixa eu te contar uma historinha* que li há tempos sobre uma pessoa com autoestima colossal – Pablo Picasso.

Dizem que o Picasso nunca tinha dinheiro no bolso.

Quando ele terminava de jantar num restaurante, o dono aproximava-se da mesa com a nota, esperançoso, e perguntava se ele ia pagar ou assinar.

Picasso fazia uma mímica de procurar dinheiro nos bolsos, mas sempre acabava assinando a nota. O dono do restaurante mandava emoldurar e depois vendia como um Picasso autêntico, por muito mais, é claro, do que o valor do jantar. Entretanto se a comida estivesse especialmente boa ou se o seu grupo fosse grande, Picasso não assinava apenas a nota. Fazia um rápido desenho na toalha, que, depois, mesmo com as manchas de comida, passava a valer uma pequena fortuna. Ou então fazia uma rápida escultura com miolo de pão e palitos.

Quando precisava mandar buscar alguma coisa no armazém, Picasso rabiscava uma pomba ou uma odalisca num papel e dava para a empregada pagar a conta.

Certa vez, a empregada saiu para fazer o rancho levando um bico-de-pena razoavelmente bem acabado – a conta seria grande – e voltou com as compras e mais um horrível desenho feito em papel de embrulho e assinado embaixo pelo dono do armazém, Monsieur Pinot.

– O que é isso? – quis saber Picasso, segurando o papel com a ponta dos dedos.

É o troco – explicou a empregada.

Desse dia em diante, dizem, Picasso olhava com respeito, cada vez que passava pelo armazém de Monsieur Pinot. Tinha encontrado um ego maior que o seu.”

*Foi escrita por Luis Fernando Veríssimo e está no livro Comédia da Vida Pública – 1995, ed. L&PM

Adooooooro essa história, quer ela seja verdade, quer ela seja pura ficção.

Agora analisemos: Monsieur Pinot realmente achava que poderia desenhar algo do valor das obras de Picasso? Ou que uma obra dele não pagasse uma compra no mercadinho?

Claro que o ego de Monsieur Pinot e sua autocrítica sabiam que ele não era artista e passava longe de qualquer tipo de talento pictórico.

O que acontece é que o quitandeiro tinha autoestima suficiente para brincar com um mestre, considerado quase uma lenda viva.

E não. Isso não é pouca coisa. Poderia ser considerado arrogância, apesar de ter sido arrogante justamente quem subjugou a moeda de troca corrente, tomando como certo e aceitável o valor “superior”de um pedaço de papel.

Veja bem, o ato de M. Pinot nada teve de arrogante ou sem noção. Muito menos foi ele pretensioso embora até possa parecer. Ele usou uma das armas mais poderosas do universo que é inegavelmente o bom humor.

Acredito piamente que o bom humor é uma das maiores qualidades de uma pessoa da mesma forma que o bom senso.

A coragem de usar-se de humor com um homem como Picasso, veio sem dúvida alguma de uma autoestima muito bem lustrada e em dia.

E vou além. Quando você acha que Pablo Picasso prestaria atenção a Monsieur Pinot, da quitanda, tornando-se até eventualmente um amigo?

Veríssimo diz em seu texto que Picasso achou finalmente alguém com o ego maior que o seu. Mas sou obrigada a discordar. Porque não foi o tamanho do ego daquele homem simples da Cote D’Azure que cativou o ilustre pintor mas sim a sua autoestima .

Quem gosta de si próprio, sente-se merecedor do outro, seja ele quem for. No caso Pablo Picasso.

Entendeu?

autoestima Picasso

Leia Também :

Eliane Elias – Muita autoestima na vida e ao piano

Ao procurar um novo amor é preciso paquerar-se antes.

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

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