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Barreiras: um conflito feminino entre três gerações

Dominique - Barreiras
Filme representante de Luxemburgo, na corrida do Oscar® 2018, Barreiras, traz Isabelle Huppert e sua filha na vida real como mãe e filha com uma bagagem de mágoas e uma criança motivo de competição.

Depois de dez anos vivendo na Suíça, Catherine (Lolita Chammah) retorna à Luxemburgo. Durante esse período, sua mãe Elisabeth (Isabelle Huppert) foi responsável pela criação de sua filha Alba (Themis Pauwels). De volta para casa, Catherine entende que os papéis de cada uma dentro da família já foram desenhados, mas sente que precisa lutar para ser mãe de sua filha.

Em uma viagem para a casa de veraneio da família, Catherine e Alba vão deixar à mostra suas feridas, entre momentos de carinho e distanciamento em que, às vezes, parecem ser duas irmãs muito diferentes.

Barreiras ou Barrage, título original, é um filme sobre o universo feminino, a maternidade e todos seus conflitos inerentes. São três gerações em conflito. São três tipos de abandono que se misturam: Catherine, Alba e Elisabeth.

Laura Shroeder alinha mágoas e anseios. Também sempre pertinente – a relação mãe e filha – que ganha em tempos contemporâneos o ingrediente de ausência paterna por livre escolha – é também abordado com sensibilidade.

Em seu segundo longa, Laura Shroeder, assina a direção e também o roteiro em parceria com a romancista francesa Marie Nimier. A direção de fotografia e música é realizada por mulheres que se somam em uma trama densa.

Dominique - Barreiras

Está claro em Barreiras o suporte de músicas que suavizam o desastrado encontro de Catherine com Alba. Catherine é frágil e mal resolvida, alguém que não internalizou a maternidade e troca os pés pelas mãos o tempo todo. Os versos cantados por ela expressam o que ela precisa dizer. Os vazios são também preenchidos com belas imagens de floresta e do lago da barragem. Um corredor para permitir a passagem dos peixes é metáfora para brechas nas barreiras entre Catherine e Alba.

A música “Into My Armns” de Nike Cave que fala sobre a cura espiritual, fecha brilhantemente um filme que se predispõe a observar vínculos que continuarão em crise.

Há no filme uma lentidão que pode irritar os mais jovens. A situação e forma como foi tratada pela diretora Laura Shroeder agradarão as pessoas mais maduras.

Também a excelente atuação das três atrizes faz do intenso e denso Barreiras um bom filme.

Repare na atuação da menina Thémis. Ela está simplesmente ótima, sem falar, é claro, da esplêndida Isabelle Hupert e da filha Lolita que dá conta do recado.

Barreiras, um filme que vale a pena conferir! Assista o trailer:

[fve]https://youtu.be/1q1C2e1p79M[/fve]

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O mistério do Assassinato no Expresso do Oriente

Dominique - Assassinato
Baseado no livro, (clássico do suspense), o mais famoso de Agatha Christie, Assassinato no Expresso do Oriente é dirigido e protagonizado por Kenneth Branagh que dá vida ao famoso detetive Hercule Poirot.

Após a Bíblia e Shakespeare, Agatha Christie segue sendo a autora mais editada do mundo. Agatha morreu em 1976, aclamada como a dama do mistério e ainda é muito bom lê-la. Agatha não foi uma das maiores romancistas de sua geração, seu intuito era outro: o entretenimento puro e simples, de apelo popular.

Kenneth Branagh seguiu no longa com uma das características mais marcantes de seus projetos que é ser fiel à obra original. Branagh inovou com uma eficiente linguagem cinematográfica.

A versão literária se passa quase que inteiramente dentro de um trem. A rigor, um assassinato acontece no percurso da viagem do Expresso do Oriente. Impossibilitados de seguir o caminho por conta de uma avalanche que bloqueia os trilhos, cabe ao detetive Poirot interrogar os doze passageiros para tentar chegar a um veredicto sobre o responsável pelo crime.

Com o desenrolar da investigação, novos detalhes aparecem e revelam que há uma história maior por trás do que ocorreu naquele trem. Tudo é calculado para que o público se sinta dentro da história. Tudo é mostrado com um belo visual de cenas externas,  design de produção caprichado e ângulos de câmera muito bem planejados por Branagh.

A trilha sonora de Patrick Doyle é bonita e certeira ao aumentar o suspense sobre o que realmente aconteceu na cabine do trem. Exatamente por ser tão presente, a ausência da trilha também é marcante: o silêncio pontua os momentos de reflexão de Poirot sobre o crime.

Dominique - Assassinato

O elenco estelar conta com nomes de peso como Judi Dench, Michelle Pheifer, Penélope Cruz, Josh Gad, Jhonny Depp, Kenneth Branagh, entre outros.

A mise-en-scène do ato final, além de divertida e genial brincadeira fotográfica com um conhecido quadro de Leonardo da Vinci – A Última Ceia que representa a última ceia de Jesus com os apóstolos antes de ser preso e crucificado, é demais! Preste atenção! São muitos os detalhes que fazem do filme um programa atraente.

A história do filme continua forte. Densa! Um morto no trem, doze suspeitos. Quem matou? Por que? Mesmo sabendo você vai ficar balançada.

Agora é esperar ansiosamente pela sequência que deve mostrar Poirot com seu famoso bigode investigando uma morte no Rio Nilo.

Se você puder, vale a pena ver no cinema conferir Assassinato no Expresso do Oriente.

Assista ao trailer:

[fve]https://youtu.be/w3hokM1cosI[/fve]

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Victoria e Abdul: a amizade da rainha com seu confidente

Dominque - Victoria e Abdul
O filme que indico e comento hoje é Victoria e Abdul.

Aos 82 anos, Judi Dench volta a interpretar a rainha Victoria em um longa que trata da polêmica relação da soberba monarca com seu fiel e adorado serviçal Abdul, indiano e muçulmano, que se torna seu “munshi”, termo indiano para designar professor.

Judi Dench revive o papel da monarca que reinou durante 63 anos a Inglaterra e uma população de quase 1 bilhão de súditos de seu império ao longo do século 19.

O roteiro adaptado por Lee Hall, baseado no livro de Shrabani Basu, que por sua vez pega como fonte os diários do verdadeiro Abdul (descobertos muito tempo depois, exatamente em 2010), é seguro, não apresenta surpresas, uma produção agradável, leve e correta.

Victoria e Abdul faz uma edificante narrativa de amizade, em que seres tão diferentes, pela sua geografia e pela sua condição social, conseguem se identificar. Essa com certeza é a maior força do longa. Essa interação entre seres opostos ou como um mero servo pode compreender aquela mulher no trono muito melhor que seus familiares. Essa relação afetiva é emocionante e faz com que o longa conquiste a atenção do público.

A história da amizade da rainha da Inglaterra, Victoria, e do jovem indiano Abdul Karim, acontece nas circunstâncias mais improváveis e se desenvolve devido à carência da soberana com a espiritualidade de Karim, que os torna indispensáveis um para o outro, chegando a incomodar a monarquia.

A monarca já vivia de luto pela perda de seu amado marido Albert e de seu filho mais novo e mesmo assim seguia com o fardo de seu reinado e poucas motivações para ser feliz. A ousadia de Abdul trouxe de volta a alegria de viver, em razão de sua história interessante, uma injeção de cultura diária e muita harmonia, fazendo com que a rainha quisesse ficar próxima dele, mesmo que isso lhe custasse enfrentar a alta nobreza. Odiado por todo escalão britânico, Abdul, mesmo assim, foi um sopro de juventude para a rainha.

Um fato curioso é que apesar de rainha, Victoria era também Imperatriz da Índia, mas pouco conhecia sobre o país, portanto, o indiano Abdul (Ali Fazal) vai lhe apresentando sua cultura e desenvolvendo um belo trabalho com a sua interpretação carregada de carisma, empatia e emoção.

A direção de arte tem uma composição ótima de cenários e ambientações que nos levam até essa época em questão. Além disso, há um cuidado pela elaboração de seus figurinos, tanto para o elenco principal, quanto para os figurantes que compõem a história, sabendo respeitar o estilo das roupas indianas, o luto da rainha, sempre de preto, tendo atenção até mesmo na viagem para a Escócia, onde vemos um visual característico do local.

Na fotografia está um dos grandes acertos do filme, pois além dos planos gerais cheios de detalhes para trabalhar toda essa estrutura por onde se passa a trama, usam-se planos fechados, quando necessário, conseguindo captar as emoções dos personagens.

Victoria e Abdul é um filme dirigido por Stephen Frears (do ótimo “A Rainha”) vem em bom momento: em plenas comemorações dos 70 anos da independência da Índia e depois da descoberta dos diários que Victoria escreveu em urdu (idioma indiano) e das correspondências de Karim, conservadas por um sobrinho neto. Quando a monarca morreu, seu filho, o rei Eduardo 7º, despachou o serviçal de volta à Índia e queimou todos os vestígios da relação dos dois.

Há uma bela química entre a dupla de protagonistas, acreditamos no carinho, curiosidade e motivação dos personagens. Fazal enfrenta uma tarefa difícil: Abdul é um apaixonado pela vida e ensina que as pessoas vivem para servir. É isso que o torna cativante, mas transmitir isso além do texto não é fácil.

Interessante observar que Fazal pronuncia pausadamente as palavras, como se pensasse muito antes do que fosse falar e como se não dominasse a língua inglesa, dando verossimilhança à atuação. Judi abdicou de qualquer vaidade para o papel (sem maquiagem e usando enchimentos para reproduzir a corpulência de Victoria) está como sempre fantástica!

Em síntese, a dupla principal faz um trabalho muito bom com fascínio.

O filme traz um humor interessante em sua narrativa com os personagens misturando drama, sarcasmo e autocrítica e, além disso, é muito espirituoso.

Vale a pena ir ao cinema para assistir a incrível produção de Victoria e Abdul.

God save the Queen!!!

[fve]https://youtu.be/e9x7GDeA6ok[/fve]

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Gabriel e a Montanha: uma jornada de autoconhecimento

Dominique - Gabriel
Escolhido pela crítica como melhor filme brasileiro na 41ª Mostra Internacional de Cinema, o também vencedor de dois prêmios na Semana de Crítica do Festival de Cannes, “Gabriel e a Montanha”, de Fellipe Gamarano Barbosa, narra de uma maneira sensível, divertida e íntima a história real dos últimos setenta dias de vida de Gabriel Buchmann, interpretado por João Pedro Zappa, em sua viagem pelo continente africano: Quênia, Uganda, Tanzânia e Malawi. Gabriel, morreu em 2009 aos 28 anos durante uma escalada ao topo da montanha Mulanje, no Malawi.

Barbosa abre o longa com um belíssimo plano-sequência finalizado com o descobrimento do corpo, procurado durante semanas. Há a beleza do local, há a surpresa, há a força da música, não há dor ou sofrimento.

Na obra de Barbosa, que foi amigo de escola e faculdade do personagem, Gabriel ora é um idealista que tenta ingenuamente evitar o rótulo de turista, ora um jovem cheio de si e egocêntrico. Gabriel, carioca, economista recém-formado, de classe média alta, ao invés de ir trabalhar e ganhar muito dinheiro no mercado financeiro segue, no entanto, em outra direção: quer conhecer esse outro, descobrir-lhe o valor e a sabedoria.

Existe pureza, generosidade, vontade de aprender, desprendimento no jovem brasileiro, mas também segurança de si, característica de nossas classes altas. Gabriel pensa que pode tudo, inclusive safar-se das situações mais ingratas.

“Gabriel e a Montanha” é mais do que um simples entretenimento, é uma forma de pensarmos em nós mesmos e qual o nosso propósito no mundo, além de uma homenagem radiante ao protagonista.

Gabriel precisou viver e aprender e isso foi o que o fazia se sentir completo. João Pedro Zappa é a ferramenta fundamental para contar essa história de viagens e de encontros de caminhos entre Gabriel e todos aqueles que sua vida cruzou na sua curta passagem pela África.

O filme narra a história da maneira mais próxima e verossímil possível, fazendo o espectador se sentir quase como um companheiro do protagonista.

Uma co-produção entre Brasil e França, foi a única produção brasileira presente no Festival de Cannes.

O longa é formado quase que exclusivamente por não atores, com as pessoas que Gabriel encontrou ao longo de sua viagem, exceto João Pedro Zappa (Gabriel) e Caroline Abras (Cris), de fato atuam em papéis como protagonista e sua namorada, respectivamente.

Acompanhado dos atores e equipe reduzida, Barbosa realmente refez a trajetória de seu falecido amigo e a sensação de viagem como um constante aprendizado, uma soma da sucessão de eventos é transmitida pelas imagens.

Seria fácil a fotografia se distrair com os incríveis cenários naturais nunca registrados pelo cinema brasileiro, mas em momento algum o foco em Gabriel é perdido.

“Gabriel e a Montanha” nos transporta para a experiência vivida pelo protagonista. Não há nele uma única verdade. São muitas e é isso que o torna um filme ótimo e surpreendente.

A cena em que Gabriel declama Mário Quintana ao pé de uma cachoeira para sua namorada afasta qualquer possibilidade de pieguice, sem trilha, só dois garotos encontrando uma razão no meio de um lugar qualquer, sensível e honesto por si só.
Um filme de uma sinceridade e beleza dramática.

Fellipe Barbosa faz seu melhor filme, um drama sem receio de envolver seu público com muita verdade.

Nessa mistura de documentário e filme baseado nos fatos, não conseguimos deixar verdadeiramente de nos importar com o que é mostrado em tela, o que já faz de Gabriel e a Montanha um filme brasileiro obrigatório!

Vale a pena conferir!

[fve]https://youtu.be/w9cw1Ntrhqg[/fve]

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Depois Daquela Montanha: uma jornada de sobrevivência

Dominique - Montanha
Baseado no romance homônimo de Charles Martin, o longa dirigido pelo palestino Hany Abu-Assad, Depois Daquela Montanha, conta a história da jornalista e fotógrafa Alex (Kate Winslet) e do médico, neuro cirurgião, Bem (Idris Elba) que após terem o vôo cancelado se conhecem e decidem alugar um jatinho para não perderem seus compromissos. Ele tem uma cirurgia agendada e ela tem o próprio casamento marcado.

Tudo transcorre bem no início da viagem até que um acidente derruba o avião em território gélido, no alto de uma montanha nevada. Os dois únicos sobreviventes, além do cachorro do piloto, recém conhecidos travam esforço de aproximação ao mesmo tempo em que precisam sobreviver em meio ao frio rigoroso, escassez de alimentos e a incerteza do resgate. Mais gravemente ferida em decorrência do acidente, a fotógrafa tem dificuldades de locomoção e depende da ajuda do médico, situação que gera desconforto entre ambas as partes.

A abertura do longa é muito boa, os vinte primeiros minutos são fluidos e o roteiro é direto.

A partir daí a história vai se desenrolando aos poucos. Devido ao acidente e ao fato de os personagens estarem perdidos e isolados, lutando para sobreviver, é compreensível que as coisas aconteçam mais lentamente, mas há química entre os atores e ambos sustentam bem a trama, calcada, sobretudo, nos diálogos e interações entre os dois.

Dominique - Montanha

Kate Winslet, como sempre, maravilhosa! É de uma entrega absoluta em seu personagem. Seu trabalho corporal, forma de olhar, trabalhar a cena, tudo muito elaborado e natural. Ela está extremamente confortável no papel, desenvolta e cativante.

Idris Elba conduz as cenas muito bem, tem uma expressão forte, um charme particular e é indiscutivelmente talentoso.

O terceiro protagonista é um simpático cão labrador que fica preso na montanha com a dupla. É impossível não se apaixonar pelo cachorro.

O filme, rodado no Canadá, tem fotografia estonteante, assinada por Mandy Walker, valoriza as paisagens geladas em lindíssima locação.

Um grande acerto é o grau dos desafios a serem contornados pelos sobreviventes. O senso do realismo evita que a ação descambe para o exagero e verossimilhança à história.
Depois Daquela Montanha não é um filme perfeito, não ficará na memória, mas muito bom de se ver.

A belíssima trilha sonora, fotografia impecável e atuações esplêndidas fazem do longa um entretenimento muito agradável.

Vale a pena assistir Depois Daquela Montanha no cinema. Divirta-se!

[fve]https://youtu.be/FV9cnUDNT2k[/fve]

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