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A Odisséia dos Tontos – uma ode aos que passaram a vida injustiçados

Já nos cinemas brasileiros, o representante da Argentina na corrida do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2020, A Odisséia dos Tontos (La Odisea de los Giles, no original) é uma obra recente a centrar sua atenção em heróis perdedores. Conversa muito bem com o público latino-americano, incluindo o brasileiro. É uma produção que diverte e emociona.

Dirigido por Sebastián Borensztein (Um Conto Chinês), o filme tem momentos bem tocantes, mostrando bem o drama dos personagens e o impacto da crise no país, mas também diverte ao abraçar a loucura de seguir uma história de vingança/golpe.

Recorte histórico da crise econômica, como o Corralito (congelamento das contas bancárias) que abateu o país em 2001, afetou diretamente a vida cotidiana de sua população. Foram sonhos obstruídos e planos incertos.

A busca pelo dinheiro e o golpe para tomá-lo de volta dos trambiqueiros que lhes roubaram em um país desesperado é envolvente, algo feito com maestria pelo diretor. Aliás, feito com o toque de humor tão característico que as grandes obras do recente cinema argentino demonstrou dominar tão bem.

Projeto único e divertido

Apesar de ser vendido como comédia, A Odisséia dos Tontos, não se encaixa somente nesse gênero. Suspense, ação, drama e thriller se misturam em um projeto único e divertido.

Em uma narrativa relativamente simples, o cineasta possui o mérito de comandar uma série de personagens humildes e atrapalhados, mas muito humanos. Tal humildade gera uma aproximação fundamental por parte do público.

Encabeçado por Ricardo Darín, espetacular como sempre, divide a telona ao lado de seu filho Chino Darín, e o elenco todo se mostra forte com uma excelente química entre si.

Outro destaque para o filme é a sua trilha sonora muito boa que constantemente marca a transição das cenas dramáticas, incluindo muitas melodias clássicas enquanto mostra as pessoas tentando recuperar o dinheiro que lhes foi roubado.

A comédia dramática tem um sarcasmo sofisticado, ótimos diálogos e um roteiro bem amarrado. Além de divertir, propõe uma reflexão séria sobre os tempos atuais na Argentina, também vivendo hoje uma grave crise. 

A Odisséia dos Tontos é um filme que mostra os valores dos laços familiares e das amizades.

A comédia é garantida pelo que os atores fazem em tela, sem jamais soar piegas, o longa se preocupa em mostrar a vida como ela é.

Sucesso absoluto de bilheteria na Argentina, eu também particularmente amei!

Adoro o cinema argentino!!!

Assista o trailer

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Coringa – dramático, visceral, voraz e violento

O diretor Todd Phillips exibiu Coringa pela primeira vez durante o Festival de Veneza 2019, onde a reação imediata do público foi de oito minutos de palmas. A aclamação foi confirmada dias depois quando o longa levou o prêmio máximo do evento, o Leão de Ouro. Porém, nem todos os críticos viram com bons olhos a nova história do icônico vilão do Batman, pelo retrato brutal da violência psicológica e social de seu protagonista.

O famoso vilão ganha pelas mãos do diretor um profundo estudo da personalidade, investigando os acontecimentos que transformam um sujeito menosprezado pela sociedade em um anarquista insano e perigoso.

Coringa não é uma figura insana sem propósito. Ele é uma criação do colapso da sociedade contemporânea, em meio à ruptura de princípios éticos e morais.

Como alguém nascido em uma terra sem lei – a Gotham City de 1980 – ele surge como um mal necessário, o mártir de uma cidade cujas e sistemas não funcionam mais e são críveis.

Coringa é fruto de uma tristeza inimaginável na alma de um homem.

Como uma figura nascida sem lar e trazida para um seio familiar doentio, ele é o reflexo de uma vida de alienação materna, abusos e abandono. Acostumado a isso, o personagem – até então um homem consciente de sua complexidade mental e plenamente medicado a fim de controlá-la – constrói uma fortaleza de isolamento ao seu redor.

Interpretado magistralmente por Joaquim Phoenix, Coringa repensa a origem do super vilão – com a devida liberdade artística em relação às HQs, através da história de Arthur Fleck. Quase cadavérico de tão magro, com 23 quilos a menos, ele encarna Batman em sua versão mais crua: um comediante frustrado de Gotham que coleciona humilhações e traumas, ri de maneira descontrolada, se contorce em uma assustadora dança da solidão e “acorda” como uma espécie de líder anárquico de uma sociedade doente.

Impactados por sua sofrida trajetória, nos compadecemos de Fleck, que se transforma em uma visão da própria sociedade mundial, se tornando um fragmento de tantas histórias reais.

Talvez seja excessivo acusar Coringa de incitar a violência. Como arte, porém, o filme só parece funcionar como sintoma simplista e ressentido dos problemas sociais que tanto quer ilustrar: a postura indiferente das autoridades às classes mais necessitadas, o abandono, a exclusão e a solidão na grande metrópole, traumas familiares entre outras mazelas. 

Com uma trilha sonora adaptada que resgata clássicas canções de musicais dos anos 30 e 40, Toddy Phillips faz dela o guia das emoções e das sensações de Coringa, usando a música como maestro para conduzir o nível de intensidade da narrativa.

Um filme obrigatório de se ver!

Assista o trailer:

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Rainha de Copas – emocionalmente devastador, drama dinamarquês fala da transgressão do feminino

Rainha de Copas, drama dinamarquês, impressiona pela ousadia do roteiro, excelentes atuações e direção refinada. Ambientada na Dinamarca, a história é contada do início ao fim pela perspectiva de Anne (Trine Dyrholm), uma advogada bem-sucedida, empenhada em defender menores de idade vítimas de abuso e violência doméstica.

Aparentando ter uma vida invejável, a renomada jurista divide seu tempo entre o trabalho e a criação de suas filhas gêmeas, fruto de seu atual casamento com o médico workaholic Peter (Magnus Krepper). O filho rebelde de seu marido, Gustav (Gustav Lindh), é enviado pela mãe para morar com eles, após ser expulso de um colégio interno na Suécia.

Anne, sentindo-se atraída pelo rapaz, vai ganhando aos poucos sua confiança até que finalmente o seduz, culminando em um caso extraconjugal que irá por em risco tudo o que já conquistou.

Um dos grandes méritos de Rainha de Copas é a criação de toda a ambigüidade da relação extraconjugal, uma vez que a protagonista trabalha como advogada de vítimas frágeis e jovens.

As figuras masculinas centrais – esposo e sócio – abertamente pedem apenas que Anne concorde com eles, e nos diálogos ela expõe sua personalidade inflexível quanto à fragilidade e insegurança dos homens que a rodeiam. Com a chegada de Gustav, Anne pode, enfim, extravasar seus desejos e frustrações assumindo a posição de dominante na relação.

Controle e Transgressão

Enquanto isso, no controle das emoções aqui expostas, está essa mulher, tão fácil de amar quanto de odiar, tão passível de entendimento quanto de desprezo, tão igual a tantos do lado da tela, mas tão reprovável em um comportamento proibitivo e, ainda assim, assumidamente humano.

É ao mesmo tempo, repugnante e fascinante, causando um conflito moral na mente de quem assiste. Inegavelmente o que está acontecendo é errado, mas há de fato, seqüências bonitas entre os dois, como a que brincam no lago, belissimamente filmada e iluminada. 

Outro aspecto que chama a atenção é a presença de uma marcante trilha sonora, trazendo urgência e antecipação de forma crescente para a história, quase transformando o filme em suspense.

Muito disso está também nas mãos de sua protagonista, a atriz premiadíssima, Trine Dyrholm em pleno domínio do jogo que lhe é oferecido, em poderosa atuação. A atriz em mesma cena consegue mostrar força e dominância na sua voz, enquanto seus olhos mostram fragilidade e medo.

Filme duro, mas irresistível

Diferente das atrizes de Hollywood, a dinamarquesa aceita a sua pele e, com o rosto marcado, até demais pela sua idade, encaixa-se perfeitamente dentro de seu papel. O sueco Gustav Lindh, como enteado, permeia perfeitamente entre o orgulho e instabilidade emocional, características conflitantes e normais para um jovem.

Magnus Krepper, o homem que se esforça do início ao fim para fazer a coisa certa, sem conseguir sequer chegar perto disso, são as outras pontas de um vértice tão sofrido quanto arrebatador.

May El-Toukhy faz de Rainha de Copas um filme duro, mas absolutamente irresistível. Intrigante de partida, envolvente no desenrolar, se confirma hipnotizante em sua conclusão.

Com uma narrativa fortíssima, com uma temática moralmente polêmica, a dinamarquesa nos apresenta um filme cuja trajetória angustiante nos faz mergulhar no enredo e mostra uma série de contradições que podem atormentar e rever condutas e valores. Uma sensível obra sobre poder, amadurecimento e sexualidade.

O longa é um convite para refletirmos nossas fraquezas, hipocrisias e nossa disposição em acessar nosso lado mais obscuro em benefício próprio.

Excelente!

Com certeza vale uma ida ao cinema para conferir esse filmaço.

Assista o trailer

Filme dinamarquês

Olmo e a Gaivota


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Resgate do Coração – comédia romântica com pitadas natalinas

Como sugere em seu título original, “Holiday in The Wild”, o filme se propõe a trazer um conto natalino. No entanto, a festa de final de ano é pouco relevante. O foco se dá em Kate (Kristin Davis), uma dona de casa, esposa de um rico empresário de Nova York, que abdicou de sua carreira profissional de veterinária para se dedicar a família. Assim que seu filho parte para a universidade, ela recebe a notícia que seu marido quer o divórcio.

Abalada com o fim do relacionamento de décadas, Kate resolve ir para a África e curtir uma viagem que seria originalmente uma segunda lua de mel do (ex) casal. Durante um desvio pela Zâmbia, ela ajuda seu piloto Derek Holliston (Rob Lowe) a resgatar um bebê elefante órfão. Os dois permanecem cuidando dele em um Santuário de elefantes local, e Kate decide ficar para o Natal.

A atriz Kristin Davis (série Sex and The City) tem uma carreira muito mais marcada por seriados do que por produções na telona. No longa, ela é boa a que se propõe.

Davis e Lowe fazem um ótimo casal na tela, a química funciona e os atores entregam um genuíno carinho entre seus personagens. O roteiro constrói com eficiência a maneira com que eles se aproximam, não parecendo forçado, nem repentino demais.

Uma Dominique em Zâmbia

O acerto do filme é evidenciar que o caso de amor da mulher de 50 +, desencantada após ser cruelmente desprezada pelo marido, e a missão daqueles estranhos na Zâmbia, o relacionamento vivido com Rob Lowe é apenas conseqüência natural. 

Pode-se tirar de muito bom em Resgate do Coração a mensagem do terror – que ainda resiste nos dias atuais – relacionado à caça de elefantes, para obter suas enormes presa brancas, o marfim.

Kristin Davis, na vida real, trabalhou no programa de resgate e reabilitação de elefantes órfãos. Este projeto para a Netflix teve uma carga especial, algo perceptível no brilho em seu olhar nas várias cenas em que contracena com os animais. 

A delicadeza com que a atriz trata a relação com o elefante órfão, repetindo o ato materno de marcar na parede o crescimento do filho, torna crível a sua jornada, praticamente abandonando a vida social na cidade grande.

O filme consegue ser adorável e ser uma obra com reais sentimentos. Maravilhosamente sessão da tarde, oferece vários elementos para quem gosta de curtir uma narrativa que pode até ser simples e de fácil digestão, no entanto está repleto daquele sentimento de uma boa comédia romântica.

Prepare seu balde de pipoca e divirta-se no feriado com esse filme bonitinho demais!

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Comédias românticas para feriado

Alguém tem que ceder

Cartas para Julieta


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Fugindo de estereótipos com elegância, Adeus à Noite discute a relação dos jovens com o terrorismo

Escrito e dirigido por André Téchiné, o filme Adeus à Noite, drama francês, exibido no Festival de Berlim 2019 se destaca pelo olhar mais profundo sobre assuntos atuais. O filme é contemporâneo e aborda algo muito presente na sociedade européia.

Em Adeus à Noite, Catherine Deneuve interpreta Muriel, uma senhora que tem uma vida tranqüila em sua propriedade rural, onde cria cavalos e cuida de sua belíssima plantação de cerejeira em escala industrial.

Quando seu neto Alex (Klein), chega para passar uma temporada com ela, antes que se mude para o Canadá junto da namorada Lila (Oulaya Amamra), sua rotina é transformada. Quando esse reencontro finalmente acontece depois de muitos anos sem se verem, a relação entre eles parece estremecer com a descoberta de acontecimentos indesejáveis.

O neto de Muriel possui segredos com sua namorada, que o acompanhará nessa viagem. As motivações da partida envolvem religião, mudança de comportamento e algo muito mais grave.

O fato de Muriel morar no campo não é à toa. Alex está prestes a viajar, mas não para o local que sua família pensa. É a partir disso que o drama se desenvolve.

Religião, segredos e família

No enredo em si nada é previsível. Dividido entre dias da primavera, o longa usa da relação estremecida da avó e neto para emergir em um assunto que tem sido muito abordado em filmes franceses, que é a questão da interação entre França como um todo e a religião islâmica.

O filme tem como uma de suas principais fontes o livro Les Français Jihadistes, escrito com base em entrevistas com jovens que aderiram à causa islâmica e pode oferecer ao telespectador a possibilidade de tentar entender o que se passa na cabeça da juventude que decide largar tudo pelo sacrifício e pela promessa de uma vida com sentido. Adeus à Noite não busca respostas fáceis, mas busca respostas.

Trata-se de um tema forte, da maior atualidade e a escolha da avó – deixar ou não o neto partir coloca em cheque seu humanismo.

Adeus à Noite nos faz refletir sobre a solidão, sobre as buscas por um propósito de vida, a imaturidade e a inocência. Com ele, a forma como se enxerga as relações pessoais e doenças como a depressão pode ser brutalmente revistas e mudadas.

É belíssimo o trabalho de enquadramento de câmera para captar paisagens deslumbrantes que engrandecem as cenas e dão ainda mais peso à atuação dos atores. Deneuve cada vez mais intensa e sutil consegue transmitir diversas sensações que vão desde surpresa, desapontamento e preocupação, uma atriz de grande expressividade.

Klein não fica atrás, mas sua bravura atuante não aconteceria se não houvesse Oulaya, sua namorada. Juntos e ao lado de Stéphane Bak, os atores são responsáveis por criar um enredo paralelo cheio de ação, suspense e drama.

Uma narrativa ao mesmo tempo tensa e tocante.

Sem dúvida vale muito a pena uma ida ao cinema. 

Muito bom.

 Aqui fica a dica.

Assista o trailer:

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