Tag: Filme

Um Amor Inesperado – cenas de uma separação

Juan Vera, experiente produtor e roteirista, dirige pela primeira vez, o segundo longa mais visto na Argentina, “Um Amor Inesperado”. 

O longa narra a história de Marcos (Ricardo Darín) e Ana (Mercedes Morán) que, juntos há 25 anos, começam a questionar o sentido do casamento após o filho decidir sair de casa para entrar na universidade. Apesar de terem uma forte conexão, gostarem de conversar, eles se perguntam se ainda estão apaixonados um pelo outro, e se o amor basta para mantê-los unidos.

O relacionamento já entregue ao conformismo, decidem se divorciar e partir para o mundo das paqueras modernas em busca de superar a crise de idade. 

Os personagens são construídos em termos bem realistas, representando com naturalidade os valores de sua geração, e de uma classe alta e intelectualizada.

“Um Amor Inesperado” é um filme bastante competente, com uma visão mais madura do amor, e que intercala momentos alegres e divertidos com outros mais sérios e reflexivos.

Juan Vera pretende discutir o fim da paixão em casais duradouros, sentimento de abandono com a independência dos filhos, medo de solidão.

Após a trama apresentar seus personagens, o ritmo flui naturalmente e o drama se converte, em partes, em humor, que encontra suas brechas certas entre o trágico e o hilário. As piadas divertem e nos fazem rir muito permitindo que a trama não caia no tédio.

O texto é repleto de tiradas espertas, com ênfase às que dizem respeito ao comportamento pós-separação, com Ana indo a festas barulhentas e tomando iniciativa de novos contatos, enquanto Marcos, após maldizer aplicativos de relacionamento, se rende a eles, e em sua estréia acaba numa situação tragicômica que sintetiza a ironia presente no longa.

Tendo em mente que o público alvo da comédia é de pessoas de meia-idade fica por conta das piadas com a tecnologia e as novas formas de namoro, como Tinder e Instagran, dar um tom de modernidade para a trama e fazer uma leve e inteligente crítica ao amor líquido e a fragilidade dos vínculos humanos nos dias de hoje.

Em resumo, “Um Amor Inesperado” não apresenta enredo revolucionário, mas o grande mérito da película está na construção dos personagens – muito por causa do trabalho e da química da dupla formada por Mercedes Morán e Ricardo Darín.

“Um Amor Inesperado” é um cinema de atores. Excelente para quem gosta de atuações brilhantes.

Divertido, eficaz e honesto, um filme sobre se reapaixonar por si mesmo e pela vida, não importa a idade.

Aqui fica a dica de um excelente entretenimento.

Adorei!!!

Mais filmes com Ricardo Darín

Todos já sabem


2 Comentários
  1. É um enredo já nosso conhecid…Mas que sempre nos agrada quando se refere ao amor, que jamais deixa de nos emocionar…

Comentar

Your email address will not be published.

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

O premiado filme francês Jovem e Bela

Jovem e Bela conquistou o Festival de San Sebastián e concorreu a Palma de Ouro em Cannes 2013. O longa, escrito e dirigido por François Ozon, cineasta tão obcecado com o universo feminino quanto o espanhol Pedro Almodóvar, é um belo estudo psicológico de personagem.

Durante as férias de verão com a família, Isabelle vive a sua primeira experiência sexual. Ao voltar para casa, a adolescente divide seu tempo entre escola e o novo trabalho, como prostituta de luxo.

As dificuldades comuns a tantos adolescentes, somado as ilusões que acompanham a descoberta sexual da jovem e bela garota, são revistas em minúcia pelo diretor. Sua abordagem imparcial, bem humorada e elegante, tem como principal virtude a notável atuação da novata Marina Vacht, que conduz o filme enquanto hipnotiza com sua inegável beleza.

Sem problemas financeiros, o que leva a garota à prostituição?

Ozon questiona a maneira como as mulheres são direcionadas ao explorar a beleza e sensualidade como suas principais mercadorias. Ozon não está preocupado em levantar teses e nem julgar a adolescente.

Com seu olhar melancólico, Isabelle, poucas palavras e uma sutileza inacreditável ajuda a criar na cabeça do espectador o enigma proposto pelo diretor, com uma personagem amoral, desprovida de consciência ou culpa, desassociando sexo de emoção, e com suas incoerências, que se não precisa do dinheiro, o utiliza como uma ferramenta para proteger seus sentimentos.

Com um belo roteiro dividindo o filme em quatro atos representando as quatro estações do ano, cada um deles com um ponto de vista sobre a adolescente, respectivamente, do irmão, do cliente, da mãe e do padrasto.

Com ótimas interpretações e a experiência de Ozon, o longa tem um bom ritmo, causando ao espectador uma tentativa de compreender sua protagonista da primeira até a última cena.

“Jovem e Bela” é pontuado por música de François Hardy, cantora francesa dos anos 1960/1970, que, como Isabelle, transmite uma melancolia introspectiva e enigmática.

Numa ausência intencional de profundidade, Ozon contempla a adolescência sem julgar nem tentar explicar. Na cena final, porém, a aparição de Charlotte Rampling impõe ao espectador o sentimento que, a juventude finda, a beleza guarda seu absoluto mistério, e apenas o tempo poderá revelar algum sentido para as precoces experiências.

Vale a reflexão!


Outros filmes franceses:

Festival Varilux de Cinema Francês

Diário de uma camareira

Seja a primeira a comentar

Comentar

Your email address will not be published.

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

Todos Já Sabem – suspense e segredos do passado

Todos Já Sabem, primeiro filme do diretor e roteirista iraniano Asghar Farhadi, falado em língua espanhola, tem produção de Pedro Almodovar e um enorme elenco encabeçado por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín.

Ambientado no pequeno povoado de Torrelaguna, na Espanha, já nos primeiros minutos do longa, o elenco é apresentado com fluidez e habilidade.

Após anos, Laura (Penélope Cruz) volta ao povoado de sua família com os dois filhos, para o casamento de sua irmã mais nova. Toda a família prepara-se para a festividade que toma conta da tela por longos momentos, desde a cerimônia na igreja até a grande festa no quintal da casa. Os festejos são expostos detalhadamente, mostrando a alegria dos presentes e um pouco da personalidade de cada um.

Entre os convidados está Paco (Javier Bardem), sua esposa, amigos da família e uma equipe de filmagem, além dos vizinhos do povoado. Tudo vai bem até que Laura percebe o desaparecimento de sua filha Irene.

Segredos são revelados e paixões colocadas à prova.

Muito da consistência presente aqui se deve à direção de Farhadi que consegue com que o público se envolva no ambiente familiar que lhe é apresentado. Pouco a pouco vamos conhecendo os diversos personagens e as suas peculiaridades.

Essa habilidosa condução de narrativa permite que haja uma conexão com cada uma das pessoas que compõe o núcleo familiar e isso se torna fundamental para que haja uma empatia com o drama ao longo da segunda parte.

Com uma delicadeza admirável, a fotografia sofre alterações para que não reste dúvida de que não estamos mais diante da alegria que dominava a primeira parte do longa. E aqui uma das figuras mais decisivas nessa mudança se deve a Javier Bardem. 

O conflito que Farhadi cria entre Bardem e Cruz é interessantíssimo e, ao lado do seqüestro, mantém o interesse do espectador até o final da trama. Mas não se pode dizer o mesmo de Darín, aqui em performance mais contida que pouco soma à trama apesar da excelente construção envergonhada e silenciosa de um homem que tinha muito, mas perdeu tudo e se ancora agora apenas na fé que o salvou do vício da bebida.

Bardem tem a sensibilidade de não fazer uma mudança radical em sua atuação como se pulasse de uma entidade para outra entre início e o desfecho do filme. Simplesmente perfeito. Penélope Cruz tem espaço de sobra para brilhar. Basta olhar para ela quando se dá conta que sua filha desapareceu para ver como possui controle absoluto de sua atuação, como também nos momentos decisivos que partem dela, e nas atitudes que são  tomadas por ela.

Com esse grande elenco, Todos Já Sabem consegue manter o suspense e o senso de curiosidade aguçada do espectador até o fim.

Apesar do mistério ao centro, o diretor está mais preocupado em construir sua narrativa com paciência e um olhar talentoso para criar personagens profundos, com passados complexos, mas que continuam em transformação. 

Farhadi se mostra interessado em estudar como o efeito cascata de manter coisas em segredo pode cobrar seu preço anos mais tarde.

A condução sensível de Farhadi, muitas vezes dispensando palavras em seu roteiro e resolvendo jornadas emocionais dificílimas através de pequenas ações silenciosas, garante um filme que imageticamente diz muito sem precisar esforçar-se explicando textualmente. 

O resultado é uma lição sobre segredos, e como o passado sempre fará parte do presente e, com certeza do futuro. 

Muito bom!!!

Aqui fica a dica para você! 

Filmes com Penélope Cruz

O mistério do assassinato no Expresso Oriente

Seja a primeira a comentar

Comentar

Your email address will not be published.

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

A Livraria: a arte de contar uma bela história

Dirigido pela catalã Isabel Coixet, o longa “A Livraria”, indicado a 11 categorias do Goya (a maior premiação do cinema espanhol), levou as premiações de: Melhor Roteiro Adaptado, Diretor e Filme.

O longa, disponível na Netflix, se passa no final dos anos 50, em uma pacata cidade litorânea da Inglaterra. Narra o esforço de uma viúva para abrir uma livraria na pequena Hardborough, com nenhuma necessidade ou paixão de ler. Contudo, sua iniciativa é vista com maus olhos pela conservadora comunidade local, que passa a se opor tanto a ela quanto ao seu negócio, obrigando-a a lutar por seu estabelecimento.

O filme é sobre livros ou mais especificamente sobre quem ainda compra livros.

Embora de forma sutil, a paixão por livros está presente ao longa em diversas situações. Para Florence, ler serve para suprir carências afetivas, para viver outras vidas, para sonhar junto ao mar com os personagens e os sentimentos que habitam os livros.

Os poderosos da cidadezinha, predadores atrás de seus modos aristocráticos, declaram uma guerra a essa doce intrusa porque está convencida de que o que pretende vender pode representar prazer, conhecimento, aventura ou bálsamo para alguns moradores.

Florence é ajudada por uma menina cheia de imaginação. Inteligente, prática e sonhadora ao mesmo tempo, e manterá emocionante contato com um velho senhor que está a 45 anos trancado em sua mansão.  Surgirão vínculos muito belos entre esses dois náufragos, que desejariam ter se conhecido em outra vida.

Coixet descreve tudo isso com uma delicadeza e um tom primoroso. Imagens, diálogos, silêncios, gestos pequenos e reveladores convivem em harmonia, numa atmosfera atraente e verdadeira. Seu intimismo é contagiante.

“A Livraria” é um filme que também aborda questões feministas em relação ao trabalho, à remuneração e à igualdade e isso puxa outras questões mais profundas.

Esteticamente, o filme beira a perfeição. A pequena cidade inglesa é fria, cinzenta, triste. Porém, as cores vão se mesclando de acordo com as peças e personagens, trazendo movimento para a trama.

Com bela fotografia, design de produção e figurinos fiéis à época retratada, o longa tem uma beleza simples e cativante.

O longa conta ainda com personagens interessantes e grandes atuações.

“A Livraria” me tocou profundamente.

Aqui fica a dica!


Outros filmes na Netflix:

Diário de uma camareira

2 Comentários

Comentar

Your email address will not be published.

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

A Favorita: sátira palaciana com humor ácido traz o antigo e o novo ao Oscar 2019

O premiadíssimo “A Favorita” conquistou sete máscaras douradas do Bafta, Academia Britânica de Cinema, além de dois prêmios no Festival de Veneza e teve presença de gala no Globo de Ouro e no Critics’ Choice Awards. 

O longa ainda concorre neste domingo, 24 de fevereiro, a dez estatuetas ao Oscar.

Considerado um dos grandes filmes do ano, “A Favorita” mescla com muita propriedade e talento tremendo humor àcido a uma trama sóbria da história e política. 

O filme traz um esplendor visual com figurinos e acessórios deslumbrantes. As locações mostram toda a grandiosidade da corte inglesa do século XVIII e a fotografia tem uma paleta de cores e um contraste que esperamos de um filme ambientado nessa época. Aí podemos elogiar as cenas de cozinha do palácio e especialmente as cenas com iluminação à luz de velas que são um verdadeiro presente para os olhos.

O cineasta grego Yorgos Lanthimos, o rei dos filmes perversos, faz aqui uma sátira sobre a realeza.

O longa conta a história da duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) que exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante da rainha Anne (Olivia Colman). Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail (Emma Stone), nova criada que logo se torna a queridinha da majestade e agarra com unhas e dentes a oportunidade única.

O diretor usa todo o seu cinismo em “A Favorita” para mostrar um elaborado jogo de sedução e poder entre as três mulheres. O ponto alto do filme é mostrar esse conflito entre as duas pelo favoritismo da rainha e como ela reflete diretamente tanto na posição dessas mulheres na corte, como nos rumos da Inglaterra e da guerra.

Totalmente focado em personagens femininas e nos jogos de poder que se enclausuram nos bastidores, honra o período histórico a que se refere, mesmo diante de uma história absurda.

“A Favorita” retrata o luxo de modo crítico, e a vida de privilégios não é apresentada ao espectador de maneira desejável, e sim como uma configuração grotesca e artificial.

Com personagens indiscretos e famintos, o longa flagra o ser humano no seu pior e tem o despudor de rir disso e convidar sua audiência a se divertir com a própria tragédia.

O roteiro e os diálogos são um primor, bem como toda a parte técnica – devidamente ornada pelas indicações.

Com uma inspirada trinca de atrizes, todas merecidamente lembradas pela Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, “AFavorita” é um filme de época totalmente diferente de todos aqueles já vistos.

Além do domínio de Colman – no papel mais difícil, o resto do trio está tão a vontade que é difícil dizer quem é a protagonista e pilar dessa estrutura. Méritos para o roteiro e direção esmerada de Lanthimos.

O diretor transforma sua sátira sobre a realeza em uma profunda constatação do quanto as pessoas são imperfeitas, mas Lanthimos não se apieda de seus personagens, nem tampouco de seu público que precisa ou embarcar em sua sintonia, ou tolerá-la. Talvez seja melhor aderir a essa alucinógena narrativa.

E… the Oscar goes to…


Confira a resenha de outros concorrentes ao Oscar:

Bohemian Rhapsody

Green Book

A Esposa

Seja a primeira a comentar

Comentar

Your email address will not be published.

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

QUER MAIS CONTEÚDO ASSIM?
Receba nossas atualizações por email e leia quando quiser.
  Nós não fazemos spam e você pode se descadastrar quando quiser.
CADASTRO FEITO COM SUCESSO - OBRIGADO E ATÉ LOGO!
QUER MAIS CONTEÚDO ASSIM?
Receba nossas atualizações por email e leia quando quiser.
  Nós não fazemos spam e você pode se descadastrar quando quiser.
CADASTRO FEITO COM SUCESSO - OBRIGADO E ATÉ LOGO!
QUER MAIS CONTEÚDO ASSIM?
Receba nossas atualizações por email e leia quando quiser.
  Nós não fazemos spam e você pode se descadastrar quando quiser.
CADASTRO FEITO COM SUCESSO - OBRIGADO E ATÉ LOGO!
QUER MAIS CONTEÚDO ASSIM?
Receba nossas atualizações por email e leia quando quiser.
  Nós não fazemos spam e você pode se descadastrar quando quiser.