Tag: música

Não tem jeito, escuto Vinícius e me arrepio dos pés à cabeça

Dominique - Vinícius
Eu só sei o dia de Iemanjá por causa do Vinícius de Moraes. Na música Maria vai com as outras ele diz que Maria não foi jogar flores para Iemanjá no dia dois de fevereiro, ou seja, Vinícius também é cultura!

Confesso que tenho uma queda por homens mais velhos, mas não é qualquer homem, muito menos qualquer velho.

Ele não precisa ser bonito, nem rico, mas tem que ter charme, ser sedutor, sem ser galinha. Inteligente e culto, adoro conversar madrugada a fora e viajar sem sair do lugar. Tem que ter lábia, uma boa lábia, amo uma cantada sutil, provocante, sem ser baixaria… a baixaria reservo para quatro paredes.

Ser absolutamente romântico, sem ser grudento, me surpreender, me desejar, me elogiar. Pelo amor de Deus que seja carinhoso em excesso, transborde de cafunés e alise meu corpo inteiro por horas a fio. Que beije maravilhosamente bem e, se tiver cabelos grisalhos, fico loucamente apaixonada e topo qualquer parada.

Acredite, eu já era louca por ele aos 14 anos. Sim, em plena adolescência me apaixonei por Vinícius de Moraes, na época já com 67 anos, quando todas adoravam John Travolta em “Os Embalos de Sábado à Noite” e Lauro Corona, o supergalã da época, astro da novela Dancin’ Days.

Baixinho, calvo e feio. E daí? Não é à toa que casou nove vezes, apenas, NOVE! Isso porque morreu cedo.

Uma tarde na casa de uma amiga do colégio, na época eu cursava o primeiro ano colegial, a mãe dela colocou para tocar um disco de vinil na vitrola, amiga Dominique, lembre-se que não existia CD. E eu ouvi “Minha Namorada” cantada por Vinícius e Toquinho. Fiquei em êxtase. Quando escutei, não acreditei. Ele estava oferecendo tudo aquilo que eu queria para minha vida…e que até agora não encontrei.

Tá bom, sou o cúmulo do romantismo. Adoro ficar apaixonada, ser cuidada, ser amada, ser desejada e carinho, muito carinho, tá bom já falei isso antes, mas carinho para mim nunca é demais…é como massagem, se eu fizer seis horas de massagem, nunca é suficiente.

E depois escutei “Eu sei que vou te amar” e chorei. Sim, chorei muito e nunca soube explicar o motivo. Todo mundo na casa da minha amiga com os olhos arregalados para mim, sem entender o que estava acontecendo. Eu simplesmente não consegui conter o pranto, um aperto no peito, uma sensação inexplicável.

Tenho uma relação muito, mas muito íntima com a música. Sou movida à música. Algumas canções e interpretações me levam a outro patamar. Sem exagero, fico inteira arrepiada, olhos completamente marejados e todo o resto perde a importância. Isso aconteceu quando escutei pela primeira vez Vinícius. Outros também tem este poder, mas Vinícius foi o primeiro e a primeira vez a gente nunca esquece.

Já sabendo quase todas suas canções, minha irmã me deu de presente um livro com sonetos escritos por ele. Toda santa vez que eu pego o livro, hoje subtraído pela minha filha, choro copiosamente. Você já teve a oportunidade de ler e prestar a atenção no Soneto da Fidelidade ? e o Soneto da Separação? Tem algo mais doloroso que aquilo e tão bem traduzido? Para mim Vinícius é tudo de bom e mais um pouco.

Quem sabe, depois que eu for dessa para melhor, encontre Vinícius e a gente possa conversar por uma vida inteira, ambos fumando sem parar (sim ele era fumante inveterado) e eu parei há um mês, aff! Acho que isso é o sinônimo de paraíso. Vou ficar bem santinha para merecer ir para lá!

Ah! Vinícius, que bom seria SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ!

Leia Mais:

Relato de uma Mulher Apaixonada. Sem perder o TOM
Iemanjá – A rainha do mar e uma simpatia Infalível

Marot Gandolfi

JORNALISTA, EMPRESÁRIA, AMANTE DE GENTE DIVERTIDA E DE CACHORROS COM LEVE QUEDA PARA OS VIRALATAS.

6 Comentários
  1. Me identifiquei!!!! Ponto.
    Parece que me vi, na mesma época, com as mesmas descobertas. Amei o texto!

  2. adoro esta pagina, os textos sao muito bem escritos, chegam a transportar a minha alma, para a estória contada.parabens;

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Relato de uma Mulher Apaixonada. Sem perder o TOM

Dominique - Mulher
That´s ma’man.
My kind of man.
Sabe como?
Tem tudo que eu gosto.
Ou gosto de tudo que ele é. Não sei.
Claro que temos muito em comum.
Gosta de praia. Ama o mar sua serenidade, suas correntezassuas ondas e sua misteriosa profundidade.

Sente a necessidade de sempre estar perto da praia, do sol, do mato, da chuva, do verde, de seus Sabiás, pois só assim se sente próximo às divindades.
Para ele, Deus está na natureza. Deus é a natureza.

Apaixonado. Sempre apaixonado pela mulher.
A mulher que com ele estiver no momento. Ou a próxima.

Ciumento? Não… Acho que não. Ciumento mesmo é quem está a seu lado.
Eu por exemplo, morrroooo de ciúmes de sua última esposa!
Da primeira nem tanto. Vai entender…

Gato. Gatíssimo.
Elegante com um jeitinho meio canalha. Calma. Canalha de uma maneira supercarinhosa.

Porque casar, casou mesmo só com duas mulheres: Teresa, da Praia, e Ana. Mas cantou muitas. Cantou Angela, Lígia, Luiza, Isabella, Bebel, Gabriela, Luciana, Maria da Graça… Mas a mim, não. Nunca cantou Dominique. Nem Lili. Ok, tudo bem.

Agora, Vou Te Contar uma coisa.
Pra quem você acha que ele sussura Querida?
Simmmmm darling, para mim… E sabe por que?
Porque ele diz o tempo todo que sou tão Bonita
E pode até ser uma grande Insensatez de minha parte, mas acredito.
Acredito e me arrepio cada vez que ele me diz  Se Todas Fossem Iguais a Você….
Aliás, poderia passar uma vida Falando de Amor com ele. Ah, Quem Me Dera!
Ah! Quem me dera nós tivéssemos tido nossos Caminhos Cruzados, meu amado Tom.

Mas chega! Chega de Saudade!!

A verdade é que meu amor por você é um Amor Sem Adeus.

Podem vir as Águas de Março, fechar o verão. Pode vir a Derradeira Primavera. Mas enquanto seu afinado Desafinado tocar neste piano, não haverá Solidão.

Eu Te Amo Tom Jobim!

Afinal, que mulher não ama Tom Jobim?

Leia Mais:

Passeando com o passado
Ei-la aqui. Rita Lee. A Dominique das Dominiques.

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

8 Comentários
  1. Perfeito!!!!Lindíssima homenagem Dominik. Emocionante. Tb tenho um lindo e amado Tom. Antônio Carlos.❤❤❤

  2. Que incrível. A cada frase que li, não era neste Tom que eu pensava. Mas no meu Tom, que não se chama Tom. Mas que foi retratado com tamanha lucidez neste texto. Incrível, como não amar o meu Tom, que não se chama Tom e que também não é meu! É do mundo! É de todas !!!

  3. Que lindo…cresci escutando esse homem
    Sempre adorei ele! Universal, plural, Internacional…sua sensibilidade abraça,está em todos os cantos a todas as horas
    Adoro ele ainda mais agora, Dominique

  4. Adorei! que bela homenagem! foi um homen gatissimo, super charmoso e talentoso. Eu tambem gostaria de ter sido uma de suas mulheres.

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O dia em que percebi o primeiro último dia da minha vida

Dominique - último
Ainda não tive o último dia da minha vida, ainda bem, mas já tive muitos “últimos dias”. Isso não quer dizer que tenha vivido 7 vidas.

Vou tentar explicar. Um dia, num distante 1998, olhei uma figura de um marcador de tempo derretendo. Parei. Olhei de novo. Um arrepio me percorreu a espinha. Persistência da Memória tocou alguns pontos de minhas terminações nervosas.

Clichê ou não, fiquei obcecada por este quadro de Salvador  Dali, sem entender muito bem. Apenas sabia que as questões do tempo, o tempo mais rápido que o meu tempo, a falta dele ou até mesmo a diferença entre o meu timing e o dos outros, me perseguiriam pelo todo o sempre.

Concluí que sou muito ansiosa e descobri que a culpada por este sentimento dominador e determinante é a relação que tinha/tenho com o tempo.

Por exemplo: quando viajava, ficava sempre com aquela sensação de que não daria tempo de conhecer tudo, de ver tudo, de aprender tudo.

O pior foi perceber que minha imaturidade não me deixava ver que o tudo não existe (afff, Lili, que filosofada boba. Foco Lili. Foco).

Acabei  achando uma fórmula para aplacar minha ansiedade quando viajo e não enlouquecer quem está comigo com maratonas de 18 horas.

Eis a fórmula: Para qualquer lugar que eu vá, na minha cabeça, tenho a certeza que voltarei um dia! Então, caso não consiga fazer ou ver agora, farei da próxima. Obviamente nem sempre existe a próxima. Na maioria das vezes não há, mas é meu truque.

Este foi apenas um exemplo da relação conturbada que tenho com esta entidade, dona de todos nós: o Sr. Tempo! Sempre o último segundo que está por vir.

Voltando ao século passado, naquele mesmo ano de 1998, outro acontecimento teve um peso preponderante em minha vida.

No carro, correndo (sempre correndo, mas nunca atrasada!) para buscar as crianças na escola, perdida em minha lista mental de afazeres do dia, começa a tocar uma música no rádio. Um murmurar aflito. Uma voz masculina diferente. Um ritmo ansioso e agoniado. Palavras insólitas unindo-se em frases incomuns. A música terminou.

Parei. Parei o carro na primeira ruela que achei. O refrão martelava em minha cabeça.
Ainda parada e longe de meu destino, peguei no porta-luvas um pedaço de papel e uma caneta. E comecei a responder o que me perguntava insistentemente aquele refrão.

– O que você faria se só te restasse um dia?

Escrevi. Em formas de tópicos, cartesiana que sou. Escrevi. Virei aquele folheto de quitanda e continuei escrevendo em todos os seu espaços em branco. Procurei no carro desesperadamente outro pedaço de papel para ter chance de seguir minha vida, um último pedacinho de papel. Não achei.

Parei. Parei tudo. Olhei para os meus garranchos e concluí o óbvio. Não vai dar tempo! Se eu tiver apenas um dia, não terei tempo de fazer tudo o que gostaria.

Fiquei em estado catatônico sem saber como resolver aquela difícil equação. Um ligeiro desespero encontrou as minhas, mais do que nunca,  persistentes memórias.

Foi quando tive uma luz!

– Eu não tinha apenas um dia, um último dia. Pelo menos não que eu soubesse. Então, talvez e apenas talvez, desse tempo.

Deu!

Desse dia em diante resolvi viver minha vida sem pendências. Tento fazer tudo e de tudo (dentro do razoável, claro). Sem pressa, sem agonia, eu faço.

E hoje, no primeiro dia do ano, viverei como se fosse o último.

Mas com muito pouca coisa pra fazer e com a tranquilidade de que vai dar tempo.

  • Em tempo e a quem interessar possa, a música em questão é Último Dia do Paulinho Moska

Leia mais:

Mentira do bem – 3 mentiras que contei para não fazer mal a ninguém
Será que todo mundo gosta mesmo do Natal?

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

3 Comentários
  1. Se a cd dia nos lembrassemos de que pode ser o último, quem sabe, tudo poderia ser diferente para mim é para o outro…

  2. Agora lembrei de um escrito DAZANTIGA:

    Afinal, Tempo, vais pra trás ou pra adiante?
    vais assim, conduzindo minha vida
    e eu de mim, fico distante…
    Pra onde vais,Tempo?
    Pra trás ou pra adiante?

    😉

  3. O tempo para quem espera em Deus e infinito nao faca nada em vão que vai dar tempo para tudo o que vc quer sem pressa de ser feliz, talvez o tempo que vc imagina nao e o meu tempo.Quando vc tem o dom de ver o futuro em vinte anos vc programa o tempo sem pressa de chegar a onde vc quer tudo no seu devido lugar esse e o tempo ao tempo.Dar tempo pra encaixar todas as coisas que estão pendentes a vida espiritual. E como fosse ser ou ser.

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Ei-la aqui. Rita Lee. A Dominique das Dominiques.

Rita Lee – 70 anos

Não há em minha geração quem não tenha dançado uma música de Rita Lee.
Você pode não saber o que é Loki. E não tem importância!! Sério!!
Você pode não conhecer bem os Mutantes. E muito menos saber que foi Ronnie Von que batizou o conjunto. Tudo bem.
Também não deve saber que Rita estudou na mesma classe que Regina Duarte.

Mas você sabe cantar Mania de Você de trás pra frente.

Dominique Rita Lee
Rita Lee anos 80

Ovelha Negra te despertou para a possibilidade de haver um mundo além da família “margarina” da casa da vizinha.

Lança Perfume legalizava aquela sua pequena contravenção de jovem.

Quantas vezes você não ouviu Cor de Rosa Choque porque estava “doente” e não foi pra aula?

Algum moço te passou uma cantada assobiando Banho de Espuma? Colou?

Ela disse SIM duas vezes, para Arnaldo e para Roberto. Na verdade 3 se contar o “Pra Você Eu Digo Sim“. Mas em nenhuma delas usou o vestido de noiva que Leila Diniz lhe emprestou e ela nunca devolveu.

Eu fui a um show dela no Palácio do Anhembi. Fui a outros. Mas lembro deste que foi “intimista” em 198X.
Heavy user de Internet, muito antes das redes sociais, ela sempre foi meio futurista.
Rita Lee possuía uma carteira de sócia do “Clube dos primeiros vôos à lua”. Lunática de carteirinha! Preciso falar mais?

Rita me inspira.
Claro que amo suas músicas, letras, ironias e sarcasmos.
Mas o que mais gosto de verdade, é seu desprendimento e independência de pensamentos.

Não concordo com tudo que ela fala.
Grande coisa!!
Aliás ela deve estar muito preocupada com isso.
E é justamente esse dar de ombros que amo.
Amo o jeito surpreendente que solta suas observações e opinões.

Rita é muito mais que sua obra.
Tenho a impressão que ela cansou, enjoou, não aguenta mais suas próprias músicas.
E eu entendo perfeitamente.
Você nunca cansou de se ouvir? Nunca cansou de seu próprio discurso? Nunca?????
Ahhh, ok.
Acho que ela tenta se reinventar o tempo todo, mas que todo mundo quer a Rita Lee de nossas adolescência, cantando Saúde e Chega Mais.

Talvez por isso ela tenha deixado suas madeixas vermelhas de lado assumindo o cabelo branco de vez, para que também deixássemos a Rita do Tal de Roque Enrow partir, e mais uma vez ser aquela metamorfose ambulante. Uma verdadeira Mutante.

E assim Rita consegue sua liberdade pela enésima vez.
Talvez por ter nascido no último dia do ano, tenha essa tendência ou essa sina de se reinventar.
Sorte nossa que há 70 anos convivemos com 70 Ritas.
Parabéns menina. Arrombe a Festa!!

A Dominique das Dominiques
Parabéns Rita Lee.
Ahhh, li esse texto de Rita Lee (fase cabelos brancos – livro Dropz). Vale muito a pena.

Eis-me aqui

Leia também :

História de Rita e Elis

Quando eu crescer e envelhecer pra valer, quero ir para um asilo!

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

1 Comentário

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Astor Piazzolla – O show que faltou

Astor Piazzolla e Gerry Mulligan.
Dominique - Música

Não vou mais falar que sou louca por música. Esta é a última vez. Ou penúltima. Mas hoje é aniversário dele!!

Cigarro foi meu único vício. Foi.  Abandonei há 4 anos. Digo isso porque não se pode considerar algumas outras coisas como vícios. Talvez obsessão. E shows ao vivo sempre foram uma de minhas maiores obsessões.

Caçava shows pela cidade e fora dela. Fui ver artistas que queria muito! Outros porque precisava ver uma vez na vida. Outros porque gentilmente fui convidada e impossibilitada de recusar. Acho que realizei todos os meus desejos menos um.

Por imaturidade ou pura ignorância conheci tardiamente um compositor e músico através de uma música que me encantou. Encantou no sentido literal de enfeitiçar.

Grávida de meu primeiro filho, aos 24 anos, numa certa noite, lembro de estar sentada no chão fazendo qualquer atividade com o rádio ligado. Acho que a meninada de hoje nunca vai entender que ouvíamos rádio em casa, né? Ou era só eu?

Bom, me lembro de estar no chão, entretida com minha atividade, quando começaram os primeiros acordes. Na verdade sons de um saxofone. Um lindo sax que foi num angustiante crescente até o momento que aconteceu um instrumento que não conhecia.

Sim aconteceu! Foi daquelas sensações que você tem uma vez na vida, sabe?

Arrepiei dos pés a cabeça. Fui às lágrimas. Pode parecer exagerado ou pode ser que tenham sido os hormônios.

Mas agora também? Estou escutando a dita música para escrever este texto e não consigo não me emocionar.

Voltando… Aguardei ansiosa o locutor anunciar o nome da música e seu autor. Entra o comercial. Aguardo ainda mais ansiosa. Volta outra música e nada do locutor.

Era uma rádio FM. E naquela estação específica, os locutores, às vezes, diziam os nomes das músicas, às vezes não. Imagino que naquele horário nem tinha locutor.

Desesperada peguei a lista telefônica.

Gente, 1988! Não tinha Internet, Google, muito menos Shazan e SoundHound. Você lembra das Páginas Amarelas? Não sei exatamente qual foi minha busca, se foi “rádio”, “FM”ou o quê. Mas achei a tal rádio Eldorado.

Well… De achar o telefone de uma rádio até descobrir o nome de uma música já tocada, vai um longo caminho. Pois eu o percorri por completo.

Meu marido entrava e saía da sala atônito sem entender para quem eu ligava e com quem eu conversava às 23 horas daquele quente mês de novembro.

Quando digo que sou obcecada, sou mesmo.

Consegui chegar no programador ou algo parecido.

– Moço, por favor, qual o nome da música que tocou há uns 15 minutos?

– Qual delas menina?

– Não sei dizer. Não sei de quem é. Tocou antes do comercial.

– Deixa eu ver aqui…

E me falou uma série de nomes de músicas que apesar de não conhecê-las, tinha certeza que não podiam ser.

Comecei a ficar agoniada e ele irritado.
Até que eu disse:

– Moço, começa com um saxofone lindo.

– Ahhh, mas essa música tocou há uma hora!

Sério? Eu estava na minha insana busca há uma hora?

– Pode ser “Years of Solitude”?

Tive certeza que era esta música. Com esse nome. Isso. Só poderia ser.

-Sim! Essa mesma.

E continuou o locutor do outro lado:

Years of Solitude de Gerry Mulligan e Astor Piazzolla.

E foi aí que conheci Piazzolla.

No dia seguinte, meu marido trouxe de presente o LP. Escutei o disco o resto de minha gravidez inteira. E fui conhecendo mais Piazzolla.

Descobri que aquele instrumento que aconteceu em minha vida se chama bandoneon. E fui amando Astor. Que nem por isso veio para o Brasil depois que eu o descobri.

Este foi o preço de ter tido uma tardia descoberta, porque sei que muitas turnês ele fez por terras nostras antes disso. Piazzolla foi o show que faltou em minha vida. Mas quem sou eu para reclamar?

Meu filho nasceu em março de 1989. Menino lindo. Sensível. Mais sensível, talvez, que esta que vos escreve.

E ainda pequeno, por volta de seus 7 ou 8 anos, me pediu para aprender um instrumento.
Disse que queria aprender a tocar saxofone.

– Como assim sax, meu filho? É muito difícil.

Tanto ele fez que foi aprender a tocar sax.

Quase morri em seu primeiro showzinho da escola de música. Quase morri quando de alguma maneira, anos atrás, ele de seu jeito tão peculiar, me fez entender que Take Five do David Brubeck seria a nossa música.

O show que faltou não faltou, porque trouxe a possibilidade de outros. Com outros artistas, outros instrumentos, outros amores.

Obrigada meu filho, por todos os shows que tem me proporcionado ao longo da vida. Admiro muito os instrumentos que escolheu para tocar a sua vida.

Espero ter tempo de contar os shows que marcaram minha vida, dos músicos, das músicas. Até porque, se um dia eu for contar a minha história, os capítulos serão todos nomes de música.

Mais uma versão desta música, Years of Solitude, agora a gravada em estúdio, aquela que ouvi incontáveis vezes!!

https://www.youtube.com/watch?v=C15OTz1kT6Y

Leia mais:

A publicidade não fala com as Dominiques. Por quê?
Sabe aquele show que marcou a sua vida? O meu foi esse…

Eliane Cury Nahas

Economista, trabalha com tecnologia digital desde 2001. Descobriu o gosto pela escrita quando se viu Dominique. Na verdade Dominique obrigou Eliane a escrever. Hoje ela não sabe se a economista conseguirá ter minutos de sossego sem a contadora de histórias a atormentá-la.

6 Comentários
  1. Além de um texto leve e gostoso como é o natural de sua forma de viver …confesso a oportunidade de ter acesso a essa música de novo foi maravilhosa…ela te derruba pra te resgatar e te levar ao topo…grande viagem. Assisti ao último show de Piazzola no Rio ainda Cabeção…inesquecível. sem mais o que argumentar..valeu

  2. Adorei o texto! Sensível e intimista. Muito bem escrito. Capta a atenção do leitor com maestria. É como se estivéssemos na sala, falando ao telefone…
    Muito envolvente,

  3. Oi Eli! Linda sua crônica! Ouço a Eldorado todos os dias no carro, e ano passado ela ganhou como a música mais tocada na radio! Amo também esta música! E a primeira da minha playlist…

  4. Adorei a cronica.tambem adoro esta musica.me apaixobei por piazzola quando tinha 24 snos e ouvi em um show de tango balada por un loco e fiquei alucinada pelo som do bandoneon. Ate hoje piazzola me arrebata…

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