Paulo e Carla.
Carla e Paulo.
Não vou te manter em suspense.
Se você leu os 3 textos anteriores merece saber que não houve sofrimento após aquela despedida.
Se você não leu, vai entender que Paulo e eu somos um casal que vivemos em cidades diferentes.
Depois daquela despedida, Paulo continuou me tratando como se estivesse na porta ao lado.
As mensagens eram muito frequentes e as ligações diárias.
Os vínculos estavam formados.
As rotinas também.
Ele ficava 15 dias em Ribeirão Preto e 15 dias aqui.
E assim as quinzenas foram passando.
Os 15 dias daqui eram dias plenos.
Tinha momentos tão felizes que eu parava de respirar, e tentava congelar aquelas cenas em minha memória ou em meu coração.
E dizia que queria guardar aquele sentimento para poder sentir mais tarde.
Não era possível ser tão feliz em um espaço tão curto de tempo.
Paulo se divertia.
Os 15 dias que ele passava longe eram uma grande contagem regressiva, que só aumentava o prazer da expectativa e do reencontro.
Ele chegava sexta-feira à noite ou sábado de manhã.
Naquele final de semana ele chegou na sexta-feira e, como sempre, despenquei em seu ap quase que imediatamente após a sua chegada.
Eita, como a saudade faz bem.
Bom, matada a fome, fomos comer alguma coisa. Mas na cozinha.
E foi aí que ele me falou, aliás com muita naturalidade.
– Amanhã almoçamos juntos, né?
– Mas é claro!! Tenho que voltar pra casa para algumas coisinhas com meus filhos, mas o almoço é com você.
– Ahhh, que bom. Vai conhecer minha mãe então. Ela vem para São Paulo para ir a um show, acho que um musical, e vamos almoçar juntos. Vou fazer um risotinho aqui para nós. Falei que você estaria aqui.
Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!
Genteeee!! Como???
O que foi que ele falou??
Mãe????? Ele tem mãe???
Tá bom, eu sabia que ele tinha. Mas para mim ela era uma entidade, tipo boto cor de rosa.
Existe, mora longe, sei histórias, mas tenho pouquíssimo interesse.
Mas e agora???
Não quero conhecer a mãe dele.
Não quero almoçar com o boto!!
Muito menos aqui na casa dele!!!
O que ela deve pensar do filhinho estar namorando uma mulher 15 anos mais velha!!!
É. 15. Não te falei? Upss..
Então, um dia tive que contar para ele que não tinha 42. E sim 50.
Ele aproveitou para me falar que não tinha 38 e sim 35.
Mas aí já era tarde demais.
Claro, né? Não sou tão bobinha assim. Nem ele.
Claro que nós dois sabíamos que a diferença não eram só aqueles 3 anos.
Mas isso era um assunto menor. Ou tão maior que evitávamos.
Sempre preferi ficar sozinha com Paulo. Ou ir a lugares românticos e fora do meu circuito.
Ele não se incomodava.
Mas não deixava de sugerir lugares badalados, barzinhos da moda. Eu evitava. Preferia não ser vista com ele.
Acho que não estava preparada.
Não contei para os meus filhos. Quer dizer…
Eles sabiam que eu estava namorando.
Mas disse que não era nada sério, que quando chegasse a hora nos reuniríamos todos.
Aí agora, cara colega, você aí desse outro lado do monitor vai dizer:
– Que bobagem!!!
Ahh, é! Até parece…
Tudo que eu queria é que fosse, sim, uma bobagem, um preconceito ultrapassado ou da minha cabeça.
Então fui a campo. Cheguei a fazer alguns ensaios para sentir o que viria do mundo.
Primeiro, obviamente, troquei muitas e muitas ideias com a Nena.
Quando ela percebeu que a coisa estava deixando de ser uma brincadeira e que já tinha virado um relacionamento começou a me fazer perguntas incômodas.
Contei que tinha aberto meu coração e dito minha verdadeira idade. Ele a dele. E que aquilo foi motivo de risadas, os 15 anos, eu digo.
– Carla, isso tá muito estranho. Muitooo. O que ele faz mesmo? Trabalha com que? O apartamento é dele? Menina…………. Olha lá!Você não está bancando nada para ele está??? Você sabe quem ele é realmente?
Afffffffff
Eu sei que ela não falou por mal.
Sei também que ela, assim como eu, não vê problema em mulheres que ganham mais que o homem.
Mas sei lá. Se minha melhor amiga falou comigo deste jeito…
O preconceito existe.
Vou te poupar de descrever o tipo de comentário ou pensamento que passa na cabeça das pessoas quando veem um casal assim.
Mas continuei tentando aceitar a diferença na aceitação do outro.
Então chamei a Paula.
Paula, minha amiga super super descolada e moderninha e open minded.
Tinha certeza que ela falaria tudo o que eu queria ouvir.
E ela disse:
– Carlaaaa, minha linda!! Parabéns!!!! Querida, isso é muita competência!!! Esta é uma das melhores coisas que pode acontecer com uma de nós Dominiques: ter um relacionamento com homem mais novo. Ainda mais se for este TUUUUUDDOOO o que você está falando. Coisa mais linda… Aproveite muito.
Respirei fundo, numa alegria quase infantil, e abri um largo sorriso, adorando o apoio e prestes a contar toda a nossa história de amor como uma adolescente (porque, afinal, tudo o que eu queria era dividir com o mundo aquele meu louco amor). Foi quando ela completou…
– Só tome cuidado para não se apaixonar!!! Não queira brincar de casinha e sonhar com happy family! Affair com homens mais novos tem prazo de validade.
Prazo de validade.
Esta frase ressoava na minha cabeça. Martelava.
Mas era ouvir a voz dele, ler uma mensagem, sentir seu toque, que tudo isso passava.
Verdade é que na cama nunca senti esta diferença.
Não sei se porque não tínhamos espelho no teto.
Também se tivéssemos sou míope graças a Deus.
Mas sempre dei conta do recado.
Com galhardia.
Ahhh… uma mulher sabe disso. Sabe quando agrada.
E era plenamente correspondida.
Pois é…
Mooorra de inveja!!!
Namorar menino tem lá suas vantagens… Muitas!
Mas, agora, voltando ao tal almoço??
Conhecer a sogra?? Gente!! Nãoooo!!!!
Tinha que arrumar alguma desculpa para não ir.
Mas o que?
Dor de cabeça? Nahhh
Cólica? Nahhhhh
Casamento do primo mais novo? kkkkkkkk Nahhhh
Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!Pânico!
Pensei até em pagar alguém para quebrar uma das minhas pernas. Talvez as duas.
Mas tive essa ideia muito em cima da hora e não achei ninguém disponível.
Como dizia meu pai: o que não tem remédio remediado está.
E na falta de remédio melhor para situação, dá-lhe Rivotril.
Você tem ideia do tormento que foi me arrumar para aquele almoço?
Sim, você deve ter.
Roupa mais chiquezinha ou mais descolada?
Salto alto ou sapatilha?
Bolsa?
Uso maquiagem? Claro, né Carla!!!!
Hellooooo… 50 anos!!
Paulo ligou perguntando se eu queria que ele me pegasse.
– Não querido. De jeito nenhum. Vou com meu carro.
– Ahhh, já chegou? Que bom… Quer que leve algo? Nada mesmo? Ok..
Mas não fui com meu carro não. Resolvi pegar um táxi.
Fiquei com medo de me perder, de bater, de não chegar.
Moro no Itaim e o Paulo, em Perdizes. Não é tão longe, masssss…..
Você sabe como é mulher nervosa.
Foram os 4 minutos mais angustiantes da minha vida.
Sim, sim, eu sei.. Num sábado sem trânsito este percurso não daria menos de 25 minutos.. Mas nunca uma porra de uma viagem de taxi passou tão rápido.
PQP.
Enfim.
– Chegamos – disse o motorista diante de uma mulher paralisada no banco de trás.
Paguei. Peguei minha bolsa e a garrafa de vinho e os chocolates chiquetérrimos que comprei para hora do cafezinho e me encaminhei para portaria.
– Boa tarde dona Carla. Pode subir. Seu Paulo está te esperando.
– Ahh, obrigada seu Zé. A mãe dele já chegou?
– Dona Mariana? Já sim!!
Não sei porque, mas gelei.
Fiquei pálida.
Percebi que estava suando frio. Devo ter borrado a maquiagem.
Pedi que seu Zé avisasse pelo interfone que eu tinha chegado.
Na verdade, estava ganhando tempo e tentando recobrar o ritmo normal da minha respiração.
Quando minha tontura diminuiu, meu suor secou e o meu batom fixou eu abri a porta do elevador e subi.
Paulo estava na porta me esperando.
Não deixei que ele me beijasse na boca. Na verdade, acho que ele nem tentou.
Segurava minha bolsa de um lado como se ela fosse um escudo antibombas, e os chocolates como se fossem um terço.
Dona Mariana estava nos esperando na sala com um largo sorriso.
– Mãe, esta é a Carla.
– Olá, Carla. Já ouvi muito falar de você.
– É um prazer finalmente conhecê-la – disse dona Mariana com o mesmo largo sorriso e com os beijinhos tradicionais.
Muito carinhosamente me convidou para sentar num sofá que eu tanto conhecia.
Disse que amava chocolates, e que aqueles eram especiais.
Fui ficando um tiquinho mais à vontade.
Paulo, obviamente, dono da situação ou pelo menos dono do espaço se movimentava pelo apartamento me servindo uma coca zero, entrando e saindo da cozinha vigiando seu risoto. Mas percebi nele também uma leve tensão.
Mas o papo fluiu.
Fluiu bem.
Falamos amenidades.
– Agora entendo porque o Paulo é tão maduro e culto, dona Mariana.
– Dona? Dona não, vai… Mariana
Senti que ela parou a frase de sopetão. Senti que ela se reprimiu.
Tenho certeza que faltou o “afinal somos quase da mesma idade”…
Tenho certeza!!
Ou será que foi nóia?
Foi nóia. Claro!!!
Estava sendo super bem tratada.
Me sentindo quase que acolhida.
Bom.
Almoçamos.
E a conversa continuou amena.
Pairava no ar talvez um quase imperceptível desconforto.
Talvez um cuidado excessivo.
Não sei.
Mas normal para pessoas que se conhecem.
Sobremesa.
Cafezinho. Chocolates.
Começou a faltar assunto.
Então bora falar do tempo, né?
– Nossa, mas como está quente, não?
– Este verão está especialmente quente, vocês não acham?
– E dizem que Ribeirão Preto é ainda pior, não é Mariana!! Como você aguenta?
– Ahh, Carla. Fica pior nesta nossa idade. Mas depois de um tempo, nós nos acostumamos com a menopausa e os calores diminuem.
Silêncio…………………………………..
Acho até que meus olhos chegaram a marejar.
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