Tag: Drama

Fugindo de estereótipos com elegância, Adeus à Noite discute a relação dos jovens com o terrorismo

Escrito e dirigido por André Téchiné, o filme Adeus à Noite, drama francês, exibido no Festival de Berlim 2019 se destaca pelo olhar mais profundo sobre assuntos atuais. O filme é contemporâneo e aborda algo muito presente na sociedade européia.

Em Adeus à Noite, Catherine Deneuve interpreta Muriel, uma senhora que tem uma vida tranqüila em sua propriedade rural, onde cria cavalos e cuida de sua belíssima plantação de cerejeira em escala industrial.

Quando seu neto Alex (Klein), chega para passar uma temporada com ela, antes que se mude para o Canadá junto da namorada Lila (Oulaya Amamra), sua rotina é transformada. Quando esse reencontro finalmente acontece depois de muitos anos sem se verem, a relação entre eles parece estremecer com a descoberta de acontecimentos indesejáveis.

O neto de Muriel possui segredos com sua namorada, que o acompanhará nessa viagem. As motivações da partida envolvem religião, mudança de comportamento e algo muito mais grave.

O fato de Muriel morar no campo não é à toa. Alex está prestes a viajar, mas não para o local que sua família pensa. É a partir disso que o drama se desenvolve.

Religião, segredos e família

No enredo em si nada é previsível. Dividido entre dias da primavera, o longa usa da relação estremecida da avó e neto para emergir em um assunto que tem sido muito abordado em filmes franceses, que é a questão da interação entre França como um todo e a religião islâmica.

O filme tem como uma de suas principais fontes o livro Les Français Jihadistes, escrito com base em entrevistas com jovens que aderiram à causa islâmica e pode oferecer ao telespectador a possibilidade de tentar entender o que se passa na cabeça da juventude que decide largar tudo pelo sacrifício e pela promessa de uma vida com sentido. Adeus à Noite não busca respostas fáceis, mas busca respostas.

Trata-se de um tema forte, da maior atualidade e a escolha da avó – deixar ou não o neto partir coloca em cheque seu humanismo.

Adeus à Noite nos faz refletir sobre a solidão, sobre as buscas por um propósito de vida, a imaturidade e a inocência. Com ele, a forma como se enxerga as relações pessoais e doenças como a depressão pode ser brutalmente revistas e mudadas.

É belíssimo o trabalho de enquadramento de câmera para captar paisagens deslumbrantes que engrandecem as cenas e dão ainda mais peso à atuação dos atores. Deneuve cada vez mais intensa e sutil consegue transmitir diversas sensações que vão desde surpresa, desapontamento e preocupação, uma atriz de grande expressividade.

Klein não fica atrás, mas sua bravura atuante não aconteceria se não houvesse Oulaya, sua namorada. Juntos e ao lado de Stéphane Bak, os atores são responsáveis por criar um enredo paralelo cheio de ação, suspense e drama.

Uma narrativa ao mesmo tempo tensa e tocante.

Sem dúvida vale muito a pena uma ida ao cinema. 

Muito bom.

 Aqui fica a dica.

Assista o trailer:

Outras produções francesas

De cabeça erguida

Sementes podres

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Olmo e a Gaivota – lindo, terno, infinitamente fascinante em sensível abordagem sobre a maternidade

Premiado no Festival do Rio 2015, “Olmo e a Gaivota”, filme da diretora brasileira Petra Costa, com codireção da dinamarquesa Lea Glob, traz a união entre ficção e realidade.

Na obra os atores do Théâtre Du Soleil, Olivia Corsini e Serge Nicolaï, são os intérpretes do casal protagonista.

Uma travessia pelo labirinto da mente de uma mulher “Olmo e a Gaivota”, feminino por natureza, conta a história de Olivia, atriz que se prepara para encenar A Gaivota, de Tchekov. Quando o espetáculo começa a tomar forma, Olivia descobre que está grávida, e um problema de saúde coloca em risco a gravidez.

A atriz terá que ficar nove meses em casa, enquanto seu parceiro pessoal e profissional, Serge, continua ensaiando com a Companhia, às vésperas de uma importante turnê por Nova York e Montreal.

Os meses de gravidez se desdobram como um rito de passagem, forçando a atriz a confrontar seus sentimentos e medos mais obscuros. O desejo de Olivia por liberdade e sucesso profissional bate de frente com os limites impostos pelo seu próprio corpo.

Real e o Imaginado

O filme tem uma nova virada quando o que parece ser encenação revela-se como a própria vida. Ou será o inverso? Esta investigação do processo criativo nos convida a questionar o que é real, o que é imaginado e o que sacrificamos e celebramos em nossas vidas.

O que impregna de verdade são as vibrantes personalidades de Olivia e Serge, além da interessante mis-en-scène de belos atores fingindo tão completamente que chegam a fingir que é dor a dor que realmente sentem.

Com olhar apuradíssimo para grandes imagens, a fotografia gentil e microscópica em todos os momentos mais íntimos das personagens reais, faz parecer que se está assistindo a um filme, com um grande roteiro de drama europeu como poucos.

Um filme sensível, deliciosamente degustável, com uma excelente competência técnica, que “aprisiona” o espectador durante seus 87 minutos de duração.

A completude de um “ciclo de vida” é a imediata imagem que nos vem à mente ao passo que o filme avança e o desfecho da obra, com o belo Samba da Rosa de Vinícius de Moraes e Toquinho, nos emociona e nos faz ver mais uma pequena vida com olhares de cumplicidade, mais uma primavera que chega ao mundo no mesmo momento em que o filme que ela gerou chega ao fim. É o início de mais um ciclo.

Recomendadíssimo!!!

Assista o trailer

Outros filmes na Netflix

Animais Noturnos

Monsieur e Madame Adelman 


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Quem Você Pensa Que Sou – forte drama psicológico faz estudo da complexa personagem e da maturidade

Hoje minha dica é assistir o ótimo filme “Quem Você Pensa Que Sou”, mas no cinema. A junção de Binoche em ótima forma, com surpreendente expressividade, um diretor empolgado e um roteiro interessantíssimo faz com que o longa seja um dos melhores filmes franceses da safra recente. Exibido no último Festival Varilux de Cinema Francês 2019.

Em seus 50 anos, Claire (Juliette Binoche) é uma professora de literatura, bem-sucedida, divorciada, desprezada pelo jovem namorado Ludo. Claire então decide criar um perfil falso em uma rede social para atingir o ex-namorado. Lá atende por Clara, uma linda garota muito mais jovem.

Alex, colega do ex acaba se apaixonando por Clara, e Claire, por trás das telas também. Apesar de tudo rolar no mundo virtual, as emoções ocorridas são bastante reais, e podem trazer complicações para todos. É o início de uma relação complicada, e tumultuada repleta de mentiras, revelações, reviravoltas e momentos muito tensos.

Esta é a trama do excelente drama psicológico Quem Você Pensa Que Sou dirigido pelo francês Safy Nebbou. No longa há a escuta terapêutica, as sessões de psicanálise em que Claire relata os motivos recentes de sua amargura dilacerante.

As ambiguidades de uma mulher de mais de 50 anos

O cineasta Safy Nebbou apresenta com sensibilidade as ambigüidades da protagonista, por exemplo, intercalando as aulas em que ela menciona exemplos femininos fortes tais como Marguerite Duras, com as demonstrações de fraqueza na intimidade.

Claire freqüentemente se apresenta em frangalhos diante da terapeuta , a quem confronta, questionando métodos, como que testando sua elasticidade ética a fim de sentir-se segura para desabafar por completo.

A trama é construída com cuidado, focada no entrelaçamento perigoso das personas real e imaginária que Claire queria indistinguível a fim de não perder de vista seu novo amor.

Quem Você Pensa Que Sou, num nível simbólico, fala de questões como a angústia sentida por algumas mulheres na casa dos 50 anos, a imersão na mentira como artifício para suportar as dores da realidade e a “irresponsabilidade” emocional.

Eu tive uma paixão imediata por esse drama que aborda com muita exatidão e requinte assuntos como envelhecimento, o medo do abandono e da rejeição, a paixão amorosa, o domínio, a obsessão e o desejo de não cumprir as regras.

Não perca!

Sem dúvida vale uma ida ao cinema.

Você vai adorar!

Assista o trailer

Outro filme com a protagonista

Mil Vezes Boa Noite


1 Comentário

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Thriller psicológico, Animais Noturnos vai do ultra chique e moderno ao grotesco, sem perder o passo

Para você Dominique cinéfila, antenada, moderna e fashionista, eu recomendo o impecável Animais Noturnos, longa vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Veneza 2016. 

Segundo longa dirigido por Tom Ford, ator antes de ser estilista, se tornou  um importante nome da moda, responsável pela revitalização da marca Gucci, e hoje com a marca que leva seu nome.  

Acima de tudo Ford continua um esteta, mantendo seu total domínio do espaço e design. O filme vai do ultrachique e moderno ao grotesco e ao natural sem perder o passo, começando por uma bizarra cena de abertura com cheerleaders obesas mórbidas nuas, remetendo a David Lynch, e chegando a um final sangrento.

Animais Noturnos – olhem só que bom esse nome – é um thriller psicológico, construído com um convincente clima de tensão numa história de vingança.

Ao mesmo tempo Ford cria um universo perturbador e simultaneamente clean, violento e blasé. O filme conta com uma estética de imagem pra lá de impactante! Belíssima! Vocês vão se deleitar. Linda demais, beira os maneirismos estilísticos mas evita a cilada da beleza vazia.

No filme Amy Adams, excelente no papel de Susan, linda mulher, galerista de sucesso, rica, infeliz no casamento com seu marido Walker [Armie Hammer], que a trata com total indiferença, atualmente em crise existencial conjugal e financeira.

Tudo começa quando Susan recebe o manuscrito do novo livro do seu ex-marido, o inseguro e belo Edward [Jake Gyllenhaal] com quem não fala há 19 anos. O livro é dedicado a ela. O romance é uma violentíssima história de uma família atacada por marginais, que os agridem com pressões psicológicas e físicas. Um pesadelo no meio do deserto do Texas.

Ford coloca as duas tramas paralelas em ambientes opostos. Na vida de Susan, tudo é glamuroso, dos figurinos extravagantes que por sinal são lindos (preparem-se!) até ao modo de vida das pessoas que a cercam. Em contrapartida, o cenário do livro é um deserto pessimista e árido. A história dentro da história é o que há de mais envolvente.

A narrativa do filme corre em três planos: vida real, lembranças do casamento passado e a trama do livro.

O bom elenco se mistura pelas três vias, num jogo fascinante e envolvente. No filme o que há de melhor: a luz, os enquadramentos e as composições dos planos e a cenografia. Isso sem falar dos figurinos, é claro, e os supercloses no rosto de Amy Adams. Tudo faz lembrar um editorial de moda.

O bom elenco se mistura pelas três vias, num jogo fascinante e envolvente. No filme o que há de melhor: a luz, os enquadramentos e as composições dos planos e a cenografia. Isso sem falar dos figurinos, é claro, e os supercloses no rosto de Amy Adams. Tudo faz lembrar um editorial de moda.

Nada está no filme por acaso e, com um filme que vai além da estética apurada, Tom Ford prova que é uma força a ser reconhecida no cinema tanto quanto já provou na moda.

Confira o trailer

Outros filmes com os protagonistas

Grandes Olhos – O Artista e o Impostor

Me chame pelo seu nome

2 Comentários
  1. Comecei a assistir, depois da bizarrice da abertura, as cenas de violência na estrada…desisti! Acho que tentarei novamente.

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Monsieur & Madame Adelman – história de amor retrata 45 anos de paixão, angústia, inspiração, traição e ambição

Hoje não posso deixar de falar para você que não viu o filme Monsieur e Madame Adelman no cinema e que comentei aqui em 2017. Essa pérola imperdível do cinema francês acaba de entrar no Netflix.

A história de amor de Monsieur e Madame Adelman é contagiante e divertida, emocionante, irônica e muito sensual, mistura de drama e comédia. O filme retrata a vida de um casal – de início, improvável, mas que viria a permanecer junto por mais de quatro décadas.

A trama é narrada em capítulos, e gira em torno do ofício do escritor Victor (Nicolas Bedos) e, ao mesmo tempo, é estruturada a partir da forma como Sarah (Doria Tillier) relata as partes cruciais de seu relacionamento com o marido a um jornalista que está escrevendo uma biografia sobre ele.

Pelo olhar dela, o espectador irá acompanhar a jornada do casal por esperanças e desilusões, alegrias e tristezas, crises existenciais, infidelidades e velhice.

Tudo contado com sensibilidade e requinte, de maneira que o espectador se reconheça em várias situações. 

O longa percorre décadas de um relacionamento sem deixar de mostrar todo o contexto de um planeta que viveu muitas modificações ao longo do tempo, assim como essa linda história de amor.

Os relatos de madame Adelman desvendam uma história de amor real, bem longe dos contos de fada, onde é preciso lidar com egos, insegurança e temores costumeiros no convívio entre gêneros distintos.

Um dos aspectos mais fascinantes do longa é justamente o fundo psicológico e sociológico acerca de ambos os gêneros, trazido com extrema habilidade pelo roteiro escrito pela própria dupla de protagonistas, casados na vida real.

Carismáticos e envolventes eles conseguem sempre prender a atenção a partir de situações inusitadas e triviais, alternando momentos de bom humor e de briga intensa como é a própria vida.

Essa saga de romance moderno, com boas pitadas feministas, começa na década de 70, onde Sarah conhece Victor em uma boate decadente de Paris e se apaixona perdidamente.

Esse é o período que concentra a maior parte da ação, com os primeiros, e aparentemente os mais felizes, anos de história do casal.

A atmosfera setentista, com sua iconografia escancarada nos objetos de cena, figurinos e penteados, é registrada por Bedos através de uma câmera em constante movimento.

As viradas de cena são abruptas e chocantes onde o espectador fica aguardando o próximo passo desses inesquecíveis personagens. 

O roteiro é excelente com diálogos precisos, mas o filme não se resume a isso.

Monsieur e Madame Adelman conta também com uma atuação de extrema competência, uma fotografia belíssima, com funções narrativas bem claras e sem formalismo desnecessário, direção clássica e extremamente bem executada, uma fantástica trilha sonora que dá o clima e está sempre conectada ao momento do filme, e uma maquiagem incrível que impressiona.

Esse belo trabalho é um dos filmes inesquecíveis que você verá agora no Netflix.

Sem dúvida um ótimo programa!

Vale a pena conferir. 

Depois me conta o que achou.

Confira o trailer:

Outros filmes franceses

Jovem e Bela

Diário de uma Camareira


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