Tag: Memória

Polêmico e importante. Vamos discutir sobre a reposição hormonal?

Este é um dos temas mais polêmicos envolvendo a menopausa. A reposição hormonal ainda divide opiniões entre as mulheres e até entre os médicos. De tratamento promissor, recebeu diversas críticas pelo fato de ser associado ao diagnóstico de doenças graves. No entanto, não deixa de ser um das questões mais importantes para discutir, quando falamos sobre a saúde da mulher. 

Por isso, conversamos com a dra. Rita Dardes para dividir com vocês informações relevantes sobre a reposição hormonal. A dra. Rita é ginecologista e professora adjunta do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Lá, ela também coordena o Ambulatório de Climatério. 

Em primeiro lugar, um aviso! Não conversamos sobre casos específicos. A dra Rita foi muito enfática em recomendar que a paciente discuta o seu caso com seu médico de confiança. Cada mulher carrega consigo um perfil fisiológico e um histórico de saúde. O tratamento é individual. 

A boa notícia é que hoje dispomos de recursos cada vez mais modernos para lidar com os processos deletérios da maspassa. “Não raro, a mulher estava fadada a viver com os problemas causados pela menopausa”, afirma a dra. Rita. Da mesma forma, ninguém conversava sobre ela.

Hoje, o assunto menopausa já não é mais um tabu ainda que provoque algumas dúvidas. Certamente, todas as mulheres vão passar por esse processo fisiológico, que acarreta importantes mudanças metabólicas e físicas. “Podemos abreviar de fato muitos sintomas com um tratamento adequado e dentro da expectativa de cada paciente”, conta a dra Rita. 

Dessa forma, a qualidade de vida da paciente pode melhorar muito. “Ninguém merece sentir inesperadamente o fogacho no meio de uma reunião de trabalho”, reconhece a ginecologista. A dra. Rita é a favor de fazer a reposição hormonal, mas dentro de um quadro bem determinado da paciente. 

Quem pode fazer a reposição?

A dra Rita explica que há cinco questões fundamentais para a paciente conversar com o seu médico antes que tome uma decisão. Estes quesitos são amplamente discutidos com os futuros médicos, em suas aulas na Unifesp. “Somente com a resposta a essas perguntas podemos determinar se a mulher pode ou não fazer a reposição hormonal”, explica a dra. Rita. 

# 1 – A paciente é sintomática?

A maioria das mulheres sofre (e muito!) com os sintomas da menopausa. Pouquíssimas passam por esse período sem sentir algum mal estar. A reposição ajuda a restaurar a qualidade de vida em todos os sentidos. Os sintomas mais frequentes são: fogachos (já falamos aqui), secura vaginal (e aqui), redução da saúde óssea, melhoria cognitiva (memória), qualidade do sono, entre tantos outros. 

# 2 – Está dentro da Janela de Oportunidade?

Há um período específico em que a mulher pode receber e usufruirá com segurança dos benefícios da reposição hormonal. É a chamada Janela de Oportunidade, que compreende o início da transição menopausal até no máximo 10 anos da última menstruação. O início da transição é aquela fase quando começam as falhas menstruais e os ciclos ficam malucos. A menopausa é determinada quando a paciente completa 12 meses de amenorréia (sem menstruar). 

# 3 – Existe alguma contra-indicação absoluta?

Infelizmente, há alguns quadros clínicos em que a mulher não poderá fazer a reposição hormonal. Enquadram-se nessa situação, sobretudo, quem teve AVC, câncer de mama, infarto agudo, diabetes irregular, hipertensão arterial irregular, doença autoimune, entre outras condições. Por isso, fica um alerta para quem ainda não passou pelo processo. A prevenção é fundamental! 

# 4 – A paciente quer fazer a reposição hormonal?

Sim! Há mulheres que não querem correr nenhum risco ou mesmo não sofrem tanto com os efeitos da menopausa. É necessário ter o desejo de passar por esse processo. Após avaliar com o seu médico os prós e contras, apenas a paciente deve tomar a decisão. 

# 5 – Está com todos os exames em dia e em ordem?

É preciso uma avaliação completa das condições de saúde da paciente antes de iniciar o tratamento com reposição hormonal. Os exames precisam estar em dia e a dra Rita não abre mão disso. Ah, e o acompanhamento também é essencial. 

É importante fazer essa análise criteriosa antes de optar pelo tratamento com os hormônios. Há estudos que demonstraram o aumento na incidência de infarto miocárdico, derrame cerebral e câncer de mama. Tome a sua decisão com informação e consciência. 

A dra Rita Dardes é Dominique e ginecologista em São Paulo.

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Caduca, não. Você pode culpar a menopausa por seus lapsos de memória

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5 Comentários
  1. Tive um cancer de mama há 20 anos Tinha 40 anos e continuo com afrontamentos. Passo umas noites muito más o que poderei fazer?
    Obrigada

    1. Estou preocupada com a perda óssea, hormonios e menstruação ainda normais, mas apresentei um inicio de osteopenia,52 anos.

  2. Acho que reposição hormonal, no meu caso, está fora de cogitação: minha mãe teve câncer de mama (ao que tudo indica, por causa da reposição) e não quero sofrer esse risco…

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Caduca, não! Pode culpar a menopausa por seus lapsos de memória

Estes dias, a Eliane Cury Nahas perdeu o carrinho no supermercado. Bom, ela mesma considera que talvez o carrinho nunca tenha saído do lugar, só esqueceu onde o estacionou. A Eliane compartilhou sua desventura no nosso Grupo no Facebook (já faz parte?) e outras Dominiques se solidarizaram. 

A Bernardete Amaral foi ao hortifruti e comprou rúcula, manga e tomate seco. Voltou para casa e só achou a rúcula. Sua hipótese mais provável: colocou os itens no carrinho de outra pessoa. A Valéria Couto perdeu o lanche no pátio de alimentação do shopping. A vendedora foi solícita e ajudou na busca. Eis que surge um moço e mostra o sanduíche (atenção!) na mesma mesa onde ela havia deixado desde o princípio. 

Você se identificou com essas histórias? Quase todas as Dominiques já passaram por algo semelhante. Problemas como o esquecimento ou dificuldade de concentração são descritos com frequência pelas mulheres antes e após a menopausa. Embora sejam sintomas conhecidos deste período, vivenciar esses episódios ainda assusta as mulheres após os 40 anos.

Muitas delas consultam o médico com relatos como perda de memória progressiva ou falta de atenção com receio que os sintomas sejam indícios de Alzheimer ou demência. Sabe o mais grave? Médicos ainda fazem o diagnóstico errado. E isso não ocorre só no Brasil, não!

Diagnóstico incorreto

Conversei com a dra. Gayatri Devi, do departamento de neurologia do hospital Lenox Hill, em New York. Ela publicou um artigo na revista científica Obstetrics & Gynecology sobre “como identificar as alterações cognitivas associadas à transição da menopausa evitando a atribuição incorreta de sintomas como doenças neurodegenerativas.” O estudo completo está aqui

A dra. Devi contou que 60% das mulheres apresentam um déficit cognitivo relacionado à menopausa. No estudo, ela associou os sintomas à redução do hormônio estrogênio no corpo das mulheres após essa faixa etária. Os efeitos podem ser mais ou menos intensos dependendo da sensibilidade da pessoa. 

O diagnóstico médico é fundamental. Mas antes de ficar preocupada ou fazer exames complexos, a dra. Devi sugere que as pacientes sejam persistentes com seus médicos. “Muitos profissionais desconhecem a associação desses sintomas ao período da menopausa. E isso pode dificultar o prognóstico correto. O papel da paciente nessa situação é educar”, explicou a dra. Devi, na entrevista que fiz com ela por e-mail.  

As alterações cognitivas ocorrem na perimenopausa, cerca de 7 anos antes e por volta de 5 anos depois da menopausa. Ela recomenda que a paciente insista com o médico para considerar a transição da menopausa como uma das causas da perda de memória ou atenção. A dra. Devi ainda sugere que, antes de outros procedimentos, a paciente peça ao médico para ser avaliada por testes cognitivos ou com um estudo empírico com hormônios para verificar se os sintomas melhoram. 

Mas atenção! O diagnóstico correto do médico é fundamental. Converse com o profissional da sua confiança. Você pode procurar ajuda tanto de um ginecologista quando um neurologista para ter a certeza sobre seu momento de saúde. 

O tratamento pode ser rápido. Uma parte envolve remédio. Mas você também pode dar aquela ajuda! Preste atenção nas dicas:

  • treine o corpo e a cabeça! Já falamos aqui sobre os exercícios da Oficina da Memória (aqui);
  • mantenha uma vida social ativa;
  • tenha uma dieta saudável;
  • não fume; 
  • consuma álcool com moderação;
  • cuide do seu colesterol, do peso e da pressão arterial (ajuda a proteger seu cérebro);

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O Mindfulness e os benefícios para as Dominiques

Alguns indícios começaram a aparecer ainda cedo. Primeiro foi a memória. De uma hora para outra, eu estava esquecendo até do endereço da minha casa. Depois, eu comecei a ter dificuldades para dormir a noite. Não sei bem se por causa da insônia – ou das mudanças hormonais – eu também fiquei irritada e sem nenhuma paciência.

Você  se reconhece nessa situação? Como cada sintoma surgiu em momentos diferentes, eu não tive consciência do que estava acontecendo de uma forma mais ampla. Ao contrário, eu comecei a tratar cada um dos problemas separadamente. Dá-lhe comprar e tomar os remédios receitados pelo ginecologista, psiquiatra, cardiologista… 

Não houve um fato marcante que me incentivou a fazer uma mudança de vida. Acredito que foi a consciência de que nada do que sentia era um problema que precisava ser curado! Entender qual era o meu momento de vida foi o passo inicial. E então veio o desafio: o que eu poderia fazer para ter uma qualidade de vida melhor?

Eu sempre fiz esportes. Mas intensifiquei os treinos e inclui, além do Pilates, a ginástica funcional. A prática de exercícios ajuda muito! Mas não foi a solução pra todos os problemas. 

A minha psiquiatra já havia me recomendado a prática da meditação Mindfulness. Teimosa, eu achava que não era para mim. Imagina…. eu que fico dia inteiro ligada no 220, entre as tarefas do trabalho e de casa. Tinha a certeza que não conseguiria parar nem um minutinho para meditar. 

Resolvi dar uma chance! Em vez de ler sobre os benefícios do Mindfulness, eu escutei o podcast número 5, do Autoconsciente (aqui). E depois escutei outros áudios sobre como ficar mais centrada e pratiquei a meditação com a Regina Giannetti. 

Nada de religião ou uma nova filosofia de vida. Mindfulness é uma técnica que ensina a ter foco no presente. São exercícios simples, feitos com a ajuda da respiração. Os benefícios já comprovados valiam a minha experiência! 

A lista inclui: diminuição de dores crônicas e da pressão arterial e auxílio no tratamento de ansiedade e depressão. Há estudos que comprovam a sua eficácia na prevenção do Alzheimer. A prática está melhorando o desempenho (e a criatividade) de estudantes e até executivos. É eficaz no tratamento da síndrome do stress pós-traumático. De modo geral, melhor o nosso bem-estar. 

Não é fácil!

Eu ainda sou iniciante na prática de Mindfulness. Executar o exercício de respiração é fácil. No meu caso, tem sido difícil criar a rotina de parar todos os dias para meditar. Nos finais de semana, por exemplo, é praticamente impossível. 

Mas sabe que já estou conseguindo meditar todos os dias e, quando não faço, eu sinto falta? O meu tempo recorde foi 20 minutos. Eu já sinto alguns benefícios. Estou muito mais focada e meus episódios de esquecimento estão mais dispersos. 

A tradução para o português de Mindfulness é justamente esse benefício: Atenção Plena. O objetivo da técnica é nos ajudar a focar no momento presente, sem nos deixar afetar por problemas do passado ou medos futuros. 

A nossa mente é cheia de distrações. Para “facilitar” a nossa vida, fazemos muitas coisas no piloto automático. E as divagações… Você já se pegou numa conversa ou reunião de trabalho pensando em outro assunto completamente diferente? 

Quase todo mundo funciona assim! Estamos sempre preocupados com o que acontecerá amanhã, remoendo questões do passado e tentando fazer várias coisas ao mesmo tempo. Essa falta de consciência do momento presente nos leva a um estado de estresse e ansiedade. A prática regular do mindfulness nos ajuda a identificar (e sair!) desse modo divagante. 

Outros benefícios do Mindfulness!

Eu estou conseguindo controlar um pouco melhor as emoções. A consciência de que há uma realidade o fora do meu alcance é libertadora. Estou mais controlada e paciente!

Estou produzindo melhor no trabalho. Não tenho mais aquela ansiedade de ficar olhando os e-mails ou o whatsapp o tempo todo. Também estou dormindo bem melhor! Estes dias li que também ajuda a perder peso. Não vejo a hora! 

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Avoada, eu? Agora existe oficina de memória, Dominiques!

Dominique - memória
Sempre fui avoada, perco chave do carro, óculos, chave de casa, token do banco, mas ultimamente isso tem passado dos limites para qualquer ser humano razoável.

Trocando confidências com amigas, todas Dominiques, vejo que a Síndrome da Cabeça de Vento vem atacando todas nós.

Pesquisei sobre o assunto e descobri que um dos efeitos da Maspassa (a maledeta menopausa) é justamente a perda da memória.

Nesse meio tempo, fui apresentada à gerontóloga Paula Brum que iluminou o fim do meu túnel e, acredito, que vá dar uma luz para vocês também.

Primeiro de tudo, gerontologia é a ciência que estuda o processo de envelhecimento em suas dimensões biológica, psicológica e social. No Brasil é uma profissão nova, apenas 12 anos. Paula formou-se na primeira turma na USP, especializando-se em treino de memória.

Na Europa, há muitos gerontólogos, porque os países se prepararam para atender a sociedade que vem envelhecendo há bastante tempo e trabalham com prevenção. A oficina de memória nos países europeus é oferecida pelo governo para toda a população idosa.

Aqui, em terras tupiniquins, os médicos ainda não conhecem profundamente a área da gerontologia, logo não indicam aos seus pacientes. No entanto, não é raro, o médico constatar uma melhora na capacidade cognitiva no paciente após um período de treino da memória.

Todo o indivíduo passa a perder uma série de capacidades a partir dos 30 anos e essa perda fica mais evidente ao completar 60.

A aposentadoria não causa perda de memória. o que a propicia é parar de vez sem ter uma nova atividade, começar algo novo, isso, sem dúvida, contribuiu para o aceleramento do processo. Sabe aquela história de parar e ficar em frente à TV.

Aliada à depressão, ansiedade e ao stress, a memória fica extremamente comprometida.

A notícia boa é: podemos recuperar a memória e voltar como éramos aos 30 anos! Ufa, amei!

Até pessoas com Alzheimer ou doenças senis e que tem como prognóstico o esquecimento dos nomes dos familiares em dois anos, podem prorrogar para 4 anos, ou seja, aumenta-se a qualidade de vida do indivíduo, com os treinos e medicamentos.

Mulheres e homens, a partir dos 50 anos, devem participar de Oficinas de Memória, independentemente de ter ou não algum problema. Todos, a partir desta faixa etária, perdem atenção, velocidade de processamento e memória de trabalho, faz parte do show.

Para entender um pouco o mecanismo, a atenção faz com que percebamos os estímulos visuais e auditivos. A velocidade é quão rápido pensamos. A memória de trabalho é a manipulação de informação na cabeça. Usamos o tempo todo, em uma simples conversa, por exemplo.

Todo idoso – no Brasil é qualquer um que passe dos 60 anos – perde estas três capacidades.

Falamos muito que estamos perdendo a memória, mas nem sempre ela é o problema. Pode ser a atenção o que está faltando.

A Oficina de Memória funciona como uma academia para o cérebro. Você não se preocupa em manter o seu corpo saudável exercitando-se? Com o cérebro é a mesma coisa, mas concorda que não damos a mesma atenção?

Este treino pode ser feito tanto em grupo, quanto individualmente. Eu participei de uma sessão em grupo com várias Dominiques e adorei. Sem falar que não me senti a última das moicanas. Todas estavam com problemas para lembrar o que comeram na hora do almoço!

Vou aproveitar e dar uma dica aqui para um exercício supergostoso para exercitar a atenção.

Escute esta música de Tim Maia (antes de dançar e cantar junto) e conte quantas vezes ele fala a palavra EU e quantas vezes ele fala a palavra VOCÊ!

[fve]https://www.youtube.com/watch?v=TZQsoLACMW0[/fve]

Depois confira a letra da música e veja se você acertou.

Ah! Aqui está o link para o site da Paula para você saber como funciona a oficina de memória: www.paulabrum.com.br

Como esta a sua memória? Diz para mim se conseguiu cumprir o desafio.

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Ela se casou por causa de um speed dating!

Marot Gandolfi

JORNALISTA, EMPRESÁRIA, AMANTE DE GENTE DIVERTIDA E DE CACHORROS COM LEVE QUEDA PARA OS VIRALATAS.

4 Comentários
    1. Pois é Andrea! Se a gente tem como resolver, temos que correr atrás. Perder parte da memória, com tanta coisa sob nossa responsabilidade, faz parte do show, mas recuperar é a boa nova, não é!
      Se nem que tem coisas que valem a pena ser esquecidas kkkk! Beijo grande para vc!

  1. Oi Janyra,

    Vale a pena participar da Oficina de Memória, é interessante e produtivo.

    Peça para a Paula Brum ou Patricia Martinusso para fazer uma sessão experimental. Se quiser, posso enviar o contato delas.

    Beijosssss

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Será que ter uma memória seletiva é ruim? Descubra!

Dominique - Memória

Sempre me vangloriei da minha memória, cá pra nós, invejável.

Nenhuma data me escapava e sempre com requintes de detalhes, até a roupa que usava na ocasião, paisagem, aromas, horário…

Aniversários? Uma lista de A a Z e Z a A de deixar qualquer um boquiaberto.

Minha tia morreu com Alzheimer. Era uma agenda ambulante. No trabalho, os colegas brincavam: Dona Aparecida quando fulano veio, quando sicrano foi, quando beltrano apareceu? E ela, toda pomposa, recitava sem consultar um mísero papelzinho (não existia post it, santa invenção para os desmemoriados).

Não existia agenda na empresa, existia a D. Cida. Não sei como eles continuaram a atuar no mercado depois de sua saída, época que o computador era a máquina de escrever Olivetti mecânica, porque a elétrica nem tinha sido inventada, acho eu.

Pois é, o alemão chegou e ela ficou a ver navios com sua memória prodigiosa e, às vésperas de ir para o andar de cima, não reconhecia o próprio espelho, mas lembrava nitidamente dos pais e irmãos aos 18 anos, diga-se de passagem uma fase muito feliz em sua vida.

Não sei bem se o passar do tempo, ah! O tempo esse cara implacável, faz com que nossos neurônios faleçam ou fiquem mais seletivos.

Tenho lido que a melhor fase da vida começa aos cinquenta. Estamos inteiros fisicamente e mais sábios, começamos a não gastar vela boa com defunto ruim. Será que com a memória o mecanismo não é o mesmo? Para que lembrar do que não vale a pena ou não é significante?

Pense comigo, você tem uma caixa de madeira machetada que ama e ela tem 15 x 15 cm. Não é tudo que cabe nela. Você tem que guardar só coisas que representam algo marcante e importante para você. Não necessariamente bom, nem necessariamente ruim. Só o que você classificar como “vale a pena guardar”. Concorda que vai aprender a selecionar?

É fato e a ciência comprova por A + B que os neurônios vão morrendo. Se temos menos desses trecos e eles armazenam memória, não é melhor gastá-los com coisas que valham realmente a pena?

Ainda guardo lembranças nítidas de Dominique - Memóriaacontecimentos marcantes, a maioria feliz, mas não lembro o que comi na hora do almoço.

A agenda existe para isso, seja eletrônica ou impressa. Não abro mão da versão impressa, aquela pautada, com dia, horário e semana, calendário do mês atual, do anterior e do posterior. Jamais, em tempo algum, a deixo no carro tamanho. Podem roubar o veículo, para isso invisto uma bica no seguro, mas e a agenda? Deus me livre ficar sem ela.

Noto claramente que esqueço coisas do dia a dia que atrapalham e muito. Não tem um só dia que eu não deixe para trás a chave, o óculos, os papéis importantes ou não, a lista de supermercado… Chego na farmácia para comprar o remédio e cadê a receita? Fico com cara de tonta e saio de mãos abanando. No supermercado, como esqueço de levar a lista, sempre, falta um ou mais itens, mas a maioria consigo lembrar, ponto pra mim!

Nomes, ai meu Deus, quanta vergonha. Pergunto o nome do cidadão e consigo esquecer no  segundo seguinte. Não é força de expressão, no segundo seguinte de verdade. Fico com aquela cara de “Luzia, cadê meu peru” e tento, desesperadamente, enveredar pela conversa a fora de forma que não precise lembrar da “graça” do interlocutor.

Tomo alguns remédios e vitaminas pela manhã e noite. Tenho certeza que esqueço de tomar ao menos um, mas qual deles? Como vou saber? Não deve ser muito relevante, porque estou viva e Feliz da Silva!

Recentemente tive uma experiência que considero um presente muito mais que magnífico. Estive em uma festa com pessoas que de alguma forma, num passado remoto, me magoaram. Em tempo, sem vitimismo, o que aconteceu precisava de uma forma ou outra ter acontecido. Mas foram coisas que marcaram demais e não de um jeito bom. Reencontrá-los para mim foi um bálsamo e não pense que é balela o que digo, foi prazeroso porque sequer lembrei do que aconteceu de ruim. Se é a tal “maturidade” acabando com os neurônios, que sejam muito bem vindos, quero viver assim. Santidade eu sei que não é porque estou a anos luz de ser a Madre Tereza de Calcutá. É a tal memória sendo seletiva, vamos levantar as mãos para o céu, ajoelhar no milho e dar graças! Quero mesmo é esquecer tudo que não foi legal ou não importa.

Tem o lado não tão bom assim. Há gente, e cá pra nós, eu acho que pensa que é gente só porque caminha em dois pés, que se aproveita da situação. Diz que você não disse, mas você sabe, tem certeza que falou, com letras garrafais, mas não tem como provar, afinal a sala e o telefone não são grampeados,  não estou na lista de investigados da Lava Jato. Ai, a falta de caráter é culpa da sua falta de memória. Neste caso são outros quinhentos e vale um novo artigo.

O post it vem sendo um santo aliado no meu dia a dia, viva a 3M. Coloco milhares deles na capa da agenda, no painel do carro, na geladeira, balcão da cozinha, mesinha de cabeceira e no meu notebook. E quase sempre o que eu esqueço não é tão relevante assim, ninguém morreu, passou fome ou entrou em depressão.

As Dominiques tem o raro poder de transformar situações chatas, com classe, elegância e muito bom humor. Tem até um vídeo sobre esses “lapsos” (Clica aqui para ver). E a falta de memória tem nos dado oportunidades sensacionais para colocar este poder à prova.

Então que tenhamos memória seletiva, sim. Fica o que é bom e o que interessa. O resto? deleta, amiga.
Marot Gandolfi

JORNALISTA, EMPRESÁRIA, AMANTE DE GENTE DIVERTIDA E DE CACHORROS COM LEVE QUEDA PARA OS VIRALATAS.

2 Comentários
  1. Também estou nessa fase, às vezes me preocupo, mas é muito bom ver esses momentos serem tratados com leveza! Obrigada!

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