Sabe aqueles livros que ficavam guardados fora do alcance das crianças e de vez em quando você conseguia ler escondido? Ou que só sua amiga muito avançada tinha e ia passando secretamente para a turma do colégio ler?
A gente cresce e descobre que algumas dessas obras têm um baita prestígio e compõem um gênero muito admirado, a literatura erótica.
Para a moçada de hoje pode parecer que cenas de sexo explícito em romances nasceram com o fenômeno 50 Tons de Cinza. Nã, nã, ni, na, não. É coisa de séculos. Em doses muito mais apimentadas. Para não estender muito a história, vamos ficar com a produção do século 20 – listei 10 livros que deram o que falar. E fazer.
A literatura erótica constitui um ingrediente suculento para, digamos, acionar o interesse pelo dito cujo. O gênero chegou a ter até um papel educativo para demonstrar como são infinitos os caminhos da imaginação e do desejo. Impossível repetir na vida cada uma das práticas sugeridas pela literatura. Mas, graças a ela, temos uma janela para olhar as possibilidades, mesmo as que reprovamos.
Alguém definiu que a essência da literatura erótica está na transgressão. Seja em doses sutis ou explícitas, ligada ao amor ou ao puro sexo, incomoda e mexe com a zona de conforto do leitor/leitora.
Pode ser que alguém torça o nariz para algumas das obras escolhidas. “Mas isso não é erotismo, é pornografia.” Está aí uma discussão tão antiga quanto perseguir artistas, queimar livros e fechar museus. Até hoje, não se chegou a um acordo sobre a fronteira entre os dois. Regra para o sexo, existe uma – que a prática escolhida seja consensual.
Fora isso, cada um tem sua própria medida do desejo, um campo insondável que escritoras e escritores teimam em espiar.
Vamos às sugestões de livros. Só não esquece de tirar as crianças da sala.
Algumas obras estão fora de catálogo. Se não encontrar nas livrarias, procure no site Estante Virtual ou nos sites que disponibilizam edições em formato PDF.
Pequenos Pássaros, Anaïs Nin
Inquieta, feminista de primeira hora e precursora da revolução sexual dos anos 70, Anaïs demorou para ser publicada. Dizem que seu livro mais famoso, Delta de Vênus, foi uma encomenda de um homem rico, que queria só para si a descrição de fantasias eróticas femininas escritas por uma mulher. Os personagens dos contos de Pequenos Pássaros se movem entre paixões e anseios sexuais e vieram a público 30 anos depois de escrito. O caso entre Anaïs e o escritor americano Henry Miller inspirou o filme Henry e June.
O Elogio da Madrasta, Mario Vargas Llosa
Nobel de literatura de 2010, o peruano Mario Vargas Llosa nunca deixou de prestar um tributo ao erotismo em suas obras e a demonstrar sua admiração pelas mulheres que sabiam expressar sua sensualidade. Nesse livro, a fogosa e madura dona Lucrécia não se contenta com um casamento apimentado e acaba sendo responsável pela iniciação amorosa e sexual do enteado.
O Amante, Marguerite Duras
A autora apresentava o livro como autobiográfico. Não se sabe ao certo, pois a narrativa transita entre realidade e imaginação. Conta a iniciação sexual de uma adolescente de 15 anos com um chinês belo e rico da Saigon de 1930. Com um mix de erotismo e nostalgia, traz personagens complexos, divididos entre o desejo e a impotência de enfrentar as convenções da época. A obra chegou ao cinema em um grande filme nos anos 1990.
A Casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro
Convidado para escrever sobre o pecado capital da luxúria, o escritor imaginou as memórias sexuais de uma mulher sem pudores, agora com 68 anos. Nenhum prazer escapou dessa senhora. A voz feminina, no entanto, não camufla que se trata de uma visão masculina do sexo, bom para conhecer como funciona a imaginação e os anseios de um homem. A atriz Fernanda Torres encenou um monólogo inspirado no livro.
Idades de Lulu, Almudena Grandes
Lulu se interessa por sexo desde a entrada na adolescência e atrai a atenção de um homem mais velho que se torna seu mentor nos caminhos do desejo. Em certo momento, ela se perde nesse labirinto, em busca de experiências reais ou imaginárias, detalhadamente descritas. Sem julgamentos, a autora constrói a história em forma de lembranças da personagem, pontuando o seu amadurecimento com experimentações cada vez mais extremas. Para corações fortes, assim como o filme espanhol inspirado na trama.
O Amante de Lady Chaterley, D. H. Lawrence
Resumo da trama – Uma mulher bem nascida, infeliz no casamento, se encanta com um funcionário do marido e vive pela primeira vez uma profunda relação amorosa. Na Inglaterra dos anos 20, regida pelas castas sociais, a exposição explícita do desejo entre a lady e o guarda-caças levou a uma batalha judicial de 40 anos. Apenas nos anos 1960, o livro foi liberado na Inglaterra e nos Estados Unidos e ganhou status de obra-prima da literatura erótica. O cinema contou várias vezes essa história.
A História d’O, Pauline Réage
O livro contraria todos os avanços dos últimos anos para tornar as mulheres protagonistas de sua vida sexual, pois parte da premissa da submissão feminina como fonte de erotismo. No entanto, é um mergulho nas profundezas do imaginário do desejo. Identificada apenas como O, uma fotógrafa de moda aceita participar de uma sociedade secreta na qual as mulheres são ensinadas a estar totalmente disponíveis para os jogos eróticos dos homens. Publicado sob pseudônimo por Anne Desclos em 1954, a história rendeu um filme e um livro em quadrinhos desenhado pelo grande Guido Crepax, uma HQ que se tornou um clássico.
Trópico de Câncer, Henry Miller
A fama de pornógrafo acompanhou e obscureceu o talento literário de Henry Miller. Desbocado, literal nas descrições dos encontros passageiros, ele conta na primeira pessoa como era viver em um momento efervescente no centro do mundo, a Paris dos anos 30, que já inspirou tantos artistas. Em outros livros, como Trópico de Capricórnio e a trilogia Sexus, Nexus e Plexus, ele consolidou seu estilo polêmico, admirado por muita gente, em que mistura memórias e descrições cruas de sexo. É o personagem do filme Henry e June sobre o triângulo amoroso com a escritora Anais Nïn.
A Vida Sexual de Catherine M, Catherine Millet
Imagine uma profissional renomada no seu meio que, na maturidade, lança um livro contando inacreditáveis façanhas sexuais sem esconder a identidade. Catherine Millet teve essa ousadia em 2000. A francesa, crítica de arte respeitada, causou um alvoroço com esse livro de memórias sexuais, em especial seu gosto pelo sexo grupal. O livro se tornou um best-seller mundial e chama a atenção pela tranquilidade com que a autora assume a libertinagem como mais uma forma de fortalecer vínculos.
Vox, Nicholson Baker
A trama inteira do livro se passa em quatro horas. Uma linha cruzada (sim, era tempo do telefone fixo, não aconteceria com um celular) coloca um homem e uma mulher numa conversa íntima e a nós leitores, como voyeurs. Seduzidos pela voz um do outro, cumprem todo o ritual de aproximação, sedução e acasalamento apenas pela conversa tórrida sobre fantasias eróticas e provocações. Parece que não há nada mais poderoso no sexo do que a palavra. Tudo acontece e é descrito. Além de um marco da literatura erótica, o livro ganhou admiradores pelas inovações narrativas.
Conhece alguns livros eróticos que não estão aqui? Compartilhe comigo.
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Beijinhos..otima semana Amigas!!!!!!
Quanto amigas de tribos diferentes , tivermos mais arejada sera nossa mente. Tenho vários departamentos
Tenho várias tribos. Amizades novas, amizades desde sempre, amigas quase irmãs, primas mais que amigas… Cada uma com suas características, estilos, ritmos, predileções. O legal é perceber que eu sou um patchwork delas todas, com um toque muito pessoal.
Beijos ao Café Cotoxico, Fono Puc 80, Gatuchas do Costa… Todas muito Dominique.