Em Julieta, filme dirigido pelo cineasta espanhol Pedro Almodóvar, a beleza estética salta aos olhos do espectador.
Baseado em três contos do livro A Fugitiva, da canadense vencedora do Prêmio Nobel Alice Munro, Almodóvar escreveu seu vigésimo filme.
Aqui, o diretor retorna ao drama, e também ao melodrama feminino, notadamente materno, cujo último exemplar em sua filmografia foi em 2006, com Volver.
O arco dramático gira em torno de Julieta (Emma Suárez). Uma mulher já vivida, que está prestes a se mudar para Portugal com o namorado. No entanto, presa ao passado, ela decide suspender os planos. É justamente
o passado que dá ritmo ao longa. Nesse sentido, pouco a pouco,
o diretor vai entregando os elementos necessários para nos
envolver profundamente no drama da protagonista.
Do romance entre Julieta e Xoan, surge a tão amada filha do casal . Ela mais tarde se desencontraria da mãe por um longo período. Os doze anos que separam mãe e filha, aliás, é o causador de todo o infortúnio na vida de Julieta.
Ao centro de tudo gira o mistério do desaparecimento voluntário de sua filha Antía, aos 18 anos. Nesse ensaio mais contraído de Almodóvar sobre seu recorrente tema da maternidade ele renuncia provisoriamente ao humor e abraça a tragédia
Ao longo de três décadas, vemos o sofrimento e o amadurecimento de Julieta, que assim como o espectador, tenta descobrir porque Antía se afastou dela.
A crise da protagonista está dividida entre um presente de arrependimentos e a possibilidade de recuperar algo do passado para, então, organizar seu futuro, por isso a personagem é incapaz de alcançar uma plenitude.
“Julieta” conta com interpretações afiadíssimas e performances excelentes de ambas as atrizes.
A passagem de Julieta jovem de Adriana Ugarte para a Julieta madura de Emma Suárez é bela, reveladora e representativa de uma maturidade que chega a duras penas.
A direção de Almodóvar torna o seu cinema visualmente reconhecível com seus figurinos de cores quentes (destaque para o dramático vermelho), ou estampas nada discretas que se realçam nos ambientes. Sem falar da fotografia que visita com sucesso várias tonalidades de cor, procurando mais as sombras ou a neutralidade.
Almodóvar realiza uma jornada bastante dolorosa mas com pinceladas de thriller e humor.
Julieta é um ótimo filme em um doído grito de socorro que vale a pena ver e ouvir. Os filmes do diretor parecem que suam de tanta emoção e que transpiram de tão intensos que são.