Voltei à pousada apenas para trocar de roupa pois ainda tinha muita ação pela frente.
Mas Valentina estava me esperando com as malas prontas.
– Dominique! Por que você demorou tanto? Nós vamos sair desta pocilga. Consegui achar lugar num hotel melhor aqui perto.
– Valentina. Você precisa voltar para o Brasil. Agora.
– Quer ficar sozinha com Loup? Quer fazer algo que não quer que eu saiba? Não estou te reconhecendo!
– Não, Valentina! Não é nada disso. Você precisa ir embora. Precisa sair de perto de mim.
Meus olhos esbugalhados devem ter assustado minha best friend.
Ela sentou naquela cama que rangia a cada movimento.
– Muito bem. Pode falar.
– Bom… Quer saber? Vou contar. Vou contar tudo.
E contei.
Valentina ficou em silêncio por uns minutos.
Levantou. Foi até a janela. Voltou-se para mim.
– Você tem certeza que Loup não esta brincando? Algum tipo de trote?
– Não Vale! Não é!
Neste momento Vale diz em uma voz estridente. Não sei se suplicando ou tentando impor.
– Dominique, por favor! Eu preciso participar disso!
– Não! Sua louca! Não… Já chega eu. Você ficará fora disso. Até para me ajudar se eu precisar.
Mudamos de hotel.
Um pouco mais confortável, sem dúvida. Só um pouco.
Quartos minúsculos!
Tão apertados que Valentina preferiu pegar dois, um ao lado do outro.
Mas nem precisava, porque eu ficava pouquíssimo tempo lá.
Só aparecia para dormir. Exausta.
Nos dias seguintes tive que passar por treinamento.
Mal vi Valentina.
Mal vi Loup
Eram plantas da cidade.
Esquemas de ação.
Esquemas de fuga.
Planejamento.
Treinamento.
Condicionamento físico.
Gente, o que eu estava fazendo?
Me perguntavam 20 vezes se eu estava segura de minhas atribuições.
Não. Não estava acreditando que estava envolvida naquilo.
O tempo voava e estava contra nós.
Teríamos uma janela num determinado dia, dali a 3 dias.
Não só o tempo jogava contra.
Tudo jogava contra.
E eu lá naquela loucura.
Roupas camufladas foram providenciadas.
Máscaras daquelas que só ficavam os olhos de fora.
Nunca me imaginei usando aquilo.
As fotos dos alvos estavam em cima da mesa.
Cada um de nós seria responsável por muitas atividades.
E, conforme o dia se aproximava, os ânimos iam ficando acirrados e os nervos à flor da pele.
Na noite anterior ao dia da ação, Loup me procurou.
Já não estávamos mais em Paris. Estávamos próximos ao nosso alvo.
Queria saber se eu estava feliz.
– Feliz? Como assim? Tá louco? Você me meteu nessa loucura.
– Não, querida. Você sabe que isso é importantíssimo para você.
No fundo, bem lá no fundo, eu sabia. Sempre soube. Aquela era mais que uma missão. Era um dever. Devia isso à minha história. Ao meu passado e ao meu futuro. E ao de toda a humanidade.
Chega o dia.
Todos nervosos, mas calmos. Estávamos treinados. Sabíamos o que tínhamos a fazer.
Nos separamos em duplas e fomos rumo à Saint-Die-des-Vosges.
As duplas foram separadas. De trem, de ônibus, de carro.
Chegamos à Vosges e nos posicionamos, aguardando escurecer.
Levamos suprimentos para não precisar sair de nossas posições.
Esperamos. Esperamos.
Eu já não aguentava mais de tanta ansiedade quando foi dado o sinal para agir.
Cada dupla tinha 5 objetivos a cumprir em menos de 54 minutos.
Éramos 4 duplas.
E uma outra organizando e gerenciando a ação.
Eu e Loup. Claro que estava com ele!
Vestidos de preto, camuflados.
Prestes a sair, Loup, num ato extremamente carinhoso, passou a mão em meus cabelos e os amarrou com uma fita vermelha antes que eu pusesse a máscara.
Ele tirou sua boina e deixou à mostra os cabelos que tanto acariciei um dia.
Enfiou a máscara preta.
Saímos.
Ele carregava um cinturão com muitas ferramentas.
Cortou algumas grades.
Invadimos os locais determinados.
Em silêncio.
O perigo iminente, a excitação, o medo, a adrenalina eram explosões de sensações diferentes em minha vida.
Loup me puxava, me segurava, me carregava quando precisava.
Passei por passagens estreitas que ele não conseguiria. Abri portas por dentro.
Enfim, uma dupla em ação. Um casal em perfeita sintonia.
Missão 1 – êxito em 7 minutos.
Missão 2, 3, 4 e finalmente 5!
Loup e Mouton. Dupla mais que eficiente.
Chegamos ao local de encontro, a igreja principal da cidade, 15 minutos antes da hora marcada.
As outras duplas foram chegando.
A última se atrasou. Achou alguns obstáculos sérios.
Estavam com as roupas rasgadas.
Mas não dava tempo de perguntar.
Fizemos a última parte de nossa missão.
Com o requinte de deixar uma mensagem numa placa com letras pintadas em tinta vermelha.
Voltamos à Paris por caminhos separados.
Voltei com Loup. Estava exausta.
Pedi que ele me levasse direto para o hotel.
Valentina deveria estar preocupada.
Acordei depois das 11h com a Vale entrando no quarto com uma pilha de jornais.
Todos não falavam de outra coisa.
– Foi isso? – disse ela apontando para manchete.
Anui com a cabeça.
E comecei a falar sem parar.
– Sim! Isso será notícia por semanas. Meses.
FLAJ. Esta é a sigla daquele grupo. Do nosso grupo.
Sim, sequestramos.
Pratiquei meu primeiro sequestro.
Mas foi em nome da liberdade, Valentina. E principalmente da estética.
Sequestramos Anões de Jardim. Não ria, Vale!
– Como assim, Dominique? Você me contou, mas eu não achei que era isso. Tinha certeza que você estava me escondendo algo.
– Eu não minto para você amiga. Acabamos de formar a FLAJ!
Frente de Libertação dos Anões de Jardim. – Você é muito engraçada, Dominique.
– Tenho o orgulho de dizer que depois de ontem à noite, mais de 6.000 anões de jardim e duendes serão libertados em ações semelhantes pelo mundo.
– kkkkkkk, e o que vocês farão com este batalhão de anões?
– Eles terão vários destinos, mas nenhum que eu possa antecipar, Vale! O de ontem você já viu. Deixamos todos na porta da igreja, numa posição tal que, quando o padre abriu a paróquia parecia que eles estavam lá para entrar e assistir à missa. O bilhete não deixava dúvidas.
Não haverá no mundo mais um anão de jardim preso! Somos a FLAJ! Lutaremos pela libertação de todos e pela estética do mundo livre!
Valentina ouviu tudo entre risos, perguntas e um grande ar de alívio.
Me abraçou e não perguntou o que aquela boina fazia em cima da cadeira. Sim, ela viu.
Peguei o avião no dia seguinte tentando não deixar rastros e pistas.
Cheguei em casa, saudosa e feliz.
Contei dos museus que visitei.
Dos monumentos e das esquinas de Paris.
Todos acharam tudo meio esquisito.
Mas estranho mesmo foi ver que a única coisa que comprei nessa viagem foi um anão de jardim.
Anão de jardim que não coloquei em casa, mas numa praça que frequento com as crianças.
E não há semana que não apareça “misteriosamente” outro anão naquela praça.
Ela hoje se chama a Praça dos Duendes Libertos.
Você não faz ideia de quanta gente tem/tinha anão de jardim preso aqui em São Paulo.
Quem diria que a ação seria a libertação de anões de jardim? Só a Dominique mesmo!
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https://mailchi.mp/9fbe24bba760/a-maior-aventura-de-dominique
maravilhoso texto ❤️
Seus textos são incríveis..soam a vdd libertadora …de ser tantas em várias mulheres Dominiques…vc me representa e ti encontrar nessa imensa rede virtual me faz sentir imensa gratidão..bjo de luz em tua caminhada plena e extra …